Hattori Shion
O aguardado dia finalmente despontou, transformando o Coliseu no epicentro de uma expectativa vibrante. Uma multidão, composta por indivíduos de todos os cantos do mundo, preenchia as arquibancadas, cada um trazendo consigo uma razão própria para estar ali. Para alguns, o evento se desdobrava como uma oportunidade de lucro – apostadores calculavam suas chances, vendedores ambulantes circulavam com suas mercadorias, e a mídia televisiva preparava-se para transmitir o espetáculo que prometia altos índices de audiência. A arena tornava-se um caldeirão onde se misturavam as expectativas de todas as classes sociais, desde os mais humildes, que sonhavam com a emoção da luta, até os aristocratas, que viam no evento um reflexo de seu próprio poder e status.
No coração desse turbilhão de atividades, Angell, uma das protagonistas daquela noite, encontrava-se em seu camarim, imersa nos preparativos finais antes do confronto. A tensão pré-luta era palpável, mas ela buscava manter-se focada, apoiada pela presença de seus irmãos. Eles, experientes nos caminhos do combate, compartilhavam conselhos e estratégias, tecendo um véu de confiança ao redor da lutadora. Cada palavra, cada dica, era um esforço conjunto para fortalecê-la, para apaziguar os nervos naturais que antecedem o embate.
Ao lado de Angell, Hakurei, seu marido, representava um pilar de suporte emocional. Com um olhar cheio de admiração e um toque repleto de carinho, ele oferecia mais do que palavras de incentivo; sua presença era um lembrete silencioso do amor e da vida que esperavam por ela além da arena. Nesse momento de intimidade, distante do clamor e da expectativa que fervilhavam lá fora, Angell encontrava não apenas a determinação necessária para enfrentar o desafio iminente, mas também a tranquilidade de saber-se amada e apoiada.
Assim, enquanto o Coliseu se preparava para testemunhar um espetáculo de força, técnica e coragem, Angell armava-se não só com as habilidades físicas aprimoradas ao longo de anos de treinamento, mas também com a força que emanava dos laços de fraternidade e amor. Naquele instante, antes de adentrar a arena, ela não era apenas uma lutadora; era a personificação de todas as esperanças, sonhos e amores que a acompanhavam.
Na área VIP, um ambiente separado do fervor comum do Coliseu, Katsura imergia em uma atmosfera distinta, pontuada pelo brilho da alta sociedade. Distante dos filhos, que cercavam Angell com apoio e afeto, ela se preparava para descer à arena a qualquer momento, porém, não antes de tecer conexões e deixar sua marca entre os presentes. Entre as interações, uma se destacava: a presença de um homem alto de terno, que a cumprimentava com uma cordialidade refinada. "Senhor Musk, como vai a empresa?" A familiaridade com que ela pronunciava seu nome sugeria um conhecimento prévio, uma amizade talvez insuspeita aos olhos de muitos.
A resposta de Musk era positiva, tranquilizando o ambiente antes de sua curiosidade vir à tona. "E o Senhor Hattori, onde está?" A pergunta mal havia sido formulada quando a figura de Shion irrompeu no cenário, sua chegada marcada por um otimismo contagiante. Vestido com uma elegância notável e portando um pacote, ele dirigiu-se a Katsura, entregando-lhe o objeto antes de cumprimentar Musk com um aperto de mão firme. "Elon, como vai você?"
A conversa fluía naturalmente para o terreno da inovação e do desbravamento espacial. "Minha equipe está desenvolvendo um veículo para explorar o espaço e outros planetas," revelava Musk, seu entusiasmo evidente. "Passe na minha empresa amanhã, vamos fabricar. Eu sempre quis conhecer a lua."
A troca de olhares entre Shion e Katsura, seguida de um sorriso cúmplice, denotava uma piada interna, um segredo compartilhado apenas por eles. A menção da lua não era apenas uma expressão de desejos futuros para o casal; era um lembrete sutil de aventuras passadas, de mundos além deste já visitados por eles, inclusive a própria lua.
Finalmente distantes da multidão e das formalidades da alta sociedade, Shion e Katsura encontraram um momento de privacidade para conversarem. A curiosidade de Katsura sobre o conteúdo do pacote que Shion carregava foi prontamente satisfeita. "É um presente para Angell. Preciso que você leve para ela e diga que só deve abrir na minha presença," instruiu Shion, sua voz carregada de uma seriedade pouco usual.
