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Era uma manhã levemente úmida naquele fatídico dia. Estranhamente, Ren ainda não havia se levantado da cama, estava esperando dar sua hora de partida para que finalmente fosse buscar a solicitação de sua missão apenas na parte da tarde. Ainda assim, ele não estava com uma sensação boa naquele dia, mas aquilo não iria acabar com sua energia, limpou os pensamentos negativos e levantou-se num salto, deixando sua cama com os cobertores amassados e o travesseiro ainda com o formato de sua cabeça.

Fez toda sua higiene matinal, colocando uma outra roupa para aquela ocasião, trajando uma camisa preta mais justa no corpo, cobrindo ela com uma jaqueta num tom bege, as calças mantinham-se as tradicionais de moletom, pois ainda eram as preferidas na questão de movimentação para Ren, calçou suas sandálias ninja na coloração preta e finalizou com a tradicional bandana no braço, sem se esquecer da sua famigerada bolsa de armas que ficava presa em suas costas para um rápido manuseio das lâminas. Decidiu comer alguma coisa leve antes de sair, já que seu avô não estava em casa, preparou um rápido sanduíche com ovos cozidos. Assim que os terminou, foi comendo no caminho até o Gabinete do Mizukage, que era uma grande reta na direção de sua casa. Como havia saído mais cedo do que havia previsto, foi sem demora até o local, acompanhando o horário conforme o sol se movia nos céus azulados da Vila Oculta do Redemoinho.

Ao se aproximar, um ninja de alta patente, Jounnin, o esperava próximo da entrada, achou que finalmente se encontraria com o Mizukage, mas aquilo iria ficar para outra hora, Ren engoliu a última fatia de pão enquanto ouvia as instruções atentamente, a sensação de ansiedade, animação e nervosismo se misturavam enquanto o Jounnin lhe passava cada detalhe, já era pra ele estar acostumado com esse tipo de situação, mas para Ren é sempre como se fosse a primeira vez, e talvez era isso que o movia sempre pra frente.

Assim que Ren terminou de ouvir os detalhes da missão, finalmente pegou o pergaminho e se despediu com uma reverência, em sinal de respeito pela alta patente do Jounnin. Sem delongas, foi em direção ao portão da vila caminhando, enquanto lia o pergaminho atentamente.

- Jyin Atsushi então, espero que essa missão não me traga problemas grandes. – Pensou Ren, enquanto já podia ver no fim do seu trajeto os portões da vila, que naquele momento tinha pouco fluxo de civis, apenas os ninjas que cuidavam daquele lugar que em sua maioria eram Jounnins.

Ren engoliu em seco e procurou por alguém que se encaixasse com a descrição de um gennin, sabia que não procuraria por alguém próximo da sua faixa etária, já que Sokudo havia se tornado um Shinobi tardiamente. Próximo de um dos portões da vila o ninja viu um menino, não parecia ter mais que 10 anos de idade. Se aproximou do mesmo, colocando o pergaminho junto com suas armas.

- Olá! Você deve ser Jyin Atsushi, certo? – Perguntou, pois precisava confirmar a identidade do garoto. – Meu nome é Sokudo Ren, irei escolta-lo nesse treinamento!

Esperando a resposta do garoto, Ren olhou os arredores, a partir do momento em que passassem dos portões da vila, ele precisava ser extremamente meticuloso e ficar atento a tudo ao seu redor, já podia sentir seu coração bater mais rápido, como se estivesse pronto pra ter um pico de adrenalina a qualquer momento.

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No momento em que o gennin mais velho encontrou o mais novo, Ren soube que teria problemas no momento em que seus olhares se encontraram. O olhar superior do garoto lhe provocava um certo tipo de ódio, levemente conhecido, mas nada que ele não pudesse engolir para que a missão fosse feita da melhor forma possível. Já havia encarado garotos como ele antes, apesar de saber que discutir com ele nesse momento seria a pior decisão, apenas respirou fundo e começou a andar próximo a ele, enquanto ouvia atentamente o farfalhar das folhas e as brisas suaves dançando pelos troncos da vegetação ao seu redor.

Ainda assim, Ren pode analisar que Jyin era um garoto que sentia a falta de seu pai em casa, deveria ser um homem muito ocupado com a sua empresa, não sabia direito qual a posição o rapaz ocupava, mas para ter um filho ninja, supôs que não era um alto escalão. Ajeitou a bandana em seu braço enquanto caminhava com o jovem gennin, pensou que poderia tirar mais informações do garoto, sem responder a provocação do mesmo.

“Podemos ver quem é o mais forte quando trocarmos socos” pensou Ren, dando uma leve bufada no fim de seu pensamento, como se quisesse se acalmar um pouco. Se aproximou mais de Jyin, afim de deixar suas palavras claras para ele.

- Você deve ser bem especial, já que seu treinamento é em uma cachoeira relativamente longe da vila e o caminho até lá é bem peculiar, nós passaremos próximos às fronteiras, então talvez tenham me chamado para garantir que uma possível luta que possa ocorrer não fosse injusta, mesmo sendo muito forte, sempre é bom ter um apoio, certo? E afinal, que tipo de treinamento é esse? Me parece que a cachoeira é bem especial pra você, já que ela tem essa localização, imagino que seja uma prática recorrente sua. – Disse, com o tom de voz visivelmente interessado no garoto, puxar um papo com ele poderia ser um bom caminho para que a relação deles não fosse muito tóxica durante a missão. Ajeitou o seu casaco bege em seu corpo enquanto esperava a resposta do rapaz. – Você mencionou seu pai mais cedo, ele parece ser bem ocupado, não é?

Com essa pergunta, Ren poderia extrair mais informações sobre a família do jovem Jyin, já que poderiam ser pessoas importantes na vila e assim ganhar a confiança do garoto poderia ser o primeiro passo para poder alavancar sua patente militar naquele lugar, já que ele poderia recomendar Sokudo para missões futuras. Porém ao mencionar o pai do jovem, Ren automaticamente lembrou de seu próprio pai, ele tinha sorte de ter um pai, mesmo que não esteja presente, foi carinhoso o suficiente para pensar na segurança do filho em primeiro lugar, a saudade bateu no coração do jovem shinnobi, mas deixou os sentimentos de lado naquele momento para que pudesse focar em seu objetivo.

Olhando ao redor, os caminhos estreitos por entre as árvores não permitiam que Ren enxergasse muito os arredores, o que deixava o gennin levemente nervoso, sua mão estava pronta para retirar uma kunai de sua bolsa de armas para que a sensação de estresse melhorasse um pouco, como se a arma desse mais segurança para ele.

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As palavras do garoto deixaram Ren em alerta. Jutsus mentais nunca foram seu forte, tanto para realizar quanto para se livrar deles, para falar a verdade, ele era um total desastre em relação a esses jutsus. Sabia que a maneira mais fácil de sair de um genjutsu era através da dor, mas não esperava chegar nesse tipo de situação. Ainda assim, Ren estava pronto para fazer o possível para o sucesso da missão.

Enquanto o garoto falava, Ren prestou atenção nos caminhos, não tinha observado muito bem o mapa então em breve ele iria dar uma olhada para certificar-se de que estavam no trajeto correto, apesar de aquelas florestas serem levemente familiares a ele quando ele fez uma viagem até a Vila do Redemoinho, no ano passado, onde ele se tornara um ninja em alguns meses. O ocorrido com seu pai ainda era muito fresco na memória dele, então Ren pensava se aquele tipo de empresa que o pai de Jyin trabalhava era a mesma empresa que sacrificou seu pai como forma de punição, na frente de todo o vilarejo.

“As chances são muito baixas..., mas não posso deixar esse detalhe escapar. ” Pensou Ren, enquanto caminhava próximo do gennin mais jovem. Os bandidos da região eram usuários de Genjutsu, e apesar da especialidade em Taijutsu de Ren, ele tinha que enxergar os bandidos primeiro e nocautear eles antes que eles possam sequer realizar o jutsu, esse sempre foi seu tipo de pensamento e continua sendo, mas se pergunta se conseguiria lutar com muitos ao mesmo tempo.

- Vamos parar um pouco, preciso checar o caminho. – Disse Ren, abrindo o pergaminho próximo ao chão. – Sabe o que pode ser legal? Você me ensinar umas técnicas para escapar de Genjutsu, já que você realiza esse tipo de treinamento especializado, e eu te ensinar umas técnicas incríveis de Taijutsu. Podemos conversar sobre isso quando nos aproximarmos da cachoeira, o que acha?

Enquanto esperava a resposta do rapaz, Ren percorria com seu indicador os caminhos que o mapa traçava, revendo seus passos até então para garantir que estavam no caminho certo, a princípio Ren podia achar que sim, mas decidiu confirmar.

