Lá estava o Mizukage novamente, no meio de uma floresta nos arredores da vila do redemoinho. Senko sentia culpa, ele começou a reconhecer que estava realmente errado na situação em que Saiken havia se chateado. Sim, Saiken pediu para ele extravasar nas árvores; sim, ele queria que Senko treinasse e dominasse o seu poder, apesar de todas as adversidades. Porém, algo que a besta sempre frisou foi calma, a paciência, os passos pequenos que ele deveria dar para alcançar um objetivo grande.

Saiken sempre sentiu que Senko estava querendo pular degraus. De fato, a capacidade técnica do rapaz era – e ainda é – impressionante. Senko tinha uma aptidão incrível para o aprendizado, era quase um mini prodígio. Graduou-se como genin, ainda em Suna, muito cedo, aos sete anos de idade; mais tarde, aos nove anos de idade, virou chūnin da vila da folha e; no mesmo ano, tornou-se a Sombra do Redemoinho. Tudo foi muito rápido, mas mesmo assim o ninja conseguiu lidar com a pressão e a responsabilidade, mostrando-se totalmente capaz de ostentar os títulos que conquistou nos últimos três anos. A batalha na reunião dos kages em Nazjatar foi uma prova disso. Não só, aos nove nos de idade, mantinha uma conversa diplomática com outros líderes, como também mostrou um desempenho formidável na luta contra o próprio Saiken. Ele tem o Mangekyō Sharingan, o auge do poder dos Uchiha, e soube usar muito bem para controlar a besta de seis caudas e matar mais um Shion (dessa vez, o Sarutobi).

Todas as experiências que teve até então evidenciavam que o líder da vila do redemoinho era capaz em todos os níveis, tanto intelectual, como físico. Mas… pera, temos também o nível emocional, não é? Senko estava preparado à nível emocional? Não era o que Saiken acredita, a lesma gigante com certeza não tinha plena confiança em Senko. Ela sabia, sim, que ele era uma boa pessoa, o seu caráter já havia sido provado inúmeras vezes durante o tempo em que estiveram juntos. O próprio Daimyō do País da Água havia tentado subornar o Mizukage, mas saiu sem nenhum trato pois Senko não é e nunca será desonesto.

Então, sendo assim, por que a lesma tinha essa desconfiança? Por que não conseguia contribuir totalmente com o rapaz e dar o seu poder para ele? O que Senko havia de fazer para reconquistar essa parceria e completar por inteiro o treinamento com Saiken?

Leia as considerações:

— Senko, peço que me escute — disse a lesma. — Eu ainda acho que não errei em te escolher como o meu Jinchūriki, de verdade...

— Então por que desconfia tanto de mim? Eu sei que eu errei, mas eu estou disposto a consertar as coisas! — respondeu de imediato o rapaz, realmente arrependido com a situação que aconteceu semanas atrás.

— Eu não desconfio de você, em si. Eu desconfio desse peso que você desnecessariamente carrega dentro de você, desses ataques de descontrole que você tem às vezes, dessa mania impulsiva de lidar com as, desse seu jeito que você deixa as suas emoções negativas tomarem conta da situação!

— Agora você vai ficar jogando as coisas na minha cara? — respondeu mais uma vez e ambos ficaram em silêncio por alguns minutos. Senko já se encontrava no palácio mental onde podia se comunicar livremente com Saiken.

— Peço desculpas. — disse a lesma gigante. — Me expressei mal.

— Relaxa... não precisa se desculpar. Não acho que tenha mentido em algum momento.

— Então você concorda com o que eu disse?

— Claro, eu sei que sou o problema.

— Bom, então eu realmente me expressei mal ou você que não entendeu... Vou ser mais direto: tem algo dentro de você que precisa urgentemente ser deixada de lado. Não é exatamente você que é o problema, mas...

Senko ia protestar contra a falta de clareza de Saiken. Como se não bastasse a voz aguda e estridente do bicho, o mistério que o ser gosmento fazia estava, de certa forma, o irritando. Mas o garoto estava tão cansado e exausto de si mesmo que preferiu deixar isso de lado. Em vez de brigar ou argumentar, apenas respirou fundo e perguntou sucintamente à besta, esperando que ele fosse responder com assertividade e “desembuchar” de vez. — O que exatamente, Saiken?

— Ah, pensei que fosse óbvio para você... — Então acho que pensou errado, Lesminha. Senko não gostava de brincar com adivinhações nesse tipo de conversa. — Estou falando sobre a Maldição do Ódio.

O garoto sorriu sarcasticamente, sentindo um pouco de... tristeza ao ser julgado por algo que ele carregava em si sem nem mesmo querer, uma simples herança genética do seu falecido pai. — Pera... deixa eu ver se eu entendi, tudo isso por essa merda de maldição? O que você quer que eu faça?! Quer que eu nasça de novo?!! — perguntou, indignado.

Senko ainda não tinha entendido onde Saiken queria chegar... Talvez o garoto tivesse se esquecido de toda a história que a sua mãe o havia contado quando revelou que ele era um Uchiha, quando ela disse sobre o desejo do seu pai e sobre o sucesso que ele teve em superar o próprio sangue... ele precisava se lembrar disso.

Leia as considerações:

— Humph... você não precisa nascer de novo coisa nenhuma, Senko. — respondeu Saiken. Os anos de experiência que a besta tinha eram muito maiores do que os anos de vida do pequeno Senko. O seis caudas viveu milênios, o Mizukage tinha dez anos. Contudo, também não era só um problema de amadurecimento. A Maldição do Ódio dos Uchiha era um problema real que não afetava só os mais novos, mas também os mais velhos. Tudo dependia da intensidade de acontecimentos traumáticos durante a vida dos que possuem esse bendito sangue. Pensemos no Senko. Aos nove anos de idade, já possuía o Mangekyō Sharingan. Num mundo utópico, uma criança Uchiha nunca deveria passar por algo tão traumático a ponto de despertar a evolução celestial dos olhos copiadores; na verdade, num mundo perfeito, ninguém deveria sequer despertar o Sharingan ou o Mangekyō Sharingan... Mas foi o que aconteceu. Senko não pediu para nascer com esse sangue; Senko nem mesmo pediu para nascer. Então por que havia de ser culpa dele? E, sendo isso parte do seu próprio sangue, o que ele poderia fazer para mudar isso? Saiken apenas dizer que não é preciso nascer de novo não muda nada, pois aparentemente o problema é, sim, crônico. Se a Lesma se incomodava com isso, mais valia desistir... aquilo era algo que ele carregaria para o resto de sua vida.

Ou será que não?

— Você só precisa se aceitar os seus defeitos e não deixar que eles definam o rumo da sua vida. — A resposta da Lesma pareceu simplória, exageradamente ingênua e até cômica. Senko custava acreditar que estava ouvindo algo como aquilo. Saiken estava realmente afirmando que o problema de Senko era a aceitação? Será que aquilo fazia sentido?

— Saiken... isso é muito absurdo para mim. Não acho que isso seja o problema, não é só simplesmente aceitar.

— Te garanto que sim, Senko. Eu não sei muito da sua vida antes de você se tornar o meu hospedeiro, mas posso falar sobre algo que eu notei: a sua mãe não é Uchiha e seu pai está morto, certo? Certo. Provavelmente, ela te alertou sobre o fato de você ser Uchiha somente anos após o seu nascimento e é por isso que você carrega dois nomes. Nós dois sabemos o porquê disso, Senko. Os Uchiha foram submetidos à experimentos, foram caçados, humilhados, torturados. Eu sei. Ela fez isso para te proteger. E talvez esse medo todo de se assumir Uchiha só fez a maldição do ódio crescer ainda mais, você odeia o próprio nome, você odeia o próprio sangue. Você precisa de autoestima. — Ele dizia dando uma pausa para Senko pensar a respeito, mas logo continuou. — Esse clã ama demais, garoto, e ao mesmo tempo não consegue aceitar o seu próprio lado sombrio. Tá tudo bem não ser bonzinho o tempo todo, tá tudo bem se estressar, ninguém é perfeito. Você tem que usar esse amor, que você distribui para toda os seus amigos que formou nos últimos anos, e começar a se amar. É disso que você precisa, se aceitar! Você é a pessoa mais importante no mundo para si mesmo, se você não lutar por si, quem irá lutar? Não encare isso como narcisismo, isso já é um extremo... e muito menos deixe de se amar por temer cair na vaidade. Se aceite, Senko. Você não pode viver sem amor próprio pro resto da sua vida. Se isso acontecer, o ódio que você acumula só vai piorar. Se liberte, se aceite, se permita ser.

