Apesar de graduado, Genos ainda haveria de construir sua primeira marionete. Confiante, foi à biblioteca do vilarejo. Dos poucos livros que lá habitavam, alguns tratavam sobre a arte titeriteira. Estavam empoeirados, de páginas amareladas e muitas com alguns borrados. Nada daquilo impugnou sua conduta, no entanto. Persistiu com uma vontade absoluta: aprimorar-se. Todavia, estudar era um assunto que o agradava e muito, não sendo, portanto, qualquer sacrifício. Iniciou com um livro antigo meramente introdutório. Leu-o lentamente, prestando bastante aos minuciosos detalhes. Por mais interessado e conhecedor que fosse, sempre uma informação passava desapercebido, por esse motivo seria sempre interessante entregar-se à leitura dele por diversas vezes, não bastando um número superficial.

Durante horas dedicou-se integralmente ao ato de ler. Página a página, sem qualquer intervalo. Quanto maior o número de papeis virados, mais aumentava seu interesse e, naquele sentido, completou a leitura de toda a literatura em pouco tempo, tendo em vista o quão denso o era. Daria de cara com o segundo livro quando a bibliotecária resolveu interrompê-lo. Era a única que o conhecia de seus tempos na academia. — Você é mesmo incrível, Genos-san. Está sempre tão interessado pela leitura. Eu que sou bibliotecária jamais consigo acompanhar seu ritmo. — disse em um tom alegre. O menino virou o rosto e a observou, não manifestando qualquer expressão social. — Eu acho que devo dizer obrigado nesse tipo de situação... — avaliou, apático. — É... Não dá pra ser perfeito. Hahaha! — riu. "Eu não entendi a graça dessa piada. Será que ela está sendo irônica? Droga, humanos são complicados. Seria tão mais fácil se fossem construídos com madeira..." imaginou.

A menina esticou-se através do ombro do rapaz, observando atenta aos livros aos quais se debruçava. — Sabe, Genos, você sempre foi mesmo um rapaz aplicado e estudioso, ainda sim você deveria seguir a dica de alguns as vezes. Veja só, outro dia alguém esteve aqui e também estudou sobre marionetes. Entretanto, ele me disse que um grande artesão de fantoches deveria deter um arcabouço nos mais variados assuntos. Quando os olhos estão focados demais, eles são incapazes de enxergar o que está além... Ele disse. — conversou amigavelmente. O rapaz olhou ao seu lado com certo desconforto em estar tão próximo de uma garota. "Isso que ela disse, não faz o menor sentido... No entanto, de alguma forma, parece estar certo..." pensou. "Maldição, eu realmente estou me focando demais às marionetes, esquecendo que elas só são fortes se o titeriteiro for inteligente e souber aplicar, nelas, todo seu conhecimento..." refletiu. A funcionária se distanciou, percebendo ter provocando nele a reflexão.

Alguns minutos correram entre seus pensamentos diversos. Andou e recolheu, de estantes distantes, a maior quantidade possível de livros. Assuntos dos mais variados possíveis, envolvendo tática ninja, romance e assuntos diversos. Debruçou-se por longas horas, dedicando-se ao máximo. Durante uma semana inteira frequentou a biblioteca, até que estivessem esgotados todos os títulos reservados. Sentia-se bem mais inteligente do que antes, talvez fosse possível dar início às suas obras.


Detentor de um invejável repertório, Genos conhecia bem os seus limites no tocante às marionetes. Conhecendo que a maior dificuldade delas era a habilidade com os fios de chakra, acreditava ser necessário praticar ao máximo suas habilidades na arte ninja, isto é, ninjutsu. Somente aliado a ela pensava ser possível se tornar um grande titeriteiro. Para tanto se endereçou aos campos de treinamento do vilarejo. Não era seu costume se retirar de casa com aquele propósito, mas o fez. Posicionado ao centro, vislumbrou o céu e jurou somente se retirar quando completamente satisfeito. Praticaria revisando todos os jutsus aprendidos até então, até que encontrasse um ponto comum entre todos e, daquele modo, incrementasse, no geral, sua intimidade com a modalidade. Iniciou com a técnica de clones simples. Ainda que não possuíssem qualquer utilidade por não deterem massa, poderia fazer uso deles com o intuito de meramente praticar. Realizou o jutsu tanto quanto suas energias o permitiram.

