O clima de Iwagakure no Sato estava relativamente seco naquela manhã, há tempos não caia uma gota de chuva sequer. Para aqueles que possuíam algum tipo de problema respiratório, indubitavelmente isso era péssimo. Por sorte, não era o caso de Shinobu. A brisa gélida que ainda soprava devido a recente mudança de estação, tornava o ar agradável. Por esse motivo, a kunoichi foi domada por uma forte preguiça e demorou para levantar da cama.

Lentamente, a chunin se levantou e caminhou até o banheiro para lavar o rosto e escovar os dentes. Depois, ainda de pijama, seguiu até a cozinha para preparar algo para comer: uma xícara e chá e torradas amanteigadas com ovos fritos. Assim que se sentou, foi interrompida pelo soar da campainha, contudo, continuou a comer na expectativa que outra pessoa atendesse. Não foi o caso e, instantes depois, tocou novamente. “Não tem ninguém nesta casa?”, reclamou após suspirar. Destarte, seguiu em direção a entrar e abriu a porta em um só movimento. Revelou-se então a figura de um homem de meia idade trajado com as vestes características do esquadrão policial de sua vila.

— Shinobu Kochou? — Questionou em um tom de voz sério.

— Sim. — A jovem rapidamente mexeu nos cabelos na tentativa de arrumá-los, em vão.

— Prazer, sou Ringo Amarama, oficial da polícia de inteligência de Iwagakure..., podemos conversar? — Apresentou-se.

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“Polícia? Eu fiz algo de errado que não estou lembrada?”, perguntou-se. — P-Podemos sim, entre. — A jovem fez um gesto dando passagem para o homem e o guiou até a sala de estar, solicitando para que ele se sentasse. — Sente-se, gostaria de beber algo? — Perguntou.

— Não, não..., está tudo bem, obrigado. — Ele se sentou em uma poltrona isolado.

— Então..., o que você gostaria de conversar? — Por sua vez, Shinobu acomodou-se na poltrona a frente.

— Você parece preocupada..., fez algo de errado que eu deveria estar vindo cobrar? — Ele riu, quebrando o clima de tensão. — Recentemente estamos procurando shinobis com intelecto acima da média para integrarem o esquadrão de Inteligência da Pedra. Então, recebi pessoalmente a indicação de seu nome.

— Gilbert?

— Ele mesmo.

— Por que aquele velho continua se metendo nas minhas coisas? — Reclamou, irritada.

— Enfim, estou aqui para questioná-la sobre seus interesses em realizar alguns testes cognitivos comigo e, em caso de aprovação, convidá-la para ingressar na organização. Estaria disposta?

Shinobu levou alguns breves segundos para responder, pensativa. — No momento eu não tenho interesse em entrar para o esquadrão, recém me tornei uma chunin e gostaria de aproveitar mais livremente essa nova função. Porém, tenho interesse em realizar os testes e, quem sabe, em um momento futuro entraria em contato novamente para solicitar meu ingresso. Pode ser dessa forma?

— Acho que não temos muitas opções, então sim. — Ele se levantou. — Retornarei amanhã neste mesmo horário para começarmos, perfeito?

— Combinado. — A ruiva se levantou ao mesmo tempo que o policial e o conduziu até a porta, despedindo-se.

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No dia seguinte, esperando a visita do oficial, Shinobi levantou mais cedo e conseguiu se arrumar para o receber. Vestiu-se com um camisa e bermuda pretos, destacando suas curvas; uma bota ninja de cano longo; e, sobre as vestes negras, um casaco em tom de amarelo, afinal, soprava uma brisa gélida de tempos em tempos. Então, preparou um jarro de chá de ervas, alguns biscoitos de milho e os levou para o escritório, deixando-os sobre a mesa junto a duas xícaras. Assim que terminou os preparativos, a campainha tocou.

— Bom dia, Shinobu.

— Bom dia, Amarama-san. — Respondeu. — Entre.

O policial, vestido com roupas semelhantes ao dia anterior e carregando com sigo um amontoado de papéis, adentrou a residência e seguiu com a kunoichi para o escritório. Após servi-lo com uma xícara de chá, a garota sentou-se e aguardou pelas instruções iniciais.