O Mizukage já chorava durante o discurso e continuou a chorar por minutos, dezenas de minutos depois das palavras de Saiken. Chorou tanto que seus olhos ficaram vermelhos; não pelo Sharingan, dessa vez. Era um choro libertador, deixando toda a sua raiva se esvair por meio de suas lágrimas. Tudo que nós, humanos, precisamos é amor. Às vezes, damos amor demais para os outros e esquecemos de nós mesmos. Sacrificar-se pelo próximo é digno, mas esquecer-se de si mesmo não é prudente. O discurso de Saiken era tudo que o garoto precisava, era o gatilho que faltava.

O seis caudas se curvou e pousou a sua mãozinha sobre a cabeça do hospedeiro.

— Você me perdoa?

— Eu já te perdoei. É só você se perdoar.

Senko ficou algumas horas ali no palácio mental, digerindo tudo. Finalmente, se levantou, enxugou as lágrimas e olhou para Saiken com um olhar determinado. — Chega de chorar... minha vila precisa de mim. Eu preciso de mim.

— Hehehe... aí aí. Bem-vindo de volta, garoto. — respondeu. — Quero te ensinar uma coisa.

Leia as considerações:

De volta aos treinos, a besta e o seu hospedeiro conversavam a respeito do treinamento que tinha tido até então. — O que você quer me ensinar desta vez, Saiken? — perguntou Senko, curioso e animado para aprender, agora com a aprovação do seis caudas.

— É algo bem avançado, requer muita cooperação entre nós dois. — dizia com a sua voz aguda de sempre, mas com um tom sério. — Poucos dos meus irmãos conseguiram essa proeza com seus hospedeiros no passado. É o Modo Biju.

— Hm? Como assim Modo Biju? Faltou criatividade para um nome? Dessa vez vou crescer mais caudas, como é? — ele já estava sorridente outra vez.

— Não, calma, calma hahah. Você e eu vamos ter um só corpo. Vamos unir nossos chakras e nos transformaremos na minha forma origin...

— QUE?!! — o seu sorriso se desfez na hora, trazendo um semblante surpreso e preocupado.

— Por que o espanto? Não consegue? Não se preocupe, eu sei que você consegue.

— Não, não é isso, é que... isso não é perigoso?

— Se eu quisesse sair de dentro de você ou tivesse algum problema de confiança... sim, seria. Mas eu agora confio em você. Só resta você confiar em mim.

Senko deu uma risada e um soquinho na cauda da Lesma. Logo sentiu a gosma que sentira no dia em que ela foi selada em si e fez mais uma cara de nojinho, mas logo limpou a mão na barra da calça e aceitou o desafio. — Bom... espero que valha a pena!

Leia as considerações:

O pequeno Uchiha se pôs em posição de meditação – tanto fora do palácio mental como dentro do palácio mental – e começou a acalmar seus batimentos cardíacos. De todas as transformações que o garoto passou nos últimos meses que treinou com o seis caudas, essa certamente seria a mais estranha de todas. Como seria a sensação de se transformar numa lesma? Senko gostava da personalidade de Saiken, mas certamente preferiria que ele fosse outro bicho do reino animal. Sei lá, poderia ser um leão, um gato, um corvo...; mas não, ele era uma lesma. Embora a aparência desagradasse, o companheirismo e a verdadeira amizade que ambos construíram desde Nazjatar era o que alegrava a dupla. Eles sabiam que, mesmo na dificuldade, podiam contar um com o outro. Por mais clichê que fosse, o poder deles era fruto da amizade (e de uma larga reserva de chakra de ambos, hehe).

Diferente da transmissão de chakra, onde Senko só puxava chakra para si, nessa transformação ele teria que mesclar os chakras. E foi isso que ele fez. De mãos juntas, o garoto começou a deixar todo o chakra de Saiken inundar o seu corpo, fazendo com que as duas reservas se fundissem. Por fora, as caudas de Saiken saíam do corpo do rapaz e o seu tronco começava a crescer e mudar de cor e, de repente, ele já poderia se ver na forma real da majestosa lesma de seis caudas. Foi tudo muito rápido. Agora Senko conseguia sentir o pleno poder do seu companheiro.

— HAHA!!! CONSEGUIMOS!!! Caraca, isso é incrível!!! — Dizia, balançando as caudas de Saiken e derrubando várias árvores por simplesmente só se mexer.

— Muito bem, garoto, muito bem... estou orgulhoso! — Saiken só sabia sorrir internamente, comemorando por ver que o seu Jinchūriki havia conseguido. “Humph... eu fiz a escolha certa!”

Leia as considerações: