Eu precisava entender aquele poder... se eu quisesse ficar mais forte, tão forte quanto possível... seria necessário abraçar a escuridão daquele Selo Amaldiçoado. Mas não era tão fácil assim...

Floresta adentro eu me encontrei, acampado próximo da área em que eu enterrei o corpo de Toguro. Fiz o meu abrigo com pedras e madeira, criando um ambiente livre da chuva e protegido de olhares curiosos. Eu tinha comida para algumas noites e água abundante, além de fogo e todo o básico que eu precisava para permanecer ali.

A noite longa e fria me fazia pensar cada vez mais sobre aquela marca de Maldição... foi preciso coragem, mas finalmente eu escolhi encarar. Me sentando na frente de uma fogueira eu chamei pelo chakra... não o meu, mas sim aquela energia escura que emanou do juinjutsu quando Shishio o implantou em mim.

Como o esperado, o poder maldito respondeu facilmente, mas não sem antes trazer consigo a dor... ah, a dor... era isso o que mais me atrapalhava. Era como um fogo interno que percorria todas as minhas células... a sensação era de morte, um abismo que ativava todas as minhas defesas internas e fazia o meu corpo recuar.

Para mim estava claro... eu precisava ignorar a dor e me entregar à escuridão.

Chamei novamente pelo chakra negro e ele respondeu, ardendo como sempre, doloroso como nunca. Bravamente eu permiti que ele crescesse, e senti como se o seu poder fizesse o meu próprio recuar. A dor me debilitava os músculos e não era mais possível sentir o meu chakra correr... eu resisti mais um pouco e pude entender a vantagem do Tengu no Juin... pois após o mal estar e o sofrimento absurdo eu pude sentir uma força que jamais imaginei.

Era incrível, sombria e imponente, mas eu não entendia como controlar... a dor me fazia querer gritar, e o poder emanava de modo a fazer a minha mente se perder. Eu me sentia selvagem como um animal, incapaz de pensar claramente.

Resolvi então fazer o obvio, manter aquele estado pelo maior tempo possível para o meu corpo se acostumar... e foi exatamente como eu pensei, a dor diminuiu com o passar das horas e ao entardecer eu já podia sentir o meu chakra correndo novamente, como se entrasse em sintonia com o chakra negro que me parasitava.

Foi preciso força de vontade para aguentar, mas na quinta hora a dor cessou totalmente e se transformou em prazer... era delicioso sentir tamanha força, mas a loucura aos poucos invadia a minha mente. Eu via coisas, demônios querendo me levar, mortos arrastando pelo chão e o meu passado diante dos meus olhos...

Pois bem, agora eu precisava dominar a loucura do Selo.

O desafio mental era ainda mais difícil, pois as alucinações eram tão convincentes que eu me perdia entre fantasia e realidade. Eu realmente acreditava no que estava vendo, todas as figuras pareciam reais para mim, de modo que eu sentia que poderia toca-las ou me ferir.

Em raros momentos eu recobrava a consciência e percebia que uma parte do meu consciente lutava para se manter no mundo real. Nesses raros momentos eu percebi o segredo para dominar o controle mental: eu precisava decifrar tudo aquilo.

Então eu encarei os monstros, fantasmas, os vermes e as lembranças... aceitei cada uma delas, gritei de volta, sorri e me enfureci... eu mostrei quem é que manda. Deixei claro para a minha mente que eu não me prendo aos traumas do passado, que nada daquilo me faria enlouquecer... eu não temia o abismo e nem a loucura. Tudo o que me interessava era recobrar o controle.

Fechei os olhos e me lembrei de quem eu sou, Ryoma, um assassino... me lembrei do meu mestre e de cada vida que tirei. Organizei a minha mente e aos poucos fui apagando cada uma das visões... conversei comigo mesmo e repeti: “nada disso é real”, e aos poucos eu fui voltando ao controle.

O mundo permanecia o mesmo, como esperado... e agora eu estava no controle daquele sublime poder.