Era um fim de tarde comum em Kirigakure, onde “comum” significa uma constante névoa densa que permeia o horizonte, trazendo consigo o frio, Kaminari Arashi utilizava seu roupão vermelho, e mesmo assim estava descalço, nunca se habitou aos calçados ninja, preferindo sentir o chão com seu corpo. O garoto estava em cima de uma árvore, sentado em um galho, em seu ombro um sabiá cantava enquanto o jovem observava os outros jovens da academia brincarem de ninja no pátio, estava estudando seus atos, tentando constantemente se tornar mais sociável, entender o que eles têm que Arashi, por ter se criado em meio aos animais, não tem.

Subitamente apareceu ao seu lado o largo Jonin Bosei, seu pai adotivo, seu peso balançou o galho em que estava e o sabiá saiu voando.

- Yo, Arashi! - lhe cumprimentou, e o rapaz sorriu mesmo tendo sido interrompido, a presença de seu mestre nunca era indevida – Tenho um presente pra você – disse em sua voz grave e ressoante.

O barbudo jonin tirou de sua bolsa ninja um pergaminho, em sua capa havia a letra “C”.

- Sua primeira missão, que tal?

Arashi ficou muito animado, sua expressão entregou seus sentimentos como sempre.

- Sensei! Não via a hora de agir como um shinobi finalmente! - disse enquanto abria o pergaminho e lia atentamente recitando as palavras mudamente com sua boca, havia aprendido a ler muito mais tarde que a maioria dos ninjas.

- Se posso te dar uma dica, jovem: Use a cabeça! - disse cutucando sua própria cabeça com a ponta do indicador, com os olhos arregalados indicando atenção. - Ninjas não são só músculo, embora os seus sejam de aço! Missões precisam ser bem pensadas para serem bem feitas, e eu sei que você é capaz disso, Arashi. Boa sorte! - e então o jonin desapareceu da mesma forma que aparecia, e o galho novamente tremeu com a súbita ausência daquele peso.

Arashi leu mais uma vez sua missão, as palavras de seu mestre ecoavam “Use a cabeça!”, Arashi sempre fora instintivo, como era exigido da vida selvagem, mas agora já não era mais um selvagem, embora a natureza constantemente permeasse seu corpo, olhou para o além e ouviu o vento balançar as folhas das árvores naquele fim de tarde, sentia, como sempre, a floresta o abraçando, como se fosse mais uma daquelas folhas a balançar, foi logo para casa jantar seu ramen e tentar dormir para a missão do dia seguinte.

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Seu mestre Bosei provavelmente escolhera a dedo a missão para dar a seu discípulo Kaminari Arashi, o jovem estava ansioso por um combate agressivo, no entanto recebeu uma missão de capturar ladrões, que ao menos consiga dar alguns socos na cara desse ladrão por dar um serviço de inteligência ao rapaz, mas que seja, sabia que aquilo era para seu melhor desenvolvimento. “Ninjas não são só músculos” lembrou de Bosei dizer, e pensava se seus músculos seriam o suficiente de qualquer forma, ainda tinha muito a cresce e aquela missão era a primeira de muitas.

Acordou cedo, animado, pouco antes do sol nascer, uma claridade opaca anunciava a chegada do dia, assim como os pássaros que já tão cedo cantavam, e nesse clima enevoado Arashi se preparou em casa com seus equipamentos, incluindo a grande Fuma shuriken dobrava verticalmente em suas costas, comeu banana com granola e então partiu da casa de Bosei, onde morava em um pequeno quarto no sótão, descalço decidiu correr para fora da casa encoberta em árvores e foi logo a um pequeno porto do vilarejo.

- Preciso ir à vila pesqueira de Piratinga. - disse de uma vez, esquecendo-se completamente das gentilezas e cumprimentos de um cidadão educado.

O velho barqueiro olhou para o rapaz quase sem abrir os olhos, cuspiu no chão e subiu em sua piroga, Arashi o acompanhou em silêncio e o velho partiu com uma longa vara empurrando o chão da praia em direção ao mar, as ondas estavam inquietas.

- Vem tempestade aí. - disse em palavras simples.

Arashi sorriu vendo por detrás da névoa nuvens negras se aproximando, já sentia saudade de tomar um banho de chuva em uma tempestade violenta. Não demorou nem uma hora pelas águas turbulentas até chegarem em Piratinga, onde o barqueiro estacionou esperando a maré acalmar.

