O vigor que fora prometido para a vida shinobi enquanto eu ainda era apenas um mero estudante, me parecia, no ponto em que me encontrava, uma verdadeira espúria. Os dias eram monótonos, nenhuma agitação e devido as minhas limitadas condições físicas, as minhas sessões de treinamentos se baseavam em retiros para as minhas habilidades anímicas.

Decidi caminhar até o prédio central da vila, afim de me delegar à uma daquelas tarefas mundanas de baixo escalão que o meu ranqueamento-baixo permitia executar. Deixei com que a sorte me levasse até a minha próxima tarefa, dentro de uma caixa estavam alguns pergaminhos, risonho, tapei os olhos com a uma de minhas mãos e retirei da urna um pergaminho.

Folheei o pergaminho, e para o meu descontentamento, teria de fazer uma expedição à uma montanha  para colher um ingrediente vital para a fabricação de medicamentos. Por outro lado, gostava de caminhadas ao ar livre, flores e da cor púrpura. Recolhi minha Mateki e uma lâmina curta, a tanto, que sempre levava comigo e rumei ao encontro daqueles que teria de escoltar e auxiliar na expedição.

Os bastardos já esperavam por mim na saída da vila, fui breve na distribuição de sorrisos e de cumprimentos; a viagem seria longa e eu queria que aquilo terminasse logo. Nos dirigíamos rumo a uma montanha não tão distante da vila, o que era óbvio, pois o relevo do  país do relâmpago era composto predominantemente de montanhas.

A flauta, e melhor amiga, servia de passatempo para mim e como entretenimento para o esquadrão médico, que, em minha mente seriam bem mais austeros, já que levavam consigo o título de médico. A caminhada era extensa, e segundo um mapa, não estávamos nem na metade do caminho. O comboio dos médicos já estavam exaustos, não poderia culpá-los, já que eram cidadãos comuns em termo de capacidade e densidade física. A noite caía sobre o nosso semblante, decidiram armar um acampamento para passarmos a noite e pela manhã tornaríamos a rumar em direção a cor púrpura.

Deixei que os membros daquele impetuoso esquadrão descansem, à me preparar para varar a noite, ficando de vigia, pois, eu era o único para exercer tal tarefa. A miscelânea de rochas daquele lugar aclamado pelas estrelas a cintilar me trazia um furor de calmaria. As músicas que conjurava pela Mateki fez com que os médicos adormecessem de maneira vertiginosa.

A terceira melodia do meu longo repertório fez com que alguns animais silvestres se aproximassem, admirando aquele misterioso som que era conjurado pelo instrumento. Fiz daquela estadia solitária na noite, um pequeno concerto para um público um tanto que nada comum. De relance, o sol voltou a raiar e à partir de um som agudo e ocluso da flauta, fiz com que os dorminhocos despertassem. Continuamos desbravando rumo à montanha.

Precisei apenas dar uma última visualizada no mapa, para constatar que a montanha estava bem próxima, e a flor que eu mal podia esperar para ver, também. Não precisou andar muito para que nos deparássemos com uma montanha colossal. A equipe toda me fitou, esperavam que eu cumprisse com meu dever, com razão.

Me livrei dos equipamentos. Eu não possuía nenhuma técnica de levitação para que eu atingisse o cume daquela montanha de forma rápida e também, devido a minha limitada força física, não conseguiria me projetar em direção a tal. O meu diferencial veio à tona. O remanso e a plenitude que se apoderava de meu furor era ludibriante. Remeti à um dos princípios básicos de um shinobi, a manifestação do chakra em uma superfície.  

Meus pés iam contra aquela superfície rochosa, tinha de me manter calmo para executar tal técnica por um grande período. Eu conseguia compensar a falta de força física com a destreza que levava em relação ao meu controle mente-corpo. Por mais que fosse uma superfície com várias obstruções, fiz com que uma técnica que apenas era útil em superfície plana, fosse viável em uma superfície como aquela. O topo já estava próximo. Só que, por um instante, perdi o fio dos pensamentos assíduos.

O fluxo de chakra foi inconstante em um dos meus pés, escorreguei e estava prestes à sucumbir daquela colossal altitude. Não. Não poderia deixar com que um único deslize transtornasse minha maior qualidade. Deixei com que eu caísse, de relance visualizei uma pedra pontiaguda em uma das falácias da montanha, projetei meu magro corpo contra a mesma e em um movimento acrobático, fiz com que meus braços me alavancassem em direção ao topo da montanha, num movimento de cento e oitenta graus. Este era meu diferencial.

Finalmente pude visualizar a famigerada flor, e a descrição da mesma não era supervalorizada, era incontestavelmente linda. Poderia descer, retornar a vila e pegar um quadro junto à tintas à óleo apenas para retratar a mesma e eterniza-la. Do cume acenei e sorri para a pequena figura do esquadrão que se formava no solo firme, que respondiam erguendo o dedão na mais formal conjuração do sinal de positivo. Com todo o cuidado e com uma pequena dor no peito, retirei a flor junto a um bocado de raízes, colocando-a em um recipiente apropriado que o esquadrão havia me cedido. Tornei a descer a montanha, com toda a cautela que poderia tomar.

Fui aclamado pelo esquadrão médico , que, empolgado começou o caminho de volta à vila. Apertei o ritmo no caminho de volta, mas não exagerei para que os mesmo pudesse me acompanhar. Ofegantes, realizavam algumas pausas para descanso enquanto os entretinha com a minha flauta. O caminho de volta para a vila não tomou muito tempo, logo estávamos de frente ao portão.

Entreguei o recipiente para um dos chefes do esquadrão, que em uma continência e em um aperto de mão me agradeceu pelos serviços prestados. Embora ficasse contente pelo reconhecimento por parte dos mesmo, o que eu alvejava mesmo era a minha recompensa em espécie pela conclusão da missão, abanava as mãos enquanto me direcionava para o prédio central, para o fins burocráticos de término de missão.