Cinco anos deslizaram como areia por entre os dedos, trazendo consigo uma tapeçaria de memórias e momentos inesquecíveis. O primeiro capítulo dessa nova era foi escrito sob o manto estrelado, quando, apenas alguns meses após o término do treinamento, Shion e Katsura uniram-se em matrimônio. Sob o olhar cintilante da lua, eles trocaram votos de amor eterno, selando um compromisso que o tempo jamais apagaria.

No ano seguinte, foi a vez de Angell e Hakurei se entregarem ao destino do amor. Diante de um altar adornado com flores e esperanças, eles prometeram cuidar um do outro, em todas as jornadas que a vida lhes reservasse.

E como a vida é feita de ciclos, as crianças, com sua energia inesgotável, começaram a esculpir seus próprios destinos. O jovem Lazuli, com o brilho da determinação em seus olhos, proclamou seu desejo de superar Shion em combate. Todos os dias, com a cumplicidade de sua irmã, ele arquitetava planos e emboscadas para surpreender Shion. No entanto, por mais engenhosos que fossem seus ataques, o menino e sua aliada sempre acabavam nas mãos habilidosas de Shion. Mas, ao invés de desânimo, cada tentativa frustrada apenas inflamava ainda mais o espírito aventureiro dos jovens, que riam e planejavam sua próxima investida.

Em um dia aparentemente comum, Ayako, Hope, o jovem Lazuli e a curiosa Asuka se agrupavam silenciosamente atrás da porta da sala principal. Seus ouvidos tentavam captar cada sussurro que vinha de dentro, cada palavra abafada. Angell, ao passar pelo corredor, deparou-se com aquela cena peculiar e não pôde deixar de questionar o que acontecia. Antes que pudesse receber uma resposta, Asuka, com seus olhos brilhando de curiosidade, puxou-a pela mão e sussurrou sobre os pais que cochichavam do outro lado da porta. Hope estava convicta de que o assunto girava em torno de Angell, o que apenas aguçou ainda mais a curiosidade do grupo.

Impelida pela necessidade de entender, Angell ativou seu Tenseigan, e uma habilidade que lhe permitia fazer leitura labial. O que ela viu foi uma discussão acalorada entre Shion e Katsura. A mãe acreditava que Angell deveria trabalhar no hospital da família, argumentando que seria uma excelente oportunidade para ela compartilhar seu conhecimento. Shion, por outro lado, resistia veementemente à ideia. Ele sugeriu outros hospitais, qualquer um, menos o da família. Katsura, confusa, questionava o porquê da resistência de Shion, especialmente considerando que ele havia financiado aquele hospital com tanto esforço e dedicação. Seria, sem dúvida, uma honra para Angell contribuir para algo que seu pai havia construído com tanto carinho.

No entanto, o que ninguém sabia era que aquele hospital escondia um segredo que Shion desejava manter longe de sua família. A discussão, por fim, chegou ao seu ápice e, sem argumentos sólidos para se opor, Shion cedeu. Ao final do embate, ele sentiu um arrepio, uma sensação estranha, e pediu que as crianças abrissem a porta.

Não demorou muito para que Angell assumisse a direção do hospital e, sob sua liderança, a instituição floresceu. O Hospital Hattori Shion, com investimentos adicionais da família, expandiu-se rapidamente. O que antes era um local para pequenas cirurgias, agora realizava procedimentos complexos em questão de minutos. Pacientes que antes levavam meses para se recuperar, agora eram liberados em horas. Mas, no fundo de seu coração, Shion carregava o peso da preocupação, temendo que, a qualquer momento, seu segredo pudesse ser revelado.

[...]

O inverno se instalou, trazendo consigo um manto de neve e uma atmosfera de expectativa. A mansão Hattori estava em alvoroço, pois uma reunião de magnitude sem precedentes estava prestes a acontecer. Todos os reis foram convocados por Shion para um encontro em território neutro: a cidade das três estrelas. Semanas de meticuloso planejamento e medidas de segurança foram implementadas. Até mesmo os hóspedes do hotel próximo ao local da reunião eram submetidos a rigorosas verificações de antecedentes.

Dentro da mansão, a tensão era palpável. Shion, com sua postura rígida e semblante carregado, sentia o peso da responsabilidade. Katsura, por outro lado, não conseguia conter sua inquietação. Enquanto ele se vestia, ela lançava perguntas e comentários, cada um mais incisivo que o anterior.

"Então, você realmente pretende propor a compra de todos os territórios? E acredita que eles simplesmente concordarão?" Katsura questionou, com um tom de incredulidade.

Shion, ajustando sua capa e evitando o olhar dela, respondeu com um sorriso irônico: "Se não aceitarem, talvez tenhamos uma guerra."

"GUERRA?" Katsura exclamou, sua voz carregada de indignação.

"Por que não?" Shion retrucou, tentando manter a calma.

Katsura, com um olhar afiado, disparou: "Será isso que estará gravado em sua lápide? 'Hattori Shion, por que não?'"

Shion, terminando de ajustar suas luvas, aproximou-se dela, beijando-a suavemente na testa. "Relaxe, tudo vai correr bem."

Mas Katsura, conhecendo-o como ninguém, notou algo em seu olhar. "Você está com aquele sorriso...", disse ela, cruzando os braços.

"Que sorriso?" Ele perguntou, tentando parecer inocente.

"Sorriso de quem está escondendo algo. Alguma coisa vai acontecer, não vai?" Ela indagou, seus olhos buscando a verdade.

Ele, com um gesto terno, segurou o queixo dela e, olhando profundamente em seus olhos, assegurou: "Vai dar tudo certo."

O corredor da mansão Hattori estava preenchido por uma atmosfera de solenidade. Ao se aproximarem da saída, Shion e Katsura encontraram os demais membros da família aguardando. Angell, com sua postura impecável, segurava um pequeno travesseiro onde repousava a coroa, símbolo do legado e poder da família.

Shion aproximou-se da filha, segurando a coroa com ambas as mãos. Ele contemplou seu reflexo no metal polido e, com uma voz suave, confidenciou a Angell: "Até hoje, quando olho para ela, me pergunto se tudo isso está certo. Mas..." Ele pausou, colocando a coroa sobre sua cabeça, "quando a coloco, sinto que todas as escolhas que fiz valeram a pena. Sinto a presença de seu avô, e isso me fortalece, me dá confiança."

Após um abraço afetuoso em Angell, ele instruiu: "Se sua mãe precisar se ausentar, você estará no comando, certo? É uma pena que Hakurei esteja viajando. Se ele retornar antes de nós, diga que mandei saudações."

Voltando-se para Katsura, Shion perguntou, buscando aprovação em seus olhos: "Como estou?"

Katsura, com um olhar carinhoso, ajustou a capa de Shion e, puxando-o para mais perto, selou seus lábios aos dele. "Você parece o homem mais poderoso do mundo," sussurrou ela.

Retribuindo o beijo, Shion respondeu com um sorriso confiante: "Esse é o objetivo."

Katsura, com um olhar ligeiramente preocupado, indagou: "Tem certeza de que não quer que eu vá junto? Posso me arrumar rapidamente."

Ele sorriu, acariciando o rosto dela. "Você sabe que essa situação é delicada para os Senjus. Ele ainda não superou a morte da esposa. Nesta reunião, ninguém está levando suas esposas, apenas alguns filhos."

Shion, com sua postura majestosa, caminhava em direção à porta, pronto para partir. Ayako e Hope desciam as escadas, cada uma com uma expressão determinada. Ayako lançou um olhar significativo para Angell, acenando levemente com a cabeça, uma promessa silenciosa de proteção. Hope, por sua vez, tocou o ombro de Angell, brincando: "Se os pestinhas te incomodarem, um tapinha na cabeça resolve." Ela sorriu para Angell, acrescentando, "Hoje, eu cuido dele, tudo bem?"

Enquanto Shion esperava pacientemente na porta, uma sombra se moveu rapidamente, revelando dois pares de olhos brilhantes. Um grito animado ecoou pelo corredor: "TE PEGUEI, PAPAI!" Lazuli e Asuka emergiram das sombras, tentando surpreender Shion com um ataque. Com reflexos ágeis, Shion desviou, pegando os dois e bagunçando seus cabelos. "Se o objetivo é surpreender, gritar antes de atacar não é a melhor estratégia," ele riu, enquanto os dois pequenos se contorciam de riso.

Asuka, com seus olhos curiosos, perguntou: "Papai, como rei, você pode fazer o que quiser?" Shion a olhou profundamente e respondeu: "Posso fazer o que quiser, até mesmo declarar o que desejo." Levantando Asuka no ar, ele proclamou em tom teatral: "Povo, como seu rei, declaro que meus filhos são os mais lindos do mundo! Quem discordar será tratado como inimigo!" A risada contagiante de Asuka encheu o ambiente, trazendo sorrisos a todos presentes.

Enquanto isso, Lazuli tentava se esgueirar para dentro do carro, mas foi prontamente impedido pelo motorista. "Ah, seja bonzinho..." Lazuli protestou. O motorista, com um sorriso maroto, respondeu: "Seu pai me paga muito bem para não ser bonzinho."

Shion pegou Lazuli no colo, repreendendo-o suavemente: "Você ainda é muito jovem para isso. E lembre-se, se sua mãe precisar se ausentar, Angell estará no comando." Lazuli, com um muxoxo, correu de volta para a mansão.

Finalmente, Shion, Ayako e Hope acenaram uma última vez e embarcaram no veículo que os levaria em sua jornada.

A jornada havia sido extensa e, embora tenha esgotado suas energias, as paisagens deslumbrantes pelo caminho tornaram tudo mais suportável. A família Hattori, após uma viagem tão longa, chegou ao hotel. Sem demora, realizaram o check-in e se dirigiram à reunião no edifício adjacente. Para alívio deles, não foram os primeiros a chegar.

No entanto, o ambiente tornou-se tenso quando, na entrada, todos foram meticulosamente revistados. Era um lembrete sutil de que, naquele círculo de reis, a confiança era um luxo. A traição poderia vir de qualquer direção, a qualquer momento.

A sala de reuniões, de formato oval, estava preenchida com murmúrios e risadas contidas. Shion, representante dos Hattori, fez questão de cumprimentar cada um dos presentes. Até então, a atmosfera era leve, pontuada por piadas e sorrisos. Mas, quando todos se acomodaram em suas respectivas cadeiras, circundando uma mesa adornada com um mapa das nações, o tom mudou. Cada rei posicionou sua coroa sobre a região que governava.

Para quebrar o gelo, Shion propôs uma troca de presentes. Ele apresentou charutos e vinhos exóticos, trazidos de terras distantes.
"Vocês precisam provar isso. A culinária daquele lugar é simplesmente divina," disse ele, entusiasmado.

O Rei Hozuki, com seu sotaque russo inconfundível, pegou um dos charutos e, antes de acendê-lo, lançou um olhar irônico a Shion.
"Kamarada Shion, gostaria de fazer as honras?" perguntou, insinuando uma possível armadilha, com um "r" mais forte e enrolado, típico do sotaque russo.

Shion, percebendo a provocação, respondeu com um sorriso sarcástico: "Está brincando comigo, não está?"

"É apenas prekautsion," retrucou o Rei Hozuki, divertindo-se com a situação, pronunciando o "c" de uma maneira mais suave, quase como um "k".

Com todos os olhares fixos nele, Shion não teve escolha. Acendeu o charuto, deu uma tragada profunda e, em um gesto audacioso, soprou a fumaça diretamente no rosto do Rei Hozuki, aproveitando para alfinetar: "Sabe, dizem que essa porcaria que você adora é mais letal que qualquer veneno conhecido."

Finalizando o momento com um ar de desdém, Shion apagou o charuto. "Não sou fã de fumar."

O Rei Hozuki, ainda com seu sotaque marcante, riu alto, apreciando a audácia do momento.

A atmosfera na sala era palpável. Cada rei estava acompanhado por dois de seus filhos, que permaneciam postados como sentinelas silenciosas atrás de portas que se alinhavam na direção de seus respectivos pais. Eles eram a última linha de defesa, os guardiões de seus legados. Enquanto os reis debatiam, esses jovens permaneciam em silêncio, ouvindo atentamente, absorvendo cada palavra.

Shion, com uma postura ereta e um olhar determinado, tomou a palavra. "Senhores," começou ele, sua voz firme ecoando pela sala, "acredito que chegou o momento de revelar minhas verdadeiras intenções. Como muitos de vocês sabem, tive a oportunidade única de viajar para outros mundos. Vivi entre seus habitantes, imergi em suas culturas e absorvi seus valores."

Ele fez uma pausa, seus olhos varrendo a sala, encontrando os olhares de cada um dos presentes. "Uma das coisas que mais me marcou foi a forma como valorizavam a paz. Durante as décadas em que convivi com eles, compreendi o verdadeiro significado desse termo. Assim como nós, eles também estavam divididos em nações. No entanto, nos momentos mais críticos, uniam-se sob uma única bandeira. Claro, tinham suas diferenças, mas todos compartilhavam um objetivo comum: a busca pela paz."

Respirando fundo, ele continuou, "É por isso que convidei todos vocês aqui hoje. Minha proposta é simples, mas audaciosa: desejo propor uma união entre nossas terras, uma aliança que nos permita enfrentar desafios como uma única nação."

O silêncio que se seguiu foi quase ensurdecedor, com cada rei ponderando as implicações daquelas palavras.

O silêncio que se seguiu à proposta de Shion foi quase tangível, um vácuo de expectativa que preenchia a sala. Mas, tão abruptamente quanto começou, foi quebrado por uma risada estrondosa. Era o Rei Hozuki, que, com um sorriso zombeteiro, acendia outro charuto.

Com o charuto entre os dedos, ele apontou para Shion, a fumaça enrolando-se ao redor de seu dedo. Sua voz, carregada de sarcasmo e com o sotaque russo inconfundível, soou pela sala. "Shion, eu imagino que essa nova natsion unificada precisaria de um líder." Ele deu uma tragada profunda, e enquanto falava, a fumaça escapava de seus lábios. "E suponho que esse líder seria você?"

A densa fumaça do charuto começou a se espalhar pela sala, tornando o ar pesado e opressivo. Shion, visivelmente incomodado, começou a tossir. "Poderia apagar esse charuto?" pediu, tentando manter a compostura.

Mas Hozuki, claramente se divertindo com o desconforto de Shion, deu outra tragada profunda e, com um gesto teatral, soprou a fumaça diretamente no rosto de Shion. "Responda-me, Hattori. Você seria o líder?"

Shion tentou responder, mas a fumaça o sufocava, tornando difícil até mesmo respirar. A irritação de Hozuki cresceu. "Pelo amor de Deus, alguém abra a janela para esse tolo!"

Um dos filhos de Hozuki prontamente se dirigiu à janela, abrindo-a. A luz do dia invadiu a sala, e a fumaça começou a se dissipar. Mas, em um instante de pura tensão, antes que o jovem pudesse se afastar, um projetil cortou o ar, atingindo o Rei Hozuki diretamente na cabeça.

O caos irrompeu na sala. Shion, com os olhos arregalados e a adrenalina correndo por suas veias, gritou: "TODO MUNDO PRO CHÃO AGORA!"

O caos se instaurou na sala. Gritos, correria, desespero. Shion, em um ato reflexivo, derrubou a mesa, buscando refúgio atrás dela junto com os outros reis. Mas a proteção foi efêmera. Um segundo projétil rasgou o ar, encontrando a cabeça do Rei Uchiha. O Rei Nara, em um ato impulsivo, tentou fugir, mas foi atingido por duas balas – uma na cabeça e outra no peito.

Shion, com o coração acelerado e o medo estampado em seus olhos, lançou um olhar desesperado em direção aos seus filhos e correu. Mas, antes que pudesse alcançá-los, sentiu uma dor aguda na cintura. Mesmo ferido, com um último esforço, ele bateu a mão no chão, invocando seu poder para congelar a janela e obstruir a visão do atirador. No entanto, antes que a janela fosse completamente selada, um último disparo encontrou o Rei Senju.

O som ensurdecedor dos tiros cessou, mas a sala ainda estava preenchida com gritos, choros e lamentos. Shion, com a voz trêmula, gritou: "AYAKO! HOPE? Vocês estão bem?"

O silêncio que se seguiu foi agonizante. Mas, após alguns segundos que pareceram uma eternidade, a voz chorosa de Hope respondeu: "Estou bem, mas levei um tiro no braço." Ayako, tentando manter a calma, acrescentou: "Pai, como estão as coisas aí? Aqui, todos estão bem, exceto Hope. O que aconteceu?"

Shion, com a respiração ofegante, respondeu: "Todos estão mortos." Ele fez uma pausa, tentando assimilar a situação. "Há um atirador, cinquenta metros acima, no prédio ao lado. Ele tem cerca de um metro e setenta e pesa oitenta quilos." Outra pausa. "Ele está fugindo."

Shion tentou se levantar, mas a dor em sua cintura o fez cambalear. Olhando para sua camisa, percebeu o sangue que a manchava. "Merda," murmurou, sentindo a dor intensificar. Ayako, do outro lado, perguntou preocupada: "O que aconteceu, pai?"

Encostando-se em uma pilastra, Shion respondeu com dificuldade: "Fui atingido no rim. Vocês podem sair agora, o atirador fugiu. Chamem a polícia e a emergência. Há muitos feridos aqui."

Horas depois, o cenário era de devastação. Repórteres, médicos e policiais se movimentavam freneticamente pelo local. Sacos pretos eram fechados, contendo os corpos daqueles que haviam sido brutalmente assassinados. Jovens, desolados, choravam a perda de seus pais, enquanto Shion, sentado em uma maca, recebia atendimento médico. Hope, com uma expressão de dor, segurava a mão de seu pai, enquanto Ayako, visivelmente abalado, conversava com ambos.

Shion, com o olhar perdido, observava a cena ao seu redor. A dor e o luto eram quase palpáveis. Ele murmurou para Ayako, "Era para eu estar ali também... Alguém vazou informações sobre a reunião."

Foi então que um policial, conhecido de Shion por um desentendimento anterior, chegou ao local. Ele fazia perguntas aos colegas e, em seguida, soltava comentários sarcásticos. "Que coincidência uma tragédia dessas e, coincidentemente, tantos criminosos atingidos. A vida dá voltas, não é?"

Shion, com o rosto vermelho de raiva, fixou o olhar no policial. Sem hesitar, caminhou decididamente em sua direção. O policial, percebendo a aproximação, provocou: "Que foi, Hattori? Algum problema?"

Sem dizer uma palavra, Shion desferiu um soco potente no rosto do policial, seguido de outros. A cena rapidamente se transformou em um tumulto, com Ayako e outros policiais tentando separar os dois. Shion, fora de si, gritava: "O PAI DESSES GAROTOS ESTÁ MORTO E É ISSO QUE VOCÊ VEM FAZER AQUI? É por isso que não dá pra confiar em tipos como vocês!"

O policial, com o rosto ensanguentado, retrucou: "BATENDO EM UM POLICIAL, SHION?" Mas Shion não se deixou abater. "Eu bati em um otário! Não tem lugar para você aqui. É por isso que fizemos essa reunião hoje, para não dependermos de pessoas como vocês. NÓS vamos investigar isso nós mesmos."

Dirigindo-se aos filhos dos reis assassinados, ele continuou: "Não confiem nesse pessoal. Vamos descobrir quem fez isso e a justiça será feita."

O clima ficou tenso, e um a um, os policiais começaram a se retirar, deixando para trás apenas repórteres e médicos. Shion, finalmente se acalmando, percebeu que seus pontos haviam se aberto durante o confronto e precisava ser suturado novamente.

Era uma madrugada profunda quando o zumbido do veículo cortou o silêncio da noite. Os familiares, mesmo adormecidos, sentiram algo no ar. Como pequenos sentinelas, os lobos ergueram suas orelhas em atenção e correram para a porta, antecipando a chegada de entes queridos. Pela escada da entrada, Angell e Katsura desciam, o peso da preocupação visível em seus olhos por tudo que haviam testemunhado nos jornais. E ali, diante delas, os dois mais jovens derramavam lágrimas copiosas, o coração apertado pelas imagens assustadoras dos noticiários.

O motorista, com delicadeza, abriu a porta do passageiro, e uma série de garrafas se precipitou no chão, quebrando-se e espalhando o aroma do álcool. Com a ajuda hesitante do mesmo motorista, Shion desceu do carro, tentando se equilibrar com um copo de bebida na mão. Ele lançou um olhar turvo aos pequenos, e com uma voz embriagada, balbuciou: – Que merda tá acontecendo aqui? – Vendo o clima pesado ao seu redor, os pequenos o abraçaram soluçando, murmurando sobre as cenas brutais que tinham visto na televisão e o perigo que ele corria. Shion, numa tentativa falha de confortá-los, tentou pegá-los no colo. Com um braço tentando equilibrar a bebida e o outro tentando acomodá-los, logo percebeu sua inaptidão. Ele então deu dois tapinhas suaves nas cabeças deles e murmurou: – Depois a gente conversa. –

Shion se esforçava para subir as escadas, cada passo parecia um desafio, seu corpo oscilando perigosamente, ameaçando derrubá-lo a qualquer momento. Do veículo, Hope e Ayako emergiram, levemente trôpegas, com o brilho inebriante da bebida em seus olhos, embora muito mais sóbrias que Shion.

O tecido branco da camisa de Shion estava manchado com vestígios de sangue de feridas recentes. O que realmente chamou a atenção foi sua coroa, suja de sangue e amarrada em sua cintura de forma displicente. Katsura lançou um olhar preocupado a Angell. Seus olhos transmitiam uma combinação de descrença e desaprovação, mas, num gesto de entendimento tácito, Angell assumiu a responsabilidade de cuidar das feridas dos três, enquanto Katsura focava em Shion de pé.

Ela se aproximou dele, sua voz tingida de desaprovação: – Você está bêbado. – Shion, num ímpeto de alegria embriagada, a envolveu num abraço apertado, exclamando: – Só um pouuuquiiinho! – Ela fez uma careta, repelindo o hálito etílico dele. Ele, notando o tratamento em sua ferida, exclamou com euforia: – MILAGROSA! – E, soltando Katsura, pulou em Angell, beijando-a repetidamente nas bochechas. – NÃO TEMOS COM O QUE SE PREOCUPAR, A MILAGROSA ESTÁ DO NOSSO LADO! – Com um movimento brusco, lançou seu copo contra uma planta próxima, continuando a sufocar Angell com seu abraço entusiasmado.

Rindo histericamente, ele vacilou, quase caindo. Katsura, com firmeza e delicadeza, o amparou, guiando-o para dentro da casa. Durante o trajeto, Shion murmurava coisas incompreensíveis, oscilando entre a euforia e o delírio, suas palavras atestando sua bebedeira: – VIRAM SÓ! HATTORI SHION É IMORTAL! – Era evidente que aquele estado de embriaguez não era só um escape, mas uma celebração por terem sobrevivido a algum perigo iminente.


Assim que adentrou o aconchego da casa, Shion foi confrontado pelo brilho azulado da televisão, exibindo cenas de sua própria agressão a um policial. Ele olhou fixamente para a tela, seu rosto iluminado por um sorriso de desafio. Em um movimento rápido, ele agarrou o controle remoto, exclamando em tom de zombaria: – Chega dessa bobagem! EU SOU A FÊNIX IMORTAL! SOU DESCENDENTE DE DAELIN GREY! NENHUM HOMEM VAI ME DOMINAR OU ABATER! – E, com essa proclamação triunfante, ele se desmoronou no sofá, entregando-se rapidamente ao sono profundo, roncos ritmados e uma fina linha de baba escorrendo de seu canto da boca.

Katsura tentou arrancar algumas respostas de Ayako, mas ele, com uma evasiva rápida sobre precisar de um banho, desapareceu corredor acima em direção ao seu quarto. Hope, com olhos cansados e uma expressão desolada, abraçou Katsura e Angell, murmurando algo sobre o cansaço e a necessidade de um banho reparador, antes de também se retirar, deixando as duas mulheres à mercê do silêncio e das dúvidas.

Katsura trocou olhar com Angell, uma comunicação silenciosa sobre a noite incomum. Com um suspiro pesado, Katsura disse: – Amanhã, nós tiramos satisfação deles. Vá descansar. Eu cuido desse bêbado aqui. – Com delicadeza, ela cobriu Shion com um cobertor e, em um gesto de carinho e proteção, aninhou-se junto a ele no sofá. No entanto, os olhos dela permaneceram abertos, a mente a mil, incapaz de encontrar o descanso que o corpo tanto desejava.

O fraco raio de sol que conseguia se infiltrar pelas frestas das janelas da sala era suficiente para incomodar os olhos sensíveis de Shion. Ele se mexia, mostrando claramente o desconforto, mas na esperança de que pudesse se entregar novamente ao sono. No entanto, o som suave de uma xícara pousando sobre a mesa, quase imperceptível para a maioria, soou para ele como um verdadeiro estrondo. Ele abriu os olhos lentamente, e ao ver a dupla silhueta de Angell e Katsura à sua frente, sentiu um arrepio de receio. Por alguns instantes, pensou que preferiria enfrentar as chamas do inferno a ter que encarar as duas após a noite anterior.

Com a voz abafada, fruto da posição em que dormira, ele questionou com os olhos ainda pesados:

- Que horas são? - Katsura, com um tom carregado de impaciência e desaprovação, retrucou:

- São três horas. Da tarde. - Shion virou-se para Angell, tentando esboçar um sorriso desajeitado.

- Lembro-me de uma época em que, quando alguém adormecia no sofá, acordava na cama. Por que ainda estou aqui? - Katsura começou a tamborilar o pé com rapidez, um claro sinal de sua frustração e irritação.

- Precisamos falar, Shion. - Ele fez uma careta, claramente relutante. Com esforço, começou a se erguer, sentindo cada músculo doer. Resmungando, conseguiu se sentar, mas suas mãos foram imediatamente à têmpora, massageando de leve.

Minha cabeça está me matando – ele murmurou, olhando para Angell com um misto de repreensão e súplica  –. Sua cura não fez efeito completo. Ainda sinto dores.

Katsura interrompeu o ritmo de seu pé ao ouvir a alegação de Shion. – O que você está sentindo é uma ressaca clássica. –

Ele sorriu, claramente desdenhando da sugestão. – Eu nunca sinto ressaca, meu vigor sempre impediu isso. –

Katsura o encarou, um brilho zombeteiro nos olhos. – Isso era verdade até você perder seus poderes de Senju. Com esse corpo não habituado ao álcool, você vai sentir cada gota que bebeu. –

Ainda parecendo cansado, Shion jogou-se para trás no sofá, a cabeça repousando confortavelmente no encosto. Em questão de segundos, os roncos voltaram a ecoar pelo ambiente. Irritada com a postura dele, Katsura lançou um livro ao chão. O estrondo fez Shion saltar, os olhos arregalados.

– EU TÔ ACORDADO! – Ele exclamou, visivelmente assustado.

Com um olhar mais atento, ele percebeu uma tigela com comprimidos e um copo de água à sua frente. Sem hesitar, pegou os remédios, engoliu-os e bebeu a água. Em seguida, tomou a xícara de café e bebeu-a rapidamente, levantando-se num ímpeto. – Olha, é evidente que vocês duas estão furiosas... – Ele fez uma breve pausa, olhando para Katsura e depois para Angell. – Mas antes de tudo, eu realmente preciso de um banho. E é isso. –

Ele caminhou determinadamente na direção dos quartos. Katsura, ainda com os braços cruzados, observou-o com um olhar carregado de desaprovação. Quando parecia que Shion estava realmente determinado a escapar daquela conversa, ele se virou, uma pergunta claramente o incomodando: – Onde está Hakurei? Peça para ele me encontrar. Preciso conversar com ele. –

Katsura lançou um olhar carregado de significado para Angell. Era evidente que Hakurei tinha informações, mas o foco agora era extrair o máximo possível de Shion. Sem hesitar, Katsura agarrou Angell pelo pulso e ambas seguiram Shion até seu quarto.

No interior do cômodo, o cenário era peculiar: Shion estava sob o chuveiro com a porta do banheiro aberta, assobiando a melodia de "Amaranthine" de Amaranthe. Katsura estava logo na entrada, bombardeando-o com perguntas, enquanto Angell se mantinha na cama, observando o desenrolar da situação.

– Como consegue estar tão despreocupado depois de tudo que aconteceu? – Katsura questionou, claramente exasperada.

– Está tudo sob controle – ele respondeu com um tom zombeteiro, enquanto a água do chuveiro corria por seu corpo.

– Shion, a Hope foi ferida. Você também. – Katsura insistia. – Como pode dizer que está tudo bem?

– Temos a melhor curandeira do mundo ao nosso lado. No mundo dela, Angell era cultuada como uma deusa. Por que eu deveria me preocupar com um ferimento superficial? Além disso, Hope é invencível – Shion retrucou, mostrando-se indiferente.

– Você sabe quem é o atirador? – Katsura questionou, buscando uma resposta concreta.

– Ainda não, mas vou descobrir. Relaxe, nós vamos resolver isso. Se Light e Hitsugi estivessem aqui, você entenderia – Shion respondeu, evasivo.

– LIGHT E HITSUGI ESTÃO MORTOS! – Katsura exclamou, claramente irritada com a calma de Shion.

– Sim, estão. Mas o que aprendemos com eles ainda é valioso. Veja a Angell: ela está tranquila. Somos assim. Primeiro, pegamos leve. Depois, pegamos pesado. Muito pesado.

Finalmente, Shion desligou o chuveiro, pegando uma toalha para se secar. Vestiu um roupão branco e saiu do banheiro, encarando Angell sentada na cama.

– O problema é vocês não enxergarem o lado positivo das coisas – ele murmurou.

– E qual seria esse lado positivo? – Katsura retrucou, impaciente.

Estamos todos vivos – Shion declarou com um sorriso maroto.
Ao se aproximar de Katsura, usou um tom manhoso. – Momo... – Ela imediatamente demonstrou irritação com o apelido carinhoso. – "Momo" nada! Da última vez que você me chamou assim, acabei grávida!

Ele sorriu, selando os lábios dela em um beijo rápido e, em seguida, dirigiu-se ao armário para trocar de roupa, deixando as duas sozinhas por um momento.

Quando voltou, trajava roupas confortáveis e casuais, parecendo mais relaxado. – O irônico é que eu tinha uma proposta interessante para a reunião: unificar tudo sob um único nome, comprar todas as terras. Mas os ânimos não estavam bons. Seria difícil convencer os mais tradicionalistas... – Ele se aproximou delas, mexendo carinhosamente nos cabelos de Angell e beijando a bochecha de Katsura. – Mas, sabe, há males que vêm para o bem. Agora, eu vou comer algo porque estou faminto. E só para constar, tenho a família mais linda do mundo, e isso é o que mais importa agora.

Logo após Shion deixar o quarto, Katsura permaneceu imóvel, seus olhos fixos na porta. A expressão no rosto dela era séria, seu semblante fechado. Após um pesado silêncio, ela confidenciou algo a Angell: - Foi seu pai... – Disse com uma voz carregada de certeza e rancor. – Ele matou os Reis. Não posso provar, e, sinceramente, nem sei se quero me aprofundar nisso, mas eu sei. Está estampado em sua face. Não sei como, mas eles planejaram tudo isso juntos.

Katsura colocou a mão sobre o ombro de Angell, o olhar pesado e preocupado. – Só espero que essa situação não afete nossa família. – Suspirou, tentando amenizar a tensão. – Vamos comer algo?

Katsura sentiu uma onda de conforto ao ter o ombro de Angell como refúgio para seus desabafos. Esse gesto, percebeu ela, era o cimento que mantinha a estrutura da família firme. Um sorriso se desenhou em seu rosto, ecoado pelo sorriso da filha, culminando num abraço apertado que selava o laço inquebrável entre elas.

A cena se desenrolava em contrastante calmaria com a movimentação que ocorria abaixo. Shion, já descendo as escadas, após garimpar algo para saciar a fome matinal, colocou Lazulli sobre o pescoço, enquanto segurava a mão pequena e quente de Asuka, conduzindo-os para fora com um ar de proteção inabalável.

Ao alcançar o térreo, a silhueta de Hakurei surgiu, caminhando em sua direção. Uma troca de olhares, mais intensa que mil palavras, ocorreu entre Shion e Hakurei. Um aceno afirmativo mútuo selou a comunicação silenciosa entre eles. Contudo, a chegada de Katsura ao cenário alterou a atmosfera. Hakurei, com um traço de preocupação tingindo sua voz, indagou a Shion. – E o senhor, como está? Retornei assim que vi as notícias.

Com um gesto suave, Shion retirou Lazulli do pescoço, substituindo-a por Asuka. – Estamos todos bem, não se preocupe. Tivemos mais sorte que muitos outros. – Seu tom carregava uma serenidade tranquilizadora.

Hakurei soltou um suspiro aliviado. – Que bom ouvir isso. Se não for inconveniente, conversaremos mais tarde. –

Shion sorriu, uma pitada de humor brincava em seus olhos. – Claro, sem problemas. Agora vá cuidar da sua mulher, ela parece um pouco agitada. – A brincadeira sobre a nervosidade de Angell trouxe uma lufada de leveza à conversa.

Dando passos apressados, Hakurei subiu as escadas em busca de Angell. Ao cruzar com Katsura, um sorriso cortês se desenhou em seu rosto. – Boa tarde, Rainha. É um alívio ver que todos estão bem. –

Katsura retribuiu o cumprimento. – Boa tarde, Hakurei. Sim, por enquanto. – A resposta, tingida de sarcasmo, fez a realidade se mostrar presente naquele intercâmbio breve.

Hakurei, agora com um senso de urgência, acelerou o passo, chamando em voz alta ao se aproximar do quarto. – Amor, cheguei! Preciso de um abraço. –

Enquanto isso, fora da casa, Shion e os mais jovens se entregavam à alegria despreocupada de um jogo de arremesso de bola. Da porta, Katsura observava, um misto de desconforto e nostalgia a invadia. Com um suspiro resignado, decidiu deixar as preocupações de lado, descendo as escadas para se juntar à brincadeira, permitindo-se, por um breve momento, ser tomada pela simplicidade e alegria que a cena oferecia.