A resposta, contudo, despertou a irritação de Katsura. "Sua filha vai lutar em poucos minutos. O que tem de tão importante que não pode ir vê-la agora?" A preocupação de uma mãe antecipando o perigo iminente transparecia em suas palavras.
Shion absorveu a reprimenda, seu olhar desviando-se então para a área VIP oposta, reservada aos Senjus e seus aliados. Seu foco recaiu sobre a figura que o havia ofendido em sua própria casa, e ao lado dele, sua avó. A mudança sutil em sua expressão denunciava a complexidade dos pensamentos que o ocupavam.
Katsura, percebendo a tensão no olhar de Shion, envolveu-o em um abraço que, embora carregado de afeto, serviu como pretexto para sussurrar um apelo ao seu ouvido. "Não vá arrumar confusão, hoje não. Deixe que eu me preocupe somente com Angell hoje." Sua voz era um misto de preocupação e pedido.
Shion, em resposta, murmurou de volta, com uma sinceridade que buscava apaziguar as preocupações dela. "Eu falei sério, só quero conversar." A breve troca de um beijo selou a promessa, um gesto de cumplicidade e entendimento mútuo entre os dois.
Com isso, Katsura dirigiu-se ao vestiário de Angell, levando consigo o pacote e as esperanças de uma mãe que desejava nada além de sucesso e segurança para sua filha.
Atravessando a multidão em direção à área VIP dos Senjus, Shion enfrentou um caminho repleto de interrupções. Entre cumprimentos, reverências e solicitações diversas, seu progresso era lento, mas determinado. À medida que se aproximava, os fragmentos de uma conversa entre a matriarca Senju e seu neto, o adversário de Angell na iminente luta, chegavam aos seus ouvidos. As palavras da avó carregavam um tom de pragmatismo frio: "Olha, é uma luta fácil, então, se possível, tenta não matar a garota. O pai dela é insuportável até quando estamos fora de guerra, imagina se... E, se possível, tenta não machucar muito o rosto dela." O consentimento do homem era marcado por uma obediência mecânica. "Sim, vovó."
A chegada de Shion alterou a atmosfera do encontro. Com um sorriso que buscava desarmar qualquer tensão pré-existente, ele segurou a mão da Avó Senju, um gesto de cumprimento que ele reforçava colocando a segunda mão sobre a dela, em uma demonstração de respeito calculado. Sua intenção era clara: transmitir uma imagem de cortesia que fosse percebida por todos ao redor.
Voltando sua atenção ao jovem Senju, Shion estendeu suas felicitações com uma energia positiva que contrastava com a frieza da conversa anterior. "Boa sorte, meu rapaz. Será uma luta incrível." A resposta do adversário de Angell, um desprezo evidente marcado por um "tsc" desdenhoso, revelava a complexidade das relações entre as famílias. Sem mais palavras, o jovem Senju afastou-se, dirigindo-se ao seu vestiário para os preparativos finais.
Ao estender seu braço, Shion não apenas convidou a matriarca Senju para um passeio simbólico pela arquibancada, mas também orquestrou um espetáculo de diplomacia e estratégia. O gesto, simples na aparência, transformou-se em uma poderosa declaração visual quando ambos, aparentando ser grandes aliados, caminharam juntos à vista de todos. Essa imagem de unidade entre figuras tão emblemáticas das famílias rivais inflamou o ânimo da multidão, que explodiu em aplausos eufóricos, celebrando o que parecia ser um momento de paz e camaradagem.
Ambos, Shion e a velha Senju, acenavam em resposta, seus sorrisos forçados pintando um verniz de cordialidade sobre a complexa teia de relações e intenções ocultas. Foi nesse instante de aparente harmonia que Shion, com um sorriso malicioso, sussurrou apenas para que a matriarca ouvisse: "Cambada de otários." A resposta dela, um sorriso cúmplice, precedeu a pergunta que talvez já antecipasse a resposta: "Qual seu objetivo, garoto?"
Shion, baixando o braço, não se esquivou da verdade. "Estou aqui para ameaçar, só isso." A réplica da velha, embora carregada de escárnio, revelava a tensão subjacente: "Veio me ameaçar para poupar a vida da sua filha?" O sorriso de Shion, contudo, era tranquilo, seguro. "Quanto à Angell, não tem com o que se preocupar."
