Finalmente, o casal adentrou o quarto, um santuário acolhedor que emanava um calor familiar. Shion, envolto em um misto de admiração e desconcerto, permitiu que seus olhos vagassem pela estância. Observar aquele lar, agora seu, era como revisitar os corredores da memória e entrelaçá-los com o presente. Anos de jornada e transformação se condensavam naquela residência, ultrapassando as fronteiras do que ele, nos melhores momentos de devaneio, poderia vislumbrar. Ali estava ele, fisicamente presente, no entanto, a turbulência mental persistia, como um eco sutil das provações que moldaram seu percurso. Katsura, com serenidade, fechou a porta atrás de si, seus olhos encontrando os de Shion em um gesto silencioso de conexão profunda. Ele permanecia de pé, um guerreiro marcado por pequenos arranhões e hematomas da batalha, sua vestimenta esgarçada testemunhando os desafios enfrentados. Contudo, em seu olhar, brilhava a determinação e a certeza de que, juntos, superariam qualquer obstáculo. Ambos se mantiveram imóveis, entrelaçados pelo silêncio significativo, cada palavra desnecessária diante da força do amor que os envolvia.
O tempo do silêncio chegou ao fim, e ela o envolveu em um abraço vigoroso, sentindo seu marido nos seus braços, saboreando a sensação de finalmente tê-lo para sempre. Seus lábios se encontraram em um beijo fervoroso, repleto de paixão. A respiração ofegante denunciava a intensidade do momento, enquanto ambos se entregavam ao ardor do encontro. No entanto, ele pausou brevemente, interrompendo o beijo.
"
Deixa eu, pelo menos, tomar um banho", ele disse.
Ela replicou em um tom semiautoritário: "
Não! Eu te quero assim".
Determinada, ela o empurrou para a cama, seu corpo sobrepondo-se ao dele, reiniciando os beijos com ainda mais fervor. Em um instante, ela interrompeu o contato, fixando seus olhos no rosto dele. Ambos estavam corados, e ela começou a tremer os lábios. Lágrimas encheram seus olhos, e ela permitiu que elas se derramassem livremente.
"
Shion...", sussurrou Katsura, tocando seu rosto. "
Você está vivo". Ela continuou acariciando seu rosto, sentindo cada contorno com dedicação amorosa. "
Eu pensei que tinha te perdido para sempre".
Ele a abraçou, inclinando a cabeça de Katsura contra seu ombro e sussurrou em seu ouvido:
"
Estamos todos..." As palavras se perderam por um breve instante, pois sua voz estava tomada pela emoção. Após um suspiro profundo, ele completou: ".
..estamos todos vivos. Juntos novamente."
Katsura sentiu um turbilhão de alegria invadir seu coração. Cada batida era uma sinfonia de felicidade, uma melodia que ressoava em sua alma. As lágrimas que percorriam suas bochechas eram agora lágrimas de alívio, de gratidão. Ela acariciou os cabelos de Shion, como se quisesse certificar-se de que ele era real, de que aquilo não era apenas um sonho fugaz. O brilho em seus olhos refletia a luz radiante do amor restaurado, a chama que nunca se apagou, mesmo nos momentos mais sombrios.
Aquele instante, aquele reencontro, era o renascimento da esperança que Katsura carregava consigo. A jornada árdua que ela enfrentou, as noites insones cheias de saudade e incerteza, agora eram envoltas em um abraço caloroso, uma promessa cumprida. Nada mais importava, exceto o fato de que eles estavam juntos novamente, unidos por um vínculo indissolúvel. O futuro se desdobrava diante deles, um horizonte brilhante repleto de possibilidades, e Katsura sabia que enfrentariam cada desafio de mãos dadas, com a força do amor que os sustentava.
[...]
Horas mais tarde, após consumarem o que haviam começado, Katsura estava sentada na cabeceira da cama, envolta em uma toalha, utilizando um secador e um pente para cuidar de seus longos cabelos escarlates. Shion emergiu do banheiro, vestido com um roupão e usando uma toalha de rosto para secar o rosto recém-barbeado. Um sorriso iluminou seu rosto ao encontrá-la. Katsura inclinou a cabeça enquanto ainda secava seu cabelo e sorriu de volta. Shion pegou meigamente em seus cabelos e fez um pedido bobo.
