Fazia muito calor esse dia e de todos os ninjas de Iwa, eu fui o escolhido para patrulhar abaixo do sol escaldante. Caminhando pela área de patrulha poderia notar o cenário que menos me agradava, poucas árvores e as que tinham estavam secas, animais quase mortos se arrastando pelo chão, um perfeito show de horrores. Continuei fazendo minha patrulha torcendo para que não durasse muito tempo me afastando um pouco do vilarejo até uma área onde poderia ouvir alguns sons estranhos. Não podia dizer se eram agradáveis ou não, mas segui-los me levou a uma espécie de templo, um lugar que nunca havia visto em toda minha vida. Próximo a esse templo haviam também algumas residências pequenas próximas a um lago.  Os animais nesse lugar também pareciam diferentes do que vi antes, tudo parecia normal.

*Como pode existir um lugar assim por aqui?*

Pensei, por um breve momento, porém quanto mais tempo passava ali, mais e mais pesado o clima ficava e o que sentia era sofrimento e melancolia, os sentimentos que mais desprezo, aquilo parecia um pesadelo. Os sons continuavam e de certa forma atraíam a minha atenção para mais próximo do templo. Era um canto esquisito, uma língua de que eu não tinha conhecimento, ainda não podia distinguir se era agradável ou não, mas eu poderia descobrir do que se tratava se o seguisse.

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O templo circular possuía um enorme altar no centro e era enfeitado com diversas estátuas esquisitíssimas, tudo muito bem visível devido a luminosidade das diversas tochas. Nada que me chamasse mais minha atenção do que o fato de eu não estar sozinho ali, haviam dezenas de pessoas vestidas de branco viradas de frente ao altar tocando instrumentos além de algumas mulheres que com os braços estendidos para o alto entoavam os prováveis sons que me trouxeram até aqui. Tudo muito esquisito até para mim.

*Que diabos é isso? Uma seita?*

Eu me aproximava vagarosamente do local, não queria chamar atenção, pude chegar perto o suficiente para ver quatro velhos de preto sentados e ao centro deles um garoto loiro com marcas por todo corpo, as marcas eram amarelas como se pegassem fogo. Contive-me por alguns minutos até que as marcas que outrora pareciam pegar fogo se tornavam negras e os homens gritavam que o garoto estava vivo, fazendo com que todos no local aplaudissem.

—Essas marcas... Eu já havia visto marcas como aquela antes, talvez se eu mostrasse a minha marca eles pudessem me dizer o que ela significa.

—Ei vocês! Me digam o que isso significa! Eu gritaria alto o suficiente para tentar chamar a atenção dos velhos enquanto caminhava na direção do altar puxando a minha camisa para exibir em meu ombro a marca misteriosa que me foi dada.

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Aparentemente a minha chegada um tanto quanto abrupta assustou boa parte das pessoas que estavam ali, porém, não aos velhos que estavam com aquele garoto no altar. Fui questionado por um deles sobre quem era e como havia conseguido a marca.

—Quem eu sou? Isso realmente importa? Só saiba que eu sou um ninja. Eu não pedi por isso no meu ombro, eu fui pego por um maluco que me levou desacordado pra uma espécie de laboratório e me deu essa marca.

Logo os velhos me cercavam, estavam próximos demais de mim num movimento um tanto esquisito. Então um outro velho me perguntou se eu sabia o que era aquela marca.

—Não sei nada sobre esse troço, o cara simplesmente colocou sei lá como essa coisa em mim, disse que era um experimento e que me daria poder... Eu diria colocando uma das mãos na testa como se organizasse os pensamentos.

—É... Eu já vi uma pessoa com essa marca por todo o corpo como esse garoto, eu tentei conversar com ela pra entender a minha marca mas esse diálogo não deu muito certo. Vocês parecem saber o que isso significa, me digam o que faço com isso.

Não acabou muito bem para a pessoa que encontrei com a marca da última vez e foi desvantajoso para nós dois, eu não queria cometer o mesmo erro daquela noite então eu tentei não fazer nada precipitado. Eu só queria que aqueles velhos me dessem uma dica do que se tratava aquela marca.

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Uma forma de amplificar meu poder que iria deteriorar minha vitalidade, de fato uma maldição mas que tem suas vantagens, isso soava interessante e até divertido. Os velhos seguiam falando das vantagens que a marca teria sobre minha velocidade e força e quanto mais eles explanavam o assunto mais e mais interessado na marca eu ficava, porém um deles disse que o homem que me deu aquela marca tinha intenções malignas de me tornar um hospedeiro. O velho disse que a cada vez que eu usar esse poder mais e mais a minha mente seria dominada pela pessoa que havia me dado a marca e no fim ele viria até mim para tomar o meu corpo.

—Quem me deu essa marca... eu já enfrentei ele, quer dizer, não foi um combate por que eu dominei a mente dele e nem dei chance para me atacar, mas ele continua vivo...

Foram me dadas as opções de selar a marca de forma que não teria problemas com ela ou de dominar o seu poder. Tudo que aqueles velhos falavam parecia muito atrativo e o preço a se pagar parecia razoável apesar do grande risco de ter outra pessoa no meu corpo.

—Tudo isso parece muito excitante, todo esse poder que vocês falam vai me ser útil. Eu quero domina-la, mas eu não sei nada sobre ela. Me ajudem.

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Depois de minha fala, os velhos indicaram que as pessoas com instrumentos iniciassem novamente a melodia que me trouxe até ali, em seguida eles me indicassem que eu seguisse os passos que fossem dados por eles. Eu segui, sentando me no meio deles. Após uma sequência de selos de um dos velhos, ele colocaria a mão sobre minha cabeça e a partir disso eu passei a sentir minha energia se esvaindo do meu corpo, de repente eu fui perdendo o meu prumo, minha visão ficou turva e até o ponto em que tudo que podia ver era escuridão.

Apesar de não ser capaz de sentir dor, uma grande agonia se espalhava pelo meu corpo partindo do meu ombro, era uma sensação que nunca havia experimentado em toda minha vida. De repente naquele mar de escuridão surge um ser completamente branco, dos pés a cabeça, tudo era claro naquele ser. Era como se olhasse no espelho e visse a mim, porém completamente limpo.

—Ei! Que porra tá acontecendo? Eu gritava tentando chamar a atenção dele, porém não parecia me ouvir.

De repente dos pés a cabeça algo escuro começou a tomar o seu corpo lentamente, quando me dei conta tudo que era puro naquele ser tornava se escuro e sombrio. Eu esticava meu braço e tentava alcançá-lo e a medida que fazia isso, seu braço ia de encontro ao meu como se pedisse ajuda, mas eu não conseguia tocá-lo. Todos os sentimentos ruins que absorvi durante anos de abuso, toda a escuridão que preencheu meu consciente e que me mudou, as lembranças amarguradas do meu passado faziam com que eu tivesse compaixão por aquele ser.

O ciclo estava chegando ao fim, apenas os braços e o rosto daquele a minha frente estavam limpos e a escuridão já os alcançava, foi quando percebi que meu braço, assim como o dele, tornava se escuro também. Aquilo a minha frente era apenas o meu reflexo, era eu quem estava sendo tomado pela escuridão e o meu subconsciente tentava me mostrar isso.

*Não... eu não quero sentir a escuridão em mim novamente, eu não vou entregar você a ela, não dessa vez!* Eu pensava olhando para o meu reflexo.

—Eu sempre fui independente e por mais escuridão que recebesse do mundo, sempre brilhava luz aqui dentro de mim. Eu sempre estive lá por mim mesmo e eu nunca irei me abandonar. Eu não preciso que ninguém tome meu corpo e me diga o que fazer, eu já tenho tudo que preciso!

Eu tentaria arrancar toda a escuridão de mim com minhas próprias mãos, nem que precisasse rasgar a minha pele para isso.

—Nós vamos ficar bem. Dizia ao meu outro eu.

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