Acordei de súbito após um pesadelo que remetia há um tempo desconhecido a mim, onde apenas o caos reinava e um homem governava o mundo com punho de ferro, enviando suas tropas para aniquilar as poucas resistências existentes no mundo. Suspirei, buscando na escuridão algum motivo para entender o motivo por detrás daquele pesadelo inoportuno, mirando o olhar na parede obscurecida pela sombra notívaga. A madrugada estava silenciosa, como de praxe, era possível ouvir apenas o grunhido de uma coruja, e o coaxar de um sapo. Após alguns minutos tive a certeza de que não dormiria novamente; estava atônito com o que acabara de vivenciar. Não obstante, levantei-me da cama lentamente, coçando as pálpebras com o dorso da mão para limpar as remelas; calcei os chinelos ao lado da cama e saí para o exterior de minha casa – mais precisamente, o riacho.

Em sintonia com a natureza, sentei-me com os joelhos dobrados na grama macia. Apoiando as mãos por detrás das costas, inclinando o pescoço para observar as estrelas, fascinado pelos pequenos pontos luminosos que representavam mais do que eu poderia imaginar. Mantive-me por cerca de trinta minutos neste estado, até que subitamente parei de escutar os sons dos pequenos animais de outrora. Um calafrio percorreu minha espinha. Atento ao riacho, pude notar uma grande silhueta feral tomar forma, assustando-me no processo. Ainda que distante, era possível ver os olhos amarelos da criatura, apresentando a íris em formato de fenda. Não pude ver seu corpo por inteiro, mas era óbvio o tamanho da criatura. Cerrei os punhos e franzi o cenho.

—— Mostre-se! —— exclamei, sério, quebrando o silêncio do ambiente.

Considerações:

Qualidades:

De forma súbita, a silhueta da fera gigante começou a se mover. Cada passo era lentamente proferido pela criatura, deixando a luz do luar incidir sob sua pelugem, destacando-a na penumbra. Os pelos albinos, listras negras, dentes pontiagudos e garras afiadas, lá estava o maior tigre já visto – mas ele sequer já havia visto um com tanta proximidade. Para mim, a imagem de um tigre se dava pelos contos que outrora meus pais leram em minha infância – e nenhum deles descrevia os animais com um porte colossal igual aquele que estava há poucos metros de minha face. Para demonstrar que não estava desprotegido, ergui os punhos rente ao peitoral; uma defesa típica para usuários de taijutsu.

—— Não chegue mais perto. Vá embora. —— exclamei, soturno. Com os olhos acompanhando as grandes órbitas amarelas do animal. Pensei em como lidar com a criatura, mas a fala da criatura me desconcentrou do plano que bolei em minha mente.

Acalme-se. Vim buscar sua ajuda. disse o tigre movimentando a língua, falando de forma perfeita como um humano. Perplexo, tentei entender como o animal conseguia fazer aquilo, mas para meu infortúnio, nada vinha à mente. E ele continuou a falar. Me chamo Tadashi, e Machia me trouxe até você. Itadori Yuji, o que me diz? continuou o animal, parando há cinco metros de mim. —— Como você pode falar? —— Indaguei, afoito. Isso é irrelevante nesse momento. Preciso de sua ajuda para combater um mal que espreita meu clã, e meu líder, Raijin. Nós, os Hoshizora Tora, somos um clã antigo de Tigres, unidos pela proteção da destruição humana. Mas há alguns meses alguns fanáticos vem assassinando nossos irmãos e irmãs, destruindo nossa floresta. Raijin teme que essa loucura chegue até Shizukesa no Yama, nossa casa, e por conta disso está planejando uma ofensiva contra a humanidade. O tigre fez uma pausa, fixando seu olhar em mim. Somente você pode proteger os humanos da fúria do Rei do trovão. concluiu.

Considerações:

Qualidades:

Trinquei os dentes, modulando uma resposta. Era um tremendo fardo, mas se a fera veio até mim para lidar com isso… era meu dever o fazer. —— Eu, Itadori Yuji, irei ajudá-lo, grande Tadashi! —— respondi, aproximando-me da fera. Pude perceber então que a pelagem do grande animal apresentava falhas, e que sua derme tinha espessura precária, típica de animais que estão em sua última fase de vida. Neste ínterim, levantei o queixo para olhar o semblante do animal. —— Mas… você é um Hoshizora, não é? Você abomina o contato humano, então por quê pede minha ajuda? —— Perguntei enquanto cruzava os braços, fitando a fera. Eu cheguei lá há poucas décadas. Na maior parte da minha vida, eu vivi entre os humanos, adotando a forma destes através de uma técnica básica que vocês, ninjas, usam, chamada Henge. Através disso, pude notar que nem todos os humanos são ruins, e nem toda cultura mundana é ruim. disse, e seu semblante remetia à nostalgia. Troque suas vestes e se arrume, e venha comigo. concluiu.