"
Então... preciso que você corte meu cabelo", ele disse.
Katsura sorriu para ele. "
Está bem comprido mesmo."
Ela terminou de ajeitar seu cabelo, o colocou sentado de frente para o espelho e começou a cortar um pouco do cabelo dele enquanto conversavam.
"
Você acha que o rapaz vai se adaptar bem?", perguntou Katsura.
"
Ele é forte, era alguém muito competente em Konoha. Angell fez uma boa escolha", respondeu Shion.
Ela deu um tapinha na cabeça dele. "
Eu não estou perguntando se ele é forte", brincou.
"
Bem, a outra opção para os dois era morrer, então eles não tinham muita escolha", ponderou Shion.
Ela puxou gentilmente o cabelo dele. "
Você não muda nada, não é? Na frente dos outros é todo valentão, mas quando está comigo, só faz graças", provocou.
Ele sorriu para ela e comentou: "
Se eu não ameaçar alguém de vez em quando, eles esquecem quem eu sou".
Ela terminou de cortar o cabelo dele e perguntou: "
E então, me diz o que acha?"
Shion olhou para o reflexo de seu rosto no espelho e respondeu: "
Eu olho para meu rosto e não consigo me reconhecer".
Katsura brincou: "
É estranho quando os pais são mais jovens que os filhos, não é?"
"
Não é mesmo?", brincou Shion. "
Já viu a Hope? Ela até tem cabelos brancos".
Um silêncio pairou entre os dois. "
Vamos usar a essência nos dois?", questionou Shion.
"
Eu vou perguntar a eles primeiro", respondeu Katsura.
"
É uma boa ideia. Viver para sempre nem sempre é saudável. Nós conhecemos pessoas importantes e vemos todos eles morrerem", refletiu Shion.
Katsura deu outro tapinha na cabeça dele, carinhosamente.
[...]
Ela sentou no colo dele, entrelaçando seus braços ao redor da cabeça dele, e sussurrou:
"
Vai me contar o que aconteceu?", perguntou Katsura, seu olhar repleto de preocupação e dúvida.
Shion desviou o olhar, tentando evitar o confronto com a verdade. Sua expressão se tornou tensa, como se estivesse lutando internamente para esconder algo doloroso.
"
Do que você está falando?", respondeu ele, sua voz carregada de falsa inocência.
Katsura apertou suavemente seus braços ao redor dele, buscando transmitir não apenas amor, mas também a urgência de sua preocupação.
"
O purgatório...", sussurrou ela, sua voz trêmula.
A expressão de Shion vacilou por um breve momento, revelando a tormenta emocional que ele tentava desesperadamente esconder.
"
Não aconteceu nada...", disse ele, sua voz falhando por um instante antes de retomar um tom de falsa tranquilidade. Seu sorriso falso não conseguia ocultar completamente a tristeza que pairava em seus olhos.
Katsura sabia que estava diante de uma batalha árdua para desvendar os segredos sombrios que assombravam seu marido. Ela segurou seu rosto delicadamente, forçando-o a encará-la.
"
Eu não precisei entrar em sua mente para perceber o quanto você está fragmentado", disse ela com voz firme, seus olhos transmitindo uma mistura de amor e determinação. "
E em breve, os outros também vão notar. Angell já percebeu, Hakurei também. É apenas uma questão de tempo até que cada um deles comece a fazer perguntas. Você está diferente, está fingindo simpatia desde a lua. Então, fale comigo. Quando você se abrir pela primeira vez, ficará mais fácil abrir-se novamente."
Shion lutou contra as lágrimas que ameaçavam brotar de seus olhos. Ele se sentia como um animal acuado, tentando se esquivar das garras da verdade que o assombravam. Mas no fundo de sua alma, ele sabia que não poderia mais fugir.
Shion pausou por um momento, seu olhar vazio encontrando os olhos de Katsura enquanto ele forçava um sorriso frágil.
"
Não aconteceu nada, é sério", repetiu ele, mas sua voz carregava um tom de desespero mal disfarçado.
Katsura sentiu um nó apertar em seu coração, um peso que ela compartilhava mesmo sem compreender completamente o sofrimento que ele carregava. Ela se levantou, tentando conter sua própria angústia e frustração.
"
Você que sabe", respondeu ela em um sussurro, seu tom refletindo a dor que ecoava em seu ser.
Antes que Katsura pudesse se afastar completamente, Shion segurou sua mão em um aperto desesperado. O vazio em seu olhar parecia se aprofundar, como se ele estivesse perdido em um abismo de memórias dolorosas.
"
Espera...", murmurou ele em um tom vazio e quebrado, a voz carregada com a magnitude de sua aflição. "
Fica... por favor."
Katsura voltou, sentando-se novamente de frente para ele. O silêncio entre eles era palpável, preenchido com a tristeza compartilhada e a necessidade urgente de compreensão.
"
Eles me quebraram", começou Shion, sua voz falhando em consonância com sua própria fragmentação interna. Cada palavra era impregnada de sofrimento e desamparo. "
Ele... você sabe de quem estou falando. Ele usou-a, porque ela sabia como funcionava minha mente. Ela fez de tudo comigo... me torturou de todas as formas imagináveis. Cortou-me, separou-me, e cada dia era uma repetição insuportável dessa dor. Era como se minha existência fosse reduzida a uma mera marionete nas mãos deles."
As palavras de Shion ecoavam com um peso avassalador. Katsura sentia um turbilhão de emoções, desde a raiva e indignação até uma tristeza profunda pela dor que ele havia suportado. Ela apertou sua mão com firmeza, transmitindo uma conexão silenciosa.
"
Meu amor", sussurrou ela com ternura e compaixão. "
Nenhuma palavra pode descrever a magnitude da sua dor, do que você enfrentou. Eu estou aqui por você, para ajudá-lo a curar essas feridas profundas. Você é forte, mesmo quando se sente frágil. E eu vou estar ao seu lado, passo a passo, até que possamos encontrar a luz novamente."
Katsura sentia a dor de Shion reverberar em sua própria alma, absorvendo a magnitude dos cem anos de tortura que ele havia enfrentado. Cada década que ele passou preso no purgatório era uma cicatriz que marcava profundamente sua existência. A raiva e a indignação cresciam dentro dela, alimentadas pela lembrança da agonia que Azshara sofrera em seu último suspiro. Mas, mesmo assim, havia uma pequena satisfação em saber que a crueldade de seus algozes não havia quebrado a determinação de Shion.
"
Eu preciso perguntar...", Katsura pigarreou, seu rosto corado enquanto imaginava a resposta que receberia. "
O que te deu forças?"
Shion, inocente em sua resposta, respondeu: "
Nas crianças, em Angell. Eu imaginava o quão heroicos os Kyuseishuu seriam, quão fortes eles se tornariam nos próximos anos." Katsura fez um bico, fingindo estar ofendida, mas um sorriso brincou em seus lábios. "
E também pensava em você. Pensava em um futuro em que não houvesse arrependimentos."
Katsura apertou a mão de Shion, seus olhos se encontrando com ternura. "
E ainda assim, há sempre algum arrependimento", murmurou ela.
Ambos sorriram, anos de separação desaparecendo em um instante. Era como se o tempo não tivesse passado, como se nunca tivessem se separado antes. A conexão entre eles permanecia intacta, fortalecida pela resiliência que construíram durante sua provação. Estavam juntos novamente, prontos para enfrentar o futuro com esperança renovada e um amor inabalável.
"
E agora?", perguntou Katsura, brincando com uma voz engraçada enquanto caçoava de Shion. "
Qual será a grande jogada do Rei Hattori Shion, o primeiro de seu nome, Rei dos Greys e dos Hattoris, Soberano de Silvermoon?"
Ele a provocou com um olhar intimidador. "
Cheia de gracinhas, não é? Mas me responda algo", sua expressão se tornou séria de repente. "
Você me disse que tinha removido a hipnose de minha mãe. "
Katsura ficou em silêncio. "
Eu disse o que você precisava ouvir naquela época", respondeu ela, buscando contornar a situação.
Ele insistiu. "
Você mentiu para mim."
Ela tentou desviar o assunto com um tom irônico na voz. "
Bem... não menti, apenas não disse a verdade."
"
Que conversa é essa?", perguntou ele confuso.
"
Como minha mãe estava morta, achei que não precisaríamos mais nos preocupar com aquilo, já que apenas eu e ela conhecíamos aquele encanto", explicou ela, ainda um pouco debochada.
"
Bem, não quero jogar nada na sua cara, mas essa suposição acabou custando a vida de muitas pessoas inocentes...", ele soltou um suspiro. "
Como você costumava dizer, merdas acontecem."
Ela abriu os braços, meio desviando. "
Como você disse, merdas acontecem."
Ele apenas olhou para ela e deixou escapar um pequeno "
Hump", complementando: "
Você está diferente."
"
Diferente de um jeito bom ou ruim?", perguntou Katsura.
"
Só diferente", respondeu ele, ajeitando o cabelo dela que caía sobre seu rosto.
"
Mas agora é sério, precisamos tirar isso de mim", disse ele com o tom sério novamente.
"
Não é tão simples. Não é apenas uma questão de manipular chakra e fazer algo acontecer. Estamos lidando com um estado psicológico, um juramento que você fez. Isso depende inteiramente de você", respondeu Katsura.
"
E como eu resolvo isso?", questionou ele, buscando respostas.
"
Você precisa vencer isso. Quando você jura lealdade e a marca é colocada em você, ela se torna eterna. Não há uma solução simples para isso, mas é possível orientar a marionete, como podemos chamá-la", continuou Katsura. "
O controlador pode começar a domar a marionete, permitindo que ela tenha vontade própria. Quando o encanto é ativado, você se torna Shion, o assassino de Azshara, a besta selvagem sedenta de sangue. Mas você, o verdadeiro você, ainda está lá. O desafio está em encontrar o seu verdadeiro eu nesse estado. Por exemplo, como você se recuperou agora?"
Ele passou sua mão sobre a outra, lutando contra a ansiedade que começava a se instalar. "
Ela... ela...", ele começou a dizer, mas as palavras se emaranharam em sua garganta.
Lentamente, Katsura colocou sua mão direita sobre a dele, apertando-a com ternura. "
Eu sinto muito. Eu ouvi você me chamar, mas não foi fácil te encontrar. Precisei me esconder na Angell por meses, acreditando que você a procuraria", confessou ela.
"
Eu não estou te culpando", respondeu Shion. "
Mas... estou apenas feliz que tudo tenha acabado."
"
Você está seguro", afirmou Katsura, apertando sua mão. "
Por favor, fale."
"
Eu estou seguro", disse Shion, sentindo a segurança e o apoio de Katsura ao seu lado.
"
Isso aí. Agora vamos nos arrumar, porque já estou sentindo o cheiro da comida", disse Katsura, tentando trazer um pouco de leveza ao momento.
Shion se levantou e declarou: "
Vou precisar de roupas..."
Com um movimento gracioso, Katsura abriu o guarda-roupa com sua telepatia. "
Suas roupas sempre estiveram aqui. Vista-se bem, vai ser interessante", disse ela com um sorriso travesso.
Shion e Katsura se vestiram adequadamente, escolhendo suas melhores vestimentas para a ocasião especial que os aguardava. Sentiram-se renovados, prontos para enfrentar o mundo novamente.
Desceram juntos as escadas, seguindo o aroma convidativo que permeava a casa, guiando-os até a sala de jantar. Lá, a mesa estava posta, aguardando-os para o tão esperado jantar em família.
Os dois se sentaram lado a lado, sentindo a felicidade e a gratidão transbordarem em seus corações. A jornada que enfrentaram, repleta de desafios e adversidades, finalmente os trouxe de volta ao lar, onde podiam compartilhar esse momento especial juntos.