— Dois dias passaram-se desde aquele incidente, e por mais que eu tentasse esquecê-lo para me focar em coisas mais importantes, era simplesmente incapaz de me manter distante das memórias tão distantes, ainda que recentes, do que ocorreu dentro daquele pequeno espaço abandonado. A imagem enigmática da shinobi desconhecida se prendera em meus pensamentos, e não havia sequer um segundo em que não me perguntava os motivos dela. Como um anjo descendo dos céus, ela me guiou e desapareceu tão rapidamente quanto surgira. Porém, antes que pudesse colocar a mente em ordem e seguir em frente, uma requisição de urgência havia sido feita pelo quartel-general de Iwagakure, onde eu havia sido pessoalmente convocado para cumprir um par de missões de nível C. Me preparei de imediato e em poucos minutos deixei a residência diminuta e me pus a caminhar na direção do quartel. Ao alçar meus pés sobre o solo gélido das rochas noturnas, um superior do vilarejo imediatamente veio em minha direção, visivelmente transtornado.

- "Nós não queríamos ter que enviar um genin para esta missão, mas é de suma importância." - O velho de cabelos grisalhos anunciou, tossindo brevemente antes de continuar a explicação da missão que me fora designada. - "Há rumores de que uma gangue de criminosos organizados vêm assassinando alguns dos homens de nosso exército shinobi. Eles estão mirando em acadêmicos e ninjas de baixo grau, como genins e chuunins recém-formados. Você precisa encontrá-los o quanto antes. Mate todos, exceto o líder. Nós queremos interrogá-lo." - Finalizou, dispensando-me.

- "Como quiser, senhor." - Respondi de forma cordial, dando as costas.

Matar? Acho que não ouvi direito. Ele realmente havia pedido para que eu desse cabo de um bando de homens? Era absurdo, ainda que trágico, e real. A morte era tratada de forma banal e natural na hierarquia shinobi, e seria de grande espanto descobrir que alguém das fileiras ninjas é abertamente contra o assassinato impensado. Porém, mesmo contra a minha vontade, não hesitei sequer por um único segundo. Os sinais do destino estavam começando a brilhar para mim. Eu conseguia sentir que, no fundo, tudo aquilo não foi por acaso. Eu acredito que todas as coisas no mundo tenham um propósito.

E eu ainda havia de encontrar o meu.

Informações:

— Deixei o quartel sem pistas do paradeiro dos malfeitores. A julgar pelo tipo de atividade que planejavam pelas sombras do vilarejo, fiz um julgamento preliminar de que poderiam estar agindo nas periferias, ou escondidos diretamente sob o nariz da inteligência militar da vila. Saltei sobre telhados lamacentos e corri através das incontáveis rochas partidas que formavam a maior parte da estrutura da vila. Meus olhos, incansáveis, vagavam através do vazio da noite, em busca de um sinal de luz que pudesse me guiar, mas sem sucesso. Talvez estivesse querendo me aproximar daquela situação de forma direta demais. Buscaria, então, ser um pouco mais passivo, silenciando-me e me tornando vazio por uma segunda vez. Suspirei, fechando os olhos por alguns segundos antes de me cobrir nas sombras da noite frígida. Sob os raios prateados do luar, fiz a minha marcha, oculto como um espírito malévolo.

- "Eu tenho uma ideia. Se eu não posso encontrá-los pela busca, os encontrarei me tornando um deles." - Divaguei, abrindo um leve sorrindo no canto esquerdo dos lábios. Me tornar o inimigo era arriscado, mas não era justamente esse o espírito shinobi? Colocar a sua vida na reta era um desafio que eu abominava, mas agora, ansiava para testar os limites da minha vontade. - "Criminosos da ralé sempre agem de forma suspeita. Se eu encontrá-los, o que devo fazer? Conversar? Atacar? Me sinto estranho..." - Continuei.

