Deixando a biblioteca de Iwa, Kyoko Akihito seguia para o campo de treinamento.

Com arco em mãos, aljava cheia de flechas presa na cintura, tomou por iniciado seu treino. Ainda que não fosse usar suas flechas, vestia o saco como uma forma de acostumar-se completamente com seu peso.

Ele observava o alvo, ao longe. Pensou que começaria com tiros, mas reviu seus termos e lembrou-se de suas informações colhidas durante os estudos: o básico era uma ótima forma de treinar.

Encaixou o arco na diagonal do tronco, executou alguns selos e utilizou, então, o básico. Transcorria o campo de treinamento com o Shunshin no Jutsu aumentando sua velocidade. Era uma sensação realmente gostosa, correr ao ar livre, mais do que se era possível sem tal arte.

Seguiu então com o Kawarimi no Jutsu. Preparou-o com avidez, tendo então uma ideia: atiraria para cima, fazendo com que sua flecha retornasse contra si, e substituir-se-ia com o alvo. Foi o que fez. Após executar os selos, retesou o arco e atirou para cima. Sentia o chakra fluir dentro de si quando rapidamente trocou de lugar contra o alvo, atingido pela flecha de maneira leve, visto que sua potência diminuira na queda.

Pensou em outras técnicas para utilizar, como o Gake Nobori no Gyō ou o Kakuremino no Jutsu, mas não tinha os materiais necessários para tais. Então, pulou para o Bunshin no Jutsu, que também encarava como uma técnica simples, porém extremamente útil.

Concentrou-se e destilou seus selos, quando uma imagem absurdamente igual a si despontava logo em sua frente, como um espelho. Ele sorriu para a imagem, desferindo um soco contra ela no mesmo instante. A imagem desfez-se, diluindo no ar.

Havia também o Henge no Jutsu. Com habilidade, transformava-se em seu pai. Depois, transmutava-se para sua mãe. Como não tinha um espelho nem nada do tipo, não poderia saber se a técnica estava sendo completamente efetiva, então desistiu do treino da mesma e partiu para o próximo em sua lista mental.

Ki Nobori no Shugyō. Essa sim era um jutsu que Kyoko adorava. Com ele, poderia subir em árvores e ampliar a visão de seu tiro em distâncias consideráveis. Não só isso, era um jutsu, como os outros, extremamente simples. Utilizou-o e aproveitou para atirar algumas vezes contra o alvo, usando a técnica novamente para descer, saltar para outros galhos e ficar brincando, descontraindo-se de um treino sério.

Por fim, desceu da árvore e postou-se de frente para o alvo. Trinta e cinco metros era o máximo que conseguia atirar, pelos seus cálculos, e queria aumentar essa distância, mas teria de treinar especificamente sua força para isso.

Dessa vez, portanto, utilizaria um jutsu que ele mesmo criou, o Kaminari no oto. A técnica consistia em disparar um raio por meio de seu arco, raio esse que percorria até quarenta metros. Feliz com sua criação, começou a disparar, ampliando suas capacidades com o Ninjutsu após utilizá-los tanto durante aquela tarde.

Considerações:

E Kyoko retornava de sua primeira missão. Relativamente simples, com um inimigo aparentemente inofensivo, conseguira driblá-lo dentro de sua própria loucura. O homem acreditava ser um titã louco, a procura de joias poderosas. Enquanto isso, o arqueiro fingira ter uma das pedras e, sedento por seu poder inexistente, o louco fora de encontra com o jovem que o neutralizara numa rápida manipulação Raiton.

Porém, revisando o acontecimento em sua mente, Kyoko começara a pensar se, caso o inimigo não caísse em sua armadilha, ele poderia conter uma ameaça física? Poderia ele se opor a um homem adulto, um ninja adulto? Ainda que fosse hábil com seu arco, teria que aumentar suas capacidades. Era forte para sua idade, mas não era forte o suficiente. Era veloz para sua idade, mas não era veloz o bastante.

A partir daí, assim que retornou para Iwagakure no Sato, desenvolveu um método de treino eficaz. O método consistia em diversos exercícios, alguns aprendidos na academia, alguns aprendidos em livros da biblioteca, alguns criados pelo próprio garoto, que visavam melhorar seus reflexos, sua agilidade e, acima de tudo, sua força.

Já tinha a perícia com sua arma, já era um grande arqueiro. Precisava, agora, alcançar mais distâncias, perfurar sem ter limites. Precisava ampliar aquilo para o anormal, trazer o arco ao mundo ninja e fazer cada shinobi temer seus tiros.

Com isso em mente, dirigia-se para o campo de treinamento mais uma vez. Levava diversos pesos, equipamentos mais diversificados o possível, e montava seu circuito. Alguns ninjas treinavam naquele momento e ficaram observando todo o aparato, mas logo voltaram a prestar atenção ao que faziam.

De início, pegaria seu arco e atiraria uma flecha diretamente no fim do circuito, num alvo posto propositalmente lá. A primeira remessa de exercícios seria uma corrida rápida desviando de cones. Colocara cinco mini cones em sequência e deveria correr por eles, desviando em ziguezague. Em seguida, armou dois baldes cheios de areia numa vara, um cabo de vassoura, e teria que erguê-los, andar até certo ponto – aproximadamente uns dez metros – deixar os pesos e seguir para o próximo exercício. Ali, pensou em fôlego, explosão. Correria em disparada, como se sua vida dependesse disso, na direção de um cone colocado a trinta metros de distância.

Por fim, faria uma sequência de flexões; erguer-se-ia e pegaria a flecha presumivelmente presa ao alvo, que estaria ao lado, e retornaria por todo o percurso, correndo, pegando o peso e fazendo o ziguezague. A ideia era fazer isso pelo menos dez vezes.

Na terceira, estava praticamente falecido de cansaço.


Kyoko possuía determinação. Seus maiores pensamentos atualmente eram definidos pelo mundo ninja. Sua família era importante, sim, mas eles tinham seus próprios objetivos com seu comércio; agora precisava pensar em si. Aquele método de treinamento era simplesmente colocar em prática esses sentimentos.

Quando retesou seu arco e disparou precisamente no alvo, não pensou em mirar. O arqueiro apenas atira e acerta. Quando, rapidamente, colocou o arco de lado e seguiu em ziguezague por seu circuito, pensava apenas em se tornar mais veloz. Quando, sentindo quase todos seus músculos do corpo tencionarem e sucumbirem ao peso daqueles baldes, pensava apenas em se tornar mais forte. Sentia as dores de sua evolução.

A corrida em explosão e as flexões completavam o treino, desestabilizando sua mente ao padrão antes imposto. Quando puxou a flecha do alvo e levou-a consigo por todo o percurso de volta, sabia que aquilo demoraria, e cobraria seu preço.

O suor despontava de sua testa, seu corpo logo estaria ensopado. Mas ele não ligava. O calor intenso que banhava a rochosa Iwa piorava a situação, mas ele já estava acostumado. Mantinha seu treinamento.

- Mais rápido, mais forte... Vamos! Vamos! – Tentava se motivar nos momentos difíceis, quando pensava em desistir. E os momentos difíceis aconteciam com frequência. Os pesos estavam, afinal, pesados. A explosão na corrida, às vezes, não vinha. Seu corpo clamava pelo descanso, sua mente sabia que ele podia mais. Puxava seus limites, colocava-os no lugar certo.

Enfim estava ensopado e já tinha perdido as contas de quantas vezes percorrera aquele caminho. Sabia que não tinha exagerado, ainda não alcançara as dez vezes antes desejadas, porém, tinham sido mais de seis.

Parou para um breve descanso, bebendo num cantil de água – não muito, para não passar mal, mas o suficiente para se hidratar.

Acenou para alguns ninjas que observavam. Cada um treinava do seu jeito, ali. Poderiam fazer como Kyoko, levando quinquilharias, maquinários, maluquices, ou lutavam em conjunto, testando técnicas e estratégias. Eventualmente ele se veria ali, juntamente a outros ninjas, provando ataques e demonstrando a arte do arco e flecha. Agora, porém, estava sozinho. E, para seu próprio bem, não se sentia mal em estar sozinho.

Em sua plenitude, erguia-se do descanso. Secara a testa num pano qualquer, bebera água suficientemente. Seu fôlego ainda não estava nos eixos, mas não podia deixar seu corpo esfriar. Colocou-se novamente no início do circuito.

- Só mais algumas vezes... Só mais algumas...

O incentivo serviu, sua determinação ampliava-se. Atirou, correu, levantou peso. Não hesitava, não olhava para trás. Logo, também, não pensava mais. Caminhava para seu desenvolvimento, buscava sua evolução. Cada vez mais, na dança que era a competição interna dos shinobi, ele destacava-se. Ninguém ainda sabia realmente de suas habilidades, ninguém estava de olho em sua evolução.

Mostraria a eles. Mostraria a todos. Seu arco seria retesado, a corda seria solta, a flecha estalaria ao perfurar seu alvo.

A multidão aplaudiria.

Considerações: