Naqueles dias, Hakuryuu permaneceu acuado em seu quarto. Para ele, era como se estivesse em um eterno estado de vigilância, sempre de guarda quanto à vila. Se novos terrores surgissem, ele definitivamente estaria pronto. Nem que tivesse que defender a vila totalmente sozinho dessa vez.

No entanto, por mais que esperasse — e seu estado mental se degradasse no processo —, nada acontecia. Foi só quando o rapaz se viu no fundo do poço, repleto de sensações paranoicas, que se lembrou de uma cena da sua última missão. Hakari e as habilidades de seu clã ainda não faziam sentido algum para o rapaz. Ele mesmo tinha prometido a si que achar uma resposta seria a primeira coisa que faria.

Foi então que aos poucos começou a retornar ao seu antigo eu. A frustração por sequer conhecer teorias que ajudassem a explicar toda a questão que envolvia as kekkeis genkais, como a sua, foi o que lhe deu a obstinação para se levantar. Tomado banho e devidamente arrumado, deixou seu quarto e sua casa para trás.

Sabia que poderia encontrar as respostas que necessitava na biblioteca da vila. Todavia, procurar e aprender sozinho poderia se mostrar algo um tento desafiador. Por isso, a resposta quanto a onde deveria ir ficou bem clara.

Chegando ao local, ficou maravilhado com tanta organização. O hospital de suna, sem dúvidas, mostrou-se um ambiente que conseguiu capturar o interesse de Hakuryuu. Chegou a até mesmo cogitar se não desejava trabalhar ali pelo resto da vida… Porém, ainda que de fato fosse isso que seu coração desejasse, sabia que tinha um grande caminho pela frente.

Após alguns minutos perdidos na região dos arredores do hospital, encontrou um prédio que ainda não tinha visitado. Por exclusão, sabia que aquele só podia ser o laboratório.

Pela primeira vez havia entrado num lugar sem hesitar. Sentia-se estranhamente em casa, mesmo sem nunca sequer ter visitado o lugar. E não por menos, afinal aquele deveria ser o local que mais era capaz de satisfazer as curiosidades do rapaz.

— E o senhor seria? — um sujeito alto de pince-nez indagou, enquanto checava seu relógio de bolso.

Fascinado com todo o ambiente, Kin mal tinha se dado conta do homem no canto, à esquerda da porta de vidro. Surpreso e sentindo como se tivesse sido pego com a boca na botija, ficou sem graça.

— Hakuryuu Kinsetsu… — coçando a nuca, voltou-se meio envergonhado para o elegante homem — Não sou aluno nem nada, estava apenas visitando e imaginando se…

— Poderia tornar-se um? Um prazer, professor Hikari — sorrindo meio esquisito, o homem baixou o par de pequenas lentes e estendeu a mão para o rapaz. — Então, nutre interesse por anatomia? — ele finalizou, ansiosamente esperando pela resposta do rapaz.

A ideia de que seria tão fácil inciar seus estudos deixou o rapaz extremamente animado. Tão animado que mal conseguia focar-se no agora. Por isso, mal conseguindo se conter, após cumprimentar o homem conseguiu apenas chacoalhar a cabeça positivamente.

— Pois, comecemos — por puro amor ao assunto, ele então simplesmente deixou sua mesa e desapareceu através de uma porta.

Os minutos que ele passou lá dentro pareceram horas. Haku até mesmo se sentou próximo de uma das bancadas para esperar. Tamanha a ansiedade, deu quase um pulinho na cadeira quando ouviu o homem voltando do tal lugar. Aliás, talvez não houvesse qualquer coisa que pudesse fasciná-lo mais do que a vista que se sucedeu diante dele. Carregando uma série de bancadas e uma estante de rodinhas para fora da grande porta, o homem simplesmente apareceu com um completíssimo material didático. Incluso peças anatômicas naturais que, por sua vez, de longe foram o que mais fascinaram o rapaz.

Os olhos lacrimejaram com o formol no ar, mas Haku pouco se importava. A visão era um tanto mórbida. O corpo preservado não era tão novo assim. Porém, ainda era a primeira vez que Kinsetsu via o interior do corpo humano e, por isso, mal pode se importar com o ligeiro mal estar causado por ambos os fatores.

Prontamente recebendo as folhas e caneta fornecida pelo homem, Hakuryuu prestou a mais absoluta atenção em tudo que o homem dizia. Uma tarefa nada fácil, visto seu vocabulário extremamente complexo. Kin logo se viu em uma tarefa quadrupla: anotar as explicações básicas sobre o corpo, anotar os termos complexos para buscar o significado depois, reproduzir os esquemas desenhados na lousa do local e prestar atenção nas partes do corpo onde o homem colocava sua batuta de metal durante as explicações. Era difícil. Muito difícil. Contudo, Hakuryuu não precisava sequer conhecê-lo muito bem para perceber o quanto ele sabia do assunto. E, sendo como era, simplesmente era incapaz de deixar qualquer oportunidade de adquirir explicações passar.

Após horas a fio, Hikari parou de falar. Hakuryuu sentia-se completamente exausto. Ainda assim, também feliz. Havia uma satisfação em ver o quanto tinha aprendido e o quanto ainda tinha a aprender. Guardando suas anotações nas vestes, prontamente agradeceu ao professor, imaginando que teriam terminado. Contudo…

— Nos vemos amanhã, Hakuryuu-kun — como se sequer tivessem começado a realmente discutir o assunto, Hikari respondeu.

Estava surpreso com aquela ideia, claro. No entanto, devido à sua natureza em relação a conhecimento e aprendizado, jamais acharia algo do tipo uma má ideia. Aprenderia o quanto ele estivesse disposto a ensinar com prazer.

— Certo, boa noite, doutor — numa longa e respeitosa reverência, Hakuryuu deixou a sala.

Nos dias que se seguiram, Hakuryuu voltou diversas vezes ao laboratório. Como se fossem tesouros preciosos, o professor continuou exibindo seus livros e peças naturais um a um. E estes não eram poucos. Mesmo após todas aquelas aulas, Haku continuava a sentir que ainda estavam na ponta do iceberg. Todavia, mesmo assim, sentia que definitivamente já não estava mais no mesmo lugar que antes de conhecer o professor. Com seus jeitos, gostos e forma de agir, ele parecia uma pessoa que havia parado no século passado. Paradoxalmente, jamais tinha visto alguém tão atualizado quanto a um assunto como ele. Hikari parecia literalmente conhecer todos os seus livros de cór, a ponto de conseguir indicar onde encontrar qualquer fragmento de conhecimento sobre anatomia que Hakuryuu conseguia perguntar.

Finalmente tinham terminado todo o sistema músculo-esquelético, bem como os estudos de parede abdominal. Hakuryuu já sentia ter uma noção básica do corpo humano, porém, nada que explicasse a condição especial de Hakari Otsutsuki. Por um lado, isso era frustrante, claro. Por outro, também estava satisfeito com o caminho que seguia. Ainda tinha muito pela frente e desejava profundamente continuar trilhando aquele caminho. No entanto, mesmo assim foi novamente surpreendido quando o professor Hikari mostrou-lhe o cronograma detalhado dos próximos dias: haviam sistemas e órgãos que Hakuryuu jamais sequer tinha imaginado existir. Algo desconcertante, porém, também absolutamente empolgante.

Claro, em nenhum momento Hakuryuu sentiu-se minimamente intimidado pela quantidade de conteúdo a assimilar. Continuou retornando dia após dia, sem faltas, frequentando aulas com outros alunos. Tinha até mesmo adquirido um caderno e canetas especialmente para aquelas aulas. Nunca sentiu estar tão bem alocado quanto antes: aquele definitivamente era o mundo no qual mais se encaixava. Múltiplas vezes, após as aulas, pegava-se animadamente discutindo o assunto com o doutor. E ele, que visivelmente amava o assunto, nem sequer uma vez mostrou-se ocupado ou indisponível para discutir quaisquer assuntos.

Nenhum assunto era especificamente mais complexo que o outro. No entanto, só com algumas aulas semanais, visitar todos os órgãos e sistemas do corpo poderia ser uma tarefa que levaria meses. Dessa forma, ao levar-se em conta a lacuna que tinha em todos os dias da sua semana, Hakuryuu combinou com o professor de frequentar aulas com múltiplas classes e, por vezes, até mesmo sozinho. Ao fazê-lo, eventualmente viu-se frequentando as aulas de, literalmente, todas as turmas do professor. Com isso, conforme cumpria o currículo em múltiplos pontos ao mesmo tempo, o curso acabava sendo significativamente acelerado.

Não era algo fácil, obviamente. No entanto, tamanho o gosto do chuunin por aquele tipo de rotina, que mal se importava.

Por mais que estivesse se encontrado naquele lugar, uma hora o curso teria que chegar ao fim. Um a um os assuntos dentro do currículo eram riscados: anatomia geral e sistema músculo-esquelético, articulações, nervos periféricos, sistema cardiovascular, sistema respiratório, trato gastro-intestinal, cabeça, pescoço, neuroanatomia, tórax, abdome… Quando Hakuryuu finalmente se deu por conta, estava apertando a mão do professor com uma parabenização pelo cumprimento do curso.

— Muito obrigado por tudo, professor Hikari! — num sentimento agridoce, Hakuryuu imediatamente reverenciou o doutor. — Espero poder aprender com o senhor mais vezes no futuro… — quase lacrimejando, o rapaz comentou meio perdido.

— Mas é claro, Hakuryuu-kun — devolvendo o pince-nez ao bolso no peitoral do jaleco, prosseguiu animadamente. — Quando estiver pronto, retorne para começarmos o verdadeiro treinamento — com um ar misterioso, Hikari completou.

Inicialmente, Hakuryuu até ficou confuso. Contudo, logo pode lembrar-se dos ninjas médicos que tinha encontrado em algumas das missões que fizera quando ainda era um simples genin. Não sabia se o doutor estava realmente se referindo àquilo, ou se haviam mais assuntos a estudar. Qualquer que fosse a resposta, Haku estava igualmente empolgado para começar. Porém, naquele dia estava especialmente cansado. E, considerando o fechamento de ciclo, Hakuryuu estava bastante inclinado em se deixar descansar pelo resto do dia. Até pensou em tentar interrogar mais o professor. Contudo, pelo que conhecia dele, sabia que ele simplesmente não cederia até que retornasse. Enfim satisfeito, fitou o homem:

— Certo, professor. Novamente, obrigado — mais uma vez reverenciou brevemente. — Até a próxima! — acenando conforme deixava ao local, despediu-se do professor.

De volta em casa, Kin abriu uma de suas gavetas e depositou nela seu caderno quase totalmente preenchido com carinho. Estava satisfeito, mas também cansado. Por isso, logo voltou-se para tomar banho e, então, finalmente dormir.

Palavras: 1608

Legenda:
Falas: — Texto — descrições. | Pensamentos: "Texto" — descrições.

Observações:
- Fiz uso de um Filler de Status (1000 palavras) para aprender a qualidade Conhecimento Anatômico (1) com a adição de +400 palavras.
- Considerando este seguinte trecho da wiki sobre como aumentar energia mental, imagino que seja possível treinar status por meio de estudo.

Resumo:

Jutsus Utilizados:

Particularidades e Regras:

Equipamento: