Confortavelmente instalada em seu reduto familiar, a família aproveitava o prazer de jogar conversa fora por longas horas. O tempo parecia suspenso enquanto as histórias eram compartilhadas e as risadas enchiam o ambiente. No entanto, à medida que a noite avançava, a fadiga começava a se manifestar. Os rostos mostravam traços de cansaço, uma evidência tangível de uma batalha exaustiva travada recentemente. Cada um dos presentes havia enfrentado suas próprias demandas desgastantes, deixando seus corpos exaustos e clamando por um merecido descanso. A normalidade parecia distante, exigindo noites de sono restaurador para recarregar as energias e devolver-lhes a vitalidade tão desejada.
Hakurei_______
Pela manhã cedo, ouvi uma batida tímida na porta e um som que parecia algo sendo colocado debaixo da porta. Curioso, levantei-me. Angell deu sinais de que estava acordando, mas até então não disse nada, permanecendo ali, com os olhos entreabertos. Ao pegar o que era, percebi que era um papel, uma carta. Após ler, dei uma risada desconfortável e comentei:
- Seu pai está me convidando para uma caçada agora.Angell simplesmente virou para o lado e continuou dormindo, estava cansada. Sem fazer muito barulho, vesti as roupas do quarto mesmo e abri a porta com cuidado para não acordar Angell. Embora estivesse bastante nervoso por caçar com o pai dela, já que não nos conhecemos tão bem, e sei lá, temos algumas coisas para resolver...
Ao sair no corredor, deparei-me com Ayako acompanhando Shion enquanto ele batia na porta chamando o mais jovem, Lazulli, se não me engano. O garoto abriu a porta ainda limpando os olhos e bocejando, já que estava acordando tão cedo, ainda eram cinco da manhã. Mas quando Shion mencionou a caçada, ele logo se animou. Cheguei perto e cumprimentei-os.
- Bom dia. - Disse em um tom tranquilo.
Shion voltou-se para mim, estendeu a mão e disse algo, mas quando olhei nos olhos dele, senti como se flashes passassem pela minha cabeça: vi Widowmaker prestes a matar Angell, vi-o louco ameaçando todos na prisão. Naquele momento, hesitei rapidamente, mas acabei cumprimentando-o.
- Desculpe por acordar vocês tão cedo, mas achei que seria importante para você conhecer um pouco da nossa cultura. - Respondi que tudo bem, seria interessante. E então ele fez uma pergunta engraçada.
- Você já caçou antes, Hakurei? - Com um tom de humor na voz.
- Animais não. - Tentei acompanhá-lo.
Ele sorriu.
Shion_______
Lazulli já estava pronto, mas seu pai zeloso fez a primeira pergunta.
- Escovou os dentes? – Lazulli mentiu. – Sim! –
Seu pai, Shion, perguntou mais uma vez.
- Segunda chance, já escovou os dentes? –
Como um relâmpago, o garoto correu para o quarto e se arrumou, retornando para o pai, que novamente deu outra instrução.
- Agora penteia o cabelo. –
O garoto correu novamente como um raio. A criança era muito rápida e fazia as coisas quase instantaneamente, voltando com o cabelo penteado.
- E agora, pai, vamos? – Perguntou o garoto animado.
Shion olhou para Ayako, olhou para Hakurei e olhou para o garoto antes de responder.
- Não esqueceu de nada, não? –
- Não... – Disse o garoto, confuso.
- Você vai caçar só de cueca? – Perguntou Shion.
O garoto olhou para baixo e correu novamente para pegar suas roupas.
Foi um longo processo até que, finalmente, o mais jovem estivesse pronto. Então, todos eles partiram para a floresta. Shion colocou uma capa no pequeno Lazulli, e cada um usava um gorro. O sol estava começando a aparecer.
Ao adentrarem a mata, começaram a observar ao redor. Hakurei estava curioso e perguntou:
- Então, o que pretendemos caçar? -Enquanto o grupo caminhava, Shion respondeu:
- Ainda não sei, talvez um cervo, algo bacana para o almoço. -O garoto mais jovem estava encantado com tudo aquilo, parecia bem animado para alguém que acabara de acordar, e não parava de fazer perguntas.
- Pai, o senhor já caçou antes? -Andando e olhando ao redor, Shion respondeu:
- Algumas vezes, animais e outras vezes não eram animais. -O garoto ficou confuso, mas continuou com o festival de perguntas.
- E com seu pai, você já caçou? -Shion sorriu e respondeu:
- Duas vezes, uma com cada um dos seus avôs. -- E qual foi a mais divertida? - Perguntou o pequeno.
- A segunda, ele me deixou disparar a flecha. - Disse sorrindo.
- Vai me deixar disparar a flecha? -- Só se prometer que vai me obedecer e escutar tudo que seu irmão e Hakurei disserem. -- Eu prometo. -O grupo adentrou profundamente na floresta quando, finalmente, Shion ordenou com um sinal para falarem baixo. Shion encontrou uma pegada e reuniu todos ao redor dela. Ele perguntou baixinho ao pequeno Lazulli:
- Que animal tem essa pegada? -Lazulli olhou e analisou.
- Um alce?- Muito bem. - Disse Shion.
- Consegue farejar ele? -O garoto começou a farejar o ar, tentando sentir o cheiro, mas ainda tinha dificuldades por ser jovem. Shion passou a mão na pegada e a aproximou do nariz do garoto.
- Tenta agora. - Disse Shion.
Lazulli fechou os olhos para se concentrar melhor e então abriu-os de uma vez, apontando.
- NAQUELA DIREÇÃO! -Shion sorriu e disse:
- Certo, agora falem baixo. Quero que todo mundo faça silêncio e você se concentre em tentar ouvir o animal, para saber como ele está. -Hakurei observava aquela cena atentamente, principalmente admirado com a habilidade de Shion em ensinar o garoto a caçar.
O grupo foi seguindo o pequeno Lazulli, que farejava o ar e tentava ouvir o animal. Lentamente, eles foram se aproximando até que, finalmente, encontraram o animal parado em uma clareira, se alimentando do mato. O garoto já ia avançar, quando Shion o segurou, retirou uma flecha das costas e entregou-a ao garoto.
- Vamos lá, segure o arco,
posicione-o de uma forma que você consiga relaxar o braço – instruiu Shion, com uma mistura de orgulho e ternura em seu olhar.
O garoto, com olhos cheios de determinação, seguia atentamente as ordens do pai, ajustando cuidadosamente o arco. Com mãos trêmulas, encaixou as costas da flecha entre as cordas e, com a ajuda de Shion, começou a puxar.
- Agora eu quero que respire devagar – continuou Shion, sua voz cheia de serenidade.
- Com cuidado, vá mirando.
O garoto respirou fundo, tentando acalmar seu coração acelerado, e concentrou-se no alvo. A mão firme de Shion guiava a dele, transmitindo confiança e segurança. Com dedicação e concentração, escolheu o ponto exato próximo ao pescoço do animal. E então, Shion disse as palavras finais de instrução:
- Quando sentir que a corda está difícil de ser puxada, solte a respiração e libere a flecha, mantendo a mão de apoio estável.
O garoto seguiu as instruções à risca. Soltou o ar dos pulmões, deixando que a calma invadisse cada fibra do seu ser, e, com um movimento suave, soltou a flecha. O projétil cortou o ar em um voo determinado, até encontrar seu destino certeiro na garganta do animal. Um momento de triunfo, seguido por uma tristeza passageira ao ver o cervo ferido fugir.
Sem perder tempo, o garoto, impulsionado pelo ímpeto da juventude, correu na direção do cervo. No entanto, Shion, com sabedoria acumulada ao longo dos anos, o repreendeu em um sussurro afetuoso:
- Espere!O grupo seguiu então o rastro de sangue deixado pelo animal ferido. Entre a densa vegetação, avançavam com cautela, respeitando a natureza e o momento sagrado que vivenciavam. Cada passo era um eco de determinação e respeito à vida.
Finalmente, encontraram o cervo caído, seu corpo exalando a fragilidade da existência. Ainda respirava, mas a morte era inevitável. Era chegada a hora de encerrar o sofrimento daquele ser majestoso. Shion, com compaixão em seu olhar, aproximou-se junto com seu filho, entregando-lhe uma pequena adaga. O garoto segurou o objeto em suas mãos trêmulas, fitando-o com um misto de respeito e apreensão.
- Para que serve isso? – perguntou o garoto, com a voz embargada pela emoção.
- Você deve encerrar o sofrimento dele – respondeu Shion, com uma ternura profunda em suas palavras.
O garoto se aproximou do cervo, sua respiração entrecortada pelo peso do momento. A lâmina da adaga roçava suavemente a pele do animal, enquanto seus olhos encontravam o olhar do pai, buscando coragem e força. No entanto, as lágrimas se misturavam à sua determinação, e o medo tomava conta de seu ser.
Shion abaixou-se, alinhando-se ao nível do garoto, e sussurrou com amor e compreensão:
- Juntos.A mão do pai envolveu a mão do filho, entrelaçando seus destinos em um gesto de conexão e apoio. Juntos, eles se aproximaram do cervo ferido. Com a adaga em suas mãos unidas, Shion e seu filho empurraram a lâmina com delicadeza e firmeza, encerrando assim o sofrimento do animal. Cada movimento era guiado pelo respeito à vida, à natureza e ao elo sagrado que os unia.
A tristeza e o peso daquele momento se dissiparam no ar, dando lugar a uma sensação de paz e reverência. Shion concluiu com uma voz embargada, mas repleta de sabedoria:
- Devemos honrar esse animal em um banquete,
pois, sem isso, seria apenas um ato vazio.
Lembre-se sempre disso,
meu filho.
Os três conversavam distraídos enquanto Shion amarrava um tecido ao redor do corpo do animal para poder carregá-lo. Enquanto isso, Ayako, Hakurei e Lazulli continuavam a conversar e celebrar a caçada. No entanto, de repente, Shion parou abruptamente, farejou o ar e gritou:
- CUIDADO! -Um gigantesco leão saltou com a boca aberta, tentando agarrar o pequeno Lazulli. Num ato de coragem instantânea, Shion saltou e jogou seu braço dentro da boca do animal. A resistência do Hattori foi suficiente para evitar que o leão o dilacerasse completamente, mas não sem infligir ferimentos. Assustado, Lazulli caiu para trás, enquanto Hakurei preparava o arco e Ayako sacava suas duas pequenas adagas. Porém, Shion gritou:
- Afastem-se, ele é meu. -Shion rugiu, buscando forças além da medida, e com sua mão livre desferiu um soco no rosto da fera. Finalmente, ele conseguiu retirar seu braço de dentro da boca do animal e encarou aquela criatura de frente. Não se tratava de um leão comum; era uma espécie rara da floresta. Seus dentes eram presas enormes, semelhantes às de um mamute, e sua pelagem alaranjada possuía pequenos traços negros. Era uma criatura assustadora tanto em aparência quanto em tamanho.
O lobo Hattori e o leão se encaravam, circulando lentamente um ao redor do outro. O pequeno Lazulli, assustado, se escondia atrás das pernas de Ayako. Ela o abraçava, transmitindo segurança, e disse:
- Está tudo bem, você está prestes a presenciar um verdadeiro espetáculo. -Shion continuava encarando a criatura, observando cada movimento. Quando o leão se moveu para atacar novamente, Shion avançou. A criatura tentou abocanhar Hattori, mas ele se jogou para passar rastejando por baixo do animal e, rapidamente, levantou a adaga, cortando do pescoço até a virilha do leão. O animal cambaleou e caiu no chão. Shion se levantou, encarando a criatura intensamente. Ao passar ao lado dela, olhou para Ayako e disse:
- Isto é irônico, não é? -Ele se aproximou de Lazulli, bagunçou carinhosamente o cabelo do menino e afirmou:
- Você foi muito corajoso, parabéns. -Um pouco mais tarde, em um chalé próximo à mansão, Hakurei estava do lado de fora, distraindo Lazulli, enquanto dentro do chalé o cervo já limpo estava pendurado em um gancho, pronto para ser assado. Shion, com uma faca afiada, habilmente retirava a pele do imponente animal, enquanto conversava com Ayako. No ar pairava uma mistura de tensão e emoção latente.
- Sabe o que isso significa, não é? - perguntou Shion, sua voz carregada de um tom sombrio.
- O que, pai? - indagou Ayako, seus olhos fixos no trabalho minucioso de seu pai.
- Uma leoa mutante ataca uma pequena loba na floresta, já vi essa história antes. - Shion falava com uma mistura de frustração e irritação, a lâmina deslizando pela pele do animal em um movimento preciso e cadenciado.
- Acho que você ainda está cansado. - respondeu Ayako, tentando aliviar a atmosfera tensa que os envolvia.
Em um gesto abrupto, Shion bateu a mão na mesa, ecoando um som abafado pelo local.
- Por que vocês não vieram atrás de nós...? - perguntou ele, a raiva transparecendo em seu olhar.
- Porque você disse para não irmos, nós vimos a sua mensagem. - respondeu Ayako, sua voz firme, revelando uma determinação inabalável.
- Droga, é sério, eu sou Hattori tanto quanto vocês, desde quando obedecemos? - retrucou Shion, seus movimentos ao cortar o animal se tornando mais agressivos e bruscos, quase como se descontasse sua frustração na tarefa diante de si.
- Pai, você precisa entender que muita coisa mudou. Eu e Hope, principalmente ela, convivemos com vocês e aprendemos muitas coisas. O clã cresceu de forma diferente. Abandonamos a mentalidade do passado e fizemos o que você queria que fizéssemos. Então, com todo respeito, pai, não faça isso! - respondeu Ayako, sua voz embargada pela emoção, seus olhos buscando conectar-se com os de seu pai.
Shion parou, sentindo o peso das palavras de sua filha, captando o olhar desafiador que ela lhe lançava. Naquele momento, ele viu no rosto de Ayako a determinação de uma mulher forte e corajosa. Caminhando em sua direção, Shion abraçou-a com força, seus corpos unidos apesar das mãos sujas de sangue. Era um abraço que transcendia palavras, um abraço carregado de amor, compreensão e perdão. Ayako se sentiu envolvida por um misto de emoções, seu coração aliviado pela reconciliação com seu pai.
Shion voltou seu olhar para o grande leão, suas mãos ágeis retomando a tarefa de remover a pele da majestosa fera. Seus pensamentos ecoavam na mente, enquanto suas palavras se entrelaçavam com as batidas do coração.
- Eu não sei se isso faz sentido para você, mas você precisa entender que, de uma forma ou de outra, eu não vou viver para sempre. Preciso ter certeza de que você estará preparada para ser a guardiã de nossa família. Você é a mais velha entre seus irmãos, e eles talvez não compreendam tudo o que vivemos. - disse Shion, sua voz carregada de uma mistura de tristeza, orgulho e preocupação.
- O nome Hattori, por um tempo, foi manchado pelas sombras de nosso passado. Hoje, somos uma parte importante da comunidade. Temos a responsabilidade de preservar nossa honra e zelar pelo bem-estar de nosso clã. Esse caminho foi árduo, regado pelo sangue derramado e pelo sacrifício de muitos. Gastamos fortunas e superamos obstáculos para chegarmos onde estamos. Nunca podemos permitir que o nome de nossa família seja manchado novamente. Você compreende a grandiosidade dessa missão, minha querida filha? -Ayako acenou positivamente, respondendo:
Eu entendo.Shion terminou de tirar a pele do cervo, enrolou-a e comentou:
Presente de casamento para sua mãe, um casaco de pele. Após isso, com um pano, ele limpou as mãos.
Amanhã a gente vai na rua, quero voltar aos negócios, ver como está a organização. Ayako apenas concordou e os dois saíram do chalé.
Vamos avisar as cozinheiras que a carne está no jeito.Quando Shion saiu, ele se aproximou de Hakurei, que parecia desviar o olhar, e então Shion o confrontou.
Ei Uchiha, me acerta um soco, vamos.Hakurei ficou completamente confuso, olhou para Ayako que fez um movimento positivo, mas Hakurei desviava.
Ta maluco, não vou te acertar um soco.Shion insistia.
Você precisa me acertar, ou isso nunca vai passar.Hakurei ficava ainda mais confuso.
Isso o que?O que você ta sentindo. Respondia Shion.
Seu coração vive acelerado perto de mim, eu sinto raiva, sei que você não engoliu bem o lance do controle, então vamos acabar isso logo de uma vez, me acerta com toda a sua força.Hakurei novamente nega mas sendo mais grosso.
Eu não vou acertar você.Shion insiste e Ayako entra no coro.
Acerta um soco nele.Hakurei continua negando, mas Shion é mais direto.
Ou você me acerta um soco ou eu te acerto, e eu te garanto que se eu te acertar um soco aqui na minha terra você não acorda até amanhã, então pela última vez, me acerta um soco.Hakurei fechava os punhos mas não conseguia, Shion se aproximou dele e o empurrou.
Covarde.Hakurei ficava irritado.
Para com isso, não vou acertar o pai da minha mulher.Shion o empurrava novamente.
Você é covarde, como vai proteger ela com essa covardia.Hakurei franzia os olhos com raiva, mas Shion continuava o provocando.
Quer saber vou falar com a Katsura pra te mandar de volta, você não serve pra ela, é um frangote.Hakurei segurou o ombro de Shion e com toda sua força acertou um cruzado de direita na bochecha de Shion, o Hattori virou o rosto ainda surpreso e sorriu.
Só isso? Bate que nem mulherzinha.Hakurei socou novamente, mas Shion continuava.
Franguinho.Hakurei socava mais forte ainda, e Shion continuava.
Sério, o Lazulli bate bem mais forte.Enfim, Hakurei juntou todo o seu chakra no punho e começou a socar o rosto de Shion sem parar, ele gritava, acertava e continuava batendo, e Shion ria, até que enfim Hakurei parou, caindo entre os braços de Shion, chorando nos braços dele.
Isso garoto, coloca para fora, se você continuar tendo medo de mim, isso nunca vai dar certo, eu sou o pai de Angell, eu nunca a machucaria, aquele que você conheceu não era eu, mas agora que você botou essa raiva para fora, as coisas vão ficar melhor.Shion abraçou o rapaz, que foi se recompondo enfim. Dessa vez ele ouviu a calmaria no coração de Hakurei, e então eles retornaram para a casa com Shion dizendo.
Se Katsura perguntar de onde é o sangue, diz que eu briguei em um bar.