Em meio ao horizonte uma construção parecia tomar forma. Kio conhecia aquela estrutura como a palma da sua mão e a cada passo dado naquela direção, ela adquiria ainda mais detalhes a vista. O caminho de pedras guiava o mais novo Gennin para aquele destino que o mesmo chamou de casa por muitos anos.

Kio não conseguiu esconder sua satisfação em estar voltando para aquele local, um singelo sorriso se tornou presente em seu rosto e antes mesmo que pudesse se aproximar dos portões, eles foram abertos. – Já me aguardava, Vovó Hisa? – Perguntou, com um tom de voz animado. – Mas é claro, filho... – Respondeu a senhora com seu costumeiro tom calmo e sereno.

O Gennin adentrou a morada e enquanto seus olhos percorriam os cômodos, pôde constatar uma coisa. – Nunca vi esse lugar tão vazio. – Suas palavras demonstravam surpresa. – Graças ao Sannin! São tempos de paz, Kio! – “Tempos de Paz”. – Com a reestruturação de Uzushiogakure, a maior parte das crianças que ficavam conosco foram enviadas para lá, algumas foram adotadas, outras seguiram caminhos diferentes. Hoje sou apenas eu. As outras cuidadoras estão em missão pelos continentes, pregando a palavra do Rikudou, fazendo as pessoas lembrarem de seus propósitos. – Kio parou a caminhada e olhou para a pequenina senhora que tanto lhe orientou em sua vida. – A senhora não se sente só? – Questionou. – Não, meu filho... – Hisa continuou a caminhar, fazendo Kio voltar a acompanha-la. – Quem caminha com um propósito não caminha só. Nunca. – Respondeu a senhora. – Agora vá descansar, deixei a sua refeição já preparada no seu antigo quarto. Amanhã você me conta sobre a sua experiência na academia Shinobi. – A senhora se despediu e o Gennin adentrou seu dormitório, se alimentou e dormiu.

5:00 AM. – Acorda! A academia te amoleceu?! – A voz de Hisa penetrou seus sonhos e o despertou. – O café está pronto! – Kio lembrou de seus anos naquele lugar e de como ele, até hoje, não havia se acostumado a acordar cedo. – Indo! – Disse, enquanto se vestia e partia para a mesa que havia sido montada em meio ao jardim. – Desculpe vovó! – Sentou-se e começou a tomar o café da manhã que havia sido preparado pela sua antiga mentora. – E então? Me conte logo. Como foi a academia ninja? – Kio então, explicou sobre toda a sua experiência na academia. Sobre suas dificuldades em conviver com pessoas tão diferentes, como foi difícil encarar o quanto a sociedade tem deixado de lado seu viés religioso. – Bla bla bla! Deixa essas reclamações para outro dia. Seu propósito é claro para você? – Kio acenou positivamente com a cabeça. – Então pronto! Seja forte o suficiente para honrá-lo! Você é um seguidor do Rikudou Sennin, você é um protetor da paz. Faça jus ao seu propósito. – Disse Hisa, com um tom de voz animado. – Agora vamos ao que interessa, me mostre o que você aprendeu! Ou você achou que a gente não faria um último treino juntos? –


A mesa havia sido retirada e o Gennin se posicionava descalço no gramado. – Esse é o primeiro jutsu que aprendi... – Disse enquanto realizava os selos correspondentes. – Henge no jutsu! – Kio se transformou na mulher a sua frente, reproduzindo todos os detalhes da mesma. Hisa não pareceu nem um pouco surpresa. O gennin cancelou a transformação e dessa vez usou uma sequência diferente de selos manuais. – Bunshin no Jutsu! – Dessa vez o Shinobi criou uma cópia ilusória de si mesmo e a pequena senhora se manteve com o mesmo semblante anterior. – É sério que na academia Shinobi eles só te ensinaram esses truques baratos? – Seu tom de voz parecia de desapontamento. – De que adianta saber tomar a forma que quiser, criar cópias suas, se o seu corpo não está forte? Essas academias já foram melhores... – A senhora segurou a mão do jovem de mais de 2 metros de altura e o puxou com ela com uma força surpreendente para uma pessoa daquela idade. – Deixa eu te ensinar uma coisinha que eu aprendi com o passar dos anos... – Ela dizia enquanto se distanciavam da morada. – Seu corpo e espírito precisam estar fortes para suportar a vida que lhe espera, está me entendendo? – Suas palavras eram ditas em um tom sério. – Antes de se preocupar com truques, se preocupe em se tornar forte como um touro, aí sim perca tempo com seus jutsus, combinado? – Os dois chegaram próximo a uma cachoeira. – Pronto, você é alto como uma girafa e parece um gorila cheio de músculos. Aprenda a fortalecer isso com o que você tem mais importante, o seu chakra! – A senhora parecia saber do que ela estava falando. – Vá para debaixo da cachoeira. Se lembra daquela respiração que eu ensinei a vocês quando você tinha 8 anos? – Kio acenou positivamente. – Pronto, vamos aprimorar ela agora! Eu não quero mais que você a use para acalmar o corpo, eu quero que você faça justamente o contrário. Sente-se na posição de lótus... Isso mesmo... Você vai aprender a forçar todo o seu corpo sem mover nenhum músculo. É assim que você vai evoluir hoje. Até o fim do dia, você se sentirá morto como se tivesse treinado por semanas. – Ela deu uma pausa de instantes e continuou. – Sinta a água caindo em suas costas, respire fundo e faça o seu chakra fluir para dentro de seus pulmões, preenchendo-os, depois expulse-o ao expirar. Repita esse processo indefinidamente e enrijeça seus músculos o tempo inteiro. Trabalhe todo o corpo! – Encerrou.

Kio assim o fez, constantemente, repetidamente. A cada respirada sentia seu folego fraquejando, seu corpo em constante tensão fazia todos os seus músculos queimarem chegando a um ponto quase insuportável. Horas se passaram e o Genin chegou ao seu limite. Já era noite, sua perna fraquejava, sua visão estava embaçada. Nenhum sinal de Hisa. Caminhou de volta para a morada e encontrou o seu quarto pronto, com uma refeição a disposição. Se alimentou e sem forças para mais nada, dormiu.

Kio acordou as 11 horas da manhã do dia seguinte e estranhou de imediato o fato de não ter sido chamado por sua antiga cuidadora. – Estranho... – Seu corpo ainda doía, mas não impediu que o jovem levantasse. Arrumou as suas coisas, indo a procura da velha senhora logo em seguida. O local estava em silêncio total e extremamente vazio. A cozinha sem instrumentos, com as mesas cobertas de poeira. Todos os demais cômodos compartilhavam dessa mesma característica.


Kio correu em direção ao antigo dormitório de sua cuidadora, abrindo a porta do cômodo com urgência. Vazio. Coberto de poeira. Com uma única exceção. Um porta retrato com uma foto dele aos 7 anos brincando com Hisa. O genin sorriu satisfeito e deixou o porta retrato na mesa.

O que realmente aconteceu naquele dia até o momento não está claro, mas Kio entendeu o significado. Aquela morada e Hisa faziam parte de um capítulo que precisava ser encerrado. E foi. Num último encontro, num último treinamento. Agora Kio era um Shinobi de Uzushiogakure e só lhe restava o futuro a ser percorrido. O futuro em um mundo marcado por eternos conflitos e que só os mais fortes conseguem lutar pela paz.