Faziam algumas semanas desde que ele havia assumido o cargo e mesmo assim já mal saia do gabinete. O imortal estava sentado em frente a sua mesa, tendo seu sobretudo estendido no encosto da cadeira, deixando seu corpo coberto apenas com a blusa de mangas longas e justas. Sua mente estava ocupada analisando toda a papelada que havia sido deixada por Jyu, além das consequências que estavam caindo sobre a vila após o surgimento daquela lua vermelha no céu; todo o clima pesado piorava naquele horário da noite, quando frequentemente a energia elétrica acabava de vez, restando ao imortal usar velas para enxergar as coisas no gabinete. Pelo menos toda a parte burocrática deixada pelo amigo estava em dia para facilitar os afazeres do imortal, mas ainda assim era muita coisa para entender e assimilar. E ele não estava acostumado com toda aquela burocracia, apesar de estar se saindo bem.

A direita de sua mesa no gabinete estava Cubellios, adormecida. Era um espaço praticamente dedicado só pra ela, uma vez que Noboru mal saia dali, então ela não precisava ficar atada a ele para o acompanhar. A esquerda da mesa, entretanto, estavam as pilhas de relatórios com dados de missões concluídas, de missões pendentes, dos resultados das feitas e das habilidades de alguns dos shinobis da aldeia. Ele ainda estava analisando e tomando as melhores decisões com a ajuda de sua amiga de longa data, Suyen. Ela havia se oferecido para dar uma força pra ele nos últimos dias. A albina, por sinal, não estava presente na sala naquele momento, pois havia ido ter com uma visita que estava querendo ver Noboru, sendo que ele não queria ser incomodado por qualquer pessoa. Pelo menos não enquanto não acabasse o trabalho.

Ele sabia que não era sua mãe ou sua irmã, uma vez que ambas já haviam passado ali mais cedo naquele mesmo dia. Tampouco eram um dos seus alunos, pois eles não precisavam ser anunciados. Jyu então, muito menos. Não poderia ter esquecido de avisar sobre a liberdade de mais alguém importante, poderia?... Foi se perguntando isso que ele ouviu a voz séria e conhecida ecoar, vindo da porta.

— Então agora eu vou precisar marcar hora para encontrar com você? — a figura conhecida indagou.

INFOS:

Koujaku era a figura que fazia o papel de tutor para Noboru, pelo menos de certa forma. Era um homem alto, com por volta de 1,80, dono de fios castanhos e olhos carmesim. Estava sempre vestindo um belo kimono preto e, para a surpresa de Noboru, estava parado na porta do gabinete, logo ao lado de Suyen. Inclusive, ele havia sido o intermediário para que o imortal conhecesse a mulher de cabelos longos e albinos. Ele estranhou a presença do maior e se levantou para o cumprimentar, observando o mesmo sorrir e se aproximar vagarosamente.

— Desculpe, mas eu ando cheio de afazeres. — disse, indicando que o outro se sentasse, algo que o mais velho negou. Isso fez Noboru arquear uma sobrancelha e suspirar. Era claro que ele não havia ido só lhe parabenizar. Não fazia o feitio de Koujaku aparecer assim, mas sua mente estava tão dispersa que ele nem prestou atenção a esse detalhe. Sua visita também era boa para Noboru, pois a algum tempo ele queria falar com o tutor para procurar um jeito de se tornar mais forte.

— Estou muito orgulhoso de ver onde chegou, Noboru. — o homem afirmou, esboçando um singelo sorriso e indo o abraçar, sendo retribuído. Entretanto, os lábios do mesmo se aproximaram do ouvido do Mizukage durante o contato e um sussurro foi emitido brevemente. — Agora eu preciso lhe conceder um presente… mas é necessário que fiquemos a sós. — murmurou antes de afastar-se do outro. O imortal arqueou uma sobrancelha e encarou Suyen, como se perguntasse o que estava acontecendo ou se ela sabia de algo, coisa que a mesma assentiu, sustentando um sorriso travesso.

— Eu vou dizer que proibiu a ida de shinobis ao terraço. Vá e me esperem lá. — Suyen afirmou e Noboru assentiu, desconfiado, indo com o sensei para o terraço privado que lhe pertencia agora.

