[cena/solo] ermitão

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[cena/solo] ermitão
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Convidado

Qui 5 Mar 2020 - 12:01

ermitão

Os resultados destacados dos meus deveres pela Nuvem inevitavelmente acabavam tendo sua porcentagem de favor aos superiores da vila, por mais que da forma mais implícita e menos importante possível. Afinal, quem não se contentaria com o desempenho além do requisitado de um subordinado?! Mas, não se engane você, o benefício daqueles homens jamais passou perto dos motivos que me levavam ao máximo esforço nas missões, independentemente da necessidade. No máximo agradava-os para ser agradado depois. Alguns diriam que eu os manipulo, outros que entendo a sociedade como ela é.

Aka e eu nos relacionávamos de uma forma um pouco mais sincera, se comparado aos outros superiores. Havia um acordo silencioso e entendido entre nós dois, quanto mais eu fizesse por ele mais olharia por mim.

– Eu não imaginei que ela fosse te tratar assim, foi mal – desculpou-se em meio a risada sem graça.

– Não tem problema, pra alguma coisa serviu no fim das contas. Você disse que tinha algo pra mim, o que é?

– Ah, dessa vez vou ser sincero e falar logo de cara – seriedade e divertimento compunham a voz – esse velho tem um temperamento um pouco... diferente, talvez. Faz tempo que não o vejo, mas soube que ele tá por aqui.

– Qual é a sua relação com velhos? – Era uma pergunta justa da minha parte, considerando que esse seria o terceiro idoso a ser apresentado por ele.

– Nenhuma, nenhuma, só são um pouco mais fáceis de entender – tentou desviar o olhar – você analisa demais. Enfim, já treinei com ele por um tempo e imagino que você faça o tipo estranho de aluno que ele aprecia. Procure-o por contra própria, vai ganhar uns pontos extras com o velho.

– Você deve ter sido o aluno preferido, imagino – a ironia e sorriso arrancaram duas risadas.

Cumprimentei-o com um aperto de mão e uma breve mesura com a coluna curvada antes de sair.

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Qui 5 Mar 2020 - 15:05

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- Ei, vou arrumar minhas coisas e procurar por outro velho. Quer ir? - Perguntei ao lobo deitado no sofá da sala.

O apartamento alugado quase poderia ser chamado de minúsculo, mas tinha um espaço que se encaixava perfeitamente as minhas necessidades. Uma sala para visitas e qualquer perda de tempo diversa, um quarto, banheiro, cozinha pequena e sacada.

– Me fale sobre no caminho, tô precisando limpar o olfato um pouco. – Sua voz era quase rouca e impassível.

Amarrei duas bolsas pequenas de equipamentos, uma em lugar prático e confortável na lateral da coxa e a outra nem tanto, mas estrategicamente escondida na esperança de servir como surpresa em algum momento. Abri a porta e o sorriso se alargou em resposta ao outro que me encarava, diretamente da cabeça com um palmo e meio a mais de altura.

– Puri!

– Olá Artemo. Vou precisar treinar um pouco hoje, não seria tão ruim receber sua ajuda novamente.

– Não seria tão ruim ajudá-la novamente, mas tenho que encontrar alguém.

– Espero que alguém importante o bastante – disse e virou as costas. Tranquei a porta e corri acompanhá-la.

– Talvez, ainda não posso dizer. Mas, você pode ir procurar e julgar comigo, se quiser.

– Imagino que eu possa pensar em algo pra exercitar na sua companhia. Vamos, conte-me mais sobre essa pessoa.

Caminhamos até os limites urbanos da Nuvem, Puri, Rá e eu. Expliquei aos dois o conhecimento superficial que eu tinha sobre o velho que procurávamos e que talvez ele me ensinasse algo, se eu fosse estranho o suficiente. Dos muros pra fora a conversa correu e explorou vários lugares.