Com um dia inteiro, havia aperfeiçoado-se naquilo ao máximo. Dali, continuou com outros jutsus dos mais básicos aprendidos durante os anos acadêmicos. Desta vez utilizou a concentração de chakra nos membros, mãos e pés, escalando as diversas montanhas existentes. Maior o aclive, melhor a oportunidade de treinar a habilidade. Passado algum tempo, enxergou uma determinada semelhança entre todos os ninjutsus, não se tratando do simples fato de envolver energia neles. Era, em verdade, a necessidade de concentração absoluta enquanto os executando. Desbravando terrenos antes desconhecidos, completou a jornada com a técnica praticada. Dali, depreendeu melhor a função daquela forma de jutsu, de maneira sobre a qual resolveu se focar no uso das linhas de um manipulador de fantoches. Correu um pouco e chegou próximo a um campo de árvores. Uma diversidade imensa. Haviam menores e outras, anciãs, imensas.

O poder dos seus fios eram convalidados na capacidade com a qual performava ninjutsus. Estendeu o braço destro contra a de menor altura, fazendo surgir cinco linhas perfeitas das pontas de seus dedos. Entrelaçou-as no caule. Puxou em seu potencial máximo, buscando remover as raízes e, por fim, ter controle absoluto da árvore. Forçou até que saísse completamente, sendo definitivamente custoso. Estava tão somente no início. Seguiu uma após a outra, até que se deparasse com uma das maiores. Não importava o quanto tentasse, ela não se movia por um centímetro sequer. No correr de uma semana, foi lá um dia seguido do outro, tentando sempre o mesmo: remover a colossal árvore de onde estava fixada. De início, notou uma certa progressão na força, fazendo com que um ruído não muito comum fosse escutado. Ao final dela, contudo, presenciou seu absoluto sucesso. Focado ao máximo, removeu aquele espesso tronco de onde estava enraizado por invariáveis anos. Arremessou-a por alguns metros, surpreso com a força que seus fios haviam alcançado. Pensou ser, finalmente, capaz de se tornar um grande titeriteiro.

Genos; 200/200 200/200 00/03

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Era sempre de seu feitio manter a forma. Muito embora hábil com a arte titeriteira, Genos reconhecia a importância dos atributos físicos em uma batalha não importando contra quem fosse. Esse era o motivo pelo qual retornava ao campo de treinamento todo dia pela manhã: correr. Uma maratona era desnecessário, uma vez que sabia que seu físico não seria o suficiente para suportá-la.

Não tão distante do campo, na periferia ao oeste, Kumogakure comportava uma pista de corrida. Correr com as sandálias ninjas era o mais adequado, tendo em vista o amortecimento que proporcionavam às articulações. Algumas voltas de aquecimento bastaram. Não muitas, decerto. Devidamente esquentado, persistiu no local afim de acrescer suas capacidades motoras. Executou uma breve corrida em seu potencial máximo, exigindo das fibras musculares o máximo de força alcançável. Percorreu alguns metros e parou completamente. — Isso é cansativo... — resmungou. Diante de sua insignificância respiratória, enxergou um novo propósito ao treinamento: aumentar a resistência do seu corpo.

Um ninja que suportava a batalha era, sem sombra de dúvidas, o mais forte deles. Munido de vontade, olhou os arredores e buscou uma elevação. Recordou-se da academia naquele instante, presenciando sentimento nostálgico de correr entre as montanhas. Obviamente, sua posição nunca se destacava quando se tratando do físico. De todo o modo, por mais ordinário que o fosse, sempre anotou os métodos de treinamento nos registros da memória à perfeição. O primeiro aclive se posicionava não muito distante dali, tendo em vista viver numa terra montanhesca que ultrapassava os céus. Escalou-a com mãos e pés, sem uso do chakra e a capacidade de aderir a qualquer superfície.

Algumas horas bastaram até alcançar o cume da formação. A respiração tornou-se pesada e era claro o quão ofegante estava. Analisou seu estado e notou a ausência de estamina. Descansou, portanto. Não aguardava, no entanto, que fosse tão custoso tentar respirar àquela altitude. — Então isso é o ar rarefeito... Interessante... — disse enquanto arfava. Num terreno plano de área considerável, voltou a novamente praticar a aceleração dos membros inferiores. O treinamento triplicou em dificuldade, no entanto. Jamais haveria experimentado tamanha condição adversa por toda a vida. Se não fosse um habitante das montanhas, certamente teria desmaiado pela ausência de oxigênio nas células. Persistiu não obstando a complexidade de se manter de pé, praticando uma série de tiros curtos e intensos. O suor se espalhou por cada um dos pequenos espaços de seu corpo. Acumularam-se, gota a gota, até fazer a camiseta branca básica se ensopar inteiramente.