Piratinga é um vilarejo pequeno, já no porto Arashi buscou notar os bens daquela comunidade: haviam peixes diversos sendo defumados em fogueiras, varais de algas de diversas cores e depósitos de sal marinho sendo cobertos para não pegarem a chuva que viria em breve. Agora seria a parte mais difícil para Arashi: conversar com os cidadãos, nunca foi bom em diálogo (não tendo interagido com muitos humanos no que lembrava de sua infância, e já sentia um nervo saltar só de pensar nisso), devida usar de seu raciocínio para ver logo quem seria mais receptivo para suas perguntas, então resolveu abordar um gordo homem de chapéu redondo que tinha uma prancheta em mãos, Arashi deduziu que fazia alguma contabilidade relativa às algas que eram postas à secar.

- Oi – dessa vez lembrou-se dos cumprimentos – Meu nome é Arashi, sou um ninja de Kirigakure e vim investigar os roubos que estão acontecendo aqui, sabe de alguma coisa? - disse, buscando sua bandana sem encontrá-la, apresentando no lugar o pergaminho.

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O gordo contador olhou o genin dos pés à cabeça e depois da cabeça aos pés, descrente, e então sem tirar mais os olhos de sua prancheta lhe falou:

- Escuta garoto, Piratinga não tá fácil, duas semanas atrás roubaram o depósito de sal, semana passada roubaram o depósito de peixe, e os desgraçados, ou O desgraçado não deixa um rastro se quer! As portas da frente e dos fundos estão intactas, as janelas trancadas, não há uma pegada dentro dos armazéns e o infeliz só rouba os artigos de mais alta qualidade! Como ele sai de lá com jarros enormes de centenas de quilos sem derrubar nada ainda é um mistério, só sabemos que isso acontece quando ninguém está nos armazéns, tudo amanhece um pouco mais vazio, mas agora estamos mantendo guardas nos armazéns de sal e peixes a todo momento! Então acho que não vamos precisar da sua ajuda, mas sinta-se livre para visitar nossos armazéns, mas estaremos de olho em você.

Aquilo parecia o suficiente, Arashi só queria que aquela conversa acabasse, não sabia reagir e ficou um pouco irritado com o tom de voz do homem, usou a cabeça e preferiu partir dali para não se estressar com o barrigudo, e nisso ouviu o céu cada vez mais escuro roncar.

- Ooooi! É melhor apressar esses transportes, vem tempestade aí! - gritou o gordo para todo o porto ouvir, e todos os trabalhadores se apressavam.

Realmente uma tempestade pesada estava se aproximando, o horizonte já luzia em relâmpagos, aquilo adiaria o próximo roubo? As coisas não pareciam ir muito bem para o rapaz em sua primeira missão, mas lembrou-se de seu mestre: “Use a cabeça!” Aquele pequeno vilarejo iria todo se recolher para aguardar passar aquela tempestade, talvez fosse até um momento ideal para o roubo. Enquanto ainda não chovia Arashi correu para os armazéns, ficavam um ao lado do outro três grande galpões de alvenaria e madeira, tinham portões na parte da frente e pequenas portas nas laterais, além de, cada um, um pequeno deck de madeira que adentrava o mar, alguns pequenos barcos ainda amarrados balançavam violentamente pelas ondas que, revoltadas, batiam já acima das tábuas, haviam realmente guardas em frente aos armazéns de sal e de peixes, Arashi pensou se não seriam eles os suspeitos, mas pensou que era melhor concentrar seus pensamentos ao invés de suspeitar de todo ser vivente, se não não conseguiria agir direito.

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No meio da confusão pré-tormenta Arashi entrou no depósito de algas Só falta esse, pensou consigo mesmo, se sentindo esperto, como uma criança qualquer correu por dentro do armazém e foi aos fundos, perto da porta das docas, lá haviam alguns enormes jarros de cerâmica com algas e graduações de D até S (que só haviam três jarros), e logo Arashi teve uma grande ideia, agachou-se em um espaço vazio ao lado da pequena fila de jarros S e fez três selos de mão Henge no jutsu! Transformou-se então num jarro igual aos demais, no entanto seu selo era dourado e estava escrito “SS”, apostou todas as suas fichas nessa estratégia e lá permaneceu.

