ーOn step before another... E assim nós dois vamos seguindo. ー Digo, brincando com as mechas de meu cabelo, com a cabeça deitada contra o travesseiro da cama: ー Se nós tentarmos, conseguiremos... Você só precisa acreditar. ー Prossigo, arfando, com uma sensação debilitante em meu peito, um peso, que me pressiona com intensidade, me fazendo perder minha rítmica respiratória. Eu me culpava por não estar lá, por ter me abstido do sacrifício em prol dos demais, mas aparentemente minhas ações não são altruístas como eu almejava que fossem. Algumas lágrimas ainda escorriam de meus olhos já avermelhados com a tristeza: ー Aquele era nosso momento, e quando você deveria mostrar sua utilidade, você recuou. Insatisfeito, você não teve a decência de despedir-se dos demais... Que ridículo... ー Continuo com pesar, e uma voz trêmula, me castigando com minhas próprias palavras, beirando o monólogo autodepreciativo. Não me contentava com minhas falhas e imperfeições, e agora, tendo vivido meu pesadelo como mais um dia, pude refletir como meu egocentrismo me cegava. Eu limitava meu alcance ao íntimo, aquilo que me aconchegava, e me fechei as possibilidades e aos demais. Eu queria me afogar nas mágoas e na insegurança, porque sabia que assim, eu era o único capaz de me ferir, mas eu não queria mais isso. Megumi me mostrou, com um gesto simples, mas que valeu por milhares, como cada pessoa é valiosa e merecedora de ser amada, e eu devo começar a me valorizar tanto quanto me cobro. Eu não queria mais enrolar-me nesses versos desprovidos de um significado real, eu queria viver a música como ela merece ser vivida, ou melhor, escutada. Meu coração palpitava ferozmente, a ponto que sentia-o em minha garganta, e pressionando meu palmo contra o peito, eu inspiro vagarosamente. Na mesma velocidade, expiro, soltando o ar dos pulmões e levando consigo os momentos que merecem ser deixados em meu passado. Livrar-me dos erros passados me faria cometê-los no futuro, logo, prefiro acreditar que colocando-os em seus devidos lugares, num passado distante que representa um outro Kaonashi, posso aprender com eles e me tornar alguém melhor. Inspiro como outrora, e expiro em seguida, me concentrando em focar na dor, em como em estava ferido, para que enfim, pudesse cicatrizar essas feridas: ー É... Nós falhamos, mas eu decidi que quero seguir em frente... Somos melhores que isso, eu sei que somos, então está na hora de correr atrás disso. Cansei dessa merda... E-Eu... Eu amo viver. ー Digo. A sensação é semelhante ao parto. Fu exposto a pior das dores para poder viver de fato, de existir de novo. Eu me levanto freneticamente da cama, abro as portas de minha barraca e respiro por uma última vez: ー EU AMO VIVER! ー Brado, vociferando as últimas palavras que teria chance de dizer nesse mundo. Nunca acreditei em reencarnação, em propósito existencial ou em uma divindade, mas se eu, se mesmo alguém como eu, puder ter uma segunda chance na vida e a oportunidade de ser feliz, eu não poderia ser mais grato. Eu deixei minha máscara de lado, aquilo que cobria minha face e me tornava Kaonashi, a raposa sem rosto. Eu sou grato por tudo.

Considerações: