Poder... Poder... eu cheguei à conclusão que essa palavra representa a minha vida. Foi por Poder que Shishio me adotou, quando viu o monstro de chakra que sou e até onde eu poderia chegar. Foi por Poder que ele me criou e me treinou, me transformando em uma arma para os seus objetivos. Foi também por Poder que eu trilhei os meus caminhos, pois eu busco poder com o objetivo de ser capaz de servir aos interesses do meu mestre. Hoje o seu objetivo é Isirus Senju, um sujeito que é a personificação dessa palavra... Poder.

Durante muito tempo eu vinha treinando, me aprimorando, buscando ficar pronto para o grande desafio de lutar contra um Kyūseishu. Eu me sentia pronto, eu me sentia forte... mas o Mestre sabe de todas as coisas. Shishio me chamou em um fim de noite e me disse que não importava o quanto eu treinasse, o quanto eu me esforçasse... Isirus tinha algo que ia muito além das capacidades físicas ou da experiência em combate. Isirus Senju era um monstro... e para derrota-lo eu também deveria me tornar um.

Os olhos de Shishio brilharam quando ele colocou uma marca em meu pescoço, um selo amaldiçoado. Aquele foi o seu presente para mim. Mas como tudo na minha vida, eu precisaria merece-lo... eu precisaria me mostrar digno de carregar o Poder.

O chakra armazenado na marca era vil, pesado, e as consequências que ele trazia eu senti em cada célula do meu corpo. Dor..   dor como nunca senti. Eu me vi prostrado no chão frio e sem conseguir me mover. Eu não sentia mais nada além da dor, e aquele era o meu teste... o inferno que eu precisei passar para merecer o Selo Amaldiçoado.

A dor era tão absurda que eu me retorcia, rolando pelo chão enquanto os meus músculos queimavam e o sangue fervia. Eu sentia que o fogo do inferno fazia parte de mim, me cozinhando por dentro. Não havia posição reconfortante, e nem havia nada a se fazer. O sofrimento era inevitável.

Em dado momento eu senti que meus órgãos não funcionavam mais como deveriam. Doía respirar, como de respirar fosse algo errado, como se meus pulmões estivessem me punindo, rejeitando o ar, buscando a minha morte. Até mesmo o ato de pensar era insuportável. O mundo girava sem parar, em todas as direções, e cada pensamento meu se embolava em lembranças tristes e dolorosas, trazendo também uma injúria mental que podia se equiparar à física.  A confusão mental me impedia de pensar racionalmente, me fazia desejar a morte e buscar forças para apenas pedir por socorro. Mas o socorro não viria... Shishio me olhava sem dizer nenhuma palavra, apenas esperando que eu fosse passar por aquilo.

Era um inferno meu, meu próprio martírio.

Eu comecei a tentar me organizar durante a tormenta... tentei acalmar primeiro a minha respiração, mesmo sofrendo a cada uma, mas eu tinha que tentar. Eu cadenciava para não sufocar, e insistia para que o ar entrasse na velocidade correta... usando o folego para me desassociar do sofrimento, esperando que tal ato amenizasse alguma coisa. E amenizou... aos poucos meus pulmões memorizaram o ritmo correto, e o cérebro agora oxigenado me permitia racionar.

Reduzindo a minha própria frequência e controlando a respiração, eu conseguia resistir à dor insuportável, mas logo o desafio passou a ser mental. Uma série de lembranças dolorosas começou a invadir a minha mente, lembranças de uma vida apagada, que se resumia a seguir as mais violentas ordens do meu mestre. Cada assassinato, cada tortura, e também uma rotina de treinamentos terríveis, tudo passou pela minha cabeça como um turbilhão de recordações confusas... aquilo quase me enlouqueceu.

Eu senti o meu corpo amolecer e em seguida tudo ficou escuro. Eu estava num vazio infinito, onde não havia luz. Foi então que eu vi uma luminosidade esverdeada ao longe, e aquela luz foi se aproximando até que eu pude ver ele... Isirus Senju... parado ali na minha frente. A figura do Kyūseishu começou a crescer de tamanho, e eu senti que deveria enfrenta-lo ali, agora, como Shishio ordenou. Ele era o meu objetivo, o meu desafio... a ordem final de Shishio. Mas eu não conseguia, era impossível me mover... Isirus se transmutava em um monstro horrendo e estava cada fez mais perto, vindo em minha direção com presas e garras prontas para me destroçar.

Eu sabia que era uma ilusão do meu inconsciente, mas eu tive certeza que se morresse ali... significaria também a morte do meu corpo físico. A alucinação nada mais era do que uma forma do meu cérebro figurar o que estava acontecendo com a matéria. Eu estava perto do fim.


Quando o monstro se aproximou, eu comecei a me lembrar do mundo... de Kumogakure e de cada lugar que eu visitei. De repente eu percebi que eu deveria sobreviver, não só por Shishio... mas por mim. Eu queria ver o mundo, eu queria ser significante, ser necessário... amado ou temido... eu queria... ser. Simplesmente ser... pois até o momento eu não fui ninguém senão uma ferramenta ninja. De onde surgiu esse desejo de viver a minha própria história? Eu mereço isso? Tais dúvidas me atormentaram... me prenderam no pesadelo... mas quando eu finalmente fui sincero comigo mesmo, o monstro recuou.

Eu quero viver... e eu quero ser o Ryoma... dono de mim.  E para isso eu precisei me levantar... e assim o fiz.

Ryoma se levantou com o corpo coberto por marcas negras. O chakra que o jounin exalava era assustador, fétido, mas poderoso. Ele olhou Shishio nos olhos, como nunca antes o fez com tanta convicção.

- Mestre... não... meu pai. Eu quero ser a sua arma perfeita, eu quero ajuda-lo a deixar a sua marca no mundo, como você sempre me ordenou. Sim, eu quero! – Falou para Shishio

Seus Byakugans brilharam como nunca, e o chakra tornou-se ainda mais forte.

- Mas um dia... um dia... eu quero ter a minha própria vida. Eu quero deixar a minha marca, também. Eu vou trazer o Kyūseishu... vou mata-lo e lhe dar o seu corpo, assim como deseja. Depois disso, Shishio-sama, me deixe viver. Viver a minha própria vida. –

Naquele momento, os olhos de Shishio se arregalaram, incrédulo. O velho homem não entendia de onde surgiu aquela força de vontade... pois o cotação vazio de Ryoma era o seu melhor trabalho. Uma criança sem lembranças, sem vontade própria, sem sonhos e sem medos... como Ryoma estava se libertando? Ele se questionou.

- Você é meu para sempre, Ryoma-kun. – cerrando os dentes ele proferiu.

Ryoma então desmaiou, exausto, e o selo amaldiçoado recuou até uma marca centralizada em seu pescoço.