O primeiro dia de treino como uma ninja de verdade, finalmente aquela hora havia chegado. Não precisaria mais ter que segurar seus avanços para acompanhar o restante da turma, podia treinar o quanto seu corpo aguentasse e evoluir o quanto quisesse. Empolgação era uma palavra muito fraca para descrever o sentimento que estava sentindo.

(Tá bom, vamos começar pelo básico.)

Minha bandana ainda estava segurada em minha mão, preferi não a colocar ainda, não enquanto não superasse o desafio da academia mais difícil que já havia visto. O mudjong giratório, uma haste de madeira fincada no chão com cinco braços giratórios de ferro. Feito pra treinar a força e os reflexos do ninja, treinamento esse que sempre garantiu muitos roxos e machucados por todo meu corpo. Mas daquela vez seria diferente, eu iria destruir o maldito boneco sparring.

Além da academia o campo de treinamento de Kirigakure também possuia alguns bonecos assim. Estavam meio enferrujados e comidos por cupins, mas iriam servir por enquanto. Antes de mais nada eu precisava me aquecer com alguns exercícios, então pratiquei polichinelos e flexões para não ter nenhuma cãibra durante os golpes e defesas. O que já era cansativo o suficiente para deixar algumas gotas de suor escorrerem por minha testa, mas eu ainda tinha muito mais energia pra queimar.

Agora com o corpo aquecido eu já me sentia pronta para meu treinamento, embora o frio na barriga fosse constante graças às dolorosas memórias daquela máquina de tortura. Com passos calmos me aproximava do boneco sparring enquanto o encarava fixamente, anotando mentalmente o tamanho aproximado do boneco, o comprimento das hastes e sua altura em relação ao chão, entre outros aspectos para não ser pega de surpresa por nenhum golpe e sentir o gosto de sangue e madeira em sua boca.

Meu primeiro golpe nem parecia um ataque de verdade, era um soco lento e fraco com a mão direita contra uma das hastes superiores, a fazendo girar em sentido anti-horário e vir na direção de meu rosto pela esquerda. Então com o braço esquerdo e o punho fechado eu formava uma meia guarda, uma espécie de barreira para parar o "ataque inimigo". E com essa única repetição eu ia fazendo ela de novo, e de novo, e de novo na mesma velocidade e força, quantas vezes fossem necessárias para automatizar os movimentos dos braços.

Agora era a vez das pernas. O movimento era quase o mesmo de antes, um chute fraco e lento com a canela direita que fazia a haste girar e vir de encontro a minha esquerda. Então com a perna esquerda eu defendia o "ataque inimigo" e o parava ali mesmo. E assim como fiz com os braços e punhos eu repetia aquele mesmo movimento algumas dezenas de vezes até ficar entalhado em minha memória como pedra.

Aquilo era chato? Nem de longe... era pior. Não tinha um pingo da emoção de um combate real, ou o perigo e a excitação por trocar golpes com outros ninjas. Mas tinha que começar por baixo e pelo básico, superar um desafio de academia para aí sim esmurrar a cara de outros gennins a vontade. Isso até me fazia pensar como seria o time que me colocariam, já que havia pedido um prazo de três dias para treinar um pouco antes de entrar de fato para qualquer equipe. Precisava já mostrar de cara que era forte e capaz de enfrentar qualquer desafio designado a mim.

Logo após fazer tantas repetições e tirar um intervalo de quinze minutos eu queria partir pra fase final daquele treinamento: Ataques; defesas e esquivas em velocidade máxima. A velocidade dos golpes da maquina era equivalente a força que eu usava, então eu iria basicamente lutar contra um espelho de mim mesma. O desafio perfeito para ver qualquer defeito em minha postura e evoluir a mim mesma.

Agora era a hora da verdade, estava a menos de meio metro do mudjong giratório. Os punhos cerrados e em guarda, as pernas flexionadas e tensionadas para aguentar firmemente as pancadas, tudo preparado para lutar verdadeiramente com aquele equipamento. E então usando minha velocidade (2m/s) e força máxima eu golpeava uma das hastes superiores usando tudo que eu tinha de poder físico, a fazendo girar em sentido anti-horário e vir em alta velocidade na direção do meu rosto. E eu já sabendo que aquilo iria acontecer, deixava o braço esquerdo pronto para entrar no caminho da haste e a segurar firmemente, deixando algumas pequenas marcas de amassado no metal.

Mas diferente de antes, além dos braços também estava usando minhas pernas, ao mesmo tempo. Isso dividia minha atenção visual, mas num combate nem tudo se resume a o que você vê, mas também ao que você escuta e sente. E com um chute fortíssimo usando a canela esquerda, a haste fazia um movimento de volta em sentido horário e vinha pela minha direita para acertar meu joelho. Com isso, minha reação era a de saltar em direção aos céus e passar por cima do boneco de treino, passando assim para o outro lado. Porém, enquanto ainda no ar, eu acertava a haste superior com as pernas e a fazia girar em alta velocidade, o que me faria ser acertada na barriga se eu estivesse distraída, o que não era o caso. Eu acertava um soco bem dado que amassava o ferro e a fazia girar ao contrário agora.

Logo após disso eu seguia fazendo repetições diferentes e ataques bem colocados com tudo que eu tinha, golpeando cada vez mais as partes de madeira e ferro que iam se deteriorando. Até que um chute em meio lua com a perna direita desmontava o boneco de treino por inteiro, deixando a mostra todo seu mecanismo interno.

Agora eu estava bastante cansada, com a respiração ofegante e alguns roxos em sua canela e pulso, mas nada comparado à maneira como ficava quando ainda estava treinando com outras crianças na academia ninja. Dessa vez aquilo eram marcas e machucados de treino e progresso, iriam passar rapidamente. E depois de todo o treino, eu poderia finalmente pegar minha bandana de Kirigakure a colocar em minha testa e dar um nó atrás dos cabelos. Eu era uma gennin da vila e iria honrar minha vila e meus pais.