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Senko chegou em casa de cabeça cheia depois do almoço. Naquele dia, não voltaria para o gabinete, deixando o restante das suas obrigações à cargo de sua assistente – e mãe – Harumi. Era a sua primeira semana naquela nova casa, já que, desde que chegaram em Uzushiogakure, a família Matsuda vinha morando em um hotel.

O pequeno Matsuda queria poder. Poder para governar sua vila, para proteger os mais fracos. Tem treinado intensivamente desde que chegou, mas não parecia ser suficiente. Se ao menos ele tivesse algum poder ou jutsu de proporções catastróficas… Senko lembrou-se do ninja invasor que olhou no fundo dos seus olhos e ativou uma aura roxa. Seus olhos eram semelhantes ao Sharingan, mas tinha uma organização do preto e vermelho bem diferentes, talvez fosse outro tipo de doujutsu. Esse não era dividido em uma, duas ou três tomoes, mas sim uma forma muito mais amedrontadora. E a aura… era puro chakra, mas tão bem condensado e controlado que formou uma barreira capaz de parar parte do ataque do clone de Shion.

Queria entender como poderia alcançar tal poder. Foi até os aposentos do seu avô, nos fundos da casa e bateu à porta. — Entre. — respondeu, e o neto já foi entrando. Sem muitas cerimônias e sem nenhum afago, Senko foi direto ao ponto.

— Vô... eu quero saber como posso ir além, como posso ser mais forte. O senhor é experiente, com certeza deve saber alguma coisa.

Hidenori viu ali a oportunidade que estava esperando desde que conheceu o neto e soube que ele tinha herdado o sangue imponente dos Uchiha. Era a chance de ouro de Hidenori, finalmente conquistaria tudo que sempre sonhou, viu no neto a oportunidade de resgatar a visão.

— Sim... é claro que sei, venha, vou te contar uma história... — conduziu o garoto para fora da sala, exibindo um sorriso malicioso.

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A nova casa era bem parecida com a casa que a família tinha em Konoha. Dessa vez, um pouco mais conservada por ser justamente a residência do Mizukage. Porém, diferentemente da antiga moradia, o grande quintal que ficava nos fundos da casa era domado por um extenso nevoeiro, característico de Uzushiogakure. Avô e neto olhavam para o quintal, com a vista focada no horizonte e nas úmidas árvores que delimitavam o terreno do local.

— Senko... eu hoje sou forte – e era ainda mais na minha juventude – pois eu tomei uma decisão na minha vida. — O avô começava o discurso. — Eu sabia que, nesse mundo, muitos não querem a paz. Fazem baderna, têm valores deturpados... uns até desejam a paz, mas seus meios não são corretos e sempre acham que estão certos. — Ele dizia, caminhando em volta do quintal.

— Mas... às vezes temos que ouvir o outro lado, né? — indagou o garoto.

— Democracia não funciona, Senko. Ser tolerante com o que é errado é ser cúmplice. A maioria da população não tem inteligência suficiente para entender o que é bom ou não, e o resto... bem, o resto só quer o mal. — argumentava.

— Mas, vô, o bem e o mal... isso é tudo muito subjetivo! — Senko não concordava com o avô.

— Não é subjetivo coisa nenhuma! Como podemos saber o que é o mal sem saber antes o que é o bem? A maldade é inerente ao conceito de bondade, o mal é o oposto do bem. Sem o bem, o mal não existe e; sem o mal, o bem não existe, também. — Senko ouvia calado. — Um dos dois deve ser intrínseco à natureza humana. Certamente é o mal, o ser humano é essencialmente mal e precisa de algum modelo de bem para pautar a sua moral e a sua ética. E o modelo de bem é, também, objetivo e podemos enxergá-lo nos deuses que regem esse mundo. São perfeitos e, considerando que um ser perfeito não pode ser mau, sabemos que sua essência é o bem.

Mesmo com o discurso filosófico do avô, Senko não mudou de ideia, mas continuou a ouvir com atenção.

— Enfim... você é Mizukage agora. Você tem a chance de mudar tudo isso.

— Não sei se tenho poder para mudar alguma coisa. E nem sei se quero mudar alguma coisa.

O avô engoliu seco. Pensou por alguns instantes no silêncio constrangedor que se estabeleceu e bolou uma outra estratégia. Agora atacaria o neto da mesma forma que os civis estavam atacando para abrir ainda mais a ferida.

— Senko... você quer que Uzushio sucumba? Você é tão fraco como um Mizukage...

O contraiu o maxilar e tentou manter a calma. — Eu estou ficando mais forte, vô.

— Sabe... eu sei que nem mesmo você se chama de Uchiha. Apresenta-se ao público com esse nome falso que seu pai criou. “Senko Matsuda”. Que vergonha, mas até faz bem... Sei que alguns ninjas de elite sabem que você é um Uchiha, mas e se toda a população soubesse? Ninguém nos enxerga com bons olhos, Senko. Ninguém.

O jovem Mizukage permaneceu calado. Ele sabia que não era querido por todos.

— Você quer saber o que pode fazer para ficar mais forte, não é? Sabe esse ódio que você tenta esconder dentro de si, esse ódio que você finge não ter? Então... use-o. É assim que deve ser.

— Eu nunca vou me sujeitar a Maldição do Ódio! Não preciso cultivar o ódio para me tornar mais poderoso

— É o que dizem... mente pra mim, é o que eu gosto! — cantarolava.

O garoto cerrou os punhos, lembrando das cenas que presenciou desde que conheceu o avô. Ele era um babaca sem escrúpulos, machista, tinha um complexo de Deus e um péssimo humor. O avô era uma das fontes do ódio de Senko.

Como o Matsuda se manteve em silêncio, Hidenori continuou. — Bem... você pode continuar sendo esse ninja fraco que você é, ou... pode aceitar sua verdadeira identidade. Você tem a chance de se tornar o Deus dos ninjas do País da Água, liderar essa nação para um extenso período de paz. Basta fazer o que eu digo.

Por um breve momento, Senko cedeu. — E o que eu tenho de fazer?

— Matar Yumi.

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— Não... não, eu nunca faria isso. NUNCA! — Senko deu um passo para trás, assustado com a proposta do avô.

Hidenori deu um sorriso perverso e se pôs a frente do garoto. Ele era muito mais alto e o sol batia no quintal. Seu corpo gerava uma sombra que cobriu o garoto por inteiro. — Eu sei... ela é uma doce e amável garota, mas você sabe, tudo sempre acaba em guerra, Senko. Sempre. Se a vida de todos os civis que você tanto diz que ama dependesse disso... você deixaria de matá-la?

— Não é assim que as coisas funcionam...

— RESPONDE A MINHA PERGUNTA, UCHIHA SENKO! Se uma guerra acontecesse AGORA e a solução fosse matar Yumi, você trocaria UMA MÍSERA VIDA por MILHARES?! Pensa direito, garoto!

O garoto franzia a testa e seus olhos lacrimejavam, mas tentava conter a emoção. Desde que saiu de Suna, prometeu que a si mesmo que nunca mais iria chorar na frente de outro ninja, não demonstraria suas fraquezas. Conseguiria manter sua promessa? — Não sei... não me parece certo, vô. Ela não tem nada a ver com isso.

— Realmente. Você gosta dela, eu consigo ver. Nosso clã tem um enorme defeito, Senko, nós amamos demais... mas do que vale o amor? As pessoas só trazem decepção, não merecem o nosso imenso carinho. Além disso, o ódio é muito mais importante para o nosso crescimento. O ódio nos deixa mais forte.

Com uma respiração ofegante, Senko desabou sobre seus próprios joelhos. A todo tempo lembrava da sua mãe dizendo que não podia se deixar levar. Mas... e se fosse realmente necessário? Não poderia se imaginar sendo egoísta ao colocar a vida de milhares de habitantes da sua vila em risco porque não foi capaz de matar a própria amiga. “Pera, que tipo de pensamento é esse? Que doentio!” ele entrava em conflito, com uma dor de cabeça enorme.

— Enquanto você decide, pessoas morrem, Senko. Você é o líder dessa vila. Sabe quem vão culpar? Você. Tudo o que você fizer de bom daqui pra frente, não vai ser por mérito, mas porque foi ajudado por ninjas melhores; e todos os seus erros daqui pra frente serão estampados em todas as paredes, anunciados aos quatro ventos e jamais serão esquecidos, porque você é o Mizukage, esse fraco Mizukage. Você como evitar isso? Você sabe uma maneira de superar a si mesmo e ficar mais forte? Mate-a, Senko. Mate-a.

Hesitando e quase explodindo em tristeza e ansiedade, A Sombra olhou para seu avô. — Q-qual é o plano...? — disse, quase sem forças, vendo-se obrigado a aceitar as condições do avô.

Hidenori tentou conter a felicidade, falando num tom sério e forçado. — Hoje de madrugada quando todos estiverem dormindo, vá até o quarto dela comigo. Será uma morte rápida, sem dor.

Senko consentiu e foi para seu quarto.

O que ambos não sabiam é que Ichiro ouviu toda a conversa, camuflando-se e usando suas habilidades furtivas.

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A noite chegou e, tendo Yumi e Harumi chegado do trabalho, a família Matsuda se reuniu na mesa de jantar. Pela primeira vez desde que chegou, Senko estava participando daquele momento de confraternização, mas, infelizmente, não era um dos seus melhores dias. Permaneceu quieto o tempo todo com a cara fechada, apenas pensando no que teria que fazer à noite.

— Chegou cedo hoje, Senko! Como foi no gabinete? — perguntou Yumi.

Senko olhou para o rosto da garota com uma dor tremenda, escondendo suas emoções e exibindo um sorriso forçado. — Tudo certo... nada demais. — disse num tom triste, desviando o olhar e mastigando a comida que entrava indigesta no seu organismo.

Ichiro observava o irmão e Hidenori com atenção. Todos comeram e foram para seus quartos, sem muita interação.

Quando a madrugada chegou, Hidenori abriu a porta do neto e o acordou silenciosamente. — Chegou a hora — sussurrou, puxando o moleque pela gola da camisa e levando-o até o quarto de Yumi.

Ela dormia como uma pedra. O cobertor não estava bagunçado, seu semblante era leve e o seu formoso e liso cabelo estava arrumado num coque deitado sobre o travesseiro. Era uma visão imaculada, uma garota sem perversidade. Senko lembrava do dia em que a salvou debaixo dos escombros de uma construção de Suna. Lembrou dos passeios que tiveram pela vila; das atividades que completaram juntos; do apoio que prestaram aos civis na reconstrução da vila; de quando liberam os pássaros engaiolados. Recordou-se da destruição de Suna. Dos dias em que vagaram pelo mundo ninja até chegar em Konoha; da tristeza que Yumi sentiu quando percebeu que nunca mais veria seus falecidos pais; das manhãs em que ela o acordava para pedir ajuda; de quando iam juntos até o hospital onde Yumi fazia seu estágio. Lembrou-se de quando ela foi ameaçada por Ichiro, daquele dia em que Senko estava disposto a morrer no lugar de sua amiga.

Hidenori sacou a katana de sua cintura e colocou na mão do neto. Acenou com a cabeça, incentivando que Senko consumasse o ato. A mão do garoto tremia como nunca. Nem todo o ódio que sentia pelo avô, todo o ódio que sentia por Shaka, nem todo o ódio que sentiu pelo seu antigo Kazekage. Não sabia se era realmente capaz de canalizar aquele ódio para matar Yumi. Ela não era inimiga, ela era uma excelente amiga. — Vô... — sussurrou. — Eu não consigo.

O avô já não tinha mais paciência, já não conseguia mais esperar pela boa (ou nesse caso, má vontade) de Senko para ter o que precisava. Era hoje que teria a visão restaurada, era hoje que se tornaria o ser mais poderoso de Uzushiogakure e instauraria seu Império. Hidenori lembrava muito bem da tortura que recebeu durante os anos em que esteve nos laboratórios, sendo completamente explorado, tratado como lixo. Era isso que os Uchiha eram: lixo, um pedaço de carne completamente descartável uma vez que os olhos eram removidos. Ele nunca iria esquecer o sofrimento que passou, nunca iria perdoar. Tinha de ser hoje que iria roubar os olhos do Mizukage e declarar guerra contra Konoha.

— FILHO DA PUTA! DEIXA QUE EU FAÇO! — gritou, acordando Yumi no susto. Hidenori tomou a katana da mão de Senko e fez um movimento extremamente rápido na direção de Yumi, tentando fincar a katana no crânio da garota.