Com passos rápidos segui até em casa, fazendo o que o tigre mandou. Trajei as vestes usuais, pus a bolsa de armamentos básicos na coxa e retornei até o mesmo. —— Estou pronto. É muito longe?—— Indaguei. Não muito, e se você vier comigo será mais rápido. respondeu, curvando-se.

Considerações:

Qualidades:

Um tanto quanto envergonhado, agarrei no pescoço do animal, subindo em suas costas com um pequeno salto. Pude sentir o calor da criatura gigante. Vamos. disse a fera flexionando para saltar por cima dos muros da casa. Em instantes, já estava fora do vilarejo da névoa, e pude ver o raiar do sol nascendo, abençoando os cidadãos do vilarejo.

Em poucos minutos já estavam fora do vilarejo, bem longe do mesmo. Tadashi corria desenfreado pelo país da água, desviando de árvores e rochas espalhados. Apesar da idade, o tigre possuía um fôlego absurdo, mas nitidamente não continha tanta velocidade. Suas passadas eram lentas e pesadas, auxiliado ao tamanho do animal. Por um amontoado de tempo senti-me entediado nas costas da fera, até mesmo depois de um tempo chegando a cochilar. Porém, toda vez que este saltava por algo eu tinha de acordar e agarrar no pescoço da criatura, tomando bastante cuidado para não ir ao encontro do chão. Tome cuidado, criança. dizia ele todas as vezes que isso acontecia.

Após um longo minuto, pude vislumbrar pequenos animais correndo pela floresta, assim como pássaros que faziam suas casas nas árvores. Era uma bela harmonia, harmonia esta que fora quebrada por uma visão bastante desagradável.

Considerações:

Qualidades:

O fogo fulgurava por entre as árvores, e a fumaça se alastrava com tamanha rapidez. Tadashi viu, e eu também. O animal mudou seu curso e como uma flecha disparou rumo ao local visando ajudar no local.

Quando finalmente alcançaram o local, precisei conter-me para não socar a árvore próxima. Saltou do tigre de forma descuidada, tropeçando em alguns galhos caídos. Murmurou algo inaudível, e caminhou adiante. Pôde ver corpos carbonizados, decapitados e até mesmo empalados aonde quer que sua visão fosse. O sangue estava espalhado, assim como membros, além das diversas armas espalhadas no chão. Isso é uma lástima. disse Tadashi, atônito. Os gases tóxicos fizeram-me recuar de volta para o animal, subindo em suas costas para seguir rumo ao local de outrora.

—— Eles irão pagar. —— disse, irritado. Sim, eles irão. Um dia. concordou.

Falta pouco para chegarmos ao nosso destino, segure firme. completou o tigre, retomando as passadas lentas e pesadas floresta adentro. Havíamos partido dali, mas não pude deixar de olhar para trás e ver o fogo consumindo o pequeno povoado; perguntei a fera se caso tivéssemos chego um pouco antes teríamos ajudado de alguma forma, e esta, meneou a cabeça em negação, apertando o passo.

Considerações:

Qualidades:

Estamos próximos. disse o tigre, acelerando ainda mais a corrida e gastando de seu fôlego finito. Despertei do cochilo que havia dado nas costas do belo animal, abrindo os olhos lentamente, observando um local totalmente novo, ou no caso, diferente. —— Onde estamos? —— Perguntei. Em casa. ele respondeu ao atravessar uma barreira de chakra.

Shizukesa no Yama era um local diferente de tudo que eu já havia visto em toda minha vida. O local possuía uma rica natureza, vívida e com uma infinidade de tigres nesta. Estes, porém, olhavam para mim como se eu fosse apenas um sacrifício para os mesmos; salivaram, e seus olhos estavam fixados no meu. Por um segundo, senti medo, mas estar nas costas de Tadashi me trouxe um certo conforto. Eles nutrem ódio pelos humanos. Aqui é o local onde nossa espécie vem para fugir das atrocidades mundanas. explicou, sucinto. A atmosfera havia mudado e eu percebi quando senti um repentino cansaço. A energia lá era diferente, era natural – energia desconhecida por mim.