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Qui 5 Mar 2020 - 20:20

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Comumente Aka só me direcionava àqueles que tinham algo que eu buscava a oferecer, seja em capacidades ou posse/aquisição de alguma coisa. Dessa vez a recomendação veio por conta própria, sem nenhuma necessidade ou busca, o que ardia como combustível para a curiosidade. Ele sabia pouca coisa sobre o velho no fim das contas, apesar da empolgação contida que senti sua voz esconder enquanto falava dele.

– Segundo Aka, é costume ele pesquisar coisas sobre suas habilidades nas poucas florestas de Kumo – Puri confirmou estar atenta com um aceno da cabeça.

– Aliás, é Wag o nome dele. Um pouco estranho.

Concordamos que o fragmento mais próximo era o lugar certo por onde começar a busca. Poucos quilômetros separavam a mata dos limites urbanos da Nuvem, além de já ficar no caminho para outras duas áreas de preservação. Algo que me agradava na amizade com Puri era o total descompromisso social que tínhamos um com o outro. O silêncio reinou sobre boa parte do percurso, dando-nos algumas brechas quando algo interessante cruzava com os olhos ou algum som encantava os ouvidos. Apesar da distância quase invisível do diálogo, ambos conversávamos com o corpo e presença. Nos entendíamos sem a necessidade de palavras e apenas nossas companhias nos satisfaziam.

– Encontrei algo. – Falei com a voz em busca do lobo e da menina, distraídos com algo no chão beirando o limite da mata.

Rá fungou o ar uma vez e acenou com a cabeça.

– Realmente, estava distraído e não senti. É pra lá – apontou com o focinho.

Espalhei vários dos meus desenhos pelo trajeto futuro e passado até chegarmos, sendo de um deles o aviso que nos levou ao interior das árvores.

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Qui 5 Mar 2020 - 23:24

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Quanto mais nos aproximávamos do lugar onde o cheiro humano localizado por Rá estava, mais os animais escondidos pelos detalhes da natureza mostravam-se a nossa visão.

– Estão percebendo? – Perguntei sem cessar a agilidade dos olhos em busca do chão, galhos e tudo que pudesse esconder um ataque surpresa.

– Sim. Meu focinho vê mais que os olhos de vocês, talvez todos os animais daqui estejam rodeando esse cara.

Tanto a habilidade de se deslocar no mato sem causar muito barulho, quanto o olfato que abria caminho e alertava o perigo eram motivos para o lobo seguir na frente de nós dois. Puri acompanhava silenciosa atrás de mim, tinha o rosto ornamentado pela máscara e não pude ver se estava usando o Byakugan, mas julgando pela falta de comunicação, supus que não. E não a julgava, de forma alguma. Na verdade, entendia o receio e os sentimentos questionáveis a respeito do trauma que havia passado ao perder um dos olhos.

Seguíamos uma trilha estreita e devidamente escondida a quem não usasse o máximo da atenção. A vegetação rasteira não indicava nenhum sinal de peso humano, mas depois que identificado, o trajeto serpenteava claro e legível pela mata. A clareira no fim dos nossos passos esclareceu parte das minhas perguntas inevitáveis, mas deu à luz a várias outras ao mesmo tempo.

Rá se ocupou de fazer barulho e chamar a atenção do homem agachado à frente, apesar da minha suspeita de que fomos notados muito antes do que imaginávamos. Ele continuou a mexer em alguma coisa no intestino de um veado, deitado e inconsciente. Estava de costas para nós e nos impedia de ver suas mãos e o que fazia exatamente.

– Aka me falou de você – anunciei da forma mais direta possível, evitando enrolá-lo nas artimanhas sociais básicas na conquista da confiança de alguém.

– Você é aluno dele? – Perguntou depois de virar minimamente o rosto para nos mirar.

– Tsc, mal fui seu sensei e já tá jogando suas responsabilidades pra mim, desgraçado.

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Sex 6 Mar 2020 - 2:25

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A primeira meia hora de apresentação foi tentando convencê-lo de que Aka não era meu sensei e minha procura por ele não trazia nenhuma responsabilidade ou obrigação. Apesar da aparência nova do corpo, assim como eu, Wag teve a juventude aprisionada e isolada pela escuridão da vida, deixando o rumo da personalidade e mente a mercê de um espírito cansado e vivido. Talvez fosse essa semelhança entre nós a fazê-lo mudar de ideia sobre compartilhar comigo o que conhecia, ou o capricho nas implicações emocionais que possivelmente manipularam-no aos poucos.

Notei que havia certo acordo silencioso e implícito entre Wag e Aka conforme conversávamos e as informações deixavam seus esconderijos, semelhante ao que tínhamos também. Porém, a dívida de Wag parecia profunda e duradoura, diferente do equilibro entre os favores que trocávamos. Aka abria mão dos créditos a receber e os passava a mim, o que me levava a questionar o quanto eu tinha o ajudado sem saber. Ou ainda seria cobrado por tantas portas abertas?

Fisguei-o fundo e definitivo ao encontrar a brecha perfeita para mostrar a ele meu Sharingan. Notei o desconforto de Puri quando também viu, gradativamente transformado em curiosidade e depois diversão quando passei a trocar alguns golpes com o ermitão jovem. Havia cobiça sobre meus olhos até mesmo para tê-los como discípulos.

As habilidades do homem abrandavam campos que minha mente jovem e infantil sequer imaginava, segundo Wag. Ele poderia me ensinar meia dúzia de coisas que acabariam por salvar minha vida, virar o jogo em uma batalha ou trazer tudo aquilo que eu desejava, mas seu julgamento levou-me a aprender sobre as complicações das técnicas de espaço-tempo. Se sabia ou não quando decidiu, é possível que ele nunca estivesse tão certo acerca de uma escolha.

Aprender sobre espaço-tempo com Wag se desenrolou por cima de dois fatos desagradáveis: o primeiro era a escassez, para não dizer raridade, de técnicas do gênero. Tudo ficaria mais fácil, de acordo com ele, se eu já houvesse assinado contrato com alguma espécie de invocação, afinal, toda Kuchiyose desenvolvia-se através do espaço-tempo. O segundo fato era sua recusa a me ensinar uma técnica que exemplificasse ou ajudasse a entender todos os conceitos. Então, se não havia exemplos ou referências, como eu aprenderia?! Ora, se você não é um Uchiha capaz de se virar sozinho – foi o que me disse.

Estudamos as propriedades do ninjutsu, chakra e alguns conceitos avançados de física para começar. Roubei uma expressão de espanto com o que eu sabia sobre os dois primeiros tópicos, levando-o a fome de ensinar e ser compreendido. Puri teria nos deixado no segundo dia se os ensinamentos e a cabana confortável e muito bem construída não a tivessem laçado, nos acompanhando quando podia durante o intervalo dos próprios treinos. Depois de preparar o terreno, finalmente mergulhamos fundo nos conhecimentos complexos e distantes.

Também fui incapaz de conter a surpresa quando o homem me apresentou a uma coleção robusta de pergaminhos antigos e conservados. Wag deixou-me livre para vasculhar e bisbilhotar os papéis o quanto eu quisesse, apesar de alguns abrigarem assuntos fora dos estudos. Mantive-me restrito ao que precisava aprender e nada mais era novidade depois de um dia inteiro.

– Apesar de eu suspeitar do pagamento de uma dívida entre você e Wag, das várias brechas no seu método de ensino e de eu ainda não saber uma boa quantia de detalhes sobre o que ensinou, talvez eu te procure para recompensá-lo de algum jeito – despedi-me com um sorriso caloroso e agradecido.

– Ah, moleque. Já disse que para os outros eu ensino apenas o necessário para eles mesmo descobrirem o resto. Vá você atrás do seu próprio Jikūkan.

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Convidado

Sex 6 Mar 2020 - 17:58

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