Project

"Isso vai ser incrível!"
Foi um dos últimos pensamentos de Luna antes de tudo ocorrer.
Uma hora ela estava correndo entre a multidão reunida para aquele grande evento, pensando se encontraria Zeeke, Dazai-sensei e Sushi entre os participantes, até que, por acidente – ou era o que havia imaginado –, trombou em alguém. O sujeito usava um manto escuro que cobria a maior parte de seu corpo e rosto, mas ao olhar para cima Luna pôde vislumbrar, por uma fração de segundos, um brilho vermelho sob o capuz, bem onde deveriam estar seus olhos. Em seguida sua consciência pareceu flutuar para longe do corpo, se perdendo na infinidade do cosmos...

Desde então suas lembranças se tornaram confusas, episódicas. Haviam vislumbres de luzes brancas, em uma sala de aparência hospitalar. Em seguida ela se via imersa em água, vendo o mundo em tons esverdeados e distorcidos por uma barreira de vidro. Vozes eram companheiras constantes, ainda que indistintas e incompreensíveis. Por fim, vinham as agulhas, que perfuravam sua pele com a sensação de injetarem fogo-líquido em suas veias.
Após incontáveis dias, com a mente cada vez mais entorpecia, a pequena chunnin sequer se lembrava de seu próprio nome.

 
—Tem certeza que é ela? Parece ser só uma criança — disse uma voz masculina, carregada de um desdém pouco velado.

— Aos oito anos, essa criança massacrou cinco shinobis adultos. Eram nukenins insignificantes, mas ela saiu de lá sem um arranhão sequer — uma segunda voz, esta feminina e bastante carregada, respondeu. — Posteriormente serviu em diversas missões por Kumogakure, tanto de rank B quanto rank A, sempre saindo de todas completamente ilesa.

— Essa coisa é algum tipo de aberração?

— Pelo contrário, é uma obra prima da natureza. Muito antigamente existiu em Kumogakure um clã chamado Tatsumaki, que eram portadores de uma Kekkei Genkai lendária. Imagino que saiba o nome, a essa altura.

— Shouton — respondeu o primeiro, consternado por terem se dirigido a ele como um aluno da Academia. — Pois bem, prossiga.

— Por muito tempo nossa organização esteve empenhada em adquirir esse poder. Então, consumidos por ciúme e ganancia, o clã se autodestruiu em uma guerra interna. Sabendo do que poderia acontecer, o Raikage da época ordenou a destruição completa dos corpos, sepultando para sempre a Kekkei Genkai, assim como nossos sonhos – ela tomou fôlego antes de continuar. Consegue imaginar quão desamparados nós ficamos? Após anos de planejamento, tudo fora por água abaixo, e imaginamos ter que recomeçar do zero. Então, eis que surge um boato entre o exército da Nuvem: uma criança, vinda do nada, estava se destacando com uma habilidade desconhecida. Estranhamente, nenhum corpo era encontrado ao final de suas atividades, apenas amontoados de poeira cristalina.
"Ficou claro, nesse momento, do que se tratava. Ao contrário do que todos pensavam, nem todos os Tatsumakis haviam morrido: o maldito do Raikage havia escondido uma criança, para que ela crescesse leal a Vila da Nuvem.

— E por que demoraram tanto para trazê-la?

— Precisávamos ter total certeza, e para isso resolvemos testá-la. Enviamos um grupo para atacar uma aldeia nas proximidades, enquanto garantíamos para que ela fosse destacada para a tarefa de checar no local. As ordens que demos a nossos agentes eram para eliminar seus colegas de equipe e atacá-la o mais pesadamente possível, e para isso sete shinobis de rank B foram mandados. Ela não só garantiu para que os colegas ficassem ilesos, como massacrou todos os sete, sem apresentar o menor esforço.

— Agora eu entendo o porquê de toda essa comoção. Mas, afinal, o que pretendem fazer com essa tal de... Luna?

A mulher se moveu até ficar de frente a um tanque, esticando o braço para que a ponta de seus dedos tocassem no vidro. Lá dentro, imerso em um líquido de coloração esmeralda, conectado a vários fios, repousava um corpo infantil.

— Luna? Não. — Esboçou um sorriso, distorcido pelo reflexo no tanque. —09


Olhos familiares a encaravam no espelho.
Grandes. Brilhantes.
Olhos que pertenciam a garota que passava as tardes brincando pela aldeia, usando as cercas como passarela.

Era um genjutsu? Juinjutsu? Ou apenas lavagem cerebral?
Semanas e meses se passaram. Sua primeira lembrança foi como acordar de um sonho, emergindo ao mundo como no nascimento. Uma mão então toca no topo de usa cabeça, dizendo que estava tudo bem. Aproximando os lábios de seu ouvido, uma voz feminina lhe sussurra uma única diretriz:
— Consuma o mundo.
Em seguida, fora deixada sozinha na sala.

Agora, olhando para si mesma, a garota em corpo de criança tinha uma única questão em sua mente.
"Qual é meu nome?"
Olhou para as mãos, tão pequenas, tão frágeis. Ainda assim, ela não se sentia nem pequena e nem frágil. Pelo contrário, era como se dentro de si houvesse uma força querendo se libertar.

Experimentou andar pelos corredores daquele local, vagando por horas em um labirinto branco-esmaltado, mas sem encontrar ninguém. Nem mesmo a mulher que estivera na sala durante seu "nascimento" se encontrava por ali.
Era só ela. E, ainda assim...
Quem era ela?

Finalmente encontrou a saída, subindo uma longa escada em espiral até sair em uma encosta cavernosa. Acima das nuvens, pôde ver que aquela entrada estava naturalmente camuflada pelas rochas. Respirou fundo, tragando os aromas do mundo, com o brilho prateado da Lua refletindo em sua pele branca. Foi quando uma ideia lhe veia à mente.
"Quero testar meu poder"

Abrindo os braços, tal como um filhote de águia, a garota saltou da borda do abismo. Foi um instinto natural que a levou a liberar seu chakra, e quando estava a cerca de vinte metros do chão sua queda foi amparada por um par de estranhas asas impossíveis: eram feitas de puro cristal, mas ainda assim a mantinham planando no ar. Não obstante, metade de seu corpo havia mudado, com garras surgindo em suas mãos e pés, chifres na cabeça e uma relativamente longa cauda reptiliana.

Lá do alto, a garota-dragão-de-cristal localizou seu alvo. Usava um uniforme característico da classe chunnin, andando sozinho por entre as árvores do bosque. Com um sorriso que beirava o doentio, ela impulsionou o corpo para frente, disparando a toda velocidade em sua direção.  Talvez tenha sido o som do ar se quebrando que a denunciou, mas o garoto conseguiu vê-la a tempo, saltando para longe de seu ataque. A garra da garota acertou de raspão o tronco de uma das árvores, arrancando um bom pedaço em lascas e quase a derrubando por completo.

— Mas que... — confuso, o garoto se mantinha em posição de combate, olhando para a criatura que planava acima dele. — O que caralhos é você?!

— Então você também não sabe... — sua voz soou legitimamente desapontada de início, mas quando voltou a falar seu tom era alegre e brincalhão. — Que pena, agora só serve como teste.

Ela abriu completamente as asas, fazendo com que delas surgisse uma chuva de projéteis rosados: era o Kesshō: Rokkaku Shuriken, convocado instantaneamente pela sua maestria. Reagindo com rapidez o chunnin criou um domo de terra ao redor de si, que, embora tenha aguentado a maior parte dos disparos, acabou deixando alguns passarem. Quando a defesa ruiu era visível que o homem se encontrava ferido, ainda que apenas por alguns cortes.

Entretanto, ele notou que não tinha mais a garota em seu campo de visão. Antes que pudesse tomar qualquer decisão sentiu uma dor lancinante em seu braço esquerdo, e ao olhar para ele já não estava mais lá.

— Procurando por isso? — A pequena garotinha tinha o membro do homem em sua mão envolta em garras, sorrindo maliciosamente. Ela o havia atacado de surpresa, tendo aproveitado para se mover até seu ponto cego enquanto a própria defesa dele obstruía sua visão.

— Isso é um demônio! — rosnou, enquanto dava as costas e tentava correr. Tendo perdido um dos braços já não podia mais usar selos de mão, então a fuga era a escolha óbvia. — Tenho que chegar até Kaga...

Ainda que aparentasse estar usando sua velocidade máxima, em um rasante as garras da garota encontraram sua cabeça. Antes que ele desse conta, já estava morto.

Com um último bater de asas, ela pousou os pés no chão. Como que se esfarelassem, seus apêndices de cristal se desfizeram, desaparecendo completamente. Segurando-a pelos cabelos, ela ergueu aquela cabeça na frente de seus olhos, deixando a sua própria tombar levemente por cima do ombro. Com um sorriso inocente nos lábios, pôs em palavras sua constatação:

— Talvez eu seja um pouco forte.

Devolveu a cabeça para o corpo, a colocando sobre ele. Então, com um único selo, fez com que, com o Shōton: Suishō Rō no Jutsu, os restos fossem completamente cristalizados até a última célula, e ao tocar naquilo com a ponta do pé tudo se desfez em poeira cristalina, sem deixar vestígios.

Saltou então para o topo de uma das árvores, apenas para confirmar uma visão que teve enquanto voava. E, sim, ali estava ela, com seus vários pontos iluminados contra a escuridão noturna. Tinha a sensação de já ter estado ali, embora não conseguisse se lembrar dos detalhes. Mas se ela queria descobrir quem era, ali deveria ser o local ideal.
A Vila da Nuvem.

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