Em suas mãos, a carta de convocação aberta, enquanto seus olhos liam e reliam as palavras que já sabia de cor. A sua frente, o local que gerava a sua preocupação, ao qual procurava alguma resposta no papel em sua mão, de que estivesse em um lugar diferente, que tivesse errado o endereço ou qualquer coisa do tipo.

Para sua infelicidade, por mais que procurasse um erro, não encontrava. Estava no local correto, mesmo que não quisesse tal fato. A sua frente, no endereço em que supostamente conheceria um shinobi sensor extremamente hábil da vila, o que deveria ser uma casa parecia ser, na verdade, um verdadeiro lixão. Havia entulhos e entulhos de todo tipo de papel, material reciclado e afins, que pareciam cobrir até mesmo o teto do lugar.  

Engolindo em seco, procurando por espaços entre os quais poderia andar sem se importar tanto com o ambiente, até chegar a uma porta caída, improvisada, quase parecendo que estava para cair. Com um toque suave, bateu na porta três vezes, sentindo que o plástico que a revestia estava um tanto quanto grudento, o que lhe deu um arrepio pela espinha. Que outras surpresas teriam naquela casa?

Demorou alguns segundos antes da porta ser colocada em forma reta e retirada, sendo quase jogada no que pareceu um novo entulho de lixo. Chutando o que se parecia ser sacos de lixo, seu 0anfitrião finalmente apareceu pela primeira vez. Era um homem com a barba por fazer, cabelos desgrenhados e malcuidados, espetados para todas as direções. Seus olhos eram pequenos, que abertos pareciam que estavam semicerrados, em um contraste gritante com o seu sorriso, extremamente branco, receptivos e grandes para a sua face ossuda.  

Em meio a seus dentes, o que se parecia ser um cigarro já usado, mas apagado. Suas roupas eram desleixadas, totalmente amarrotadas. Sua camisa branca parecia ser de um tamanho maior que o necessário, assim como uma calça esverdeada, que parecia sobrar tecido por sob sua pele magra, parecendo talvez um pouco desnutrido e desidratado.  

- Oi, oi, oi, oi!! - dizia, repetindo com uma alegria na voz, como se estivesse surpreso em receber alguém em sua casa (se é que podia ser chamado de casa aquele local). - Você deve ser o Jyu, não é não? Entra, entra, a casa é toda sua... - dizia, abrindo espaço para o rapaz passar pela soleira agora sem porta, fazendo um gesto convidativo para que entrasse.  

Sem jeito, Jyu apenas meneou a cabeça, colocando os pés nos pequenos espaços vazios, vendo, pela primeira vez, o interior da casa, que mais lhe parecia uma extensão mais confusa do lado de fora, devido a montanha de lixo e sacolas fechadas que havia por ali.  

-Vem, senta aqui, garoto! Senta aqui! - dizia, caminhando até o meio do que poderia um dia ter sido uma sala, chutando sacolas e lixos por todo o lado, abrindo uma pequena clareira de pouco mais de dois metros de circunferência, enquanto o espadachim aguardava pacientemente sua finalização.

“Impressão minha ou esse cara é doido?” - perguntou Isobu, vendo a situação com que estavam para lidar naquele momento.  

“Doido de pedra, você quer dizer...” - respondia, enquanto via finalmente seu anfitrião sentar-se em uma das extremidades da clareira, fazendo sinal para que o mesmo se sentasse, o que foi prontamente atendido por Jyu, que sentou-se defronte ao homem.

- Deixa eu me apresentar direito, garoto Jyu... - dizia, quase sem se importar que o homem a sua frente já foi o líder da névoa ou um dos poucos sobreviventes dos Kyuuseishu. - Eu me chamo Dwun, fui informado que precisaria te treinar, então quero ir direto ao ponto... - dizia, apontando para o entulho de lixo atrás de si. - Quero que use a habilidade sensorial aqui atrás de mim... O que percebe?

Jyu o observou por um instante. O modo direto como falava a partir do momento em que se sentaram era completamente diferente da forma despretensiosa que havia o recebido há poucos instantes atrás, o que fez pensar que, apesar do ambiente em que se encontrava, assim como o modo extrovertido, Dwun levava a sério o seu trabalho como shinobi sensor.

Sem falar ou expressar qualquer um de seus pensamentos, Jyu realizou o selo para que pudesse ativar sua capacidade sensorial. Assim que sua habilidade começou ser ativada, recebeu um tapa em sua mão, o que desconcentrou totalmente o rapaz, cancelando o sensoriamento do rapaz.

-Não não não não não não não!! - repetiu por diversas vezes, balançando a cabeça de forma negativa, fazendo e desfazendo com os braços o sinal de “X”. - Um ninja sensor que se preze nunca vai fazer esse sinal. Atrapalha qualquer outra técnica que vai fazer e fica preso nisso... Não não, sem sinal de mão.  

Jyu arqueou a sobrancelha, se perguntando se a sanidade daquele homem estava em dia. Já havia, claro, encontrado shinobis que podiam fazer isso, mas não era algo que ele acreditava ser simples de se fazer. Além disso, sua habilidade como ninja sensor era apenas mediana, não era algo que ele era reconhecido por fazer.  

-Ok, vamos começar de um jeito simples para você entender, garoto. - diria, olhando diretamente nos olhos de Jyu, que apenas o olhou em retorno, sem dizer nada. - Um shinobi sensor é sempre um dos primeiros alvos, justamente por ser um elemento que identifica as chances do grupo de ser emboscado, aos inimigos ao redor e afins. Ficar por aí andando com o selo a mostra apenas o fará ser um alvo mais facilmente identificável... - dizia, pegando uma bolinha de poeira do chão e brincando com ela por entre seus dedos.  

-Meu talento para o sensoriamento não...

-Ah, nem vem com essa! - cortou Dwun, jogando a poeira de lado e olhando para o espadachim. - Qualquer um pode treinar dessa forma. Vamos tentar do começo, para você não se assustar tanto assim... - dizia, se virando para trás e pegando três copos de papel extremamente sujo, assim como uma pequena esfera de prata, que tirou do bolso.

Colocou a pequena esfera no chão, encobrindo-a com um dos copos, colocando os vazios de ponta cabeça ao lado do copo com a esfera. Com movimentos precisos e rápidos, movimentou-os entre si, de modo a deixar Jyu confuso sobre o posicionamento da pequena esfera.

-Essa esfera de prata tem um pouco de chakra imbuído nela, sendo assim, ficará fácil de localizá-la. Tente expandir os seus sentidos sem o uso do selo de mão. Sei que já deve saber, mas o selo em si apenas auxilia na canalização de seu chakra. Cada um faz de um jeito, se vira aí! - dizia, se deitando no chão e fechando os olhos, deixando claro que de sua parte não iria sair mais nenhuma ajuda para o Nidaime.

Suspirando, Jyu refez o sinal de mão, apesar dos avisos do seu instrutor. Deixou sua habilidade sensorial ficar a cerca de trinta centímetros a sua volta, sentindo a sensação que tinha ao liberá-la. Desfazendo a habilidade, fechou os olhos, tentando se lembrar da sensação anterior que tivera. Concentrou em seu chakra e na forma com que ele saía de seu corpo e se misturava com o ambiente, circulando-o por cerca de trinta centímetros a volta de seu corpo imóvel.

Aos poucos, foi controlando-o para expandir a área de contato do chakra, fazendo com que a distância em que se encontrava da esfera de prata fosse gradativamente vencida. Não sabia quanto tempo ficou nesse pequeno avanço de pouco mais de um metro de distância, mas sentia o seu corpo começar a fraquejar pelo esforço. Aquele pequeno avanço era algo ainda mais difícil do que esperava.  

- Vai que falta pouco, garoto - dizia, após o que se pareceu uma eternidade, Dwun. Mesmo deitado, de olhos fechados, parecia que ele, de alguma forma, acompanhava o progresso de Jyu, que apenas assentiu, colocando ainda mais empenho no que estava fazendo.  

Abrindo os olhos, sentiu uma pequena vertigem, enquanto suas habilidades sensoriais começavam, agora, a tocar os copos. Mordendo os lábios, aguentando a tontura e a sua visão começando a falhar, sentiu, enfim, o primeiro sinal de chakra sendo emitido pelo copo do lado direito. Era fraco, mas ainda assim era uma sensação diferente dos outros dois copos.  

-Ele está no copo da direita... - dizia, cancelando a sua habilidade sensorial, respirando profundamente, quase como se estivesse tentando recuperar o fôlego, olhando com um meio sorriso para seu instrutor, que, apesar de tudo, não o havia instruído tanto assim, apenas exigido muito de um aluno recém-chegado.

Levantando-se, esticou bem as costas, fazendo com que Jyu ouvisse os estalos em suas costas com uma careta. Com um chute, o copo da direita saiu rolando, revelando a pequena esfera de prata. O olhar de Dwun, no entanto, não era dos melhores. Parecia que, apesar do espadachim ter acertado a resposta, não estava satisfatório o suficiente para ele.

- Acertou, mas demorou demais, minhas costas até doeram de ficar te esperando... Vá para casa. - falou em tom de ordem e não de pedido, o que fez com que Jyu ficasse momentaneamente irritado, se levantando de uma única vez. - Treine esse método por uma semana, depois volte. Você pode não levar muito jeito, mas pelo menos tem conserto... - dizia, com um enorme sorriso no rosto, fazendo com que Jyu ficasse levemente aliviado, sem, no entanto, saber os motivos de que a aprovação daquele ninja era tão importante para si.

Com um aceno de cabeça, o rapaz se despediu, pulando nos espaços em que o lixo não se encontrava, até sair no portal sem porta, ganhando finalmente a rua, vendo o sol em seu ápice. Havia demorado mais do que esperado, mas ao menos agora tinha um direcionamento, um caminho para seguir e se tornar cada vez mais forte...

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