Ele pegou o bilhete, embrulhou, apertou bem entre os dedos e arremessou por trás da cabeça de forma desleixada. A bolinha de papel tocou o aro da cesta e rodopiou antes de cair para fora. Bem que o Gennin gostaria de se livrar também de um pouco de trabalho. Quem dera fosse fácil como arremessar para longe uma ordem dada em um pedaço de papel... Pensou, enquanto apanhava o casaco sobre a cadeira e o ajeitava no corpo. Saiu pela porta do quarto. Era início da tarde e o garoto com a mão sobre a testa, protegendo o olhar da luz do sol, dera uma boa conferida no tempo. Não havia sinal de chuva e soprava um vento suave, por vezes muito agradável. -- Bom, pelo menos isso. --

O laboratório de Konoha não era muito longe. Parecia pouco movimentado àquela hora. Kuro andou até a entrada onde foi interpelado por um ninja que fazia a segurança do local. O shinobi após confirmar a situação de convocação do Gennin desejou-lhe boa sorte e o Musashi confirmou o que já suspeitava: que essa seria uma daquelas missões desagradáveis como suco de couve!

-- Primeira porta à esquerda, segue direto o corredor e ao final à direita -- Repetia as orientações em voz baixa, para mantê-las na memória. Reparou que era a primeira vez que entrava no prédio, embora tivesse passado na porta por muitas e muitas vezes nas longas caminhadas com o Ojisan.

Quando chegou ao seu destino, antes que pudesse bater na porta, ela escancarou-se e em meio a um fumacê colorido uma voz sorridente e estridente o recebeu: -- finalmente me mandaram alguém.. já era hora! Entra logo garoto, meu tempo é precioso! -- Num primeiro momento o ninja teve dúvida se a voz falava com ele. Olhou para trás para se certificar de que estava só... É você mesmo seu tapado! Oras bolas, demoram e ainda me mandam... ISSO?! -- Estranhamente, ao invés de achar aquilo tudo desrespeitoso, Kuro achou foi engraçado. Aquela voz estridente, propelindo impropérios, por mais que tentasse, o gennin não sentia conseguia sentir raiva. A voz feminina magicamente conseguia mesclar o ultraje das palavras num tom de comédia que de certa maneira neutraliza as ofensas.

Musashi abanou a fumaça na altura da visão enquanto caminhava até a voz. A fumaça se dissipava e permitia ao ninja conseguir notar os detalhes de uma mulher: tinha cabelos desgrenhados que pareciam não ser penteados há muito, possuía um grande óculos de grau espesso e várias sardas entre o nariz e os olhos. Vestia um grande jaleco amarelado de velhice e carregava um amontoado de pastas num braço e no outro um frasco de onde emergiam os vapores coloridos que tomavam todo o aposento.

-- você é muito tampinha e magricela... tem certeza que já é formado na academia? -- A mulher disparava, mas não permitia uma resposta, já logo estocava o braço chocando uma das pastas cheias de papéis no peito do Gennin. tá vendo essas receitas aí? Vai ter que conseguir para mim todos esses ingredientes. Cada uma tem as orientações corretas para um componente. É só seguir tudinho que está aí, na sequência, um puxando o outro, que tá fácil. Qualquer um com o mínimo de entendimento desvenda cada detalhe. Nem tudo é o que parece. Vou ficar incomunicável, mas espero que até na manhã do sétimo dia você já esteja aqui com tudo que preciso! -- O gennin abriu a boca para questionar algo, mas fora interrompido: e não me diga que tem dificuldade para realizar uma reles missão rank D, ou então terei que anunciar aos superiores que você é um fracasso Falava isso enxotando o ninja para fora da sala.

Dessa vez Kuro sentiu uma pontada de raiva enquanto deixava o prédio. Nem sequer retribuiu o cumprimento do ninja que fazia a sentinela no local e que estava rindo por ter entendido o que se passava com ele. Começou a folhear os papéis e de repente nada fez sentido. Um dos papéis era um cartão com alguns buracos que pareciam ter sido feitos por traças, noutro, um pergaminho com três velhos haikais (poema) todos assinados por um tal de Takurami Shinobu Kyūsaisō e havia um pedaço de uma gravura de um soldado ferido se debruçando sobre uma espécie de lápide. Notou ainda um terceiro pergaminho que estava praticamente vazio, exceto por três linhas em branco que possuíam no topo os algarismos 5, 7 e 5 outra vez e, finalmente, um bilhete menor, com alguns garranchos quase indecifráveis que Musashi se esforçou para ler: "Achou que ia encontrar algo útil aqui? Blah... pois não vai. Escrevi esse bilhete só pra te ridicularizar mesmo! As orientações já foram passadas verbalmente. Lembre-se delas, de cada uma!"

