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O combate é implacável demais para que eu possa acompanhá-lo. Seja pela maestria dourada de Hakuryū, as pétalas deslumbrantes de Rekken — era o Hana Ninpō? Não... eu jamais conseguiria reproduzir aquilo — ou a fluidez elemental do Nidaime, vou sendo lembrado de minha inexperiência. Minha inépcia. Até Ken revelou novas camadas de sua força, carregado de drásticas mudanças físicas — o que estendia uma distância fatal entre nós, afinal. Tudo culmina numa apoteose de golpes muito além do meu poder.

Há um pavor abafado quando, no meio daquela baderna, percebo que a senhora Nezuko não está entre nós. Se eu já estava desorientado antes, aquilo só piora tudo. A criatura agora parece ser um vórtice quando, uma a uma, minha técnica e a de meus superiores vão se apagando. O monstro brilha numa miríade colorida — são três núcleos agora? — e só posso me sentir à deriva. Algo péssimo está vindo, assumo, pior do que tudo que eu já possa ter visto.

Não recue, ordeno. É assustador. Muito. Mas já passamos desse ponto.

— Nanami! — berraria ao meu irmão mais novo postiço, dispensando o apelido desta vez. Caso ainda estivesse na outra extremidade de onde ergueu-se a proteção dourada de Suna, dirigiria-lhe um aviso: — Cuidado ao avançar, vamos focar em ajudá-los — Quem sou eu pra lhe ordenar o óbvio? Eu só... Não se machuque, pequeno.

Era nítido que minha ofensiva não estava sendo das mais decisivas contra aquela criatura que só parecia evoluir, cada vez mais audaz. Eu observaria as costas de Ken, emanando energia e propulsionando ossos, iluminado pelo vermelho lunar, inerte na batalha e tão... longe. Continuo ali, logo atrás dele, e em outro lugar muito distante também. A sensação de deslocamento torna-se mais forte. Tudo o que posso fazer é... tudo que... eu...

Um clarão assombroso advém de Karma e sinto certo vigor me ser devolvido — seja por sua técnica ou pelo alívio de saber que Nezuko está lá, viva. Tão logo, enfim, minhas suspeitas tornam-se uma realidade pior com a transformação do bicho. Está ficando cada vez mais inumano. Asas com cabeças, par de olhos, uma lâmina no lugar da mão? Mais alguma coisa, Soramaru? Não há tempo para respirar — sua investida é categórica; o mesmo Chakra escarlate que se mescla com a lua acima de nós.

Quando eu percebesse, já estaria formando uma sequência desesperada de selos (4s/s) após o ataque direcionado à Ken. Você é um garotinho tolo e previsível. Concentro-me. Sou isso mesmo, só um garoto, arranjo tempo de pensar naquele fractal de segundo. E o que só um garoto é capaz de fazer? A proximidade do monstro me faz encarar seus detalhes — tornando seu perigo finalmente real. Capaz de fazer contra isso? O pavor junta-se ao Chakra que se amassa em meu estômago.

Um garoto... luta. Inspiraria com voracidade. Um garoto vive. Olharia para Ken — olharia para ele —, buscando me posicionar ao seu lado... na verdade, atrás dele. Um garoto... sente. E mais importante: ele sabe que não é veloz o bastante para impedir uma rajada daquelas. Portanto, ele busca confiar nas habilidades defensivas do menino bonito. Ele espera. Sempre há o momento ideal. O que vem depois do raio? Para onde vai? Quando o monstro enfim fizesse seu movimento seguinte, eu despenderia de segundos valiosos para tentar o preparo de um golpe, calculando seu trajeto. Ao partir na direção do príncipe de ouro, é quando eu então dispararia, com toda a força, uma torrente de água eletrificada (Raiton: Kangekiha) em direção a um dos três núcleos coloridos (22m/s), visando neutralizar seus movimentos em alguma capacidade. Um garoto luta, repito, para continuar vivendo e sentindo, mesmo quando tudo parece perdido.

Caso minha tentativa fosse bem-sucedida em alguma instância, o alívio ainda assim seria rapidamente substituído pelo temor graças ao impulso do monstro na direção de Hakuryū — o remorso lancinante por aquele quem me salvou de forma tão deslumbrante. Sentindo minha constituição física e minhas reservas de Chakra se esgotando a cada movimento, só poderia confiar que as diferenças geracionais se fizessem presentes em campo novamente.