Planejar a possível morte de múltiplos seres humanos me causava um frio da espinha, bem como fazia a minha barriga revirar. De qualquer forma, não era como se eu estivesse em posição de questionar os métodos da vila. Baixei o olhar, carregado com o pesar das mortes que sequer foram causadas. Eu já senti o sabor da morte, mas estaria preparado para mostrar aos outros? Era difícil, mas deveria ser feito. A busca continuaria, e sem hesitação, meus passos eram dados em direção ao coração do mal. Eu precisava me provar, precisava ver que era capaz de ser um shinobi com meus próprios olhos.

Nesta noite, sangue derramarei. É uma promessa aos meus ancestrais!
Onde quer que estejam, vejam-me honrar o sangue dos Shimura!

Informações:

— Os pulmões lentamente deixavam de sugar o oxigênio, quebrando suas moléculas em partículas menores e menores, até que não se restasse nada além do vácuo. Para um ser humano convencional, basta que a concentração de oxigênio caia para 6% ou menos para causar o desmaio, coma e eventual falência múltipla de órgãos. Mas, para nós, os Shimura, o nada é justamente o que nos move. Quanto mais vazio, mais forte. Logo, os pulmões se esvaziaram por completo, deixando apenas um vácuo como preenchimento imaginário, silenciando minha respiração enquanto eu me movia entre os becos e vielas mal iluminados das periferias distantes de Iwagakure. Movendo-me encostado às paredes consumidas por lodo, me aproximei de uma zona negra a qual, ao mesmo tempo que pouco habitada, era utilizada por facções de criminosos comuns, segundo alguns boatos. Esta zona sem nome, por mais ínfima que pudesse parecer, carregava a resposta. Com apenas alguns postes de luzes piscantes e uma série de construções inacabadas ou esquecidas, um trio de mercenários não-shinobi conversavam. Fui atraído pelo forte odor de nicotina, emanado de um cachimbo de madeira antiga de um dos homens da noite. Me mantive a cerca de 20 metros do local, observando-os por detrás das ruínas de uma parede.

- "Tem peixe novo no recinto. Acho melhor a gente se livrar dele antes que a coisa 'cresça'." - O primeiro disse, este que possui uma aparência de um homem experiente.

- "O cara que parece uma múmia? 'Tô' ligado. Ele invadiu nosso espaço e fez questão de destruir um dos nossos prédios de operação, deve estar se achando um puta fodão por mexer com o que não conhece. Já preparam tudo? Eu sei onde ele mora, bora matar e vazar. Depois, a gente vê como continuar as 'coisas'." - O segundo ergueu a voz em tom extrovertido, como se fosse uma conversa jogada fora, comum.

Eles gargalharam, e continuaram a conversar sobre alguns incidentes recentes, como a morte de alguns estudantes da academia ninja. Eles não assumiram a autoria dos crimes, e aparentemente também queriam saber quem estava por trás desses 'negócios' que os atrapalhavam. Mais importante do que isso: Como o meu nome havia parado na boca de uma ralé tão miserável? Senti minhas veias arderem com rancor, algo que não sentia desde o dia em que Saito transformou-me nesta abominação. Cerrei os punhos, com intenção de saltar de onde estava e terminar com tudo, mas não poderia. Esperaria um pouco mais, até eles baixarem a guarda por completo. Pareciam ser só uns paus-mandados. Com eles, talvez, poderia saber quem é o chefe.

Informações:

— Por mais de quinze minutos, estive completando imóvel, mantendo a minha concentração de oxigênio nos pulmões apenas o suficiente para não colapsar. Com olhos fixados e abertos como os de um felino, eu observei até os mínimos movimen, desde o mero espaçar de pés até a moção de remover e realocar o cachimbo da boca. Papo jogado fora, e após vários minutos de nada, eles decidiram se separar. Enquanto o mais velho seguiu por uma viela desordenada que formava uma espécie de ziguezague, os outros dois optaram por seguir o caminho de luzes falhas, através das ruas desérticas da região em farrapos. Tomei uma decisão instintiva de mirar minhas garras aos mais fortes. Ao invés de me garantir em uma emboscada contra o velho solitário, decidi por seguir, como um fantasma em uma dança etérea, os dois, evitando as luzes em meu caminho para que não me percebessem durante o stalking. Eles se mantiveram em silêncio durante boa parte do trajeto, vez ou outra murmurando palavras incompreensíveis.

- "Trastes inúteis! Para onde vocês estão indo, malditos bastardos?" - Exclamei, mentalmente, e visivelmente irritado. - "Estes porcos bêbados não têm direção. Estou perdendo tempo valioso, enquanto os de cima se organizam. Deveria ter pensado melhor..." - Continuei.

Porém, nem tudo estava perdido. De relance, em minha visão periférica, tive a impressão de que alguém, na distância, exposto sob as luzes alternadas, apontava o caminho para mim. O dedo, pálido como o de um cadáver, apontava para os dois, ou talvez mais para a frente. Voltei meu olhar para a figura misteriosa, surpreendendo-me ao ver que não havia ninguém por ali. Estava ficando louco? Eram alucinações causadas pela falta de oxigênio? Não... Talvez fosse uma mensagem subliminar criada pelo meu próprio cérebro. Uma mensagem inconsciente. Portanto, entendi o recado. Entre o dedo indicador e médio, uma fina lâmina de vácuo fora criada, com cerca de doze centímetros de comprimento. Uma leve moção dos dedos fora o suficiente para lançá-la, esta possuindo poder suficiente para rasgar através dos calcanhares de ambos os homens, levando-os ao chão.

Antes que houvessem chance para gritar, saltei das sombras e pressionei meus pés sobre seus pescoços, lentamente sufocando-os com a pressão das sandálias de madeira reforçada. Com o rosto oculto pela luz em direção oposta, lentamente me abaixei para a altura dos moribundos, que certamente não eram detentores de habilidades ninjas. Observei o terror nos olhos de um, e a raiva nos olhos do outro. Eles certamente tinham algo em mente, mas era inútil.

- "Me levem até o chefe." - Ditei, em um tom suave, quase agradável.

Negar significaria a morte.

Informações:

— Se eu não houvesse minado suas capacidades de movimentação, eles com certeza seriam capazes de se livrar do meu aperto com facilidade. E não possuía força notável e nem sequer conhecimentos de técnicas marciais. Quase perdia o equilíbrio sempre que um deles tentava se livrar daquela imobilização improvisada, mas por mais que eu não me garantisse no combate próximo, era mais do que talentoso nas artes do ninjutsu. Portanto, dei um leve salto para trás, girando graciosamente no ar em um ângulo lateral e pousando com os pés a cerca de três metros da dupla de homens, que estavam feridos, com dificuldades para até se levantar de onde estavam.

- "Não foi um corte profundo. Vocês ainda devem conseguir andar com uma ferida destas. Agora, me obedeçam!" - Exclamei por mais uma vez.

- "Vá a merda, sua múmia imunda!" - O primeiro disse, antes de tossir por alguns segundos. - "Acha mesmo que pode fazer isso com a gente e sair impune? Vamos te esmigalhar inteiro..." - Respondeu.

O Olhar sádico do homem não me intimidava, muito pelo contrário. Era até, de certa forma, cômico. Não consegui conter a breve risada ao ver aquele pilantra inábil lançar ameaças vazias contra mim. Eu estava tentando, o máximo que podia, não escalar aquele conflito ao ponto de ser obrigado a utilizar força letal, mas eles aparentemente não estavam se importando com isso. Talvez suas mentes estivessem alteradas pelo abuso de álcool ou outras substâncias quaisquer que eles encontram por aí. Enquanto aguardava, o homem da esquerda, sendo este o mesmo que lançara tal ameaça, rapidamente sacou uma faca serrada com cerca de quinze centímetros de comprimento do bolso de seu casaco amarronzado, disparando em minha direção e ignorando a dor do seu tornozelo. Ele pretendia me esfaquear daquela forma? Risível.

Expirei apenas um pouco de ar. Dos pulmões cobertos em vácuo, um único projétil fora disparado do interior de meu corpo. Um projétil vago, translúcido, que parecia existir entre a linha da realidade e imaginação. Sua velocidade e poder fora mais que o suficiente para dar cabo da situação, perfurando a garganta do atacante, rasgando sua traqueia, esôfago, e, posteriormente, destruindo as suas vértebras superiores. Seu corpo, paralisado, caiu no chão, ainda com a mesma expressão de antes. Eu havia acabado de matar um homem, mas... Não sentia remorso?

- "Merda..." - Pensei, suando.

Informações:

— O outro homem, de feição visivelmente alterada, demorou alguns segundos para compreender o que estava acontecendo em sua frente. No primeiro momento, ele ignorou a queda de seu companheiro, penando que talvez o mesmo houvesse apenas tropeçado. Mas após alguns segundos de aguardo, ele deu um passo para trás, assumindo uma postura covarde e defensiva, de quem estava pronto para dar as costas e salvar a própria pele. Calmamente me direcionei ao vagabundo, medindo a distância exata dos passos silenciosos até que ficasse de frente ao outro. Como ele não havia tentado me atacar, eu também não o faria. Portanto, ainda mantendo o semblante frio, apontei o dedo indicador destro no espaço entre os olhos do marginal, criando uma pequena esfera de vácuo, a qual ameacei disparar caso ele não cumprisse com meus termos.

- "Rápido!" - Exclamei. - "Eu sei o que vocês querem. Se não quiser cabar com um buraco no lugar do cérebro, me obedeça!" -

- "Uaaaah! Calma aí, cara! Tá bom, tá bom!" - Ele caiu no chão, assustando-se com a situação. Porém, logo depois, se ergueu.

Tomou alguns instantes para se recompor, e então, enfaixando o ferimento no tornozelo com algumas faixas e pedaços rasgados de sua roupa, me guiou até o possível esconderijo do líder por trás daquela pequena organização de criminosos. Eu andei através de muitas vielas pela minha vida, mas nenhuma era tão suja e carregava uma atmosfera tão pesada quanto esta. Era um beco sem saída, construído entre várias residências miseráveis à beira das muralhas de Iwagakure. A iluminação era tão porca que eu mal conseguia ver um palmo a minha frente. Escuridão total, vez ou outra interrompida pelo brilho suave e notável de uma vela próxima de se apagar. O homem então apontou para a porta de um porão, quebrada e malcheirosa, que dava para subsolo de uma das residências. Poderia ser uma armadilha - Talvez ele estivesse me jogando no maldito fosso daquele lugar, mas que opção eu tinha, se não investigar? Cumprindo a minha palavra, não o ataquei novamente. Ao invés disso, quebrei as trancas do porão com aquela mesma esfera de vácuo, e adentrei.

Estava tão escuro que mal poderia ver minhas próprias mãos se estivessem em minha frente. O que diabos um ser humano racional viria a fazer em um lugar como estes?

Informações:

— Cada passo em direção aos portões do inferno, era o que aquilo aparentava ser. Dei-me o luxo de parar por alguns instantes para refletir e voltar a respirar o tão fadado oxigênio, que há algum tempo se vê comprimido pelo vácuo. Após inspirar profundamente e fechar os olhos, senti o frio das paredes, e a umidade do local em que me encontrava. Era como um conto de terror - Talvez eu houvesse sido leniente demais e confiado em alguém tão traiçoeiro quanto um vagabundo qualquer das ruas de Iwagakure. De qualquer forma, continuei a descida, até que, de repente, a escuridão fora tomada pro um clarão cegante. Coloquei uma das mãos a frente de meu rosto, enquanto, com os olhos semicerrados, tentava entender o que estava acontecendo. Quando minhas pupilas se acostumaram por mais uma vez à claridade, percebi que estava em uma espécie de sala. Era um porão de madeira antiga, e cheirava a cadáveres. Era uma sala modestamente larga, com espaço para mobílias e alguns aparatos curiosos. Porém, esta sala dividia-se em três quartos, com uma grande mesa de madeira ao centro, em que se encontravam vários baralhos jogados sobre a mesma.

- "Exatamente como previsto." - Uma voz ecoou, sendo quase onidirecional. - "Você mordeu a isca, shinobi. Vai ser o primeiro a morrer!"

- "A mulher está com vocês? É curioso que saibam que eu sou. Me digam seus objetivos e rendam-se. Se fizerem isso, eu não ceifarei suas vidas." - Ditei, ainda calmo.

- "Tolo." - A voz então gargalhou, enquanto as portas se abriam. - "Mulher? Pare de falar em enigmas. Fique aí e morra." - Continuou.

Aparentemente estavam tentando esconder alguma coisa de mim. Eles eram só uns capangas, mas mesmo assim, porque agiam de forma tão organizada, e ainda mais para me matar? Era bastante suspeito que um grupo qualquer escolheria alguém tão específico quanto eu, havia uma motivação por trás a qual eu ainda não havia sido capaz de desvendar. Antes de levá-los à justiça, faria questão de descobrir a trama por trás destes ataques organizados. Assim como eu prometi a mim mesmo no passado e cumpri há pouco, sangue derramará em nome dos Shimura. Não me importava mais se eu estava matando homens ou se não estava lhes dando chance de defesa. Eu vou apagar tudo o que entrar no caminho.

Informações:

— As vozes se silenciaram, e mesmo quando eu tentava reestabelecer a comunicação, resposta alguma era vinda por detrás daquelas portas novamente. Então, olhei ao redor, procurando por algo que me pudesse ser útil naquela situação, sem sucesso. Eu andei alguns metros de um lado para o outro, tomando cuidado para não tocar em nada enquanto sombras dançavam em meio ao piscar de luzes falhas e velas adormecidas. Meus passos, agora frenéticos, combinavam com o ritmo de meus olhos incansáveis, até que eu escutei algo logo atrás de mim. Era como se alguém houvesse acabado de acender um fósforo. Joguei olhares para trás com velocidade, percebendo que toda a mobília naquela sala havia sido preenchida por papéis explosivos que haviam sido disfarçados por meio de uma técnica ilusória. Quando a ilusão se quebrou e o pavio dos papéis chegara ao fim, não teria tempo de sequer me mover. Ao invés disso, expirei todo o ar que havia em meus pulmões para formar uma barreira de vácuo entre mim e a fonte da explosão iminente. Toda a mobília detonou de forma tão violenta que até mesmo a parte superior do porão foi lançada aos ares, transformada em poeira cósmica.

Um buraco no chão havia sido criado, e um leve tremor de terra me jogou ao chão, por mais que as chamas houvessem sido neutralizadas e reduzidas ao estado de nada pelo vácuo, imutável, invencível. Coloquei a mão destra sobre a cabeça enquanto me levantava, ligeiramente tonto, e observava os novos arredores. As portas ao fundo se incineravam, bem como tudo o que restou ao redor daquela pequena casa abandonada. Porém, de relance, pude perceber que uma série de três figuras saltaram das sombras, como se quisessem deixar a cena antes que eu pudessese os seguir. Sem hesitação, me propulsionei através das paredes ainda em chamas e me joguei ao ar, deixando a cratera exposta e criando uma única lâmina de vento com cerca de três metros de altura que seguiu através do chão, cortando o braço esquerdo de uma das figuras sem que ela pudesse reagir. O grito de dor ao ter um dos membros decepados chamou a atenção dos outros dois, que se viraram, surpresos.

- "Está vivo! Merda, vamos fugir desse lugar e nos reunir com 'ele'!" - O aparente líder exclamou, dando as costas.

- "Ele?" - Pensei, questionando a identidade da figura misteriosa. - "Não importa. Ninguém vai fugir desse lugar." - Suspirei, acalmando a mente.

Avancei, me colocando na direção oposta, e bloqueando a única rota de fuga do local.
Era matar ou morrer. Este era o meu ultimato.

Informações:

— O líder de imediato caíra com suas nádegas no chão, arrastando-se para trás na tentativa de se livrar de seu inevitável final. Por outro lado, seus guarda costas avançaram, retirando lâminas médias, com tamanho similar a uma Tanto de suas bainhas improvisadas na região da cintura. Eles não eram shinobis, mas eram guerreiros, de fato, superiores a pessoas convencionais. Com velocidade, o primeiro avançou em minha direção, desferindo um golpe cortante na horizontal, na tentativa de inflingir-me um corte limpo no pescoço. Com facilidade, esquivei-me para o lado direito, seguido por um salto ao perceber que o segundo lançou uma sequência de shurikens e kunais contra mim. Acabei por pousar em cima de um barril, que detonara com a presença de papéis explosivos ocultos em seu interior. Antes que a explosão pudesse me ferir, no entanto, utilizei a própria força da detonação para me propulsionar sobre a dupla de vagabundos, criando uma série de projéteis vagos que atravessaram a distância de cinco metros em um piscar de olhos.

Me supreendeu que ambos foram capazes de bloquear o ataque, mesmo que houvessem perdido não apenas suas armas, mas também sofrido ferimentos relativamente graves, com alguns dos projéteis perfurando seus corpos até os ossos. Eles grunhiam, mas continuavam de pé. Sacaram as armas secundárias, e continuaram o ataque. O primeiro lançou uma barragem de papéis explosivos, enquanto o segundo se conteve ao utilizar duas facas serradas para avançar novamente. Enquanto o primeiro se aproximava, o segundo detonou os papéis com antecedência, bloqueando minha única rota de fuga e abrindo espaço para o segundo atacar. Era uma boa estratégia, mas...

- "Que amador." - Ditei, ainda em meio ao ar.

Girei, lançando duas lâminas de vento puro que cortaram através da explosão e seus corpos com tamanha voracidade que até mesmo o sangue fora fatiado em meio ao ar. Dilacerados e mortos de forma instantânea, os corpos caíram ao chão antes que todas as tarjas explosivas detonassem, incinerando-os junto aos cortes. Suspirei, relativamente decepcionado, ainda que, também, surpreendemente calmo e focado. Tirar a vida não parecia um problema para mim, mas ainda odiava lutar. Não havia sido satisfatório, e nem triste. Eu não senti... Nada. Uma sensação de vazio absoluta, como se nada houvesse acontecido. De qualquer forma, me virei ao líder, que, tremulando, implorou pela vida.

- "Você não vai morrer pelas minhas mãos." - Disse, me aproximando e agarrando-o pelo braço direito. - "Vai morrer pelas mãos 'deles' ". - Finalizei a resposta, devolvendo o enigma mórbido.

Informações:

— Vi sua postura risonha e desprezível desfazer-se em lágrima quando tomou ciência de seu destino inescapável. Pego por aquele que havia sido ordenado a matar, o líder da pequena trupe decidiu manter o seu segredo até o último instante. Ao longo do caminho da escola, me vi cercado por alguns curiosos, e nenhum deles se parecia com aquele velho o qual havia interagido com o grupo criminoso mais cedo. Será que tomei a decisão errada e talvez ele fosse a chave para este enigma? Droga! Eu fui prepotente e tomei uma decisão instintiva ao invés de pensar sobre o assunto. Sabia que alguma peça estava faltando, e era justamente aquele homem. Porém, pouco importava. Agora que possuía o líder em mãos, era questão de tempo até que o esquema viesse abaixo e toda a verdade fosse relevada. Nem sequer sabia se continuaria me aprofundando nesta investigação, e uma vez que eles não têm nada a ver com a mulher, não interessavam.

- "Enki..." - O velho murmurou, baixo o suficiente para que eu não conseguisse ouvir com clareza.

- "Está falando alguma coisa, desgraçado? Olhe para a frente e marche!" - Exclamei, tapeando-o na altura da nuca.

Não pensei nada a respeito de seus murmúrios. Talvez estivesse apenas lamentando a morte de seus companheiros, ou se arrependendo das decisões que tomara pela sua vida para acabar apodrecendo atrás de umas grades de metal. Enfim, nosso trajeto chegava ao fim. Subindo as escadas, o entreguei às autoridades competentes que se encontravam de prontidão naquele lugar. Ele rapidamente fora imobilizado e levado, sem dizer uma palavra sequer, enquanto a atendente marcava a minha missão enquanto a atendente marcava a minha missão como um sucesso, e concluída. Dei as costas, com o mesmo semblante neutro. Ainda não havia descoberto nada, e parecia ainda mais perdido e enfiado no meio de uma trama que não me interessava nem um pouco. Olhando para as nuvens carregadas no céu noturno, suspirei.

- "Têm algo que ainda está me incomodando..." - Ditei, silenciando-me pelo resto do caminho.

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