Com um sorriso implacável estampado em seu rosto, um dos bonecos de treinamento do campo estava dentro do apartamento do Genin, que por motivos óbvios o roubou de lá. Saiu cedo de sua cama e com uma boa alimentação pela manhã tinha as energias suficientes para deixar seu corpo ativo e em forma. A janela do quarto proporcionava a perfeita vista do Gabinete, onde podia admira-lo e deseja-lo de longe. Com o corpo da mesma forma da qual veio ao mundo, sentia o frescor dos ventos entrando pelas frestas da janela e atingindo sua pele, que se arrepiava com o gelado do suor escorrendo golpe após golpe pelo corpo do boneco. As habilidades, precisão, controle da força e da velocidade dos movimentos estavam melhores do que nunca, e a cada dia que praticava elas estavam ainda mais a beira da excelência. O alvo de treinamentos estava marcado com os impactos, um após outro, seja dos socos, chutes, cotoveladas e até mesmo algumas cabeçadas em momentos de extravasar qualquer estresse do corpo. Um chamado repentino na porta de seu apartamento o fazia cessar a sequência de golpes no boneco, e por um segundo pensou que estavam ali para recuperar o que foi roubado do campo. — Um segundo! — Ouviu-se um barulho quando o garoto jogou o boneco para trás de seu armário e vestiu-se rapidamente.

Vestido com minhas roupas mais comuns, fui até a porta com um sorriso falso em meu rosto, daquele que claramente estava escondendo alguma coisa. Ao abrir e ver que dois Jonins me aguardavam com pergaminhos em mãos, já era obvio do que o assunto se tratava. — Senhores? A que devo essa visita calorosa? — Educado, apesar de irônico, olhei para o pergaminho e depois para os olhos de cada um deles. Eram rápidos e nem um pouco educados, explicavam tudo e deixavam o pergaminho comigo, saindo às pressas. — Credo, que povo. — Ri enquanto abria para ler. Me armei, amarrando a bolsa de armamentos em minha cintura, relaxando o corpo e saindo de casa. — Estou saindo. — Mesmo sozinho após tanto tempo, não perdia o costume de avisar. Como quem não queria nada, sai caminhando pelas ruas do vilarejo, mantendo minhas mãos atrás da nuca, com o corpo levemente arqueado para trás, curtindo a brisa gelada que tocava meu rosto. Apesar dos boatos indicarem que o ladrão se escondia naquela parte do vilarejo, ainda sim se tornava difícil acha-lo de primeira. A Rua do Dinheiro, inundada de comerciantes, o local perfeito para o dinheiro sumir. Caminhava com olhos curiosos em busca de atividades suspeitas.

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As inúmeras vozes no centro comercial de Kirigakure no Sato invadiam os ouvidos e vibravam o tímpano do governante que caminhava entre eles. Apesar da grande tentativa de distinguir todas as conversas nos arredores, havia uma enorme dificuldade para fazê-lo. A vasta movimentação naquele horário tornava até a locomoção difícil, e para isso precisava prestar atenção em seus próprios passos, utilizar de seus reflexos rápidos e ao mesmo tempo a movimentação sutil do corpo para desviar daqueles que viam a seu encontro. Por isso, de forma quase natural, visava distinguir assuntos suspeitos, por mais que qualquer conversa ali fosse sobre dinheiro, barganha e coisas parecidas. Também, de forma quase natural, seu corpo se movia levemente para os lados, como em uma dança marcial, como se estivesse desviando dos ataques inimigos a cada passo que dava pelos corredores do centro comercial. Não demorou para se acostumar com aquela movimentação, graças a sua facilidade com a arte de seu Clã, o Taijutsu. Graças a isso, pode ‘’deslizar’’ entre a multidão enquanto observava cada barraca, cada loja, cada moeda trocada e cada produto que estava sendo vendido e anunciado no local. De fato, a Rua do Dinheiro não fazia sua fama ser em vão.