Somente ao chegar ali, Noboru notou que a névoa que cobria a vila estava mais forte e densa; ou pelo menos estava assim ao redor do gabinete, impedindo que as pessoas vissem facilmente o que acontecia ali em cima. Isso, somado ao brilho da lua vermelha sobre sua cabeça, tornava o clima todo ainda mais sombrio. Antes que Noboru fizesse qualquer questionamento, apesar de imaginar que a névoa provavelmente era obra daquela dupla, um pergaminho foi retirado da manga por Koujaku e arremessado na direção do imortal, este que o pegou sem qualquer hesitação. Havia um kanji para "proibido" no pergaminho, não que isso importasse para Noboru; sua curiosidade era sempre maior que qualquer outra coisa.

INFOS:

— Esse é o seu presente. — Koujaku afirmou, tendo um tom levemente empolgado em sua voz. — Decidi lhe conceder um novo conhecimento. Algo que pode ser útil, principalmente no seu cargo atual, afinal vai precisar ter bastante cuidado para que não entreguem os seus segredos… pelo menos é o que imagino. Você fará o que achar melhor com esse novo leque de possibilidades que estou lhe concedendo. — ele afirmou, fazendo com que Noboru levantasse uma sobrancelha e enfim abrisse o pergaminho. Para sua surpresa, ali continham conhecimentos acerca de algo chamado de Juinjutsu.

Levado pela curiosidade, como sempre acontecia quando Koujaku surgia com esse tipo de informação, ele abriu o pergaminho buscando saber do que se tratava o conteúdo dele. Na verdade, dessa vez era diferente de quando ele era levado apenas pelo desejo costumeiro de conhecimento, pois havia uma motivação a mais por parte do imortal, já que ele desejava se aperfeiçoar mais desde que viu o que o líder da nuvem havia desenvolvido. Como estava bem escuro, sendo iluminado apenas pela lua vermelha, ele expeliu do corpo uma das caudas da Nibi, usando as chamas azuis como fonte de luz para conseguir ler devidamente.

No pergaminho estavam registradas anotações e estudos, que provavelmente eram de Koujaku, para se aprender a criar marcas amaldiçoadas. De início, ele achou que era algo semelhante aos fuinjutsus, mas conforme fora lendo, descobriu que as marcas amaldiçoadas eram usadas para, basicamente, controlar os alvos que as carregam, causando sofrimento mental e físico a eles através de um simples selo de mão. Algumas, inclusive, poderiam ser permanentes. — Então, o que achou? — o homem questionou, notando os olhos de Noboru brilhando enquanto lia o conteúdo daquilo. Seu semblante era o sério que ele sempre tinha, mas o olhar o entregava.

— Por que não me forneceu isso antes? — ele indagou, enrolando vagarosamente o papiro e pegando um cigarro no bolso para fumar enquanto iria devorar aquele conhecimento. — Poderia já ter me sido muito útil.

— Eu botei minhas mãos nesse tipo de conhecimento recentemente, desculpe. — murmurou, rindo. — Mas antes tarde do que nunca… eu vou te deixar sozinho e pedir que não lhe incomodem para que possa assimilar esse conhecimento. — murmurou, saindo do terraço antes que qualquer manifestação de Noboru fosse feita… não que ele fosse mesmo fazer alguma objeção. Ele apenas se sentou ali mesmo para passar a estudar o pergaminho, mantendo a cauda como auxílio.

INFOS:

Graças aquela lua vermelha no céu, juntamente com aquelas nuvens escuras, a noção de tempo de Noboru havia ido embora. A muito ele já havia terminado o cigarro que pegou antes de Koujaku sair, enquanto estava sentado no terraço, sentindo a brisa gélida bagunçar seus cabelos. O olhar entretido não saia do pergaminho dado por Koujaku, que era iluminado pela cauda ainda presente do outro, ao mesmo tempo em que fazia algumas anotações pessoais em um outro papiro que havia pego de sua mesa, na sala logo abaixo. Os juinjutsus eram complexos de se entender, tal qual eram os fuuinjutsus, razão pela qual dominar aquilo exigia um certo domínio de ninjutsu, bem como um intelecto avançado. Naquele momento, um agradecimento mental para Koujaku fora feito, se lembrando de quando o homem de orbes carmesim o obrigou a estudar e treinar aquele aspecto seu.