A intensidade era considerável, principalmente a um jovem de sua idade. Uma hora havia se passado e sequer suportou erguer os braços novamente. As pernas cederam e os joelhos se encontraram com o chão rochoso da montanha. Os esforços se inutilizaram devido o cansaço, fazendo com que simplesmente deitasse de bruços. A dor era momentânea. A glória, eterna.


Pronto para seguir com seu treinamento, aproveitou o ensejo para treinar um segundo atributo: sua agilidade. Um ninja precisa ser um guerreiro imbatível, alguém capaz de derrotar seus adversários antes mesmo deles terem tempo suficiente para conseguirem pensar. Esse era seu objetivo enquanto pegava, dentro de um antigo galpão não tão distante dali, pesos antigos. Acoplou-os aos tornozelos e aos pulsos, como se fossem, respectivamente, algumas tornozeleiras e pulseiras. Fixou-os com firmeza, um mero escape poderia prejudicar, em muito, o andamento daqueles exercícios. O campo tinha um bom perímetro para uma corrida. Começou, sem que conseguisse, entretanto, alcançar o máximo de sua velocidade. Uma obviedade tendo em consideração os pesos carregados, porém mantendo um ritmo considerável. Tudo isso detinha o único propósito de preparar a musculatura para o impacto, assim como havia aprendido durante os anos de acadêmico. Para melhorar a agilidade e os reflexos das reações, seria sumariamente necessário treinar a "explosão" do corpo como um todo.

Optou por utilizar socos e chutes, muito embora não fosse um especialista, assim como fazia antes quando um pequenino rebento, com o máximo de velocidade possível. Executava a série intensiva de maneira intervalada, descansando entre curtos intervalos de pouquíssimos segundos. Resumindo em questão de números: eram trinta segundos de intervalo e um minuto forçando toda a musculatura ao máximo. Fez isso até que seus membros falhassem miseravelmente em mantê-lo ereto, de pé. Repousou por algumas horas, afim de recuperar as energias tão dispendidas durante o processo. Recobrou-se no mundo e presenciou uma brusca mudança na fisiologia, aparentando um peso descomunal. Esse treinamento estava em um nível sobre-humano. Como todo analítico, ainda mais daqueles esforçados, aumentou os pesos e passou a se utilizar uma carga ainda maior, afinal acreditava que poderia aumentar os ganhos daquela maneira. Aqueceu-se novamente, no entanto desta vez acresceu ainda mais o ritmo, de modo a preparar as fibras para a pior conjectura possível. Passou-se o tempo e era de iniciar, uma segunda vez, a rotina mais incessante de treinamentos que poderia existir na face daquela terra.

Iniciou como de costume, elevando o espírito ao limite. Desenvolver a explosão absoluta de cada pequena celular muscular era o efeito visado. Punhos e pontapés, amalgamados num transe de fúria contra os ventos e as brisas. Apesar de não ser adepto das artes marciais, vivenciava algo viciante, sentia seus movimentos tornando-se, pouco a pouco, mais ágeis. Imaginava, não obstante, o que aconteceria quando removesse aqueles pesos dos pulsos e tornozelos. Treinou uma, duas, três e outras tantas vezes. O objetivo era um só, o foco e ele eram um só. Horas se passaram daquele modo, até ser acometido de uma parada completa de todos os movimentos. O progresso era lento, mas notável. No terceiro dia da rotina, permaneceu fazendo o mesmo dos anteriores. Os exercícios iam se tornando cada vez mais exaustivos, as cargas estavam cada vez maiores. O corpo combatia arduamente os próprios limites.

Ao final de uma desgastante semana, era hora de finalmente ver os resultados de tanto treinamento. Removeu os pesos, respirou com profundidade, e correu pelo campo. A velocidade do presente em nada se assemelhava com a pretérita, sentia-se leve como uma pluma com a velocidade de uma lebre. Os membros, inferiores e superiores, respondiam perfeitamente bem aos seus estímulos nervosos. Estava tudo tão perfeito que era difícil acreditar que era verdade, principalmente se tratando ele de um artista titeriteiro. Munido de condições físicas razoáveis, retornou à pacata vida de um artesão.  

Genos; 200/200 200/200 00/03

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