Andava pelas vielas da Névoa ostentando minha bandana, presa no antebraço esquerdo. Recém admitido como Tokubetsu Jōnin, não havia outro semblante em minha face do que o de um sorriso sincero. Em pouco tempo como ninja, já havia conseguido galgar ótimas posições hierárquicas, militarmente falando.

Minha mãe estava feliz. Com os ryous ganhos de meses trabalhados finalmente consegui aposentar-lá, dando uma vida digna e merecida para ela. Não havia mais miséria em nossa casa, geladeira cheia, dinheiro para as frutas e legumes, sem ter que contar os trocados pensando no que comprar para a janta. Não tinha como eu me sentir diferente. Ser um ninja da Névoa me trazia benefícios inimagináveis, que sequer nos meus melhores sonhos pude acreditar.

Estava perdido em meus devaneios quando finalmente um cartaz frente à sede de um grande reduto científico atraiu meu foco por completo. Um grande cartaz, de quase um metro e meio, pendurado sobre a parede de mármore esbranquiçado, convidando aqueles que quisessem participar de uma aula teórica e prática sobre a ciência e em como ela pode impactar no mundo Shinobi.

Em primeira instância, pensei em só seguir meu caminho. Não era cético o suficiente para acreditar na ciência. Gostava de como as coisas funcionavam de forma simples na minha cabeça. Mas uma fagulha em meu âmago dizia, ou melhor, me fazia acreditar que talvez fosse bom aprender um pouco mais sobre aquilo ao nosso entorno, principalmente depois dos últimos acontecimentos, no vilarejo da Nuvem e até mesmo no Chūnin Shiken. Algumas respostas podem sim vir da ciência e não da fé.

Respirei fundo antes de entrar, analisando a fachada do gigantesco complexo científico. Levei uma folha de coca a boca, me acalmando no processo que mastigava meu vício. A passos lentos comecei a entrar no maior prédio, analisando o grandioso hall principal. Algumas pessoas de jaleco branco andando de um lado a outro, assim como duas recepcionistas atrás de um largo balcão enegrecido. Me aproximei delas com um sorriso no rosto, buscando por informações.

—— Bom dia. É… estou interessado naquela aula prática e teórica sobre ciência. —— Apontava para a direção do cartaz, do lado de fora do local, esperando que elas entendessem do que se tratava. Uma delas balançou a cabeça afirmativamente, enquanto a outra rapidamente buscou um papel e, estando com ele em posse, colocou-o sobre o balcão.

—— Tudo bem. Turma do senhor LeBron, né, Mandy? —— Elas conversavam entre si. —— Isso mesmo. Nosso chefe ficará contente com seu primeiro pupilo. Bom, senhor, basta assinar esse papel, com nome e sobrenome. —— Uma delas esticou o papel para a minha direção, entregando uma caneta logo após. Mesmo que ainda ressabiado, assinei, vendo elas vibrarem de felicidade.

Em seguida, a tal de Mandy tocou um sino disposto sobre o balcão, fazendo com que todos os homens e mulheres portando um jaleco branco parassem o que estavam fazendo de imediato e começassem a me fitar, de cima abaixo. Me senti constrangido, para dizer o mínimo, mas permaneci inerte, sem encará-los de volta. Foi então que o chefe deles apareceu. Pude julgar assim pela rápida mudança de postura, onde todos os presentes no hall inclinavam levemente o tronco, reverenciando a presença dele.

Enquanto ele andava vagarosamente na minha direção, aplaudia algumas vezes, com um sorriso psicótico sobre a própria face. Quis dar de costas e voltar, entretanto, a ânsia por conhecimento me fazia permanecer inabalável. Cumprimentei ele abaixando a cabeça levemente, enquanto que o cientista esticava a destra na minha direção. Fiz o mesmo e, com um aperto de mão, parecia que estava vendendo minha alma ao diabo. Ele sorriu e gesticulando, pediu para que o seguisse pelos corredores do centro científico.

