Nathaniel recebeu uma informação muito importante antes de sair de Iwagakure no Sato, algo que dizia respeito a sua própria vida. Por que Kiyoshi queria tanto capturá-lo, e ainda por cima levar o seu corpo junto? Precisava tirar aquela história limpo, por isso resolveu consultar a única pessoa que conhecia que tinha alguma ligação com o velho Uchiha. De maneira sorrateira, usando seus contatos na Agência de Correios, Nate enviou uma carta para o seu irmão adotivo, Abraham Grey, convidando-o para um jantar na melhor churrascaria de Konoha. O homem de cabelos longos e brancos ficou surpreso quando chegou no local, sendo levado a uma mesa bem localizada do local, vendo Nathaniel sentado e assando algumas carnes.

── Como sempre, atrasado. Mas tudo bem, eu já esperava por isso. Sente-se. Eu coloquei umas carnes de porco e de cordeiro para assar. Não se preocupe, hoje é por minha conta. Pode pedir qualquer coisa. ── disse de forma convidativa, apontando para o banco na sua frente.
── Qual é a jogada, hein? Pedindo as minhas carnes favoritas, pagando tudo. Além de carteiro, agora você é michê? ── perguntou com ironia, enquanto o maitre se retirava.
── Não fique tão convencido, Abraham. Não te chamei aqui pra te bajular ou coisa do tipo. Estamos aqui para tratar da nossa guerra fria entre o meu grupo e o seu. ── respondeu com frieza, olhando para os olhos do mais velho. ── Não vou envenenar você aqui. Tudo o que eu quero são algumas respostas. ── comentou.
── Tudo bem, Natezinho. Eu vou entrar no seu jogo. Porém, eu também quero respostas sobre algumas questões. ── ele arrumou a sua roupa e se sentou na sua frente. ── Minha mãe, meu pai, Rachel... Eles sabem que estamos jantando. Minha mãe foi a que ficou mais feliz. ── pegou dois hachis e sacou um pedaço de calabresa, colocando na boca.
Os dois se olharam por alguns segundos. Mesmo tendo sido criados pelos mesmos pais e na mesma casa, o clima na mesa era extremamente tenso. Quando os Greys das Trevas e da Luz se encontravam em um mesmo ambiente, a tensão logo aumentava, e mesmo tendo vivido juntos, os dois se odiavam e já tramaram um contra o outro. A sorte de todos ali era que eles estavam em um ambiente formal, e optaram por manter as aparências.

── Eu fico feliz por ouvir isso. ── cruzou os braços, percebendo a maneira como Abraham o excluía da família. ── Então vamos combinar e dizer que ficamos conversando sobre a vida e sobre os nossos planos para o futuro, ok? ── ele propôs, vendo o policial da vila acenar com a cabeça. ── Você me dá as respostas que eu quero, e eu te falo o que quer saber. ── avisou.
── Parece justo. O que quer saber? ── perguntou Abraham, fazendo um sinal para a garçonete e pedindo um uísque.
── Por que o seu chefe quer o meu corpo? ── questionou Nathaniel, pegando alguns pedaços de carne e as abocanhando.
── Bom, isso é o tipo de informação que só os membros mais seletos da organização sabe. Ainda estou galgando esse caminho para me tornar uma parte importante deste grupo. Eu estaria mais bem posicionado, se não fosse você e a sua patota. E se não fosse tudo isso, ele não estaria atrás de você. ── ele cruzou os braços. ── Para dizer a você que eu não sei de nada, Kiyoshi pediu que o seu corpo estivesse intocável, com o mínimo de dano possível.  Se eu pudesse deduzir... Talvez ele queira fazer algumas experiências com você. Por isso ele quer o seu corpo. ── respondeu, recebendo o copo de whisky com duas pedras de gelo.

Aquela resposta satisfazia a curiosidade de Nathaniel? De jeito nenhum. Porém, era uma pequena pista das reais intenções de Kiyoshi, e uma alegria saber que tinha frustrado os planos de Abraham de cair nas graças do arqui-inimigo da sua gangue. De uma certa forma, Nathaniel se sentia vingado por todas as vezes que Abraham sabotou os seus planos e esmagou as suas ambições.

── Sua vez, Natezinho. Qual é o seu grau de envolvimento com Hikari Magnus e a filha dele? ── perguntou com uma certa inquietação, fazendo Nate rolar os olhos.
── Não me fale daquela gente. Quase morri por causa dessa família de burgueses safados. ── falou com um certo desgosto.
── Abaixa o tom, porra! ── retrucou em voz baixa. ── O pai está tentando fechar um acordo milionário com o Magnus, algo que vai render muito dinheiro para a nossa família. ── alertou Abraham.
── Agora ele é nosso pai? ── perguntou com uma ironia.
── E tem outra coisa: a filha dele, Reina... Ela é bem gatinha, não acha? Soube que ela te ajudou nessa missão em Amegakure no Sato. Até roupas novas ela te comprou. ── as palavras de Abraham fizeram Nate erguer a sobrancelha.
── Parece que tem um interesse pessoal nesse contrato do Solomon com o Magnus. É isso? Quer ter mais chances com a filha do burguês? ── questionou-o.
── Eu estou... Cortejando ela. Reina é garota pra casar, não pra só ficar. Mas a concorrência, obviamente, é bem grande. Ela é uma garota linda, poderosa e determinada. Precisa de um homem a altura dela ao seu lado. ── disse ajeitando a gola da roupa.
── Então pare de perturbá-la e deixa ela encontrar esse homem. ── disse com ironia, deixando Abraham bolado. ── Mas você quer saber se eu sou um desses perseguidores da Reina. Eu fiz uma missão para eles em Amegakure no Sato, e apenas isso. Acabou. Pode ficar tranquilo a isso. De fato, eu prefiro que ela nunca mais me procure. ── comeu mais carne, enquanto tomava a sua cerveja.
── Bom, não sabe o que está perdendo. Ela está prestes a fazer 18 anos. Estão a meses planejando a festa dela. Meu irmãozinho bastardo... Essa festa vai parar a elite do País do Fogo. A lista de convidados ainda não saiu, e as pessoas estão bajulando a Reina como podem para estar nela. E você sabe como posso ser persuasivo. ── sussurrou com um sorriso malicioso.
── Boa sorte com isso. Não me interessa esses tipos de coisas. ── bebeu mais um pouco de cerveja.
── Até porque você tem coisas mais importantes para se preocupar. Kiyoshi... Ele consegue tudo aquilo que quer. Pergunte ao Ryuuzaki. Você não tem para onde correr, Nathaniel. ── garantiu Abraham.
── Eu estarei preparado para ele. ── avisou o Grey das Trevas, tomando sua cerveja. ── Como está a carne? ── perguntou, fingindo que se importava com a sua opinião.
── Não está ruim. Vocês, Greys das Trevas, não sabem fazer muita coisa. ── respondeu com uma ironia, rindo dele.
── A única coisa que vocês da Luz sabem é corromper esse mundo com mentiras e hipocrisia. ── defendeu-se. ── Mas espero que um dia isso acabe, e vocês retornem para os esgotos de Silvermoon. ── deu um sorriso falso para o irmão adotivo.

Os dois se olharam mais uma vez, imaginando milhares de cenas em suas cabeças, depois voltaram a comer a carne e beberem em silêncio, saboreando a comida. Os funcionários do restaurante se aproximaram deles com receio a noite toda, pois podiam sentir que eles poderiam acabar se matando a qualquer momento, mas permaneceram nas farpas e ironias.