Lá em cima, no pequeno lago, é onde se encontram nossos líderes. E é lá que iremos. disse, apertando o passo. Ainda que fosse difícil de acreditar e explicar, o local transmitia uma imensa tranquilidade, e apesar dos animais mostrando seus dentes a mim, eu sabia que eles tinham seu motivo para isso. —— Esse lugar é incrível, Tadashi-san. —— falei enquanto meus olhos observavam todo o ambiente,

Considerações:

Qualidades:

Aquilo tudo de antes fora só uma ilusão feita pelos três irmãos, você os conhecerá em breve. Aliás, falando no diabo… O tigre de três cabeças deu as caras assim que Tadashi terminou a fala. O tigre parou sua corrida em direção ao topo, colocando para fora as suas garras. A criatura era ainda maior que o animal que eu estava em cima, mas o que mais chamava atenção era seu corpo com três cabeças. Um humano? O que ele faz aqui, e por quê ele está com você, Tadashi indagou a cabeça do centro, enquanto as da extremidade rosnavam para nós. Era notável que este não possuía a mesma idade de Tadashi, pelo contrário, estava no auge de sua maturidade: sua pelugem marrom e sua pele denunciavam isso.

Este humano irá nos ajudar com nosso líder para este não cometer um erro e causar uma guerra contra os de sua espécie. Genocídio não é a melhor opção. Respondeu Tadashi, mas em vão. A fera de três cabeças manteve-se na mesma de posição de outrora, e dessa vez, também pôs suas garras de fora, tomando uma posição de combate. Suspirei nas costas de Tadashi, incrédulo com o que meus olhos viam. Saciei também meu vício.

Eu entendo sua preocupação, mas isso não significa que vocês irão subir. Entregue-me o rapaz e darei a ele uma morte indolor. exclamou o tigre de três cabeças, por fim.

Considerações:

Qualidades:

Corra garoto, vá para o topo. disse o tigre ancião de forma que só eu pudesse ouvir. Agilmente desvencilhei-me do pescoço da criatura e caí no solo pedregoso, correndo em velocidade máxima para me afastar do embate que estava prestes a começar. O tigre ancião apesar de ter seus quase três metros parecia pequeno perto da criatura de três cabeças e pelagem marrom, e devido a essa diferença gritante eu achei que poderia ser o fim de Tadashi. Suspirei, e tirei esse pensamento da cabeça; confiei no que a fera falou, assim como confiei em seu potencial. Ainda que eu estivesse longe dali, era possível ouvir o som de duas bestas se degladiando.

Continuei trilhando o caminho que me fora dito pelo tigre ancião: montanha acima. As passadas eram velozes e precisas, mas durante o percurso pude notar diversos animais pelo caminho, de variados tipos e tamanhos. Alguns falavam com dificuldades, mandando eu voltar para onde vim, outros aparentavam a normalidade e apenas rosnavam para mim, assustados. Ainda sim, mesmo as criaturas que falavam não eram capazes de acompanhar minha velocidade insana. Como uma flecha, subi montanha acima, demorando nada mais que quinze minutos exatos para tal feito. Em meio a corrida, saciei meu vício mais uma vez.

Considerações:

Qualidades:

Ao alcançar o topo pude observar toda a grandiosidade da montanha. Meus olhos depararam-me com um local único, com plantas e flores diferentes de todas que eu vi em minha vida. Um arco-íris por assim dizer. Havia, porém, uma grande clareira onde se encontrava dezenas de tigres, e eu segui até lá. Julguei que aqueles animais fizessem parte da corte de Raijin, e os mesmos fitavam-me com o mesmo ódio que outrora assim que entrei neste local. Não me preocupei a princípio, porém, a voz rouca e imponente ecoou do fundo da localidade, pegando-me desprevenido.

O que você faz aqui, humano? falou o líder dos tigres. Seu tamanho era imenso, superando até mesmo os outros dois animais que outrora viu. Um verdadeiro titã, um colosso animalesco pronto para me matar a hora quem bem entendesse. Outros tigres aproveitaram-se da entrada do animal e prostraram-se ao lado da criatura de pelos azuis. A semelhança de um dos animais era tamanha, e julguei que este era filho deste, portanto, a tigresa que apresentou-se deveria ser sua cônjuge. A pelagem desta destacava-se das demais, inclusive, dando-lhe um ar de imponência.