Sangue espirrou por toda o quarto. Senko arregalou os olhos. — ICHIRO, NÃO! PORRA! NÃO!!!!! — o querido irmão de Senko observou tudo desde o início, escondido no teto do quarto de Yumi. Quando Hidenori atacou, tentou pôr-se na frente do ataque e desviar a katana. Salvou Yumi, mas não teve tempo para se defender. A arma entrou pelo seu peito e, mesmo segurando-a com ambas as mãos, não conseguiria desfazer o dano que ela causou.

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— Eu te amo, maninho... — disse Ichiro, segurando a katana com toda a força com a sua mão que já enrijecia. Faleceu naquele instante, caindo de lado no chão.

Mais um filme passou pela sua cabeça. Por toda a história que tiveram juntos, Senko nunca imaginou que isso acabaria assim. Ichiro era devoto do irmão. Ou melhor, meio-irmão, já que compartilhavam só o sangue da sua mãe, Harumi. Desde 61DG, o propósito da vida de ambos era honrar o nome da família Matsuda.

Quando, ainda no êxodo de Suna após o nascimento do caçula, Ichiro deixou de comer para dar a Senko. Suas melhores roupas iam para Senko. As incontáveis horas que passaram juntos treinando no meio do deserto; o primogênito ensinando o mais novo tudo o que sabia sobre as artes ninjas, vendo-o crescer como shinobi e, mais importante, como pessoa também. Depois, a alegria por estarem de volta à Reerguida Sunagakure; a desconfiança de Ichiro no novo governo da vila da Areia; o desespero de Senko ao procurar pelo irmão desaparecido. O medo, o desalento, a desilusão de Senko ao ver o irmão matar brutalmente Kyan e exalar uma intenção assassina sobre si; a confusão ao descobrir que era um Uchiha. Em seguida, os diversos encontros e conflitos que tiveram em Konoha, onde Senko pensou que teria que tirar a vida do próprio irmão se quisesse continuar vivo, pois Ichiro certamente o mataria. A reconciliação, porém, veio e trouxe de volta a chama da fraternidade que a há muito tinha sido deixada de lado.

Por todos os acertos e por todos os erros que cometeram durante essa relação fraterna, Senko não poderia ser mais grato. O Mizukage estava tão confiante, tão feliz por ter o irmão perto de si novamente. Fez tantos planos, teve tantas ideias. Queria passar tanto tempo com o irmão, descobrindo o mundo ninja e tendo-o ao seu lado como braço direito. A redenção de Ichiro seria feita com o máximo de empatia possível. Entrariam em paz com Konoha, perdoariam seus crimes, organizariam um plano de salvação para libertar Akemi e destruiriam a organização que assombrava a sua família. Depois disso, viveriam em paz, fazendo diplomacias, ajudando os habitantes de Uzushiogakure, visitando outros países para formar alianças. E o casamento de Akemi e Ichiro?! O caçula vestiria o melhor terno e faria o discurso de padrinho no final da cerimônia. Dançariam a noite inteira. Aos domingos, fariam os almoços fartos com todos reunidos em volta da mesa para celebrar mais uma semana abençoada, o rango seria feito pelas mãos habilidosas de Harumi. Senko seria um tio maravilhoso para os filhos de Ichiro. Levá-los-ia para passear pela vila, conheceriam o seu gabinete e treinariam com o Mizukage. Depois de um dia cheio de atividades, jantariam num restaurante tradicional de Uzushio e competiriam para ver quem consegue comer mais bolas de sorvete. Depois, seria a vez de Ichiro cuidar também dos futuros filhos de Senko. Um tio mais velhinho, mas, ainda assim, cheio de energia! Contar-lhes-ia todas as heroicas histórias do herói da Vila do Redemoinho! Senko Matsuda Uchiha! Uchiha... o mundo teria uma visão completamente diferente dos Uchiha. O desejo de Hidek... ou melhor, o desejo de Toshio Uchiha seria atendido. Senko nunca se deixaria levar pela maldição do ódio, provando a todos o real valor do nome Uchiha. O amor.

Seriam inseparáveis. Só poderiam se distanciar... pela morte.



