Na sombrosa noite fria e silenciosa daquele dia, no Redemoinho, uma movimentação inusitada no quartel general fazia o local ser o único em todo o centro da vila com as luzes todas acesas. Das janelas, pessoas eram vistas andando de um lado para outro, carregando papéis , outras reunidas falando, outras gesticulando. Fosse o que fosse, e como fosse, o movimento era grande, e facilmente visível. Enquanto isso, do outro lado do vilarejo, no chamado Distrito Uzumaki, a grande e bela casa de Squall era uma das poucas com luzes ainda acesas. Aquela hora - madrugada, diga-se de passagem -, não costuma mesmo ser momento para se estar acordado. Mas, para alguém como Squall, esse era o melhor momento para estar. Sempre preferiu os momentos silenciosos e solitários do dia, sendo o maior deles a noite. Assim, podia fazer uma das coisas que mais gostava; deitar-se sobre o telhado de sua casa e percorrer o céu estrelado com seus olhos, quase como se fingisse estar contando as estrelas, para ter mais um motivo para não desgrudar os olhos de lá, o que lhe fazia relembrar algumas coisas que estava vivendo, os fatos passados no últimos tempos, e até os mais distantes, de seu passado obscuro.

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E o momento que vivia em sua vida contribuía para este gosto; havia sofrido uma sequência de derrotas e falhas nos últimos tempos que o arrastavam para baixo. Sequer teve coragem de ir até a Folha ou a Nuvem para descobrir qual foi o desfecho do cerco que iniciaram juntos, seis meses atrás. A Areia foi palco de emoções demais, e de todos os tipos. Foi palco de uma derrota vergonhosa e desnecessária também, mas esse foi o estopim que o empurrou ao sentimento que hoje lhe era prioridade; se tornar forte. Muito mais forte do que era. Responder à pergunta: Já havia se tornando tão forte quanto poderia chegar a ser? A mediocridade quase lhe custou tudo; rendeu uma viagem de ida e volta À porta do Inferno, de onde foi chutado. As palavras que ouviu naquele dia pareciam muito verdadeiras; parecia que nem a morte lhe desejava. Talvez - só talvez - não desejasse mesmo. Isso podia ser uma benção para muitos, mas ele sabia que não era o seu caso. Para ele, era sua maldição, seu fardo. Não poder morrer havia se tornado sua penitência, pelos muitos crimes que cometeu no passado. E pensar nisso o lembrava de um não tão velho amigo.

- Hunf - - Pronunciou, antes de desaparecer em uma fumaça branca do local.

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”Shiryu. Date. Sinto muito pelo que houve. Se pudesse, me desculparia pessoalmente, na pós vida. Mas, parece que não sou permitido lá.” Pensou, relembrando o início do Cerco à Areia, quando foram detectados e cercados por um grande pelotão de soldados, e o samurai lutou bravamente sozinho contra todos, abrindo caminho quase ao custo de sua própria vida, para assegurar que teria a sua honra e direito à penitência pelos erros que ele mesmo havia cometido em seu passado.

Nada muito diferente da situação que o Jounin se encontrava. Precisava se redimir por toda a trilha de sangue que traçou durante sua vida, especialmente a parte que ele foi a causa direta, os fatos ocorridos em sua infância, quando era manipulado por aquele homem. Mas… era mais fácil falar do que fazer. Especialmente agora, que havia deixado o cargo de liderança do vilarejo e voltado à ser um ninja comum. Seus punhos se cerraram por um momento, mas logo se abriram e relaxaram; estava cansado demais para se deixar levar por raiva ou outro sentimento semelhante. Suspirou por um momento, fechando seus olhos. Deixou o vento frio tocar seu rosto, lembrando que o tempo passa, mas não leva consigo nada do que acontece.

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 Havia, de fato, adquirido novos poderes e se tornado mais forte, mas também sabia que ainda estava longe de seus objetivos. Longe de ser tão forte quanto queria - precisava - ser. A mera lembrança da última luta que tivera ao lado de seu antigo parceiro de time - Tatsuo -, o incomodava, e não era pouco. O vislumbre que teve do poder que seu amigo havia alcançado era aterrador. Aquele poder era monstruoso - literalmente. Uma criatura havia engolfado todos que estavam no campo de batalha, protegendo-os, e o rapaz parecia ter a conjurado com o poder que havia em seus olhos; os mesmos olhos vermelhos que viu quando treinaram juntos, anos antes. O que quer que aquilo fosse, de fato estava longe de qualquer nível “raso” de poder, qualquer coisa comum ou convencional. O fato de seu colega de equipe estar mais forte o deixava até um pouco feliz, mas a ideia de estar ficando para trás o irritava profundamente. Isso já havia acontecido tantas vezes - e custado tantas vidas-, que não podia mais acontecer. E era por isso que havia deixado suas preocupações com reputação, imagem e coisas do tipo. Haviam outras prioridades. Haviam pessoas para proteger, e outras para resgatar.

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 E isso tudo lhe levava à lembrança de seu grande e final objetivo; uma pessoa de seu passado, uma promessa que foi incapaz de cumrprir. O rosto da menina vivia reluzente em sua memória, e era isso o que o movia, o motivava a continuar. Parar, morrer, eram luxos que ele não podia se dar. Não antes de a encontrar e libertar, onde quer que estivesse. Mas também sabia que isso o levaria à uma pessoa que poderia causar um encontro desconfortável. Muramasa. O responsável por todo o passado do rapaz. Cada encontro com aquele homem havia se tornado uma sessão manipulação intensa, que sempre mexeram tanto com a cabeça de Squall à ponto de confundí-lo por completo. E era estranho; por mais estranho que fosse, por algum motivo, o mero fato de lembrar de Muramasa causava um estranho desconforto e incômodo, quase como se uma dor surgisse na base de sua cabeça, perto da nuca. Uma dor aguda, específica. Parecia uma dor recorrente, como se ele a tivesse vivenciado por muito tempo, embora parecesse ser a primeira vez que a sentisse. E por um momento, mergulhou em suas memórias, aventurando-se em seu sombrio passado; as noites no orfanato acordado até tarde, chorando sozinho.

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