Hattori Shion
Angell, plenamente ciente do desafio à sua frente, lançou-se ao ataque, uma estratégia audaciosa diante de múltiplos adversários. Entretanto, enfrentava uma criatura singular: Shion, portador da kekkei genkai dos Uchiha. Com seus olhos extraordinários, capazes de antever os movimentos adversários quase como se fossem premonições do futuro, ele discerniu a estratégia de Angell antes mesmo de sua execução. Ao receber o primeiro golpe, Shion conseguiu esquivar-se parcialmente, deslocando seu corpo com agilidade. No entanto, não perdeu a oportunidade de contra-atacar, tocando rapidamente o pé de Angell. Esse contato, embora rápido, foi o prelúdio de um efeito mais insidioso.
Quando Angell executou seu segundo ataque, Shion, apesar de visualizar o movimento graças à sua habilidade única, foi pego de surpresa, permitindo que o golpe atingisse seu alvo. No entanto, ele conseguiu tocar o braço de Angell durante a troca, distanciando-se em seguida e lançando uma provocação: "Sinta-se pesada".
Foi então que Angell percebeu o efeito devastador dos toques anteriores: sua perna, que havia sido tocada, começou a congelar, assim como seu braço direito. O peso tornou-se insuportável, dificultando seus movimentos e comprometendo seu equilíbrio. Enquanto lutava para manter-se de pé, o infame Shion avançava calmamente em sua direção, desembainhando uma de suas katanas e direcionando-a a Angell, agora vulnerável e à sua mercê. Com um tom zombeteiro, ele escarneceu: "Lenda Ninja, que piada", preparando-se para desferir o golpe final e decapitar Angell.
Subitamente, Shion foi tomado por uma voz masculina robusta ao seu ouvido, mergulhando o ambiente em escuridão. Angell estava à sua frente, imóvel, como se o tempo houvesse congelado. A voz lhe era estranhamente familiar, levando-o a girar em busca de sua origem. "Pai?" indagou, sem encontrar resposta. Logo após, uma sensação de frio percorreu sua alma ao sentir duas mãos pousarem em seus ombros, acompanhadas por um sussurro feminino. "Você tem que matá-la, meu garoto," insistia a voz, provocando arrepios ao repousar o rosto em seu ombro. "Ela é sua missão, lembra?"
No entanto, um novo toque o surpreendeu. Desta vez, havia peso e calor, uma presença reconfortante. "Me lembro de subir essas montanhas com um garoto..." A voz masculina se fez presente, inconfundível para Shion: era Daelin Grey, seu pai adotivo, mentor e guia. "Pai, como?" Shion balbuciava, confuso, antes de ser interrompido pela insistente voz feminina. "Meu menino dedicado, não vai completar a última ordem de sua mãe? Ela deixou sua mãe vulnerável, termine o que começou."
Shion, movido pela ordem, levantou a katana em direção a Angell, mas foi interrompido pela voz de Daelin, agora mais firme e poderosa. "Foi essa a educação que lhe dei, Hattori Shion? Filho de Hanzo, Filho de Mavis, Filho de Daelin, Filho de Azshara." A reprimenda fez Shion hesitar, sua resolução abalada pelas palavras do homem que se pronunciava.
"Uma jovem lhe convida para um confronto, em um lugar sagrado." As palavras de Daelin ressoavam com autoridade, enquanto ele finalmente se materializava à frente de Shion, segurando-o pelos ombros. Shion, subitamente tomado por um sentimento de pequenez diante da imponente figura de seu pai, recolhia-se, a intimidação clara em sua postura. "Neste lugar, você aprendeu a respeitar o guerreiro, compreendeu que deve tratar seu adversário, enquanto este portar uma katana, com o devido respeito, como um igual."
Shion desviou o olhar, envergonhado, mas foi prontamente repreendido. "OLHE PARA MIM ENQUANTO EU FALO COM VOCÊ!" A voz de Daelin ecoou, fazendo Shion tremer, à beira das lágrimas. "Sem choradeira, Shion. Você tem mais de cem anos, não treze." A reprimenda era dura, mas necessária. Contudo, no momento seguinte, Daelin desvaneceu como fumaça, dando lugar a Azshara, cujo olhar de decepção era quase palpável. "Eu nunca imaginei que você falharia em cumprir uma ordem minha, meu melhor soldado, meu homem mais confiável."
Shion, agitado, protestou. "Não, eu cumpro. Eu a mato agora mesmo." Mas Azshara desapareceu, deixando apenas um sussurro: "Muito bem, afinal, você sabe que não pode negar as ordens de sua rainha."
Quando Shion preparava-se para desferir o golpe final, Daelin reapareceu, desta vez atrás de Angell, encarando Shion com uma expressão grave. "Você quer derrotar essa mulher? Faça isso, mas como um homem, não como um covarde. Ela desafiou você para um duelo samurai. Abaixe sua postura e lute como um homem."
Shion hesitou, tentando justificar-se. "Mas pai, a rainha ordenou..." Daelin, então, elevou a voz, cortante: "Azshara não sabe de tudo, Shion. Ela esteve errada sobre muitas coisas - sobre Katsura, sobre ela mesma, sobre tudo. Você enfrenta seus próprios demônios, mas não é o monstro que ela tentou criar. Você é meu filho."
Essas palavras, carregadas de verdade e emoção, atingiam Shion profundamente, forçando-o a confrontar a dualidade de sua existência: a lealdade cega à sua rainha e os ensinamentos de honra e respeito inculcados por seu pai adotivo. Nesse momento, o campo de batalha transcendia o físico, tornando-se um palco para a batalha interna de Shion entre a obediência e a honra, entre o destino imposto por Azshara e o legado deixado por Daelin.
As vozes conflitantes de Azshara e Daelin ecoavam incessantemente na mente de Shion, criando um turbilhão de emoções e dúvidas. Angell, observando a cena, podia ver o tormento estampado no rosto dele, até que, em um surto de desespero, Shion explodiu. "PAREM DE FALAR!!!" Gritou, com um desespero palpável, abandonando as katanas ao chão e levando as mãos aos ouvidos numa tentativa vã de silenciar as vozes internas. Após um suspiro profundo e um momento de introspecção, seus olhos se fecharam e, ao se abrirem novamente, o brilho de seus doujutsus se esvaía, sinalizando um retorno à calma.
Com movimentos lentos e deliberados, Shion se aproximou de Angell, tocando seu braço e perna com cuidado, dissipando o congelamento provocado por seus toques anteriores. Estendendo a mão para ajudá-la a se levantar, sua voz soou calma, embora ainda carregasse vestígios de timidez. "Você é médica, não é? Cure suas feridas."
Uma vez que Angell se recuperou, Shion, segurando apenas uma katana, reassumiu sua posição de combate, mas desta vez com uma nova resolução. "Vamos recomeçar. Prometo não desonrar mais o desafio." Era evidente sua intenção de redimir-se, de honrar o duelo como um verdadeiro samurai.
Angell, ainda absorvendo a mudança súbita de comportamento de Shion, talvez não tenha percebido, mas por um breve momento, a presença de seu avô, a quem nunca conhecera, manifestou-se atrás dela. Com um gesto de apoio, ele pousou a mão em seu ombro e acenou positivamente para Shion antes de desaparecer, como se concedesse sua benção para o recomeço do combate.
A transformação de Shion, de um guerreiro atormentado pelas vozes do passado para um combatente em busca de redenção, marcava o início de um novo capítulo no duelo. O campo de batalha, antes um palco para a manifestação de conflitos internos e influências externas, tornava-se agora um lugar sagrado onde o respeito mútuo e a honra ditariam o curso da luta.