Desde muito novo, Inoue aprendeu a jogar cartas com o pessoal do orfanato no qual foi criado. Era uma das suas atividades favoritas, principalmente quando estava incluído algum tipo de aposta. Como nenhum deles possuíam ryõs, acabavam apostando a sobremesa do almoço. O que ainda assim, o jovem de cabelos platinados encarava como algo extremamente vantajoso.

— Bom dia, Inoue. - disse uma garota de cabelos rosados que se aproximou repentinamente do garoto.

— Ah, bom dia. Nami-san. - respondeu Inoue, sendo bastante cortês.

— Oh, não precisa dessa formalidade. Então, como tem passado?! - indagou.

— Estou bem.  Logo irei me formar na academia. - sorriu.

— Que legal, ainda falta um pouco mais para mim. Olha, hoje você vai jogar algo antes do almoço? - ambos estavam caminhando lado a lado, mas para realizar esta pergunta a jovenzinha deu um passo a mais e parou bem na frente do Inoue. Encarando diretamente seus olhos, enquanto aguardava ansiosa pela resposta. O órfão ficou meio desconcertado e com um sorriso meio nervoso respondeu:

— N-não sei. Por que, você quer jogar? - expressou um sorriso no canto da boca.

— Não, não. - deu uma risada. — Estava pensando em te pedir um favor. - coçou levemente sua cabeça. — Se poderia me passar uma das sobremesas, caso ganhe.

— Se eu ganhar? - indagou em um tom irritado.  — Mas irei pensar no seu caso. - a garota de cabelos rosados ficou desconcertada, parando de andar por alguns segundos e acelerando um pouco seus passos para alcançar o Inoue. Ela estava correta em um ponto, ele iria de fato jogar antes do almoço. Não por conta da sobremesa, mas por sentir-se mais tranquilo quando participava de alguma partida com seus colegas do orfanato.  — Jogos não tem nada haver com sorte… requer muita habilidade para conseguir vencer seu adversário enquanto o faz acreditar que ele ainda possui vantagem até o último segundo.

— Oh, você realmente é um grande fã de jogos, não é?

— Você não imagina o quanto. Sinceramente, não gosto de participar de algo que não tenho a intenção de vencer.

— Inoue-san? Sou recém chegado aqui no orfanato Flor, Yuta! Prazer em conhecê-los. - a garota de cabelos rosas tentou falar algo para entender a aproximação repentina, mas teve seu turno de fala completamente atropelado. — Você é o tópico mais comentado das fofocas! De como você vem conseguindo conquistar as sobremesas do pessoal. Eu sou bom em apostas também, sabe? Então eu pensei que seria divertido se compararmos nossas habilidades.

— Eu aceito o desafio! - respondeu Inoue, com um sorriso em seu rosto.

— Espere, Inoue! - a garota que estava andando com Inoue inicialmente falou surpresa.

— Imaginei que sim! - expressou sua animação. — Então, iremos jogar “memória dupla”. Como o próprio nome sugere, vamos usar dois baralhos de cartas. - agora, estando ambos sentados numa mesa. Yuta retira dois baralhos e posiciona as cartas emborcadas sobre a mesa. Dando sequência a explicação de como funciona o jogo.  — No jogo normal de memória, você simplesmente junta os pares para ter um ponto. Entretanto, nesse jogo, o naipe tem que combinar também. - sorriu. — Em outras palavras, cada carta só tem um par em cada baralho.

— Entendi! Parece ser bem divertido. Eu quero jogar com certeza.

— Que bom que gostou. Agora, para as apostas. Queria propor uma aposta um pouco diferente. - sorriu maliciosamente. — O que acha de o perdedor entregar não somente a sobremesa do almoço por duas semanas, como também fazer o dever teórico da academia ninja pelo mesmo tempo?

— Você vai direto ao ponto, tsc. - disse com um sorriso irônico. O garoto sabia que essa não seria uma simples aposta, mas sim uma disputa de egos. E não estaria disposto a recusar algo que aparentemente iria retirá-lo do tédio.

Sendo assim, Yuta embaralhou as cartas e posicionou-se frente a Inoue. — Vamos começar nosso jogo de memória dupla.  Pode começar, vou deixar você ficar com o primeiro turno.

— Ah, obrigado. Hum… nem preciso me preocupar em fazer o primeiro movimento, certo? - dito isso, virou uma suas primeiras cartas que estavam sobre a mesa, na busca por uma combinação. —  São ambas três, mas de acordo com essas regras não vale, certo? - comentou após perceber que o número combinava, mas o naipe era completamente diferente.

— Isso mesmo. Minha vez! - disse Yuta, já realizando sua primeira jogada. Encontrando um quatro de copas, realizando uma pequena pausa para tentar adivinhar qual seria a outra carta que deveria ir atrás.

— Essa variação não é meio difícil? Já que só tem uma carta que combina, as chances de conseguir um par por sorte é rara. Então, significa que a única verdadeira forma de se vencer é lembrar de todas as cartas que você virou antes… Mas não tem como alguém se lembrar da localização de 103 cartas diferentes!

“Ela tem razão… mas é exatamente por isso que torna esse jogo tão divertido. O que farei é tentar marcar apenas a localização de cinco cartas e buscar os pares exclusivamente para elas. Caso no caminho eu acabe encontrando algum outro par, será lucro. Mas sendo sincero, isso é mais fácil em teoria do que na prática. “ - pensou Inoue, debatendo sobre sua estratégia em seus pensamentos.
A partida já estava acontecendo há quinze minutos e nenhum dos lados estava dando o braço a torcer. Ambos eram bastante habilidosos e aproveitavam cada conquista para trocarem farpas. Mas a pontuação não estava com muita diferença. Inoue possuía 48 pontos, enquanto Yuta 46. O jogo estava bastante acirrado e faltavam apenas 20 pontos para um dos dois alcançarem a vitória.

— Isso está sendo bem divertido. Não se preocupe, irei passar todas as minhas anotações para ajudá-lo a resolver minhas atividades da academia.

— Humpf, não será preciso. Você irá precisar delas para responder às minhas atividades.

— O clima está ficando bastante tenso, não? - comentou a garota de cabelos rosados, completamente extasiada com tamanha partida.

A cada novo par encontrado, os envolvidos ficavam cada vez mais ansiosos. Foi aí que começaram a cometer erros. A pressa se mostrou um inimigo traiçoeiro. “Calma, Inoue. Você está na frente, não precisa começar a se atropelar agora. “ - pensava.

E alguns momentos depois, a partida finalmente chegou ao fim. Inoue se provou vencedor daquele jogo e Yuta infelizmente acabou perdendo. Mas sendo um bom jogador, o garoto de cabelos platinados decidiu apenas reivindicar a sobremesa, entregando-a para Nami que havia pedido uma sobremesa mais cedo.

Considerações gerais: