Tinha cheiro de folhas antigas, aquele aroma distinto de papel envelhecido que se assemelha a um sussurro do passado. Era um cheiro terroso, com notas de baunilha sutil, emanando das páginas amareladas do livro de anatomia que o Senju segurava. O aroma evocava a sensação de estar cercado por um acervo de sabedoria esquecido em uma biblioteca secular, onde cada página virada liberava fragmentos de conhecimento há muito guardados. Nas mãos do jōnin, o livro estava aberto no capítulo que discorria sobre o sentido humano do olfato, explorando sua complexa fisiologia e as implicações práticas desse sentido, especialmente para um shinobi. O texto delineava como o olfato não era apenas um meio de perceber o mundo, mas uma ferramenta valiosa na arte do disfarce e da detecção.

O livro detalhava como, no cotidiano de um ninja, o olfato poderia ser decisivo para identificar venenos ocultos, detectar a presença de inimigos através de seus odores corporais específicos, ou mesmo para seguir trilhas que para outros seriam invisíveis. O Senju lia com atenção, absorvendo como o olfato, muitas vezes subestimado, poderia ser um aliado crucial em missões de reconhecimento ou quando mergulhado em ambientes desconhecidos e potencialmente perigosos. Cada parágrafo, cada linha que lia, despertava um novo interesse e uma nova possibilidade em sua mente, tal qual qualquer informação que pudesse se traduzir em uma vantagem tática no campo. A habilidade de extrair e aplicar esse conhecimento no contexto shinobi não apenas enriquecia sua compreensão, mas também ampliava suas capacidades, fornecendo-lhe mais uma camada de habilidades para aprimorar sua arte ninja.

Dedicado como era à sua própria melhoria, o Senju ponderou sobre as maneiras pelas quais poderia treinar seu olfato para se tornar tão avantajado quanto sua audição. Ele imaginava exercícios que envolviam a identificação de diferentes aromas em frascos selados, desde ervas simples até compostos mais complexos usados em venenos e medicinas. Poderia também praticar a localização de objetos ou pessoas usando apenas o cheiro, em ambientes controlados onde diferentes odores seriam espalhados para simular condições de campo. Outra técnica envolveria blindar um de seus outros sentidos, como a visão, para intensificar a dependência e a acuidade olfativa. Decidido a colocar essas ideias em prática, Maeda seguiu pelos corredores arenosos do castelo naquela noite fria. A areia sob seus pés sussurrava a cada passo, uma lembrança constante do mundo árido lá fora, contrastando com o interior escuro e silencioso do castelo. O ar estava frio e seco, a temperatura baixa intensificava os aromas, uma condição ideal para o treino que buscava.

Maeda escolheu como destino os jardins de ervas medicinais do castelo, um local que, apesar de sua aparência despretensiosa, era uma cápsula de biodiversidade e de riqueza olfativa. Os jardins eram um mosaico de aromas, onde cada planta oferecia um perfil único: desde a lavanda suave até o alecrim pungente, passando pela camomila calmante e o hortelã revigorante. O cheiro da terra úmida misturava-se ao das folhas e flores, criando uma paleta complexa de fragrâncias que poderiam desafiar até mesmo o olfato mais refinado. Ao chegar aos jardins, fechou os olhos por um momento, inalando profundamente. Ele começou a se mover lentamente entre as fileiras de plantas, concentrando-se em isolar os aromas individuais. Para tornar o exercício ainda mais desafiador, ele havia preparado previamente pequenos sacos de tecido contendo diferentes misturas de ervas e especiarias. Distribuiu-os em pontos estratégicos pelo jardim, cada um projetado para testar sua habilidade em identificar e localizar odores específicos em meio à cacofonia olfativa natural do ambiente.

Era de se esperar que o treino do Senju desse frutos rapidamente, dado o seu histórico de progresso consistente em habilidades anteriores. Na calada da noite, sob o manto de estrelas que mal se vislumbrava por entre as folhas sussurrantes das árvores, ele mergulhou em um treinamento intenso focado em expandir drasticamente sua capacidade olfativa. Ele iniciou com exercícios básicos, tentando identificar o aroma específico de cada planta nos jardins. Com uma venda nos olhos para eliminar a distração visual, ele se concentrava intensamente no cheiro de cada erva e flor, tocando as folhas delicadamente, inalando profundamente para capturar a essência de cada uma. O perfume do jasmim noturno era doce e penetrante, contrastando com o aroma cítrico e nítido do capim-limão. Ele também se familiarizou com o cheiro terroso da raiz de valeriana, que escondia notas sutis de madeira.

À medida que a noite avançava, o Senju intensificava seu treinamento. Ele criou um jogo de correspondência olfativa, onde associava cada aroma a uma memória ou emoção específica, uma técnica para gravar mais firmemente cada cheiro em sua mente. Essa abordagem não apenas aprofundava seu entendimento das fragrâncias, mas também o ajudava a evocar e identificar cada uma delas mais rapidamente. Em seguida, explorou a interação dos aromas, combinando diferentes ervas para entender como os cheiros se misturavam e mudavam. Isso o ajudou a discernir componentes individuais em misturas complexas, uma habilidade crucial em situações de combate e espionagem, onde odores podem ser camuflados ou mascarados.

Gradualmente, ele ampliou o alcance de sua percepção, estabelecendo pontos de referência olfativos a distâncias crescentes. Com os olhos ainda vendados, ele se deslocava pelo jardim, parando a cada dez metros para identificar e catalogar os aromas que alcançavam seu olfato. Ele estendia esse alcance cada vez mais, até que, ao final da sessão, era capaz de distinguir e identificar odores a impressionantes trezentos metros de distância. O ápice de seu treinamento veio com a aurora, quando as primeiras luzes do amanhecer tingiam o céu de tons rosados e laranjas. O jōnin, agora exausto mas resoluto, removeu a venda dos olhos e fez o caminho de volta aos seus aposentos no castelo. O frescor da manhã trazia consigo um novo conjunto de aromas, e cada passo que dava era acompanhado por uma consciência aguçada do mundo ao seu redor.