Acabem com o lixo. ordenou a criatura, e das sombras surgiu um tigre portando uma lâmina na boca. A criatura avançou com ferocidade, desferindo um corte na diagonal. Mas ainda que sua velocidade fosse tremenda, consegui desviar, instintivamente com minha velocidade superior, aproximando-me do líder dos tigres estrelados. —— Vamos conversar, por favor. —— solicitei fitando a monstruosidade nos olhos.

Considerações:

Qualidades:

A criatura mirou seus olhos furiosos nos meus, deixando o ambiente tenso. Os demais tigres permaneceram parados diante daquela situação. Pois bem, vamos conversar. respondeu a besta, sentando-se. —— Me chamo Itadori Yuji e estou aqui graças a Tadashi, membro do seu clã. —— falei usando de minha esperteza, visando favorecer meu lado – o lado da humanidade. —— Eu entendo seus motivos, Raijin-Sama. A vida de muitos de sua espécie e suas casas foram ceifadas por conta das atrocidades dos humanos. A minha raça. —— pigarreei, retomando a fala. —— Ainda sim, não podemos culpar toda a humanidade pelos feitos de um grupo pequeno. Temo que este grupo que está incitando a destruição de sua espécie seja o mesmo que matou os familiares de um grande amigo meu enquanto ainda éramos crianças. Estes seres são desconhecidos até para mim, mas trilho o caminho para encontrá-los e fazê-los pagar por todas as atrocidades cometidas. Este grupo é o principal inimigo da humanidade, e eu, Itadori Yuji, reconheço meu dever de parar esse grupo de uma vez por todas. —— concluí, franzindo o cenho.

Houve um longo minuto de silêncio após meu discurso, e então, o mesmo foi rompido pelas palavras do tigre azulado. Bom discurso, Itadori Yuji. Você se diz um assassino de humanos, correto? Um matador de fanáticos? Pois bem, talvez você tenha alguma utilidade para nós, Hoshizora Tora. Admiro suas palavras, assim como seu empenho para vir até mim. Porém, precisa me assegurar de que cumprirá com sua palavra. concluiu, aproximando-se. —— Dou-lhe a minha palavra de que farei isso, Raijin-Sama. —— falei, levantando o punho para o ar e fazendo uma pequena reverência em seguida. Aqui na montanha nossos acordos são feitos de outra forma. assim que o animal concluiu sua fala, um tigre próximo do mesmo trouxe um pergaminho em sua boca, soltando-o no chão em seguida e revelando seu conteúdo. Assine seu nome e ponha suas impressões, infanto. Use seu sangue para isso. E após concluído, realize os selos do Javali, cão, pássaro, macaco e carneiro. Instruiu.

E assim o fiz, cortei o polegar com uma das Kunais de minha bolsa e assinei o contrato com meu nome e minha digital. Em seguida realizei os selos informados, na mesma ordem, perdendo um pouco de chakra após o processo . O pergaminho explodiu em fumaça, parando ao lado do Rei dos tigres.

Está concluído. Você agora detém nosso pacto de sangue, sendo capaz de invocar-nos para a luta. Bradou, por fim. Todos os tigres se retiraram após as falas de seu líder, e eu desci a montanha em busca de Tadashi, encontrando-o ferido juntamente à fera de três cabeças. —— O que houve com vocês? —— Indaguei, e ambos explicaram o ocorrido, assim como eu também expliquei o que houve lá em cima. Chame a tigresa de pelagem púrpura para nos curar, ela está em algum lugar por aqui. Seu nome é Suijin e ela é a esposa de Raijin. disse Tadashi, mais ferido que o outro animal. E assim o fiz, cacei a mesma por alguns minutos e quando a encontrei, informei o acontecido. A tigresa suspirou, mas tratou dos outros dois com suas habilidades de Iryo Ninjutsu. E enquanto Tadashi era curado, o olhar do mesmo fixou-se em mim por um instante, e era notável que este estava feliz por nossa conquista.

[...]

Quando o sol surgiu na montanha da tranquilidade, eu parti. Me despedi dos animais e retornei a minha casa. Tadashi havia me levado em suas costas mais uma vez, e dessa vez a volta era tranquila. Ao chegarmos em minha residência, o animal se despediu com um obrigado, deixando-me por fim.

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