Com o aparente sucesso na sua primeira missão, Rei imaginou que seria chamada mais cedo a uma nova tarefa. O alto escalão, porém, parecia estar indisposto a lhe colocar na frente de missões, pois levaram mais de uma semana até encontrarem sua nova tarefa. E ainda assim, a missão só veio graças a uma tragédia local, indicada nas minas onde alguns pesquisadores investigavam minérios importantes na economia da vila. Rei não sentiu nenhuma felicidade ou tristeza sobre os envolvidos no acidente. Só precisava realizar seu trabalho e nada mais — e isso bastava para seu coração. Ouviu atentamente as instruções de como encontrar todos os sobreviventes e abaixou a cabeça aceitando-as como uma fiel escudeira — embora estivesse confusa naquela tarde.

Rei colocou um manto vermelho-escuro por cima de seus trajes ninjas, assim ficaria mais confortável para entrar nas minas. Depois, dirigiu-se ao local indicado pelos superiores. A entrada da mina já apresentava grandes problemas, muitas rochas acumuladas dificultavam o menor dos acessos. Com ajuda de alguns dos envolvidos, Rei explodiu algumas rochas com explosivos e entrou por uma pequena brecha rústica. Mal entrava, mas sua magreza auxiliou. O retorno seria ainda mais complexo, mas ela decidiu se preocupar com isso mais tarde. Naquele momento, sentindo algumas pontadas na cabeça, ela apenas precisava seguir em frente, encontrar os sobreviventes e trazê-los de volta.

Caminhou uns quarenta metros e encontrou o primeiro cadáver. Para uma missão de classificação D era estranho achar um corpo. Estava parcialmente esmagado debaixo de uma enorme rocha, a lateral direita do rosto estava livre do esmagamento, mas a pressão havia lançado seu olho para fora como uma bola de gude. Rei sabia que ninjas normais de sua idade e patente ficariam assustados encarando a cena macabra, sobretudo se estivessem em sua segunda missão, contudo ela não sentiu nada. Passou os olhos duas ou três vezes para se certificar da morte e seguiu adiante arrastando a base do manto pelo chão empoeirado. A morte não lhe causava repulsa alguma. Inclusive, por algum motivo, ela se sentiu estranhamente acostumada àquilo. Como se tivesse vivido muitos outros momentos de frente com a morte, mas se tentava forçar suas memórias, elas não vinham, apenas causavam-lhe vertigens. Pensando na necessidade da missão, ela procurou não refletir sobre o assunto e seguiu em frente calada.

O segundo corpo encontrado lhe causou menos surpresa ainda. E o terceiro ela nem mesmo contemplou diretamente. Seguiu passando, pisando em sangue e sujando o manto em mais vermelho do que ele já era bordado. Até que finalmente escutou batidas contra a parede produzidas por algum tipo de graveto ou peça pequena de metal. Tirando algumas pedras menores e fáceis, Rei encontrou ao menos cinco escavadores vivos esperando ajuda. Os homens ficaram animados olhando-a. Rei retirou mais algumas pedras, precisando de algum tempo naquilo, pois nunca foi assim tão forte, e depois retirou um por um através de uma abertura estreita. Ao retirar todos, ela perguntou se havia mais alguém. Eles citaram que a equipe era composta de dez integrantes; um explodiu no momento da tragédia. Sobraram cinco deles ali e outros quatro fora. Rei disse então, numa face inexpressiva e calma: — Não se preocupem, estes outros estão mortos, eu os encontrei dilacerados no caminho.

Rei não entendeu muito bem, mas um dos homens desabou chorando e outro, vomitando. Pediu calma e paciência e os guiou para fora. Eles acabaram reencontrando os cadáveres e imploraram ajuda para carregá-los, mas ela não possuía tempo e os explicou as consequências: as minas podiam esmagar todos. Frustrados, os homens a seguiram até a saída em meio a soluços mudos. Ao remover todos os sobreviventes, um deles pediu, quase implorando, que ela recuperasse os cadáveres para um velório.

— Mas esta não é a minha missão, desculpe — ela disse, ainda indiferente. O homem a encarou firme e cerrou o punho prestes a socá-la. Rei não percebeu coisa alguma e foi embora recebendo a glória da missão bem sucedida.

Rei; 225/225 225/225 00/03

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