ㅤㅤSua derme já sentia os efeitos negativos do sol àquela altura; vermelhidão e ardência. Preciso encontra-lo logo, pensou olhando por cima da multidão que perambulava pelo centro do vilarejo. O estudante que ele estava procurando já havia desaparecido a quase quatro horas, o que o preocupava seriamente. Em seus pensamentos tentava conjecturar para onde iria uma criança de oito anos caso ela fugisse, algumas hipóteses lhe pareceram mais plausíveis do que outras. Foi até uma loja de bugigangas, artefatos e relíquias, um senhor quase cego e de voz vacilante o recebeu lhe indagando sobre o que procurava, um rápido olhar panorâmico e Eru teve certeza de que o garoto não estava ali, era tudo muito antigo e com um odor não muito agradável.

ㅤㅤQuando se dirigiu ao estabelecimento que vendia lámen e outras sopas o jovem Kaguya já estava mais confiante, o lugar, para o seu azar estava cheio de crianças com seus pais, mas isso não o desestimulou. Procurou pelas características do imberbe em questão e não as encontrou em nenhum dos presentes. Um barulho do lado de fora chamou sua atenção.

ㅤㅤ– Temos o sorvete mais gostoso da aldeia! Venham experimentar nosso mais novo sabor: névoa açucarada. – Ouviu um homem gritar. Pôs os pés para fora do restaurante de lámen e a alguns metros uma banca recheada de doces estava atraindo uma pequena multidão. Aí está, te achei! Defronte a bancada um garotinho miúdo de cabelos dourados e encaracolados pedia ansiosamente para experimentar o novo sabor do sorvete, mas aparentemente não podia pagar por ele. Eru andou até chegar atrás dele, sinalizou com o número quatro para o dono da banca, que logo lhe entregou os gelados, o menino arregalou os olhos para Eru, que devolveu com um sorriso plácido.

ㅤㅤ– Aceita um? – Perguntou estendendo o sorvete até o garoto. O menino acenou com a cabeça e levantou a mão para pegar, quando Eru rapidamente puxou de volta. – Mas só se voltar pra academia ninja comigo. – Ele olhou para baixo, depois para cima e percebeu que não tinha escolha.
ㅤㅤ– Ta! Mas eu vou querer mais um. – Disse emburrado.
ㅤㅤ– Combinado.
ㅤㅤA dupla foi andando de volta enquanto o pequeno tagarelava sobre como odiava as aulas, as disciplinas e principalmente seus professores.
ㅤㅤ– Porque eu tenho que ser um ninja, hein? Odeio isso. – Esbravejou. Eru o entendia, também não fazia parte de seus planos ter se tornado um.
ㅤㅤ– Você não quer ficar forte e proteger a si mesmo? – A voz do Kaguya sempre soava taciturna.
ㅤㅤ– Eu já posso me proteger, não preciso daquelas aulas idiotas.
ㅤㅤ– Porque você não se foca nas coisas boas? Seus amigos por exemplo, pode protege-los também? – Aquilo fez o garotinho pensar.
ㅤㅤ– Eu não tenho tantos amigos, só o Takata e ele já é bem forte.
ㅤㅤ– E ele vai ficar ainda mais forte, porque assiste todas as aulas e participa de todos os testes, vai deixar que ele ultrapasse você? – Provocou.
ㅤㅤ– Não! – As bochechas avermelharam-se.
ㅤㅤ– Então passe a frequentar as aulas todos os dias, quero ver você se tornar cada vez mais forte.
ㅤㅤ– Eu irei então, não vou faltar mais nenhum dia sequer, você vai ver, se quiser pode até ir conferir.
ㅤㅤ– Eu irei, pode ter certeza disso. – Os olhos calmos de Eru fitaram os cabelos do garoto balançando enquanto chegavam de volta na academia. Chegaram antes que escurecesse, e um dos professores estava aflito esperando pelo desaparecido.
ㅤㅤ– Ainda bem que o encontrou! Obrigado jovem Genin. – O mestre disse, apanhando o garoto pela mão. – Você está encrencado mocinho! – E foi levando o menino para dentro do lugar. Antes que ficassem distantes demais o pequeno se virou e gritou:
ㅤㅤ– Ei, você não me disse seu nome.
ㅤㅤ– Eru. – Ele queria poder ter gritado mais alto.
ㅤㅤ– O meu é Enko! Venha me ver Eru, vou ficar forte como eu te disse, eu juro! – Eru sorriu e confirmou que iria.

ㅤㅤO sol se foi assim que ambos se foram.

Notas:

ㅤㅤA viagem de navio o exauriu, não estava acostumado a viajar além-mar, mas sobreviveria. Naquele momento ele e a comitiva que o acompanhava estavam em território do país da lua, rumando a sua vila oculta. Em uma das carruagens havia grãos, legumes, uma quantidade de frutos do mar e várias espécies de peixes naturais das ilhas de Uzushiogakure. A outra carruagem estava abarrotada de armas, cortantes, perfurantes e explosivas, além de pergaminhos e livros. Sabendo que a segunda carruagem poderia ser alvejada por ladrões e salteadores no caminho, Eru foi enviado com mais dois ninjas da névoa para escolta-la em segurança até o destino.

ㅤㅤAquela era sua segunda missão como um Genin e já estava viajando para fora da jurisdição de Kirigakure, fato que quase o deixou confuso, eles não iriam me deixar sair da vila se não houvesse esses dois, olhou os dois ninjas que estavam o acompanhando, sentados com ele no interior da carruagem. O homem a sua esquerda era esquálido, de nariz pontudo e olheiras fundas, sua bandana da Névoa cobria seu olho esquerdo, semelhante a um tapa olho, o da direita era mais robusto, mas sem músculos, com vestes típicas dos ninjas de Kiri, porém o que mais chamava a atenção era sua cabeça, inteiramente raspada. Os dois indivíduos eram antipáticos e rudes, e reclamaram mais de uma vez dos desvios que tiveram que fazer ao longo da viagem. Estão aqui só para me vigiar e reclamar pelo visto, se formos atacados agora mesmo garanto que nenhum deles fará nada.

ㅤㅤEncontravam-se a meio dia de chegarem aos portões da Vila da Lua quando escureceu, o jovem ninja sabia que era perigoso as viagens àquela circunstância, por isso dobrou sua atenção. Tsukigakure não era conhecida por seus ninjas, então era de se esperar que seus arredores não fossem bem guarnecidos, ambiente propicio para que ladrões e vagabundos perambulassem livres. A noite tornou-se cada vez mais escura e densa, os obrigando a parar e a darem seguimento a viagem só ao amanhecer. Os cocheiros e Eru decidiram se assentar próximos a uma árvore imponente e excessivamente folhosa.
ㅤㅤ– Vou fazer uma pequena ronda pelo perímetro. – O jovem Kaguya avisou.
ㅤㅤ– Eu vou com você! – Levantou o de cabeça raspada com a feição mal-humorada de sempre. É claro que você vai, ele já imaginava aquilo. Não teve outra escolha senão aceitar a companhia indesejada, até quando aguentaria a vigilância constante? – E você, fica de olho nas carruagens, se houver qualquer coisa grite alto e nós voltaremos, entendeu? – Proferiu olhando para o magricela, que acenou com a cabeça, porém com desestima. Eu estou ferrado com esses dois irritantes.

ㅤㅤO brutamontes vinha logo atrás dele. A mata não era tão diferente das existentes no país da água, as árvores eram esguias e com espessas folhagens verde musgo. Alguns roedores também podiam ser vistos esgueirando-se atrás de comida, assim como ladrões e salteadores os roedores tinham hábitos noturnos. Estava quase completando cento e oitenta graus de ronda quando escutou um grito estridente, seguido do relinchar de cavalos, droga!

ㅤㅤFoi obrigado a usar o Shunshin no Jutsu para encurtar o tempo de chegada até as carruagens, o boçal que o acompanhava não foi tão veloz, mas também redirecionou-se de volta. Eru cortou o ar num salto e teve um rápido vislumbre da situação; eram quatro, três homem e uma mulher, já tinham rendido os dois cocheiros e o ninja que ficara para trás. Os longos cabelos do púbere esvoaçaram-se quando ele aterrissou detrás de dois dos ladrões, estavam tentando abrir a parte traseira do transporte contendo os armamentos e por isso não notaram sua chegada. Eru encaixou uma rasteira no primeiro derrubando-o instantaneamente, quando o segundo percebeu a queda do parceiro escutou quase que de imediato o som do aço cortando o vento e quando se deu conta estava preso a carruagem por uma kunai, cravada entre sua roupa superior e a madeira do veículo.
ㅤㅤ– NINJAS! – Gritou o meliante caído. – CORRAM! – Os dois que estavam mais distantes e ambos os cavalos se assustaram e recuaram na mesma hora, sumindo floresta a dentro.

ㅤㅤUm pouco ofegante o último dos três companheiros de Eru se juntou a cena, mas ela já estava terminada. Abaixou o corpo até o ladrão caído.
ㅤㅤ– Por favor não me machuca, só roubamos pra sobreviver. – Alegou.
ㅤㅤ– Aquela carruagem tem comida. – Apontou. – Por que não a roubaram então? – O bandido ficou mudo como a floresta que os cercavam. Os cocheiros assustados se levantaram, ainda desnorteados.
ㅤㅤ– É melhor seguirmos em direção a Vila agora mesmo, se ficarmos aqui podemos receber outro ataque, se estivermos em movimento será mais difícil de recebermos uma investida surpresa, além de que quanto mais próximo do destino chegarmos mais segura deve ficar a estrada, acredito. – Vociferou um dos condutores.
ㅤㅤ– Você está certo. – Assentiu o jovem. – Vocês dois, amarrem eles. – Ordenou.

ㅤㅤA contragosto eles obedeceram. O girar das oito rodas rumava agora os portões do vilarejo da Lua, mas só cruzariam a entrada horas depois que o sol já tivesse aparecido. Cansado e apreensivo, Eru só conseguiu repousar quando o céu já os cobria com um pálido azul, que foi quando julgou que os perigos seriam menores. Despertou trinta minutos antes de chegarem, com a balburdia causada pela Vila aumentando conforme se aproximavam. Ele sentiu um leve alivio quando ouviu uma voz pedindo para que parassem; era um guarda. Quando olhou pela janela já estava rodeado de pessoas, finalmente chegamos.

ㅤㅤUm homem descarregou as entregas, tinha o símbolo de uma lua crescente em sua bandana e um olhar receptivo. O jovem Kaguya foi ajuda-lo.
ㅤㅤ– Obrigado. – Remerceou. – Vocês tem nossa hospitalidade essa noite. Temos quartos disponíveis e comida quente, por um preço muito acessível. – Parecia uma boa, recompensaria o sono e o estômago pela noite anterior

ㅤㅤLevou o hachi a boca enquanto observava o brutamontes careca empaturrar-se de carne de javali, o magro por outro lado não comia nada. Se não estivesse tão fatigado até permaneceria mais tempo no salão, mas seu corpo cobrou a noite que perdera e ele não pôde ignora-lo. O quarto, pequeno e simples serviria para acomoda-lo, já dormir em condições piores, um lapso de sua infância passou sobre seus olhos, lembrou-se da pequena cabana que ele chamou de lar por mais de dez anos, não quero lembrar disso, deitou e forçou os olhos a se fecharem.

ㅤㅤUm fino e morno raio solar entrou pela fresta da janela do quarto no outro dia, avisando-o que já era hora de partir. Frente ao estabelecimento as carruagens já estavam preparadas para deixarem a Vila da Lua. Tomou o desjejum tão rápido que nem pode se despedir do ninja hospitaleiro que trocou palavras no dia anterior, não sou bom com essas coisas, ele vai entender.

ㅤㅤQuando entrou na carruagem a dupla desagradável já estava esperando por ele.
ㅤㅤ– Demorou, estava penteando os cabelos? – O robusto o provocou.
ㅤㅤDevo responder? Decidiu que não. Tudo o que o homem recebeu de volta foi um olhar entediado junto de um silêncio prepotente que perdurou por muito tempo.
ㅤㅤ– Estamos saindo! – O cocheiro avisou, segundos antes de dar partida nos cavalos.
ㅤㅤO que será que aguarda você, Eru? Será que teu destino brilhante esta sendo escrito nessas pequenas linhas ou tudo isso é o máximo que você conseguirá fazer? Conversava consigo, portanto que me surpreenda não me importo...

Notas:

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