- Jyin, já que você já realizou esse trajeto muitas vezes, me avise se nos desviarmos do caminho ou se não reconhecer algum local, certo? Temos que ser precavidos aqui. – Disse sério, Ren nunca foi uma pessoa que puxava a liderança para si, mas sempre era bom manter o gennin avisado.

“Ainda assim, se passarmos por um lago com água corrente, pode ser o melhor indicador de que estamos no caminho correto, mesmo que estejamos nos arredores. ” Ren fechou o pergaminho após se certificar de que estavam no trajeto correto, guardando-o novamente em sua bolsa de armas e colocando a mão ali, pronto para puxar uma Kunai a qualquer momento.

- Fique próximo de mim, não podemos ser surpreendidos por aqui. – Seu tom de voz era baixo, tentando não atrair atenção para eles.

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Jyin o respondia em tom de deboche, que se não fosse pela frieza de Ren, facilmente iria levar aquilo para o lado pessoal, ainda que no fundo o orgulho de Ren fosse ferido. Aparentemente eles ainda estavam em um trajeto cercado de árvores, a partir dali o caminho seria difícil, mas Ren não poderia se preocupar. Após voltarem a andar e guardar o pergaminho, Ren sentiu o ar gélido cobrir seu corpo, a mudança repentina de temperatura fez seu corpo se arrepiar e um frio na espinha subir por todo seu corpo. Um senhor vinha ao longe da estrada, podia ver apenas uma pequena silhueta, o suficiente para Ren puxar a kunai e mantê-la em frente ao seu corpo, pronto para uma defesa. Porém, da mesma forma que o homem surgiu, repentinamente ele desapareceu, todas as coisas estranhas que estavam acontecendo fizeram o coração de Ren palpitar mais rápido.

- Jyin, fique perto... Jyin? – A resposta do garoto não veio, ao invés disso, apenas um nada cobria o corpo de Ren, no mesmo instante, água começou a encharcar seus pés, fazendo-o ver apenas um grande mar ao seu redor. Pouco a pouco essa água ia subindo, estando no tornozelo no momento em que ele começou a se mover na direção onde o homem misterioso estava, pensando que deveria sair dali o mais rápido possível para achar Jyin, o mar subia cada vez mais, alcançando rapidamente sua cintura. O suor frio descendo pela testa do jovem shinnobi declarava sua situação, ele estava apavorado. Podia ser um ninja especialista em Suiton ou algo do tipo, mas Ren viu uma esperança. Em uma distância razoável, ele pôde ver terra firme, correu até lá, porém ao pisar na areia, percebeu que algo em si tinha mudado.

Agora o jovem de 15 anos utilizava roupas de pescadores, com um chapéu de palha em sua cabeça. Aquele lugar era familiar para ele, muito familiar. As pequenas casas e as pessoas lhe davam bom dia ao passar por ele, tudo aquilo parecia um grande “deja vu”, foi quando ele se viu na pior cena de sua vida. Ele estava atrás de uma grade, pôde ver seu pai, ele falava alguma coisa, mas Ren não conseguia ouvir, repentinamente, uma corda prendeu em seu pescoço, e antes que Sokudo pudesse se mover, seu pai foi jogado, agonizando sem ar com a corda em seu pescoço apertando cada vez mais forte, os olhos de seu pai ficavam mais avermelhados, seu rosto aos poucos ficando roxo, sua boca procurava ar enquanto salivava, desesperado.

O pai de Ren se debatia de um lado para o outro, e tudo o que Ren podia fazer era observar, seu corpo já não o obedecia mais, sua voz não saía, ele estava preso naquele momento, quando, num movimento súbito, o corpo de seu pai simplesmente parou, pendurado naquele tronco. E então, o dia virou noite, e a noite virou dia, passando o tempo rapidamente, conforme o tempo passava, Ren via o corpo de seu pai apodrecer pouco a pouco, com seus membros caindo conforme os dias iam se passando, a carne sendo devorada por diversas larvas que desciam pelo tronco, indo até a corda e por fim entrando em seus olhos e boca, seu pescoço rasgava lentamente, até que por fim seu corpo caiu no chão, mantendo apenas a cabeça presa na corda.

Por fim, o corpo do pai de Ren era agora apenas um amontoado de ossos, foi quando ele sentiu uma mão em seu ombro, virou-se para ver se era seu avô se chamando, mas aquilo era muito pior. Era o dono da empresa que executou seu pai, com um sorriso maligno e pontudo, seus olhos dourados representavam o próprio demônio que ele viu naquele dia. Foi quando Ren estava preso pelo pescoço também, ele encarava uma multidão que se localizava atrás de uma grade, e nessa multidão ele pôde ver a si mesmo, por fim, seu corpo foi arremessado e pouco a pouco o ar faltava para Ren, antes que ele sequer pudesse sentir falta do ar, o corpo do gennin entrou em chamas, podia sentir sua carne sendo derretida e dilacerada conforme as chamas subiam.

“É isso” Pensou Ren, enquanto seus pulmões encolhiam “Esse é meu fim”. E assim, Ren fechou os olhos.

Assim que ele fechou os olhos, respirou fundo..., mas o ar entrou em seus pulmões, provavelmente já estava morto e ele devia estar em algum limbo, abrindo assim seus olhos, apenas para encontrar Jyin ao seu lado.

- Vamos Ren! Pegue ele! – Gritou o garoto, ainda desnorteado, Ren entrou em modo automático. Puxou sua kunai novamente e passou a perseguir o homem, que corria 30 metros a sua frente.
- Jyin, tenta me acompanhar, ainda preciso ficar de olho em você! – Disse, correndo até o bandido que o colocou no genjutsu.

Ele não iria alcança-lo apenas correndo, então utilizou Shunshin no Jutsu para percorrer os 20 metros que os diferenciavam, o corpo de Ren se sentiu revitalizado pela onda de chakra e seu corpo disparou pelas florestas, sem perder o homem de vista, podendo alcança-lo com 10 metros de diferença utilizando apenas sua velocidade normal.
“Não vou conseguir acerta-lo desse jeito” pensou, então deu um salto, subindo no tronco de uma das árvores do local, o ultrapassou com uma diferença de dois metros e então pulou da árvore na direção contrária que ele corria, na tentativa de acertar um chute em seu pescoço e surpreende-lo com o movimento repentino por ter ultrapasso ele sem dificuldades.
“Espero que Jyin esteja bem, preciso finalizar ele rapidamente”.

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O chute de Ren acertou o bandido em cheio, fazendo-o cair no chão desacordado – afinal, não era um chute forte o suficiente para matar -. Ren se recolheu e voltou correndo para Jyin, que estava pronto para continuar o trajeto. Ambos andavam lado a lado, enquanto isso Ren pensava na ilusão em que ele havia caído, pensou que era um estilo de jutsu muito perigoso e muito ameaçador, ele havia caído sem ao menos ter entrado em contato direto com o homem.

“Eu ainda...Não sou forte o suficiente...” A vontade de chorar voltava aos poucos, mas engoliu essa vontade pois tinha que se mostrar calmo, porém sua raiva e estresse foram direcionados para seus punhos, que cerraram-se como sinal corporal para expressar esse sentimento.

Aos poucos, o clima foi ficando mais úmido e o ar mais leve, podia ouvir o barulho da água corrente e o som do impacto da água caindo, podia dizer que estavam próximos da cachoeira, mas qual não foi sua surpresa ao descobrir que na verdade já estavam no local de treinamento. Um pequeno oásis particular próprio para treinar Genjutsu, era o ambiente perfeito para esse tipo de treino, que pelo o que Ren achava, era algo que necessitava de muita calma e concentração.

- Que lindo... – Comentou, bem baixo. Era como se estivesse pensando alto, não pretendia falar nada, mas a admiração pelo lugar fez com que as palavras simplesmente saíssem de sua boca.

Ouviu o comentário de Jyin, o garoto deveria estar muito feliz de ver que alguém precisava dele, seu senso de superioridade só havia aumentado naquele momento, o sorriso dele indicava exatamente isso. Porém Ren não poderia reclamar, afinal, ele mesmo pediu exatamente isso para o garoto, respirando fundo, ele seguiu o menino até próximo a cachoeira, ouvindo atentamente suas instruções para realizar Genjutsu no Kai, pensando que nunca sequer havia ouvido falar sobre aquilo.

- Você também faça algum barulho de vez em quando para que eu saiba que está bem. – Disse Ren, respondendo o mesmo sobre baixar a guarda. Decidiu sentar-se, cruzando suas pernas e juntando suas mãos próximas do corpo, como se estivesse meditando.

“Alterar o fluxo de chakra” Pensava, enquanto pouco a pouco sentia o chakra fluir pelo seu corpo, seguindo apenas uma direção. Era mais difícil do que Ren pensava, pois só conseguia fazê-lo fluir para a direção inicial, quanto mais ele pensava e ir contra o fluxo, mais difícil ficava. “Talvez fosse algo natural, não preciso forçar muito. ”
Respirando fundo, o gennin voltou a fluir seu chakra pelo corpo, cerrando seus olhos e imaginando o chakra partindo de sua barriga e inundando todo canal do seu corpo com energia.

“Agora é só fazer o inverso”. Assim, visualizou novamente seu corpo em sua mente, o fluxo estava todo em uma direção, seguindo o mesmo princípio, fez o chakra voltar pelo mesmo caminho, seguindo o fluxo contrário.

- Consegui! – Abriu seus olhos, animado. – Jyin, foi difícil mas consegui! Como vai seu treinamento?

Ren esperava o mais novo responder, alongando seu corpo e retirando seu casaco bege, já que ali naquele lugar o clima era úmido demais para mantê-lo.

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O farfalhar das folhas e a brisa suave provocada pela queda d’água transmitiam uma sensação de paz para o jovem Ren, que agora prestava atenção na explicação do gennin mais novo. As gotículas que se espalhavam pela cachoeira somadas com a umidade do ar que ela causava fazia o clima ficar sereno, somados com o sol da tarde que faziam as sombras das árvores ficarem bem demarcadas no chão ao redor.

- Entendo, preciso reconhecer que estou em uma ilusão. – Falou, novamente pensando alto. Ren retirou sua camisa preta e puxou a barra das calças até os joelhos, entrando nas águas cristalinas da cachoeira, ele podia sentir a brisa ficando mais forte, a água gélida, por mais que estivesse fria, não o incomodava, parecia passar uma sensação boa. Os ouvidos de Ren focaram-se no barulho da água caindo, forte como uma tempestade se aproximando. Novamente Ren fechou seus olhos e juntou seus punhos, meditando em pé.

Brevemente, tudo ficou escuro, uma sensação nova brotou no peito do rapaz, pouco a pouco, a água em seus pés havia se tornado morna, numa temperatura ideal, as gaivotas cantavam e voavam. Pouco a pouco ele abriu os olhos, estava novamente em seu vilarejo, mas tudo estava diferente. As pessoas saíam de suas casas, conversavam casualmente com os pescadores e riam. A água ainda estava límpida, como nunca estivera devido à empresa que tomou posse do vilarejo para explorar seus recursos e seus moradores.

- Ren, não se distraia. – Uma voz familiar acalentou o coração de Ren, virando-se rapidamente, podia ver seu pai pescando alguns peixes, sua mão estava aberta, como se esperasse alguma coisa, nas mãos de Ren haviam iscas de peixe, ele colocou na mão de seu pai, como se fosse um costume que sempre fazia. – Obrigado filho!

Ren ainda estava confuso, mas a sensação de ver seu pai bem o deixava feliz. Num movimentou súbito, abraçou seu pai, com as lágrimas brotando em seus olhos, o Sokudo mais velho parecia confuso, mas deu uma risada e o abraçou de volta.

- Ei filhão, não precisa dessa emoção toda só “pra” me dar umas iscas. – Ele disse, entre as risadas.
- Os dois senhores vão demorar muito tempo aí? – Uma voz feminina ecoou, Ren virou-se e podia ver uma mulher de cabelos ruivos, com as mãos na cintura, trajava um vestido azulado e tinha um avental branco preso no seu pescoço, os olhos esverdeados da moça rapidamente trouxeram a memória de Ren à tona.
- Mãe? – Disse Ren, surpreso. A memória da mulher era fresca em sua cabeça, já que Ren só tinha visto sua mãe em fotos, ainda assim, nutria um grande carinho por ela pelas coisas que seu pai contava quando era mais novo, e especialmente do peixe que ela preparava que dizia ser o melhor peixe de todo vilarejo. Ren saiu da água correndo, abraçando-a fortemente.
- Ren você “tá” todo molhado! – Disse a mãe do menino, entre risadas. Ela retribui o carinho evitando se molhar mais. – Vai se secar e peça pro seu pai não demorar ou o almoço vai esfriar!

Ren enxugou as lágrimas e assentiu, foi chamar o pai e assim se viu na mesa no mesmo instante, todas as pessoas por quem ele nutria carinho estavam lá, seu “avô”, comentando as histórias e besteiras de quando ele era jovem, seu pai que gargalhava e tomava uma garrafa de sakê enquanto complementava algumas histórias do velho, e a mãe de Ren, que apenas ouvia e se divertia com as conversas.

- Isso.... É muito perfeito. – Disse Ren, a felicidade em seu peito aos poucos passava. – Isso não é real, vocês.... Vocês não estão aqui.

Ainda que fosse tudo uma ilusão, Ren tinha que sair dali, com lágrimas em seus olhos, ele fez o selo de tigre.

- Foi muito bom ver vocês de novo! – Disse, sorrindo. Eles sorriram de volta. – Genjutsu no Kai!

Ao abrir os olhos, Ren se encontrava novamente na cachoeira, ele parecia ter durado um dia inteiro naquela ilusão, mas aparentemente só haviam passado alguns minutos, ele olhava ao redor, tentando se situar, antes das lágrimas caírem suavemente pelo seu rosto, apesar do choro, não eram lágrimas de tristeza, e sim de alegria e saudade.

- Jyin, saí da ilusão. – Disse calmo, olhando para a cachoeira. De certa forma, sentiu-se grato a ela por ter a oportunidade de ter interagido com seu pai e sua mãe juntos uma vez na vida. Enxugou as lágrimas e virou-se para o garoto. – Qual é o próximo passo?

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O jovem ninja já estava pronto para a próxima rodada de treinamento quando ouviu que a única forma de fazer isso seria através de uma luta real, com isso ele desanimou, já estava pronto para evoluir ainda mais no seu treinamento mental. Apesar disso, ele decidiu focar na missão, vestindo novamente seus trajes enquanto o menino comentava com ele sobre a conversa mais cedo.

Ainda que Ren não tivesse total certeza dos fatos mencionados mais cedo, ele achou que poderia confiar no garoto Jyin, porém seu pressentimento era outro, que ele poderia estar envolvido indiretamente em toda essa trama maléfica e então sua missão poderia virar uma batalha pela sua vida – afinal, Jyin era um perito em genjutsu e Ren não tinha como confrontá-lo diretamente naquele momento – após analisar bem as circunstâncias, Ren virou-se para o mais novo, com um rosto sério.

- Você sabe em qual vila a empresa que seu pai é sócio se instalou? Eu pergunto isso porquê meu avô era um mercador e trabalhava numa vila de pescadores e com a chegada da empresa ele passou a trabalhar lá, porém um tempo se passou e ele perdeu seu emprego depois de um incidente com outro funcionário, tivemos que vir até a vila para arranjar melhores condições de vida. – Disse, inventando uma história na hora, porém seu rosto frio e sério demonstrava um fundo de verdade em suas palavras. – Eu gostaria de saber também o nome da empresa, meu avô precisa entrar em contato com alguém lá de dentro para poder reivindicar seu dinheiro do mês que ele foi dispensado.

Ren conseguiu mesclar duas histórias para moldar uma verdade para o garoto, ele estava sério, porém tranquilo, como se a prioridade das informações fosse realmente o contato de alguém para que seu avô pudesse pegar o dinheiro que lhe devem. Sereno, Ren botou a mão em seu bolso, enquanto o silêncio era preenchido pelo som da natureza, com a cachoeira caindo e as folhas das árvores voando e farfalhando devido ao vento. A imagem de seu pai brotou na sua mente e o coração de Ren apertou, ele fechou o punho em seu bolso para reprimir aquele sentimento repentino que viera pelos pensamentos que ele teve enquanto contava a história para o menino.

As imagens da ilusão que ele havia passado no mesmo dia vieram à tona, ele foi do inferno ao céu em um curto espaço de tempo e entrou em dois genjutsus no mesmo dia, apesar de não aparentar, Ren estava levemente abalado em ter que presenciar euforia e depressão no mesmo dia, não havia inteligência emocional que suportasse dois extremos e conseguir ficar completamente bem numa situação em que ele nunca havia sequer entrado num genjutsu. Abaixo de seus olhos, olheiras avermelhadas surgiam, como indicação de que ele havia chorado recentemente e um leve cansaço emocional.

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O coração de Ren rapidamente apertou-se com a informação, ele havia conseguido extrair algo valioso do garoto. Por um momento um pequeno sorriso se formou na face do rapaz, mas logo o desfez. Por dentro ele estava eufórico, poderia enfim começar a planejar sua vingança, mesmo que demorasse, iria fazer o dono dessa corporação e todos os seus apoiadores sofrerem lentamente em suas mãos, não importa quem estivesse em seu caminho. Ren fechou o punho novamente dentro do bolso, se ele apertasse mais um pouco, conseguiria facilmente ferir sua mão com suas unhas, porém logo o relaxou e sorriu para o menino.

- O nome não era esse, acho que não é a mesma empresa. – Mencionou, relaxado. Porém todas as evidências apontavam para a Hitachi Corp., o que fez com que uma imensa onda de fúria viesse pelo corpo do jovem ninja, que se segurava para não descontar toda sua raiva no gennin que não tinha nada a ver com a história de seu pai. Logo Ren decidiu que seria melhor assumir sua posição de guarda e observar o treino do jovem Jyin enquanto se certificava de que o local estava seguro. Pegou uma kunai em sua mão esquerda e ficou a postos, analisando o movimento das árvores ao redor.

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As horas se passavam e naquele momento, próximo ao fim do treinamento, Ren se encontrava sentado, desenhando figuras no chão com sua kunai, até que os passos de Jyin saindo da cachoeira são ouvidos, os olhos de Ren se direcionam para o gennin, que havia uma expressão plena em seu rosto. Por um momento Ren se perguntou quais seriam as ilusões que o jovem gennin via naquela cachoeira, mas assim como ele, não gostaria que as pessoas soubessem o que se passava dentro de sua cabeça.

Ren se levantou, enquanto ouvia o menino caçoar de suas habilidades, o que fez Ren dar uma risada em um tom irônico. Deu um leve soquinho no ombro do garoto, como indicação de brincadeira e finalmente arrumou suas coisas para partir, colocando novamente sua Kunai dentro de sua bolsa e puxando o pergaminho, para conferir novamente o caminho que deveriam seguir para voltar para a vila. A preocupação de Ren era apenas o horário que voltariam.

- Não baixe sua guarda na volta, quanto mais tarde, mais perigoso. – As palavras de Ren saíam quase como fingimento, mas sabia que se o menino não voltasse em segurança, sua missão seria falha e por fim ele seria prejudicado, e isso era de longe o objetivo dele.

Anotou mentalmente o nome da empresa, repetindo sem parar durante todo o trajeto enquanto se mantinha atento aos arredores. “Hitachi Corp., Hitachi Corp., Hitachi Corp.” era quase como um mantra para ele, nunca deixaria esse nome escapar de sua mente.

Ren agora dava os primeiros passos em direção ao caminho que lhe traria sua vingança.

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Ren estava tenso enquanto acompanhava Jyin até seu destino, os nervos estavam à flor da pele, pois já estava escurecendo e aquela região era perigosa. O frio percorria seu corpo e o cobria como um manto gelado, fazendo todos os poros de sua pele se arrepiarem, subindo da cabeça aos pés. A noite estava fria, e a lua era a única fonte de luz presente entre as folhagens trêmulas do breu da noite, que se alastrava num corredor sombrio e infinito.

Apesar disso, Ren fazia um mapa mental em sua cabeça, deviam estar se aproximando aos poucos da vila, onde finalmente poderia finalizar sua missão e por fim descansar depois de um dia cheio.
Pouco a pouco uma luz surgiu no fim do túnel e o som do vento nas folhagens foi substituído pelo som da aldeia. As pessoas falando, andando e rindo, canecas e copos se batendo na calada da noite, cada aldeão vivendo sua vida esperando seu dia de amanhã. Para Ren, esse barulho significou casa, a sensação de angústia e ansiedade passava em seu peito. Ao chegarem na vila, Ren respirou aliviado. Guardou sua kunai em sua bolsa e se espreguiçou.

- Também foi ótimo te conhecer Jyin, obrigado pelas dicas no Genjutsu. – Falou Ren, animado.

Por fim viu o rapaz partir e fez o relatório da missão, o qual entregaria no dia seguinte para o Mizukage ou seu assistente, quem estivesse no gabinete naquele horário. Por fim, ao terminar seu relatório, deitou-se em sua cama e por fim fechou seus olhos após esse dia exaustivo onde suas emoções e sanidade haviam sido postas à prova. Com um suspiro, ele finalmente caiu no sono naquela noite gélida na Vila do Redemoinho.