Hattori Shion
No momento em que Angell e Hakurei decidiram desbravar o caminho mais árduo, um sorriso maroto e cheio de orgulho apareceu nos lábios de Shion. A palavra "difícil", como anunciado por Shion, ganharia um novo significado para os dois aventureiros. Ele deu alguns passos em direção a Angell, e naquele instante, uma onda de nostalgia invadiu sua alma.
Era como se o tempo retrocedesse, e ele estivesse imerso em uma antiga conversa, com a voz de Opus ecoando em sua mente.
- A garota, Shion, qual é a sua relação com ela? – A voz de Opus surgia curiosa e provocadora.
Confuso com o rumo da conversa, Shion retrucava: - Ela é minha filha, e nada mais que isso. –
Mas Opus, com seu jeito irreverente, continuava a sondar. - Ah, vai dizer que não há nada além disso? Eu percebo o modo como você a observa. É um olhar diferente... Não é como você olha para Katsura. –
Naquele dia, Shion ficara sem palavras. E, revivendo aquele momento, quase que sem perceber, ele murmurou para si, mas alto o suficiente para Angell e Hakurei ouvirem: – É porque ela representa o futuro que poderia ter sido meu, se o destino tivesse sido mais bondoso. –
Com movimentos rápidos, seu dedo indicador tocou a armadura de Angell, fazendo-a se despedaçar em um instante. Olhando profundamente nos olhos dela, ele advertiu com seriedade, mas sem perder a suavidade em sua voz: – Isso precisa ser melhorado. – E então, com um leve sorriso zombeteiro, ele acrescentou: – Esse barulho é do seu estômago ou é o Gyuki-chan? Seja como for, ele precisa ficar atento. -
Aproveitando uma breve distração de Shion, Hakurei avançou decidido, canalizando toda sua força em um soco que atingiu diretamente a bochecha esquerda do oponente. No entanto, para seu espanto, Shion permaneceu inabalável. Não houve desvio, nem sequer um recuo. Ele apenas exibiu um sorriso de canto, afrontoso e provocador, antes de se virar para Hakurei e declarar: – Esse soco vai precisar de mais força. –
Em um movimento ágil, Shion saltou levemente, posicionando-se em uma postura defensiva. Seus olhos, brilhantes de excitação, fixaram-se nos dois jovens diante dele. – Bem, chega de conversa fiada. Vamos ao treino! Quero que usem tudo que têm para tentar me exaurir. Vou levá-los ao limite da exaustão. Não se contenham. Não se preocupem em me machucar. Aqui, perto da 'mãe da vida', ou devo dizer, perto de Katsura, a morte é um conceito quase irreal para nós. Ataquem como se estivessem tentando me matar. E ah, outra coisa: um dos benefícios de meu retorno é que estou em meu auge novamente. Minhas reservas de energia estão pulsando com a vitalidade da juventude. Então, é improvável que eu me canse tão cedo. Vamos nessa! –
Com um breve aceno de cabeça em direção a Angell, Hakurei sinalizou que iria liderar o confronto, permitindo que Angell absorvesse e analisasse a dinâmica da batalha. Desprovido de armas, Hakurei se viu obrigado a se engajar em combate corpo a corpo. O uso de chakra, naquelas circunstâncias, parecia uma tarefa hercúlea e, dada sua falta de clareza quanto ao exercício, ele optou inicialmente por conservar sua energia. Porém, ao lançar-se em um confronto direto com Shion, percebeu o nível da desvantagem.
Shion, apesar de ciente da ineficácia do ataque de Hakurei, escolheu não subestimá-lo. Em vez de simplesmente absorver o impacto, ele manobrou de forma a "fingir" que os ataques o afetavam. Quando o punho de Hakurei se dirigiu em sua direção, Shion habilmente desviou, e ao tentar um chute giratório, o mais velho ergueu seu joelho, interrompendo o golpe e comentou com uma ponta de sarcasmo: – Você está lento. –
Frustrado, Hakurei permitiu que o chakra fluísse através dele, invocando o "Sunshin no Jutsu". Um estouro de velocidade, porém, ainda insuficiente para superar Shion, que desviava de seus ataques com aparente facilidade. Desesperado por uma vantagem, Hakurei liberou seu Sunshin novamente, tentando pegar Shion de surpresa. Mas quando pensou ter acertado, tudo que encontrou foi uma mera miragem, uma ilusão de velocidade, com a voz zombeteira de Shion sussurrando por trás: – Você ainda está lento. –
Sentindo-se pressionado, Hakurei buscou um momento para reavaliar sua estratégia. No entanto, Shion não estava disposto a conceder tal pausa. Com um sorriso irônico, desafiou: - Ei, Uchiha, mostre-me seu Goukakyu. –
Em resposta, o Sharingan despertou nos olhos de Hakurei, revelando seu crescente desconforto. Um lampejo de uma memória antiga surgiu, onde ele via a jovem Angell e dois outros indivíduos, um deles com uma notável semelhança com Ayako. Com um sentimento de frustração palpável, e após uma rápida troca de olhares com Angell, Hakurei realizou os selos de mão necessários. Ao concentrar seu chakra e liberá-lo, apenas uma bola de fogo fraca e insatisfatória surgiu, fazendo-o exclamar com indignação: – AH, QUAL É!? –
Shion soltou um suspiro profundo, sua expressão carregava uma ponta de decepção, mas também de compreensão. – É, pois é... ele murmurou, – imaginei que isso ia acontecer. –
Seu olhar vagou pelo campo, pousando sobre um conjunto de equipamentos e armas brilhantes ao luar. Ele arqueou uma sobrancelha, apontando naquela direção. – Ah, você era um bom espadachim, se não me engano, fazia parte do kit da ANBU, não é? –
Hakurei, um pouco surpreso com a mudança abrupta de assunto, relaxou por um instante e saiu de sua postura de combate. – Sim, mas o que isso tem a ver? –
– Pega uma katana ali, vamos testar algo. Enquanto isso, esclareça algo pra mim: você já dominou seu segundo elemento? – indagou Shion, uma faísca de curiosidade em seus olhos.
Sem hesitar, Hakurei se dirigiu aos armamentos. Enquanto se aproximava, ele respondeu, sua voz carregada de certeza: – Sim. –
Shion, impulsionado pela curiosidade, pressionou: – E qual é? –
Ao alcançar a katana, Hakurei a desembainhou, admirando sua lâmina. – Vento. – Ele murmurou, cobrindo a lâmina com uma camada fina e cortante do elemento. Enquanto testava o equilíbrio e o peso da arma, Shion pareceu mergulhar em reflexão, mas logo depois, seus olhos brilharam com animação.
– Humm, isso pode funcionar! – exclamou Shion, – Quero que você use bastante esse seu vento e tente combiná-lo com seu fogo. Não terá o mesmo resultado do outro mundo, mas é um começo para aperfeiçoamento. –
Hakurei, com um olhar desafiador, inquiriu: – Não gostaria que eu levasse uma katana para você também? Seria mais honrado. –
Com um sorriso astuto e confiante, Shion retrucou: – Relaxa, a minha já está comigo. – Elevando sua mão livre, ele materializou, do nada, uma katana imaculada. Com um olhar brincalhão, ele zombou: – E pensar que vocês dependem de pergaminhos para isso. –
Observando atentamente a arma que materializara em sua mão, Shion murmurou com um olhar distante e crítico: – Seu pessoal costumava dizer que a espada das espadas era a Kusanagi... Ele ponderou por um instante antes de continuar, – Pelo tempo que fiquei com ela, achei-a completamente desbalanceada. Já a minha hyouken? Ah, ela é perfeita. –
Hakurei avançou lentamente, com passos medidos, até ficar próximo de Shion. Seu corpo se posicionou com destreza, a katana brilhando à luz do ambiente. Em um lampejo, ele se lançou para frente, iniciando uma dança de espadas com Shion.
As lâminas se encontravam no ar, gerando faíscas e um som metálico hipnotizante. O estilo de combate de cada um era evidente e contrastante: Hakurei, com sua postura levemente curvada, buscava precisão e um desfecho rápido. Cada movimento era calculado, sua katana se movendo como uma extensão de si mesmo. Shion, no entanto, tinha uma abordagem mais relaxada e quase desdenhosa, segurando sua espada com apenas uma mão e corpo inclinado, seus olhos perscrutavam cada movimento do adversário, caçando as aberturas.
Embora o ritmo frenético dos embates mostrasse Hakurei mais empolgado, também revelava sinais de esforço, com leves gotas de suor perlado em sua testa. Shion, mesmo em meio ao confronto, mantinha-se com um sorriso provocador e não perdeu a oportunidade de alfinetar: – Me diga, esse joguinho de um distrair e o outro analisar... por quanto tempo vocês planejam continuar? –
Os olhos de Hakurei se arregalaram em puro espanto. No que pareceu um breve segundo, Shion conseguiu frear completamente o movimento do mais jovem, deslizando sua lâmina com uma destreza quase sobrenatural. Com habilidade ímpar, Shion capturou a katana de Hakurei, cravando-a firmemente no solo, a lâmina zumbindo perigosamente perto do rosto de Hakurei, fazendo-o congelar em puro choque.
No momento seguinte, Shion moveu-se com um vigor implacável. Ele usou seu cotovelo, acertando o queixo de Hakurei e elevando-o ligeiramente do chão. O impacto foi tão forte que, antes que Hakurei pudesse sequer reagir, Shion lançou uma sequência de socos em seu abdômen. A dor era tão intensa que o sangue misturou-se com a saliva de Hakurei, e ele o cuspiu involuntariamente. O corpo de Hakurei se curvou pelo golpe, mas antes que ele pudesse se recuperar, Shion o finalizou com um poderoso chute, lançando-o diretamente em direção a Angell.
Com movimentos fluidos e ágeis, Shion recolheu as duas katanas, lançando-as aos pés dos respectivos donos, e lançou um desafio provocador: – E então, azulada, vamos começar? –
Seu semblante havia mudado drasticamente. Enquanto Hakurei se erguia, ainda sentindo o impacto dos golpes, ele se apoiava levemente em Angell, buscando tanto o suporte físico quanto a possível cura. Recuperando um pouco de fôlego, ele murmurou para Angell, o peito subindo e descendo rapidamente: – É completamente diferente. A mão dele é como aço. Parecia que eu estava socando uma muralha impenetrável. Tenho que admitir, o seu pai... ele é formidável. E sinto que ele ainda está se contendo. –
Hakurei, então, afastou-se lentamente de Angell, seus olhos evoluindo para o Mangekyou. Sua expressão era séria e determinada, e ele sussurrou: – Agora compreendo. O nível de treino e dedicação dele... o respeito que ele tem pelo adversário. É uma experiência reveladora. –
Shion, posicionado a uma distância deles, soltou uma risada e comentou com um tom sarcástico evidente em sua voz: – Obrigado. –
De onde estava, Hakurei reagiu com surpresa e exclamou: – Você conseguiu ouvir? –
Com um sorriso zombeteiro e os braços abertos em deboche, Shion respondeu: – Cada palavra. –
Sentindo o peso da situação, Hakurei se virou rapidamente para Angell e perguntou: – Qual a estratégia, Sensei? – A escolha da palavra "Sensei" revelava uma memória ou uma conexão de um passado diferente.
Shion, no entanto, não queria ser deixado de fora e, com um brilho travesso nos olhos, fez uma sugestão arriscada para Angell: – Tenho uma ideia um tanto quanto... excêntrica. Não precisa ser agora. Guarde para uma situação de emergência. Se der errado, as consequências podem ser desastrosas. Mas... e se você conseguisse enviar todo o seu chakra por qualquer tenketsu, liberando tudo de uma vez, como se fosse uma supernova? – A curiosidade e excitação na voz de Shion eram palpáveis. Era uma proposta audaciosa, talvez até perigosa, mas a curiosidade do homem o fazia questionar os limites do possível.