Entretanto, apesar daquela dificuldade nítida, ele estava conseguindo avançar vagarosamente em seu estudo. Ele tinha paciência, pelo menos quando se tratava de estudar. Pouco a pouco ele entendia como funcionava aquele tipo de habilidade, destrinchando a complexidade da mesma e entendendo como aplicar aquelas coisas e causar dor ao alvo através delas. Uma curiosidade interessante que seus estudos sobre aquilo revelaram era o de que suprimir juins era algo extremamente difícil, assim como sua remoção era quase impossível, sendo mais viável realizar o selamento destes do que sua remoção. Era algo que atraia ainda mais a atenção dele para aquilo, o que fazia seu interesse crescer ainda mais; já conseguia pensar perfeitamente nas possibilidades e na diversidade de coisas em que poderia aplicar o conhecimento que estava obtendo. Pensava que precisava agradecer ao seu tutor de alguma forma, pois a muitos anos ele o ajudava com aquele tipo de coisa sem pedir nada em troca.

Buscaria fazer isso depois, afinal ainda tinha muito o que fazer por hora.

Ele só interrompeu os estudos quando Suyen apareceu ali com uma bandeja contendo comida, o que fez sua barriga roncar. Foi só com a chegada dela que ele descobriu que já estava a mais de oito horas ali, decidindo que deveria fazer uma pausa para descansar… na verdade ele foi pressionado por ela a fazer isso.

INFOS:

Dominar aquilo exigiu ao imortal mais que algumas horas, então após o intervalo que fez devido a pressão posta por Suyen, ele retomou os estudos sobre juinjutsu. Os estudos levaram horas do dia seguinte, e do dia posterior também, levando praticamente uma semana inteira. Ele continuava a tirar o tempo necessário no terraço do gabinete, devido às ordens de não ser incomodado continuarem, pelo menos até o momento em que ele concluiu o estudo. Após guardar o pergaminho e se levantar, notou que alguém se aproximava do espaço exclusivo no qual ele estava, como se estivessem prevendo que ele havia acabado de ficar livre; eram Suyen e Koujaku que apareciam no terraço do gabinete, mas estavam acompanhados de um rapaz, provavelmente com uma idade próxima a da albina, que era mais nova que os outros dois ali presentes.

Não precisou de muitas palavras para Noboru deduzir de onde havia vindo aquele rapaz e que ele estava sendo vítima de um genjutsu da albina. De acordo com ela e com o homem presente, eles tinham que testar se Noboru havia aprendido a aplicar o que vinha estudando de forma prática, então para isso, uma das cobaias do laboratório de Koujaku seria usada. A ilusão aplicada por Suyen era para que o mesmo não causasse alardes ou tentasse fugir, afinal não poderiam correr o risco de sujar a imagem do atual Mizukage. — Parece que vocês dois pensaram em tudo mesmo, não é? — ele indagou, observando o rapaz despreocupado que, em minutos, seria vítima de um dos jutsus do outro imortal presente.

Noboru auxiliaria Koujaku a realizar um juin, mas apenas na parte teórica da coisa, como se estivesse passando por um tipo de teste. O tutor do Mizukage não quis passar detalhes sobre como funcionava a técnica por inteiro, apenas o suficiente para que Noboru pudesse responder perguntas e demonstrar se havia aprendido a mecânica; ou seja, ele nunca poderia replicar aquilo sozinho futuramente. Não era um conhecimento útil, mas ao menos lhe diria se os seus estudos valeram a pena, se chegaram a algum lugar e se ele estaria apto a criar suas próprias marcas no futuro. Para a alegria de Koujaku, Noboru pareceu saber exatamente o que ele estava fazendo nos preparos da técnica, antes de enfim aplicar o jutsu nas costas do rapaz que havia levado até ali; era natural para o imortal que Koujaku quisesse ter aquele tipo de controle sobre terceiros. Não teria mais problemas com suas cobaias fugindo se pudesse pará-las com um único selo.

— Eu espero que faça bom uso do que eu estou compartilhando com você. — disse o homem, enquanto realizava o selo do tigre e assistia o rapaz, alvo do juin aplicado a pouco, agonizar.

— Eu farei, pode ficar tranquilo… agora é bom pararem de fazer isso aqui em cima. Leve ele de volta para o seu laboratório. — pediu, emitindo um suspiro.

Assim que os dois saíssem, ele voltaria ao gabinete para terminar seus afazeres do dia.

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