A sensação de estar caminhando rumo ao desconhecido ainda tinha um sabor estranho para seu paladar quando chegou ao portão do vilarejo. O Tsuchikage estava discursando havia algum tempo quando esteve presente, presenciando ao mesmo as partes cruciais do que fora dito. Sentiu certa empatia pela mulher que correu na direção do mesmo, emocionada. Um arrepio tomou conta de si ao imaginar a possibilidade de não retornar, e não ter dado uma despedida apropriada para Rauros. Suspirou, desfazendo-se momentaneamente dos devaneios antes de decidir. Seria sua última chance de voltar atrás, a hora de dar meia volta era naquele instante.

— Eu irei. Quero voltar e trazer orgulho para a vila, eu sou uma kunoichi — disse em voz alta, o mais alto que conseguia, com as bochechas coradas. Dando vários passos adiante, por onde passava a Grey percebia olhares incrédulos. Era apenas uma garota, uma jovem garota, indo de encontro ao desconhecido — Mesmo que custe a minha vida, não vou deixar o mundo sangrar sem lutar com todas as minhas forças.

A determinação de Allannia Grey era questionável até mesmo para si própria, que estava tremendo desde que saiu de casa. Insegura e tímida, o seu comportamento retraído não condizia aos seus desejos. Mas se quisesse ser uma ninja de verdade, precisaria lutar contra tais limitações e confrontar os seus temores. Permanecer estática, escondida em seu palácio, apenas traria desgosto e uma vida miserável. Ela queria lutar, e por isso partiria. Não deixaria o mundo cair em trevas, não é o que o Caminho da Luz simboliza. Nenhuma luz jamais poderia brilhar se não houvessem trevas opondo ela. E nenhuma escuridão pode esperar durar para sempre, enquanto o sol puder nascer novamente para desfazer a noite.

— Espero não me arrepender disso depois — murmurou, mas poderia ser escutada caso prestassem atenção no que estava sendo dito.

Seguiu o Tsuchikage em todo o trajeto, acompanhando-o diligentemente e silenciosa. Não era o exemplo de sociabilidade, principalmente diante da autoridade máxima de seu vilarejo, esforçando-se apenas para esconder qualquer traço de medo ou ansiedade que pudesse estar emanando. A pior coisa que poderia acontecer naquele instante era ser vista como uma covarde ou incapaz, mesmo que fosse apenas uma Genin, queria parecer ser minimamente forte. Mas era difícil enganar as pessoas ao redor, por mais que pudesse fazê-lo a si própria. Crer em capacidades divergentes não significa tornar alguma delas real. Era apenas uma menina, recém-formada da academia, com pouquíssima experiência como kunoichi. Seria o seu primeiro grande desafio, muito diferente de salvar trabalhadores de uma mina prestes a desabar.


HP: 925/925 |CH:1175/1175 | ST: 00/05