O silêncio era o companheiro interno da Sombra, enquanto permanecia de olhos fechados e sentado ao chão. O som das portas se abrindo e uma informação vindo pelos auto falantes do local trouxe-o de volta à realidade, embora apenas brevemente. Seu olhar correu pela sala, com seus olhos entreabertos, observando seus aliados e a saída do local. Ao que tudo indicava, aparentemente Angell havia concluído a missão de ocupar o hospital, fosse como fosse.

Sem palavras, nem reações aos demais à volta, perdido em seu mundo interior, Squall apenas se levantou do chão e caminhou até a porta. Ao sair, caminhou brevemente pelo corredor à volta, mas considerando que foram informados que logo se reuniriam com quem quer que fosse que fez o anúncio, escorou-se na parede ao lado da porta da sala, cruzou seu braços, e ficou o mesmo olhar vazio de antes, encarando o nada, enquanto sua mente percorria algumas memórias específicas. Embora o semblante fosse o mesmo habitual, seu olhar parecia diferente, vazio.

"Custe o que custar?" - Questionava-se mentalmente, amargurado pelos ocorridos anteriormente no campo de batalha. Olhou para seu reflexo em um vidro à sua frente, e focou seu olhar nas suas mãos, escondidas embaixo de seus braços cruzados. "Mais sangue..."

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O movimento ali dentro estava aumentando, ao passo que finalmente Angell e uma outra mulher apareceram no recinto. Sua ex-mestra parou próxima à ele, e um toque nele o trouxe de volta à realidade, com uma certa nostalgia.

"O mesmo toque de dois anos atrás..." - Pensou, voltando seu olhar para o que estava ocorrendo em volta.

Sob o som da pergunta, manteve seu olhar desfocado, distante, enquanto se erguia da parede e se preparando para seguir com a mulher que gostaria de se reunir com todos. Como de hábito, respondeu mentalmente antes de verbalmente.

"Tenho muito sangue em minhas mãos para estar bem. Estou casando demais de ver aliados caírem para estar bem. Estou farto de chamar de amigos aqueles que logo em seguida parecem estar destinados à morrerem. Mais uma vez, pessoas que se aproximam, caem. Irônico, não é... Rinoa..." - Pontuou silenciosamente, antes de se voltar para a mulher que convocou a reunião.

- Talvez eu fique. Mas agora, não estou. - Disse, em voz baixa, em tom que apenas Angell pudesse ouvir.

Não que não fosse grato pela preocupação de sua ex-mestra; muito pelo contrário. Sabia que era uma das poucas que seria capaz de discernir aquele olhar. Mas, para Squall, era mais fácil empunhar uma espada contra dez inimigos do que falar do que sentia. Seus demônios eram um fardo que costumava afastar todos. Em silêncio, seguiu para onde seria a reunião, falando mais algumas palavras apenas para Angell ouvir.

- Obrigado, sensei. - É tudo que era capaz de falar naquele momento, sabendo que ela entenderia.

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Assim que o primeiro contato entre os dois grupos foi feita, se dirigiram para uma sala, onde uma reunião era requisitada. Por mais distante que estivesse, e por mais frustrado também, o rapaz precisava se focar naquele momento, absorver e entender o máximo possível para entender melhor toda aquela situação, que já havia saído do controle e tomado proporções inesperadas demais. Aquilo já estava problemático demais para um simples resgate. Adentraram a sala, e logo um outro homem foi "convencido" à falar pela mulher que aparentemente comandava o local. Ouviu atentamente cada palavra, ficando internamente incomodado com tudo aquilo.

"Eles produziram um ser humano? Criar alguém e inserir vontades e programações nele para fazer e sentir somente o que você quer que ele sinta... se dão ao direito de brincar de Deus... Pelo menos, sabemos que não é o Shion de fato. Isso alivia.” - Pensou, ponderando sobre tudo que ouviu.

- Se ele foi criado com os poderes de Shion copiados perfeitamente, acho que nem todos juntos poderíamos vencer ele. - Disse, lembrando-se de quando viu os poderes do Hattori pessoalmente. - Mas se tratando de um clone, pode haver falhas. Como o vencemos? - Perguntou, usando de um tom direto e áspero, demandando a informação do homem que brincava de ser Deus.

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À cada palavra proferida pelo cientista, o estômago do rapaz se embrulhava mais. Era deplorável o fato de que uma Vila tenha se dado o direito de brincar de Deus, "criar" uma vida, por mais artificial que fosse. E para piorar - usar outras vidas nesse processo - como se fossem meros brinquedos; fantoches manipuláveis e descartáveis. Aquilo era uma ideologia repugnante. Um bom exemplo de que tipo de caminho não seguir, agora que Squall era Sombra de uma vila ele próprio. Após o término da explicação, e as respostas às perguntas, ele suspirou, especialmente ao ouvir o nome de seu clã envolvido. Quantas pessoas morreram no processo todo daquele ato nojento, era uma pergunta que ele preferia não ter a resposta. Mas, foram as palavras do guarda que chegou depois que fizeram os olhos do rapaz se arregalarem.

"Shaka???” - Pensou, cerrando os punhos sob a mesa. "Ele está aqui? E esta lutando contra o inimigo da aliança? Mas o que esta acontecendo aqui afinal?” - Pensou, olhando na direção de Angell.

Qualquer que fosse a resposta, ele teria que descobrir com seus próprios olhos. A responsável do local convocou o grupo para ir ao encontro do mesmo Shaka, e o clone de Shion. Squall suspirou por um momento, ainda confuso - o que o irritava profundamente -, e então fez seus preparativos para se dirigir ao local da batalha, junto com os demais. Antes que pudesse fazer muito, sentiu a temperatura do local baixar, e uma forte queimação o tomou; apertou suas mãos com força para resistir e evitar de fazer qualquer som, por mais difícil que fosse. Levou alguns momentos para aquilo passar e conseguir se recompor, e então assegurou-se que sua espada estava firme em sua bainha, e então tratou de, junto de seus companheiros, deixar o hospital.

"Esse Shion enfraquece à cada vez que luta... mesmo em lutas curtas. Isso quer dizer que o tempo é nossa primeira e maior arma contra ele.” - Pensou, à caminho da luta, enquanto formulava isso em sua cabeça e tentava tirar seus pensamentos de seus próprios demônios.

- Se entendi bem... - Falou aos seus aliados, antes de chegarem ao campo de batalha - Ele enfraquece com o tempo quando luta. Então, o tempo é nosso fator chave pra vencer ele. - Foram as únicas palavras que ele proferiu até que chegasse ao local onde lutariam.

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