O silêncio perdurou conforme caminhávamos pelos corredores até ficarmos de frente com uma das incontáveis portas. Nela, uma placa com um único Kanji significando Conhecimento estampado no centro. Ele virou a maçaneta com certo mistério. Permaneci fitando, curioso para saber o que havia dentro daquela sala.

Quando a porta se abriu por completo, infelizmente, para meu imaginário, não havia nada de diferente. Uma sala comum, com uma cadeira ao centro, de metal, e algumas maçãs dispostas próximas a ela. Alguns balcões com compostos químicos dentro de fracos. Ele entrou primeiro, gesticulando para que o seguisse.

—— É um prazer conhecê-lo, Rekken. —— Disse enquanto permanecia analisando a ficha de inscrição. —— Fico feliz em saber que algum ninja, ainda mais da sua patente, se interessou pela arte da ciência. Sabe, alguns ainda mantém um pensamento diminuto sobre como o mundo é. —— Ele julgou minhas vestes e minha bandana, deixando claro que sou um ninja da aldeia, mostrando, inclusive, eloquência em diminuir a crença de meus iguais.

—— Sem problemas… acredito que essa aula possa me trazer conhecimento acerca do mundo e respostas para vários dos mistérios que nos cerca. —— Tive de pensar alguns segundos para mostrar, em palavras, que estava interessado na aula, apesar de um pouco cético quanto à ciência. Ele sorriu, dando de costas e buscando um dos incontáveis fracos em cima do balcão de metal. Rotacionava o punho na intenção de fazer o líquido mexer dentro do recipiente, mantendo o sorriso na face.

—— Você conhece a parte teórica da ciência, Rekken? —— No mesmo momento em que ele perguntou, balancei a cabeça negativamente. —— Pois bem… ciência é vida. É o ar que você respira, aquilo que você consegue tocar ou sentir, são os átomos e partículas à sua volta. O próprio chakra é ciência. Cabe a nós aceitar e saber como utilizá-la da melhor maneira possível, potencializando aquilo que nascemos para fazer; sermos ninjas. —— Quando ele pausou sua explicação, colocou o frasco de vidro com o líquido roxo sobre a bancada de metal mais uma vez, pisando um botão com o pé direito que, por si só, abriu um compartimento escondido no meio da sala, fazendo uma maçã maior que todas as outras subir, com um animal em suas amarras. Ele parecia respirar com dificuldade, enquanto LeBron se aproximava mais da maçã metálica.

—— Não se assuste. Essa é uma mistura de tigre com lobo que capturamos… digamos que o animal estava causando problemas aos fazendeiros próximos do vilarejo. Desde então tenho usado ele como cobaia para alguns experimentos, afinal, ciência também é criar e aperfeiçoar potenciais substâncias militares. —— O cientista pegou uma seringa, recolhendo um pouco do líquido roxo e espetando ela no animal, que urrou de dor. —— O composto é um projeto que venho trabalhando a anos. Ele é capaz de potencializar o físico daquele que o injeta, podendo servir como uma ótima arma de guerra para nossos soldados. —— O animal começou a espumar assim que a explicação do homem acabou. —— Bom… estou testando algumas coisas ainda, tá longe de ser utilizável. —— E pisando no mesmo botão, a meca foi recolhida, voltando para a escotilha de onde pertence.

A situação me trouxe certa aversão, por mais que fosse um animal, ele não deveria ser tão descartável ao ponto de servir como uma cobaia, mas conseguia, em contrapartida, entender que sem as cobaias, os avanços científicos seriam nulos.

—— Se você tiver mais interesse em virar um cientista, ou pelo menos aprender um pouco da nossa arte, será muito bem vindo para participar de outras aulas, se aprofundando mais nas possibilidades que a ciência é capaz de disponibilizar para nós. —— Consenti com a cabeça.

—— Agradeço pelo seu tempo, doutor. Voltarei outros dias para aprender um pouco mais, com certeza. —— Disse, saindo da sala e rumando para fora do complexo científico. Voltei nos próximos dias, cumprindo minha palavra, a fim de aprender um pouco mais, sem a intenção de me tornar um cientista, mas sim obter um conhecimento acerca da ciência.