O cansaço em seu semblante era inegável, uma exaustão que a velha Senju não deixou de notar. "Parece cansado, não tem dormido muito? Preocupado com a filha?" Mas, novamente, Shion reiterou sua confiança inabalável. "Já disse, com Angell não precisa se preocupar."
Shion girou sobre seus calcanhares, encarando a venerável Senju com um olhar intenso e penetrante. "Azshara sempre falava muito a seu respeito", começou ela, sua voz tingida de um sarcasmo mordaz. "Para os Senjus, você era como uma leoa, impiedosa e destemida, sempre pronta a mergulhar suas mãos na lama para manipular os outros a seu favor. Contudo, ao observar o presente, percebo quão implacavelmente o tempo tratou você." Sua risada escarnecedora foi cortada por uma tosse seca, traço evidente de sua avançada idade.
"Não tenho dúvidas de que foi você quem tirou a vida do meu filho. No entanto, seu plano, embora meticulosamente arquitetado, está fadado ao fracasso. Nós triunfaremos nesta guerra." Shion esboçou um bocejo, desdenhando da situação.
"É curioso perceber como a verdade pode ser facilmente distorcida. Tome Angell como exemplo: uma pioneira na medicina, cuja realidade ocultamos sob uma cortina de meias verdades. Para os menos informados, Angell é uma estrangeira, uma simples filha. Mas, para mim, ela representa muito mais. É meu maior triunfo, minha obra-prima, a carta que guardo na manga. Vocês a enxergam como frágil, quando, em seu mundo, Angell era venerada como a mais poderosa, uma lenda vivente. Alguns até a adoram como uma Deusa. Seu filho errou miseravelmente ao subestimá-la, escolhendo-a como alvo, acreditando na sua aparente vulnerabilidade, quando, na verdade, ela já havia alterado o curso de uma guerra com sua mera presença."
A anciã Senju mostrou-se ligeiramente incomodada com as palavras, mas esforçou-se por manter a compostura e provocou: "Então, você continua a sequestrar os mais jovens?"
Com um sorriso astuto, Shion replicou: "Poderia fazer a mesma pergunta a você."
Ela continuou, sua voz carregada de desprezo. "Azshara realmente deixou sua marca. Hoje, as histórias de terror que assombram o sono das crianças são inspiradas em você. O bicho-papão, Bloody Mary, todas essas narrativas sobre criaturas noturnas que raptam crianças indefesas... Todas encontram inspiração no Carniceiro de Azshara."
Shion mostrava sinais de desconforto, mas não deixava de participar da troca de insultos. "É lamentável que você jamais terá a oportunidade de reencontrar sua amiga preconceituosa," disse ela, olhando-o com evidente desprezo. "Na minha opinião, os piores tipos de homens são aqueles que matam motivados pelo dinheiro."
Ele reagiu tocando suavemente o queixo dela, com um olhar intenso. "Eu, por outro lado, sempre matei movido por amor, e não por dinheiro. Infelizmente, coloquei esse amor na pessoa errada." As palavras desencadearam uma onda de risadas entre os dois, que foi abruptamente interrompida por Shion com sua ameaça final. "Apenas para que fique claro, após a inevitável vitória dos Hattoris nesse combate, isso não vai acabar. Irei até sua casa, matarei sua neta, e visitarei cada residência dos Senju até que nenhum de vocês reste. E somente quando sua linhagem estiver completamente aniquilada, você terá minha permissão para morrer."
Ela se irritou, mas manteve-se controlada, não era de sua natureza perder a compostura. Com um olhar firme, ela respondeu, suas palavras destinadas a ferir Shion mais profundamente do que qualquer espada. "E pensar que eu estaria reencontrando minha amiga mais cedo do que esperava. Você se tornou exatamente como ela. Deve ser terrivelmente difícil para Katsura, depois de todos os abusos psicológicos que sofreu com Azshara, ter um marido que se comporta de maneira tão similar. Imagine o quão doloroso é para ela pensar que seus filhos correm o risco de se tornarem como você. Mas ela sabe o final dessa história; afinal, o que aconteceu com o seu mais velho? Ah, sim, ele 'viajou' para outros mundos, cometendo atrocidades. Deve ser insuportável saber que o legado de Hattori Shion é sinônimo de vilania."
Tomando uma profunda respiração, Shion tentava conter o impulso de silenciar aquela velha ali mesmo. No entanto, ele sorriu, acenou para o público mais uma vez e, finalmente, retornou para conversar com Angell, tentando deixar a tensão e as palavras cortantes para trás.