— Acredito que podemos começar. — Ele se ajeitou na cadeira. — Trouxe uma série de perguntas comigo e irei fazê-las a você..., algumas fáceis, outras mais complicadas. Porém, todas terão o mesmo tempo para resposta: 15 segundos. Alguma dúvida? — Shinobu respondeu negativamente com a cabeça. — Primeiro: a metade de um quarto de 400 é?

— 50..., essa é fácil. — Riu. No entanto, Ringo não demonstrou nenhuma reação e prosseguiu.

— Na sequência ‘8, 6, 9, 5, 10, 4, 11, ...’ qual é o próximo número?

“De 8 para 6, diminui 2...; de 6 para 9, soma 3...; de 9 para 5, subtrai 4...; de 5 para 10, soma 5. Faz sentido..., ou soma-se ou subtrai do número anterior um determinado valor na ordem crescente. Então, se de 4 para 11, somou-se 7; de 11 para o próximo, subtrai-se 8. Portanto...” — 3.

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Amarama arqueou as sobrancelhas, surpreso pela rapidez que a jovem respondeu as primeiras perguntas. Silenciosamente, antes de prosseguir, levou a xícara de chá a boca e, ao queimar a boca devido a temperatura do líquido, imediatamente a afastou. Shinobu desviou o olhar na tentativa de não rir da cena, enquanto o policial assoprava freneticamente para reduzir a temperatura da bebida. Após finalmente conseguir beber, comeu um biscoito rapidamente e pigarreou para voltar a falar.

— Desculpe-me pela demora, tenho um leve apreço por chás e precisava experimentá-lo..., inclusive, está ótimo. — Agradeceu. — Enfim, vamos prosseguir..., se onze mais dois é igual a um, quanto é nove mais cinco? — Enquanto aguardava a resposta, voltou a consumir o líquido de ervas.

“O quê?”, disse para si mesma, exibindo uma estranha expressão de dúvida. Shinobu apoiou a testa nas mãos e fechou os olhos, porém, os segundos se passavam mais depressa que o normal e ela não fazia ideia da resposta. Ao abrir os orbes novamente e olhar para cima, reparou no relógio de ponteiros pendurado na parede a sua frente. “11 + 2 é 1... 1 da tarde? Estranho..., contudo..., faz sentido”, refletiu. “Então..., 9 + 5 é 2... 2 da tarde”. — Essa foi complicada, mas a resposta é 2. — Respondeu sem muita convicção, mas animou-se ao ver que o policial aprovava sua resposta.

considerações:

— Na sequência ’49, 62, 70, 77, 91, ...’, qual é o próximo número?

As perguntas ficavam cada vez mais complicas e forçavam a kunoichi a raciocinar e a organizar seus pensamentos de modo que conseguisse encontrar as respostas dentro do pequeno prazo estipulado. Enquanto refletia sobre a última pergunta, pegou um punhado de biscoitos com uma das mãos e começou a comê-los com calma e mastigando lentamente para evitar fazer barulhos que pudessem a distrair. “62 menos 49 é 13; 70 menos 62 é 8; 77 menos 70 é 7; 91 menos 77 é 14..., não parece uma relação muito clara entre os números”, Shinobu suspirou fortemente, largou os biscoitos que restaram em sua mão de volta no prato e olhou para o cronômetro ao lado do policial com o canto dos olhos. “Esse 13 da diferença do primeiro para o segundo número da sequência vem de onde? ..., E se eu somar os dígitos do 49? 4 mais 9 é 13. Bingo? 49 + 4 + 9 é 62. Hm..., só para confirmar: 62 + 6 + 2 é 70”. Assim que a chunin concluiu seu pensamento, o homem a interrompeu.

— Passaram-se os 15 segundos..., tem a resposta?

— Sim..., 101. — “91 + 9 + 1 é 101”, concluiu.

— Ótimo! — Exclamou Ringo.

A jovem suspirou novamente, porém, desta vez, em tom de alívio.

considerações:

— Estamos bem próximos de acabar, só mais algumas perguntas. — Disse o policial, enquanto revirava o montante de folhas que havia deixado sobre a mesa. — Essa aqui..., pegue! — Passou-se alguns instantes até que ele pegou uma dessas folhas e entregou a jovem. O papel possuía um quadrado no centro, dividido em 9 partes, onde, em cada uma dessas, havia o desenho de uma seta. — Qual é a seta faltante nessa imagem? — Questionou.



Diferentemente das questões anteriores, as quais envolviam números e cálculos, desta vez Shinobu precisava apenas observar atentamente para entender a forma como as setas estavam dispostas no desenho. Com a mão no queijo, pensativa, levou cerca de 3 segundos para dar a resposta com convicção. — É a seta que aponta para a direita..., minha direita, no caso. — A jovem, dotada de receio de não ser compreendida, gesticulou com as mãos para complementar sua fala.

— Estava fácil..., até eu consegui entender rapidamente. — Ele riu e entregou outra folha à kunoichi. — A pergunta é análoga a anterior, qual a figura que falta?



Semelhante ao anterior, o quadrado continha 8 desenhos de retas com um ponto em determinado local delas. Nesse momento do teste, o cérebro de Kochou estava condicionado a velocidade do trabalho e, assim, não demorou para encontrar a resposta. “O ponto da terceira fileira está sempre na extremidade oposta ao da primeira fileira, seguindo a mesma orientação, portanto...” — É uma reta vertical cujo ponto está localizado na extremidade inferior.

considerações:

— Acredito que temos uma conclusão. — Disse, olhando para a jovem. — Entretanto, por questões mais burocráticas, farei mais algumas perguntas: uma ou duas, talvez. — Amarama se levantou brevemente para encher, pela terceira vez, sua xícara com mais chá e pegar mais alguns biscoitos. Ao se sentar, folheou novamente o montante de papéis e retirou um aleatoriamente. — Pode ser essa aqui..., qual seria a próxima letra da sequência ‘C, F, I, L, O, ...’?

De certo modo aquela série de perguntas estava se tornando cansativa, mesmo que não exigisse nenhum tipo de esforço físico. Shinobu começava a ficar desconfortável e ansiosa para que acabasse logo. Se não fosse pelo aviso dado pelo policial de que deveriam ser os últimos questionamentos do teste, certamente a jovem seria afetada pelos seus próprios sentimentos. No entanto, ainda conseguia manter a concentração em nível suficiente para conseguir corresponder às expectativas, que deveriam ser altíssimas, visto seu desempenho até o momento. Destarte, pensou em relacionar as letras a coisas que fossem semelhantes ou tivesse algum tipo de proximidade, porém, não aparentava ser essa a solução. Na sequência, enunciou o alfabeto contando as letras nos dedos das mãos e finalmente abriu um sorriso. — As letras estão distantes 3 casas umas das outras, seguindo a ordem do alfabeto, a resposta é ‘R’.

Ao ouvir a resposta, Amarama bebeu todo o chá que estava sem sua xícara de uma só vez e bateu com ela na mesa – forte o suficiente para fazer barulho, mas não a quebrar.

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— Vejo que você já está cansada, vamos parar por aqui. — Anunciou, juntando as folhas, colocando-as de baixo do braço, e se levantando. — Dentre todos aqueles que fiz os testes, você foi a que mais se destacou e, modéstia à parte, surpreendentemente. Então, conforme conversamos antes de iniciarmos, me sinto na obrigação de refazer o convite para ingressar no Departamento de Inteligência de Iwagakure..., você será muito bem-vinda.

— Como eu disse, no momento eu tenho outros interesses e por isso precisarei recusar..., desculpe-me por isso.

— Não tem com o que se desculpar, eu entendo perfeitamente seu sentimento..., entretanto, deixarei as portas abertas para você e bastará sinalizar o interesse no futuro que será prontamente adicionada à organização..., não será necessário refazer os testes, pois deixarei o resultado desse último em nossos arquivos. — O policial olhou para o relógio na parede. — Está passando da minha hora, tenho outros compromissos em alguns minutos..., então..., me despeço aqui. Muito obrigado pelo chá, estava ótimo.

— Foi um prazer..., Amarama-san. — Ela estendeu as mãos para o cumprimentar e o guiou até a porta.

— O prazer foi meu, Shinobu Kochou. — O oficial curvou-se brevemente e deu as costas para a jovem, seguindo em direção aos seu próximo destino. Por sua vez, a kunoichi foi rapidamente organizar o escritório e, depois, trocar as vestes para algo mais confortável.

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