Lá dentro, ouviu as gotas chegarem do céu, batiam no telhado metálico ressoando por todo o armazém, rapidamente os funcionários finalizaram seus deveres e abandonaram os postos, trancando com correntes as portas principais e secundárias, e as pequenas gotas agora mais pareciam um solo de bateria no telhado, a chuva caia pesada, talvez até a agressividade daquele som fosse devido a granizo, ocasionalmente raios estouravam não muito longe dali. Era o momento ideal ou inviável para realizar um roubo? Arashi já sentia-se ansioso, por quanto tempo iria aguentar ficar ali esperando? Estaria no lugar certo? Vai que o ladrão decidiu roubar outra vila? Dúvidas enchiam sua cabeça, e novamente Arashi lembrou-se de seu mestre, precisava se concentrar, confiar em sua estratégia e ter mais paciência, Usar a cabeça. Pensou consigo mesmo, e aguardou.

Para sua surpresa não demorou muito até que ouvisse um click, era o som do cadeado da porta que sai para o pequeno cais, Arashi sabia que com um mar daqueles era impossível navegar, e também era impossível chegar ali a pé, a não ser que a pessoa andasse pelas águas. Um shinobi? Concluiu, aquilo explica a entrada inesperada, e talvez até mesmo tenha destrancado a porta com algum ninjutsu que Arashi não conhecia, os últimos roubos aparentemente tinham sido de madrugada, mas numa tempestade como aquela, onde todos estão em suas casas e todos os sons são abafados pela chuva, foi o momento perfeito para o ladrão, ainda permitindo que alterasse o horário de seu roubo.

Este então fechou cuidadosamente a porta, e sem fazer um som, sozinho se aproximou, pôs-se em frente aos jarros de algas e por um momento parecia confuso, mesmo assim ajoelhou-se em frente ao jarro “SS”, esticou um pergaminho com vários inscritos em sua frente e fez um selo de mão.

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O jarro transformou-se em um estouro de fumaça, o homem provavelmente tentou selar o objeto em um pergaminho, o que explicava como saía dali com algo tão pesado tão discretamente, no entanto seu selo provavelmente era impróprio para selar seres vivos, pois ele não funcionou, tudo que fez foi desativar a técnica de disfarce utilizada por Arashi, que, com um largo sorriso no rosto, esticou seu braço direito para cima e, aproveitando a surpresa do ladrão de um olho só, desceu um poderoso soco no topo da cabeça do homem que, ajoelhado, deu de cara no chão de tábuas do armazém e apagou.

- Ah… Eu esperava mais – admitiu desapontado o shinobi, que ansiava por uma batalha.

Lembrou-se de usar a cabeça, o invasor poderia acordar a qualquer instante, Arashi então buscou pelo armazém cordas e sem demoras as encontrou, afinal todo armazém de produtos do mar precisavam de cordas para os mais diversos usos. Botou o ladrão sentado no chão escorado por uma viga de madeira que segurava uma sacada no segundo andar, com as cordas enrolou o bandido com o máximo de sua força e terminou com um nó cego, então sentou-se em frente dele e o observou, já tinha pra lá de trinta anos, evidentemente era um shinobi, algo que talvez fosse incomum no pequeno vilarejo de Piratinga, por isso a dificuldade das autoridades de pegar o ladrão, a tempestade mais parecia um evento de verão, porque pouco menos de uma hora depois a chuva diminuiu e ainda não havia terminado o dia, com isso o ladrão foi despertando, confuso.

- Bom dia bela adormecida! Parece que hoje não é dia de trabalho para você, não é mesmo? - indagou sarcástico o garoto, feliz pela sua captura.

O ladrão, ao perceber a situação, começou a xingar o garoto e exigir que fosse solto, menosprezando o rapaz, que deu um forte tapa em sua cara, o que silenciou o bandido, pouco tempo depois ouviu as portas principais do armazém serem abertas e passos se aproximando, lá vinha novamente o gordo da prancheta com dois brutamontes carregadores, e o calculista se assustou.

- Ah! Os ladrões! - berrou, quase deixando a prancheta cair.

- Os ladrões não, O ladrão, esse bem aqui – apontou Arashi – Se querem impedir que isso volte a acontecer não contrate mercenários para fazer guarda, contrate shinobis.

O gordo agradeceu ao ninja e pediu perdão pela falta de confiança, assinou o pergaminho de conclusão da missão e Arashi foi embora, satisfeito, só havia sido uma pena não poder pegar aquela tempestade em seu corpo, voltou para sua vila caminhando pelas águas.

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