O garoto começou a praguejar sua sorte. Logo sua segunda missão e tinha que ter contato logo com uma "louca"?. Nada fazia sentido. Sentou-se à beira de um mural e jogou a pasta com os papéis de lado. Arranjou, com uma das mãos, a franja entre os dedos e começou a tamborilar o indicador e o dedo médio junto à testa. Gostava de fazer esse movimento quando raciocinava. Tentava evocar na memória a conversa com a mulher e qualquer pista que lhe fosse útil: "... Cada uma tem as orientações corretas. É só seguir tudinho que está aí, na sequência, que tá fácil. Qualquer um com o mínimo de entendimento desvenda cada detalhe. Nem tudo é o que parece.

-- Então, é como está aqui. Um código que deve ser desvendado pelos detalhes. Preciso observar cada aspecto e seguir uma "certa" sequência... nem tudo é o que parece... -- De repente o jovem se colocou a organizar os papéis, buscando lembrar a ordem que estavam quando os retirou da pasta. Ao colocar o cartão por sobre o haikai percebeu que era possível ver algumas palavras pelos buracos de traças. -- Nem tudo é o que parece. Parecem buracos de traça, mas talvez não sejam... Ao ajustar o cartão alternando sua posição sobre o Haikai descobriu que podia formar frases com as combinações e foi assim que ao final de algumas horas tinha uma pista do primeiro ingrediente, pois a frase dizia: "Cresce numa região. Terra do fogo. Monte Takurami. Erva Shinobu Kyūsaisō"  
Agora motivado pela frase recordara do monte Takurami nas proximidades do vilarejo. Como não havia associado isso antes? Pensara que era o nome do autor do Haikai e por isso havia passado desapercebido... Não importava mais. O Gennin tinha uma ótima pista em mãos e já sabia para onde ir: biblioteca da vila.

Uma vez no setor de livros herbalistas, o garoto folheou até encontrar. Estava lá: A Erva de Socorro Shinobi (忍救済草, Shinobu Kyūsaisō) que cresce numa região do País do Fogo, entre Konohagakure e o Monte Takurami, e é muito parecida com a Erva de Dispersão Shinobi (忍方差草, Shinobu Hōsasō), uma planta venenosa, mas pode ser diferenciada devido ao formato de suas folhas. Ela pode ser comida crua caso o shinobi sinta fome Abaixo da descrição tinha uma ilustração diferenciando as duas ervas. Era o que ele precisava. Olhou para os lados e, não tendo testemunhas, arrancou a imagem e colocou-a no bolso.

O monte Takurami era mais afastado e o gennin demorou uma manhã inteira para encontrar a erva. Tomou todas as precauções que descobriu na biblioteca, certificando-se de que não colheu a planta venenosa e, sem seguida, ensacou o primeiro ingrediente. Estava tão ansioso por conseguir o item que durante o percurso sequer lembrou de que ainda não tinha nem ideia dos outros elementos. -- Pelo visto, provavelmente são três alvos. -- Falou alto enquanto folheava as "receitas" em código, evocando a frase da mulher em seu pensamento: ...Cada uma tem as orientações corretas para um componente

Ficou por horas contemplando os detalhes nos papéis, virando-os ao avesso, de cabeça para baixo e tudo mais, sem conseguir qualquer avanço. Sua mente começava a traí-lo. -- Kuro, não pode-se dar por vencido. Não perca o foco. Guie sua mente e sua inteligência. Ligue os pontos... vamos lá! Não pare! Esforce cada célula nessa cabeça! -- Começou, como em outrora, a tamborilar os dedos na testa, brincando também com a franja. -- Volte ao simples! Vamos... ao simples -- O que é um Haikai? Se indagou. Lembrou-se de seu Ojisan lhe recitando um dos seus.. era terrível, sim, mas o velho tinha ensinado algo importante e cena lhe vinha nítida na cabeça: Venha, se inspire no meu haikai e faça o seu! Não é tão complicado, veja, você precisa construir um poema de 17 sílabas, dividido em três frases de 5, 7 e 5 sílabas... Cinco, sete e cinco de novo. O shinobi já havia visto isso antes. Tateou os papéis e pegou a lista que tinha três linhas em branco. Bingo! No topo da lista tinha os três algarismos citados que seu cérebro entendeu como um padrão de combinação e num insight certeiro, o Musashi retirou um pedaço de carvão do bolso com o qual experimentou escrever nas linhas em branco as sílabas de números 5, 7 e 5 de cada um do trio de haikais associando às três frases a serem formada. Dessa forma as linhas foram preenchidas da seguinte maneira:

Linha 1: Es - Ta - Na
LInha 2: Flo - Res - Ta
LInha 3: Jo - Fu - Ku

'Está na floresta Jofuku'. Esta floresta era relativamente famosa. O Ojisan já havia contado inúmeras histórias de como o lugar era assombrado e que coisas ruins caminhavam por lá durante as noites e claro, também já tinha contado sobre a belíssima flor das sete cores que crescia por lá. Um espécime raro e perigoso. -- tome sempre cuidado com seu pior inimigo ao arrancar uma Jofuku -- Dizia o velho.

Já era quase início de noite e temendo os perigos noturnos da floresta, o Gennin resolveu acampar e seguir viagem antes do amanhecer. No dia seguinte, quando a manhã ainda estava no seu terço final, Kuro havia chegado ao lugar onde um grande ramo de Jufuku exuberava suas cores e irreverência. O shinobi com toda a cautela possível retirou uma kunai da bolsa e aproximou do caule para extrair um exemplar. Quando a destacou das demais, uma névoa espessa, emitida pelo pólen da planta começou a moldar uma figura humanóide. Kuro recuou num salto para trás a tempo de reconhecer a figura que se formava: era um gennin do seu tempo de academia com quem vivia uma rixa sem fim. A figura rapidamente o atacou com um chute giratório que o Musashi aparou com os antebraços, mas não parou por aí, uma sequência de socos foram trocados, alternando golpes entre os dois "ninjas" que permaneceram nessa dança durante um longo tempo... mais longo do que Kuro poderia desejar.

Tempos mais tarde o Gennin se lembraria desse dia como uma das lutas mais impressionantes que teve com seu rival, embora ironicamente soubesse que não era ele de fato. Chegou a confessar para o original que teria perdido a luta, não fosse por um detalhe de sorte. Eh, às vezes nem sempre o melhor vence, mas o sortudo, esse sim!
O retorno ao vilarejo foi penoso. Kuro estava fisicamente acabado, só pensava em descansar. Passou um dia inteiro em casa, recuperando as energias e tentando decifrar o último alvo. Já tinha tentado de tudo. Pelo seu cálculo, só faltava desvendar a figura. -- um homem desfalecendo sobre uma lápide... que tipos de pistas temos nisso? Vamos Kuro, bota essa inteligência para trabalhar! Tentou de várias formas trazer alguma associação, mas nada lhe vinha. Ao final de algum tempo resolveu mudar o foco do raciocínio, lembrando-se das orientações: É só seguir tudinho que está aí, na sequência, um puxando o outro que tá fácil O fato é que a história pessoal de Kuro com seu Ojisan havia favorecido detectar um padrão de uma pista, que, na sequência correta, era o terceiro elemento, então, pela lógica, ele havia pulado o de número 2, a figura. Considerando que a sequência, como destacado pela mulher "puxaria" a próxima pista, poderia ser feito um processo inverso? Ou seja, tentar achar pistas no elemento 3 e no 1 que remontasse ao 2? Mas o que? Onde estava o ponto comum... e então começou a forçar possibilidades em sua mente... A primeira coisa em comum era a própria substância dos materiais recolhidos. Eram ervas. Mas que diabos isso poderia ter ligação com a figura? E com esse pensamento fixo passou a reparar todo e qualquer detalhe na imagem que, de tanto fazê-lo, de repente interpretou que tinha visto algum tipo de ramo na base da lápide da figura. Ato contínuo, passou a prestar mais atenção ao homem que estava desfalecendo sobre a lápide reparando na direção que a mão dele pendia e num repente lhe passou uma hipótese: -- e se esse homem não estiver desfalecendo sobre uma lápide? Esse braço caído pode estar, na verdade, se esticando em direção ao ramo? -- Como se uma brecha começasse a se abrir revelando luz, o Gennin lembrou-se de novo das palavras da mulher: Nem tudo é o que parece e o vestígio final foi percebido. A figura era velha e, portanto, tinha desgaste do tempo e uma crosta de sujeira bem no meio da imagem da lápide. Quando Kuro notou, esfregou delicadamente a ponta do dedo retirando a sujidade e então pôde perceber que era uma lápide com um símbolo. -- O símbolo da folha! Esse lugar é o memorial de Konoha! Estava tão na cara, era talvez a pista mais fácil e visível, mas fui traído pelos sentidos! Puts.. -- Num salto o shinobi saiu da cama, pegou seu casaco e jogou os papéis na pasta que carregava e correu na direção da sua aposta.

Garoava na hora que Musashi chegou ao cemitério. Caminhou por entre as memórias dos seus antepassados mantendo seu olho atento às lápides mais desgastadas e que começavam a ser comidas pelo tempo. Percebeu que aquelas mais antigas possuíam uma espécie de lodo por onde cresciam alguns ramos minúsculos junto às pedras talhadas. Deveria ser isso. Muito estranho, mas o gennin não tinha outra ideia. Sacou uma kunai da bolsa e raspou um pouco do lodo e das gramíneas para o interior de um frasco que ergueu na altura dos olhos. -- Tem que ser isso --

Quando alguns dias depois o gennin cruzou a porta à direita, no final do corredor, no laboratório, a mesma voz estridente o recebera: -- HaHaHaHa... você voltou, foi? Conseguiu o que preciso? Antes mesmo de aguardar a resposta a mulher se lançou tomando tanto a pasta quanto uma grande caixa que o gennin trazia consigo. Abrindo-a seus olhos se encheram de alegria incontida. Surpreendendo Kuro, ela se lançou abraçando-o. -- Finalmente um tapado com potencial para aprender algo comigo... uhnm, quem sabe ser meu substituto um dia? -- Falava como que se estivesse ignorando a presença do gennin que aparentava não entender nada. -- vamos, deixe eu levar esses ingredientes, preciso prepará-los para desenvolvermos mais pílulas de soldado. Depois temos muito a conversar, seu tolo --