Senko fulminou o avô com o olhar. Numa fração de segundo, todos adjetivos de A à Z passaram por sua cabeça: Arrogante. Bruto. Cínico. Dissimulado. Egoísta. Frívolo. Ganancioso. Hipócrita. Ignorante. Metido à justiceiro. Louco. Mentiroso. Narcisista. Oportunista. Prepotente. Quezilento. Rabugento. Sacana. Tirano. Ufano. Vigarista. Xucro. Zangado... Em suma, era um tremendo de um filho da puta sem pudores.

Antes que pudesse reagir, Senko puxou o velho pela roupa e o jogou no chão com toda a sua força. Tirou a katana que estava fincada no peito de Ichiro e, num movimento bruto, atravessou os testículos do avô. Ele urrou de dor. — VELHO DESGRAÇADO! — Senko partiu para o que fazia de melhor até o momento: esmurrar alguém já derrotado. Num único soco, quebrou os ossos do maxilar do velho e fez com que os dentes que ainda restavam saltassem de sua boca. Tirou a katana do chão e, enquanto o velho tentava inutilmente reagir, cortou as suas duas mãos fora com aquela afiada lâmina. Enfiou o punho pela sua boca e ergueu a cabeça do velho, arrastando seu corpo pelo quarto e jogando-o na parede. O Matsuda começou uma sequência de socos. A raiva de Senko era tão grande que a cada soco que dava, inúmeros ossos eram quebrados, órgãos perfurados e mais sangue era vomitado por aquele corpo que já estava praticamente morto.

No último suspiro de vida, Senko olhou no fundo dos olhos daquele imbecil e torturou-o com o Genjutsu mais poderoso que podia aplicar. O tempo passaria mais devagar e Hidenori ficaria cem anos preso em um genjutsu nos efêmeros segundos de vida que ainda lhe restavam. Cem anos de tortura, vivendo seus piores pesadelos dia após dia, sendo perfurado todas as madrugadas pela mesma katana com que matou Ichiro, vendo os mesmos olhos de Senko pelo resto da sua existência de merda.

Senko deixou o corpo do avô cair no chão. O pequeno Matsuda também desmaiou.


No dia seguinte, acordou com Yumi tratando dos ferimentos de sua mão. Suas articulações das mãos estavam feridas pelos socos que deu no avô e a sua roupa completamente manchada de sangue. Senko derramou uma lágrima por um de seus olhos e virou o rosto para tentar não mostrar. Yumi percebeu e fez um cafuné nos cabelos negros de Senko. Nesse momento, o caçula liberou todo seu sofrimento e ficou a chorar pelo resto da manhã.

Mais tarde, fizeram um funeral para Ichiro. Foi algo simples, mas significativo. Makie estava triste pelo “neto”, mas até que feliz por ter se livrado de Hidenori. A matriarca Uchiha tentava confortar Harumi. Sofreu a madrugada inteira, inconsolável, e já não tinha lágrimas para derramar. Senko manteve sério, tentando digerir a morte do irmão, abraçado ao lado de Yumi. Os quatro prestaram a sua homenagem à Ichiro.

Depois da cerimônia, Makie levou Senko até os aposentos do falecido Hidenori, ela queria mostrar ao rapaz uma coisa.

— Acho que você deve ficar com isso. Seu avô chegou a usar na juventude, mas... faz tempo que isso está pegando pó. — ela tira de um enorme baú no fundo do quarto um leque gigante. — Seu nome é Gunbai Uchiwa. — Senko pôde compreender um pouco mais do seu clã. Afinal, o símbolo que Makie e Hidenori ostentavam em suas roupas parecia um uchiwa (leque).

Senko agarrou o leque e o inspecionou com cuidado. Ele era bem grande, um pouco difícil de carregar, mas era robusto. Levou o leque para fora do quarto e se encontrou com Yumi e Harumi. Estando todos reunidos no centro do quintal, fincou a Gunbai na grama e se apoiou nela, declarando em voz alta: — Sinto-me mais forte... — ele olhava para o horizonte, determinado. — Hoje eu, Senko Uchiha, tomo mais um passo para a paz no mundo ninja. Honrando a Vila da Areia, meu local de nascença; a Vila da Folha, meu refúgio; a Vila do Redemoinho, minha fortaleza. Pela vida dos fracos, pelo medo dos perversos. Por Ichiro. Temos de mudar o mundo.

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