Corria por dentre caldeias montanhosas diversas a fim de exercitar na manhã de inverno. Flocos de neve se acumulavam sobre o terreno rochoso. Os pés e encobriam de chakra, evitando o possível deslize montanha abaixo. Uma queda seria possivelmente fatal. Numa escalada rápida, alcançou o topo da flecha de pedra. Contemplou a vastidão do vilarejo dali, sobre as nuvens de chuva que se aglomeravam e depositavam o frio àquela altura.
— Eu vou congelar... — reconheceu, a cada palavra soprando vapor d'água.
Pegou um punhado de neve do chão com ambas as mãos e produziu uma pequenina bola. Recordou-se da academia ninja, nas disputas que simulavam uma guerra entre infantes de disparos delas. Sorriu calorosamente da lembrança, atirando-a do alto e enfim regressando a sua casa, dando por finalizados os exercícios.

A trilha de volta era sinuosa, repleta de curvas e pequenos lugares onde se podiam esconder mercenários que se infiltravam em Kumogakure. Não bastasse, era naquela localidade que seu avô lhe contou da existência de uma antiga tribo, não filiada aos ninjas, que sempre trouxeram problemas. Dizia ele que se tratavam de pequeninos Shromishs, humanos com um quarto de altura normal, porém não anões, que usavam máscaras e a roupa somente necessária a cobrir às partes íntimas. Lembrar-se das estórias contadas pelo velho senhor fez com que os pelos se eriçassem.
— Besteira, é claro que não existem Shromishs... — disse na tentativa de se convencer, embora estremecesse.

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Seguia calmamente na cordilheira. Saltava por rochas de tamanho mediano e no plano seguia em corrida. Nada fazia cessar os seus passos, nenhum obstáculo lhe oferecia perigo. Conhecia aquele terreno com a palma da mão. Passava por entradas estreitas criada entre as grandiosas formações, fendas que projetavam grutas e cavernas. Numa delas, viu uma sombra de relance. Os instintos lhe alertara, não era seguro observar o que seria. "Shromishs!" gritou a mente, provocando-lhe a manter sua caminhada. No entanto, que tipo de ninja seria se temesse a histórias de um velho de faculdade mental duvidosa como seu avô. De outro modo, nenhum daqueles Shromishs poderiam duelar com ele, ou pelo menos assim acreditava.

Deslizou-se na encosta que desenhava uma parede e olhou detrás dela, de onde teria visto a sombra se movimentar. O coração pulsava com tamanha vivacidade que parecia poder escapar da boca. Não conseguia em nenhum momento esquecer dos perigos alertados por seu avô. Venceu a fronteira e viu se tratar de uma pequenina criatura felpuda branca. Um minúsculo coelho das neves, um filhote assustado que provavelmente se apartara da mãe. Resfolegou aliviado, agradecendo aos céus não serem os Shromishs. E, compadecido da situação dele, estendeu a mão em seu auxílio.
— Aqui, bolinha. — apelidou-o. — Não há com o que se preocupar, suba em minha mão. Vou ajudá-lo a encontrar sua mãe. Venha. — convidou-o a subir e juntos seguirem numa busca.

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Recusou o suporte, saltando numa direção diversa. Kenta sorriu, talvez não estivesse perdida no fim das contas. Retomaria a corrida. Porém, um objeto voou tendo por alvo o seu pescoço. O viu, entretanto, incapaz de reagir, foi atingido. Levou a destra ao projétil e concluiu ser um dardo ao retirá-lo de onde se alojara com sua ponta cônica em aço forjado. Continha veneno.
— Maldição. Sou um cientista e não tenho nada para me ajudar com isso... — praguejou de sua insuficiência.
A substância lhe tranquilizou os músculos e eles se tornaram tão molengas que o impediu de se mover por sequer um milimetro. Tornou-se débil e enfermiço, caindo no chão de uma maneira estatelada. A química não o permitiu dormir. Os olhos se arregalavam ao ver quem era seu algoz. Não um, sim um grupo de cinco. Figuras desconhecidas, com altura não superior ao quarto de um adulto. Roupa que somente encobria o íntimo e máscaras de madeira com rostos inexpressivos. Shroomishs. Os seres tribais amarraram-lhe as mãos e pés com corda, prendendo-o em uma tora de carvalho maciça. Suspenderam-o nos ombros de uma dupla e o carrearam por dentro da caverna. Mesmo sendo tão jovem, conhecia a sensação de ter a vida por um fio. Saberiam os deuses os desejos de seus captores.

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Vendo a paisagem contrastar com sua situação, moveu-se. Da caverna regressaram à luz, numa localidade distante e a ele desconhecida. Casas de palhoça se acumulavam cobertas de neve. Desataram-lhe os nós e o posicionaram próximo de uma fogueira, desta vez com grilhões somados a uma técnica de vedação. O efeito do veneno já parecia se esvair.
— Quem fão fossês? — disse de uma maneira embaralhada, com a língua ainda atordoada.
Conversavam num dialeto distinto do humano. Aos seus ouvidos, soava uma língua rápida, frenética. Um deles era travesso e se divertia em acertar o Sarutobi com uma vara. Por sorte não doía, talvez o tóxico tivesse sido positivo naquele instante. Aproximou-se um trio e o carregou, até que parasse de frente a uma gigante estatueta de mármore. Ao lado dela, um trono. De longe ouviu o balançar de correntes, o tilintar de metal se chocar com ele mesmo. Um grandioso e pesado Shromish, com mais de três metros e pesando o quinto de uma tonelada. A pele balançava e roçava na barba que caía, alva, sobre quase toda a extensão corporal. Ele ascendeu ao seu posto e de lá bradou:
— Hoje temos uma nova oferenda à Yamata no Kami. Oremos em seu nome. — bateu ao chão com seu cajado e a centena de criados se ajoelhou e passou a rezar baixinho, num dialeto desconhecido.

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Se encaminhava somente abaixo, piorando à medida que o tempo passava.
— Desculpem-me. Eu acho que vocês pegaram o cara errado... — disse. — Err... Eu não faço ideia de quem seja o tal Yamata no Kami, mas tenho certeza que ele não vai gostar de um cara como eu. Há três dias que não lavo a cueca... — argumentou.
— Faz troça de nós, humano? — deu-lhe um sorriso cáustico. — Não nos interessa de onde ou quem é. Sempre oferecemos um humano a Yamata no Kami nas noites de lua cheia. Um jovem certamente servirá bem. De todos, é um classe A. Cansamos de capturar velhos, crianças e mulheres. — gargalhou. — Levem-o à cela e se mantenham atentos. — ordenou.

A guarda da pequena tripo o apoiou nos ombros e o arrastou por entre grama e terra até enjaulá-lo numa mistura de bambu, fitas e madeira. Era pequena e teve de se espremer a fim de caber no confinado espaço. Quatro horas pensando e concluiu não haver a menor chance de escapar. Isto é, lhe faltava tudo: força, velocidade e habilidade com técnicas de selamento. Encurralado, optou por contemplar o seu destino quando a lua despontou entre as nuvens. Num lugar tão remoto não haveria ninguém para resgatá-lo, era o fim.

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Os executores surgiram trajando vestidos longos, vestuário possivelmente ritualístico. Um deles, habilidoso com o ninjutsu, criou uma plataforma de rocha e transportou o jovem aereamente por ela. Os centos se reuniam ao redor duma gigantesca vala o qual não se podia ver o fim. Fogueiras ardiam com fogo amarelo em várias direções. Em volta delas, uns dançavam, outros cantavam e o líder se sentava. Gritavam sons aleatórios. Se não fosse pelo fato de ser seu fim, aproveitaria-se daquele momento. Era belo vê-los cultuar o deus desconhecido. Os tambores rufaram e formou-se o corredor. Duas paredes de corpos que formavam uma trilha ao fim: a queda do precipício.
— Ah. Eu não queria morrer, confesso. Sobretudo aqui, cheio de Shromishs. Pensava que morreria velho, numa batalha para proteger meus filhos e netos, de uma maneira gloriosa. — disse com temor.

Aparentava ter consentido com o fim de sua vida, depois de tanto pensar e refletir. Viu o branco e seguiu o fluxo. Beirava o cair eminente quando fechou os olhos. Todos os habitantes gritaram e levantaram as mãos. O patamar terrestre se angulou e fez dele uma ladeira. Rolou ao seu destino: a morte. Acelerava constantemente graças a atração gravitacional. Não via nada senão o breu. Caía sem cessar.

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De repente o vento lhe agraciou. O que antes era o fim de sua vida tornou-se um banho nos ares. As correntes lhe atingiram e o fizeram frear, instantes de fazer contato com o fundo. As centenas de metros se tornaram somente um. Bateu de cara na areia e molhou a língua com terra. Cuspiu.
— Eu já cheguei no céu? — questionou-se ao se deparar com dois archotes acendidos ao lado de uma porta de madeira.
Abriu-se e de lá saiu uma pessoa, não um Shromish. Era um homem branco, de pele pálida, maquiagem pesada e cabelos negros lisos, que se alongavam às costas e lá alcançava a lombar.

Ele sorriu.
— Desta vez meus meninos realizaram um bom trabalho. Prazer, sou Yamata. Aqueles eram minhas criações, os Shromishs. Sei que eles são um tanto ríspidos, porém os perdoe, não era sua intenção. — disse quando uma cobra deslizou da manga longa do quimono.
A serpente rastejou pelo chão e se enrolou numa espiral ao redor do corpo. O homem ergueu seu braço e a rastejante suspendeu o menino do chão.
— Mas o que é tudo isso? — interrogou sem nada entender, atordoado.
— Esta, é a casa da evolução. Aqui eu criarei uma utopia. — explicou calmamente, com tom tão frio que fez o já desacreditado shinobi temer.

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Era alguém esquisito, de trejeitos pouco comuns. Personalidade excêntrica, aparentemente um amante das serpentes. Dentro daquele covil o qual ingressou, vislumbrou uma série de recipientes de vidro com líquido transparente levemente esverdeado. Cada um dos invólucros guardava um humano que respirava através de aparelhos, todos eles apagados. Estavam enfileirados, uma centena deles. Experiências diversas de fim que desconhecia.
— Mas o que diabos é isso? — questionou assustado com a cena.
— Essas são as minhas criações, Sarutobi. — sorriu, demonstrando ter conhecimento dele. — A casa da evolução tem por objetivo alcançar o ápice da evolução humana, a somente alcançável com o poder da ciência. No passado, taxaram-me por louco. Porém um dia hei de demonstrar que os humanos estão fadados ao fracasso enquanto espécie. Criarei um ser melhor, evoluído, dotado de inteligência e poder inegável. E o seu propósito aqui é o mesmo. Você será um de meus muitos projetos. Há muito venho estudando a energia natural e os seus efeitos no organismo. Por sorte, desenvolvi uma fórmula capaz de amplificar os poderes de um ninja com ela através de um selo amaldiçoado. Infelizmente, nenhum pôde sobreviver aos horrores dela. Esta será a minha décima tentativa de aplicá-la em você, um prodígio do clã Sarutobi. — de um sorrisinho.

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A cobra que o enrolava fez a língua bifurcada lamber o rosto e, num momento de frieza, o soltou. Estava livre de tudo, desde técnicas de selamento aos grilhões. No entanto, era ciente de que não conseguiria reverter o que viria a seguir. A aura assustadora do cientista o petrificou e ele somente observou o estranhíssimo avançar esticando o pescoço. A pele elástica levou sua mandíbula ao trapézio de Kenta. As presas se desvelaram e penetraram o músculo com facilidade. Lá injetou a sua peçonha, que logo tomou a forma de três marcas negras que circulavam ao redor delas, semelhante a pequenas tomoes.

Ele urrou de dor ao invadir do veneno.
— Droga! — gritou, afagando com a mão o local alvejado.
Os joelhos tocaram o solo e ele se inclinou em direção ao chão. A face arrastou contra o duro plano e continuou a guinchar. Pensava que morreria, jamais tomara conhecimento de substância de tamanho poder. Do outro lado ria o pesquisador.
— Não tema. — buscou tranquilizar. — Se sobreviver, se tornará um espécime evoluído. O ápice do alcançável por um mísero humano.
O seu tom de voz frio, oco, não ecoou nos ouvidos do shinobi. Atormentado pela dor excruciante, apagou de uma vez. Inconsciente, enfim estatelou-se e permaneceu estendido, em decúbito ventral.

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Enquanto apagado, sonhou com um ser que habitava-lhe o interior. Era uma fera púrpura, porém não conseguia distinguir seu rosto de corpo, nem tampouco suas vestes ou características.
— Eu sou o ódio que o habita, Kenta. — informou-lhe. — Não se esqueça jamais. Quando precisar de mim, eu estarei aqui para ajudá-lo. Sei que não quererá se render. Tsc. — gargalhou. — Entretanto também sei que um dia dependerá de meu poder. — argumentou.
A visão se esvaneceu lentamente e, abertos os olhos, viu um clarão. Fechou-os de irritados e tornou a abri-los novamente. Viu o teto e paredes brancas do hospital.
— Então finalmente acordou, garoto. — riu o médico.
Um homem velho vestindo um jaleco branco, com bigode e usando óculos.
— Você deu muita sorte. Foi encontrado nas montanhas com as poucas rasgadas e com essa marca estranha no trapézio. — disse. — O que lhe aconteceu? — questionou empolgado por saber seu passado.
— Eu não sei. — replicou de pronto, mentindo.
Se as pessoas soubessem o que ele descobriu, criaria-se um alvoroço desnecessário. Entendia, desde aquele momento, que deveria cuidar disso sozinho.
— Tudo bem. É normal que não se recorde, ainda deve estar atordoado. Em uma semana terá alta. Até lá, trate de se recuperar. — sorriu amigavelmente.

Esperar todo o tempo estipulado não estava em seus planos. Reuniu o pouco de força que tinha e fugiu pela janela no instante em que todos deixaram seu quarto. Regressou à sua casa e lá imaginou o que faria do futuro.

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