Finalmente pode atravessar até um ponto de interesse. Apesar de não os ouvir com clareza, a expressão na face do vendedor era de raiva, e ao julgar pelo seu tom de voz agressivo, algo estava acontecendo. Poderia ser uma situação típica de barganhas malsucedidas, mas não custava me aproximar para verificar com ouvidos limpos. — Hora de agir... — Sorri, alongando meus braços e colocando um sorriso gentil e galante no rosto. Me aproximei, jogando meu corpo ao lado da ruiva, quase tocando meu quadril com o dela. Ambas as minhas mãos estavam no balcão e bem abertas, deixando-as expostas para facilitar o ganho de confiança. — Opa, desculpa chegar assim pessoal. Como você está querida? Cara, como esse cachecol combinou com seus olhos. Conseguiu onde? — Tentando jogar as palavras no ar, visei retirar expressões ou palavras que entregassem a origem daquela discussão. Talvez minha aproximação acalmasse os nervos do vendedor e eu conseguisse um tempo a mais com os dois para me integrar naquela conversa. Apesar dos produtos estarem à vista, facilitaria pedir alguma recomendação. Com um passo para o lado, meu quadril iria tocar o da ruiva e de forma sutil meus cotovelos tocavam o balcão, a olhando nos olhos com certa profundidade. — O que me recomenda comprar aqui? — Sorri calmo, aguardando.

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Assim que notou para onde sua investida o havia levado, o membro do Clã Lee apenas surfou aquela onda e deixou a atuação tomar seu rumo. Encostado nos braços da garota, ele sorriu como um verdadeiro homem de elegância. Sua canhota livre dedilhou o balcão enquanto observava o vendedor, assumindo um olhar um pouco mais hostil do que o primeiro, que era educado e saudoso. — Está chamando a minha mulher de louca, senhor? Ela vem querendo comprar... o que quer que venda nessa ‘’loja’’, e chama ela de louca? Acho que teremos um problema se você não se desculpar com uma oferta bem razoável para ela. — A mão de Izuku se fechou em um punho sobre o balcão, enquanto olhava o dono do estabelecimento. Bastou aquela atuação para voltar sua atenção a ruiva, apertando um pouco mais seus braços e trazendo seu corpo para ainda mais perto, principalmente a bolsa que reluzia. — Onde quer passa essa noite, meu amor? Podemos pegar um quarto especial hoje... banheira aquecida, velas, um bom jantar... — Falava em um tom mais suave, quase sussurrando, com os olhos brilhando ao vê-la. Não se importava se aquilo fosse constrangedor para os outros, precisava ganhar a confiança ou até mesmo conquista-la de verdade para ir mais fundo naquela investigação.

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A sagacidade do dito ''Camaleão Social'' era nítida, que sorria e dava um leve piscadela para o vendedor assim que saiam no local, demonstrando que não havia realmente se irritado com suas ações e algo maior poderia estar acontecendo. Como um grande visionário para o futuro de Kirigakure, seu semblante de governante deveria prevalecer e não deixaria um gosto ruim na boca de sua população. O desejo de tornar Kirigakure o polo da economia e do poder militar do mundo vivia aceso no peito do shinobi. Ao se afastarem, mesmo com a comoção rápida da guarda, ele fingiu não se importar muito, até notar as brilhantes moedas na bolsa da mulher. — Mozão, deixa que eu seguro a bolsa pra você. Vai machucar seu ombro. — Com a voz leve, fingindo uma paixão no tom arrastado e quase erótico, as mãos do moreno foram rápidas para puxar a bolsa para si, sem hesitar em passar a alça por seu pescoço, deixando presa ao corpo caso conseguisse retirar a posse da ruiva. Se de fato conseguisse faze-lo, se desvincularia de seus braços, abrindo a bolsa para ver quantas moedas estavam ali dentro, olhando-a em seguida. — Ganhou na loteria e não me contou, Mozao? Posso pegar um pouquinho? — Abriu levemente sua jaqueta, mostrando a bandana de Kirigakure no Sato presa na cintura como um cinto de sua calça.

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Tudo ficava perfeitamente claro quando abriu a bolsa e viu que o conteúdo era uma quantidade imensurável de dinheiro, ainda mais de dinheiro roubado. Por mais curioso que estivesse para descobrir como aquela mulher havia conseguido roubar tanto dinheiro sem ser pega, o tempo do shinobi estava limitado a participar daquela batalha com sua ''amada'' mulher. Não que estivesse em perigo, afinal, a velocidade da garota era boa, mas não se comparava a velocidade do Lee, que tinha esse fator como sua principal arma. Apenas com seu reflexo de guerreiro, jogou o corpo levemente para a direita, enquanto passava a bolsa com dinheiro em volta de seu pescoço para mante-la segura. — Ei amor, deixa um pouco de energia pra mais tarde... — Sorriu, curvando o corpo e utilizando de toda sua velocidade para alcança-la, o que não iria ser difícil baseado em sua situação. Seus modos de ''gentleman'' seriam deixados de lado, quando, ao se aproximar o suficiente para golpear a ruiva, puxaria seu braço direito para trás com toda a força, desejando que seu corpo se virasse de frente para que a outra mão a tomasse pelo pescoço, jogando o peso do corpo no ombro que a tomava pelo pescoço e por fim tentando atingir suas costas no chao da rua. Se obtivesse sucesso, o shinobi ameaçaria a ladra com uma kunai em seu pescoço, e os joelhos pressionando seu peito. — Como é que eles falam... você está presa em nome da lei, amor... — Piscou o olho, mandando um beijinho.

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Os curiosos começavam a cercar o local depois do escândalo falso que a garota ruiva estava fazendo. O Genin apenas sorriu para o teatro da mesma, pressionando um pouco mais de seu joelho, agora na intenção de causar um pouco de dor. Olhou para trás, observando se algum guarda ou ninja se aproximava. Afim de neutralizar melhor a situação, puxou de seu bolso os fios de aço para prender os pulsos da ruiva em seus costas, e assim segura-la com mais facilidade. — Quietinha querida. — Segurando um riso quase maquiavélico, Izuku foi se levantando a puxando consigo. — Aqui, podem olhar a bolsa, contar moeda por moeda, essa é a ladra que todos estão procurando. — A jogou na direção de um dos ninjas que estava por perto observando com maus olhares. Izuku estava pronto para correr atras dela se fosse necessário, mas esperava que ao menos a garota já tivesse entendido que escapar seria praticamente impossível. Guardou sua kunai lentamente. Aqueles olhares podiam significar algo negativo no momento, mas Kirigakure ainda estava longe de entender sua própria grandeza e como podiam explorar a força da nevoa. Izuku ainda seria visto com olhares orgulhosos e recebidos com calmas, gozando de seu próprio manto de Mizukage.

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Deixou que os homens a levassem e checassem o valor da bolsa antes de entrega-la. Garantindo que estava segura nas mãos deles, deixou que tomasse a bolsa para retornar toda a quantia roubada para os cofres do banco. A ladra por sua vez tinha o futuro incerto para o jovem Izuku, mas este não se importava com isso, afinal, a prisão ou morte daquela pessoa apenas traria paz para seu vilarejo e seria menos um problema para seus futuros planos de ascensão ao manto de liderança. Conforme os guardas levavam a ladra, o Genin aproveitou o momento para curtir e observar as lojas naquela rua, afinal, estava em um grande centro comercial do vilarejo, algo que não visitava todos os dias. Apesar disso, nada de seu interesse surgia. Caminhando de volta a sua casa, restava descansar para os próximos dias e próximos objetivos que estariam por vir. Izuku sentia que, mesmo simples, a produtividade daquela missão era algo inquestionável. Estava melhor, mais atento, como se seus reflexos fossem aguçados. Retornou para seu descanso, mas não antes de se banhar completamente e comer algumas porcarias para repor a energia gasta pelo dia sem se alimentar direito. Iria aguardar novos chamados e novos objetivos.

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