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Sinto o que deve ser a percepção de um milagre realizado quando meu disparo atinge o monstro. Acertou? É difícil crer que houvesse funcionado, mas ali está, uma torrente de água eletrificada acertando bem no núcleo multicolorido da criatura. Pouco antes, um vendaval comandado por Ken havia dado conta da defesa, como esperado. Se aquela fração de tempo permitisse, eu sorriria para o Kaguya:

— Boa dupla, não? — Agora vá lá acabar com isso, garoto bonito.

O que se segue é o esperado festival de habilidades veteranas. A maestria daquela cooperação orgulharia qualquer aliança shinobi. Meu olhar vaga preocupado pelo campo de batalha atrás de Nanami; está contido, em guarda — seguro. Faz bem, pequenino. Não podemos nos arriscar aqui. Depois de um urro agonizante e a destruição quase total da torre, somos banhados pelo carmesim lunar — uma atmosfera assombrada para quem deveria ter o gosto de vitória na boca.

Talvez um prenúncio de como o clima das coisas mudaria rápido.

— Morta? — Eu ouvi errado. Procuro debilmente pela presença da senhora Nezuko atrás de Karma, nos escombros ao nosso redor, em algum lugar. Morta? — Você disse que a Mizukage tá morta?

Senhor Karma — seu olhar violeta e categórico. Esse homem não mente ou faz gracinhas. Morta? Olho ao redor, agora embebedado por desespero. Morta? O que é aquela poça no chão? É sangue ou a lua pregando peças? Não faz o menor sentido. Não estava viva segundos atrás? Eu vi — juro que vi. Foi o desabamento? Foi... foi... Karma... estava com ela... estava...

— Como ela tá morta? — Quando percebesse, estaria tentando tatear pelo braço de Ken inconscientemente. Meu olhar nadaria numa agilidade frenética pelo mar de veteranos; o Nidaime, o Nara, os garotos de Suna... Estaria segurando o braço de Ken, caso permitisse. Se pudesse sentir o calor de outro ser vivo, talvez fosse puxado de volta para realidade e longe daquele devaneio maluco. Olharia para o mesmo engolindo em seco. — Ele tá mentindo — imploro. Não é uma pergunta. Me diga que está. Me diga, Ken. Me diga agora, sim? Karma mente, não é? — Ele... ela... não pode... — o pedido termina num sussurro quase mudo.

Levo a mão à boca e calo a mim mesmo. Como isso acontece? Uma pessoa está ali e depois não está? Morta. Uma pessoa—a líder de um país inteiro. A mulher que cruzou meu rumo com o de Nanaminho e Hakari-sensei. É uma tempestade em segundos—a primeira vez que entrei em sua sala, fascinado por sua gigantesca mesa em alto relevo, depois por sua austeridade e olhar definitivo ao me nomear ao Time 2. Sua impessoalidade casual no Névoa Sangrenta. Disse que eu era forte, lembro, sem saber se isso acontecera há alguns minutos ou há décadas. Morta.

Aquele que tem as respostas para aquela insanidade simplesmente nos abandona.

— Não — murmuro para ninguém. Por instinto, eu correria até Nanami, sem pensar em como ele estaria reagindo aquilo tudo. Caso ele permitisse meu avanço, eu o abraçaria com força. Não. Não sei porque estou fazendo isso, só... Isso aqui é real. Está vivo. Meu irmãozinho está vivo. É o que importa. — Está tudo bem — minto baixinho para ele. Também não sei porque estou dizendo aquilo. Não faço mais ideia de nada.

Um passo depois do outro, quase como se alguém do além me controlasse, eu marcharia mecanicamente para fora da torre, alheio aos demais. Ele vai explicar tudo, reafirmo. Ninguém morre e desaparece assim. Luto para apagar aquela mancha de sangue das memórias. Chegando em Kiri—a imagem do vilarejo enevoado traz algum conforto—tudo fará sentido. Sim, sim, é isso mesmo. Devo ter ouvido errado.

Eu deixaria a torre leste para trás.

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