Caminhava lentamente pelas ruas de Iwagakure, espirrando as poças com os pés no trajeto levemente acidentado e umidecido pelo inverno. Enquanto descansava as mãos no bolso do comprido casaco que trajava naquele dia frio de missão, pensava que talvez fosse verdade quando dizem que o clima duro do lugar moldava parte do caráter de seus moradores. Era quase como voltar da guerra e se acostumar novamente com um colchão confortável. Parecia errado. Ver neve ali era destoante, tanto que não o deixava aproveitar o clima menos sufocante que aquele que o assolava diariamente.

Ainda era começo da manhã, e talvez por isso ele não fosse capaz de parar de bocejar enquanto se direcionava até o lugar onde as coordenadas o levavam. Na noite anterior, um pássaro marrom e preto entregara-lhe a mensagem: Tão logo o sol raiasse, deveria encontrar uma mulher chamada Shioru numa grande casa ao norte da vila, contactando-lhe para cumprir a missão logo em seguida.

Ao encontrá-la, parada já à sua espera na porta do que depois foi-lhe apresentado como um Orfanato, tomou conhecimento de sua missão, cujo qual o intuito era limpar o entulho e retirar a neve velha do quintal (bastante grande, diga-se de passagem). No fundo, sabia que era capaz de realizar tarefas muito mais complexas que aquelas, mas olhar para aquelas crianças abandonadas ou órfãs de guerra o fez refletir sobre muita coisa em sua vida. Não vivia sua vida Shinobi em prol de ninjas sedentos por poder, enrolados em teias políticas e afogados até o pescoço no seu próprio lixo. Fazia isso por eles, pelos órfãos e incapazes de lutar numa vida que infelizmente te cobraria isso.

Seguia longe em seus devaneios enquanto cumpria com suas tarefas. Em dado momento, notando que demoraria mais do que gostaria, pensou em fazer daquilo um treino e passou a usar algumas de suas especialidades para ajudá-lo. Sendo assim, infundiu o elemento vento ao seu Chakra e através da técnica Boruto Sutorīmu conseguiu apressar as coisas. Basicamente gastou um tempo com a pá, cavando a neve e depositando-a em uma caçamba para depois descartá-la em um lugar mais adequado. Algumas estruturas de madeiras haviam sido destruídas, como a mesa onde as crianças provavelmente lanchavam a tarde, bem como seus brinquedos. Ainda que não fosse parte do pedido da missão, se esmerou em deixar tudo funcional para que elas pudessem se divertir, sem nunca se esquecer de controlar o fluxo de Chakra em seu corpo como método de treinamento contínuo.    

Por sorte, o clima não o incomodou na tarefa, visto que o sol escaldante que normalmente fazia em Iwa hoje apenas dava as caras timidamente. Sendo assim, mal viu o tempo passar e logo pôde contemplar o quintal extremamente arrumado. Se sentiu feliz e realizado, por mais pequeno que pudesse parecer. Foi até Shioru e deu-lhe a notícia de que a missão estava completa. Antes de ir, entretanto, não pôde deixar de chamá-la mais uma vez:

- Ahm... Senhorita Shiori. - Coçou a garganta, tomando ar. - Essa vila é a merda de uma bagunça, mas é nossa merda. Se não formos nós a nos ajudar, quem mais será? Parabéns pelo seu trabalho, é muito nobre. - Dando-lhe as costas em seguida, mas sabendo que talvez a alegria de uma missão estivesse no impacto que ela causaria nas pessoas.  

Considerações:

        Manter-se ativo deixava-o sempre animado. Com o humor afetado pela missão anterior, ficou feliz quando recebeu um mensageiro da vila que encontrou-o na rua, enquanto descansava num banco da praça após o almoço. O homem era silencioso e tudo que fez foi entregar-lhe o chamado de uma Casa de Massas, deixando-o em seguida. - Obrigado pela conversa. - Disse o jovem de cabelos prateados, já sozinho naquele lugar. Ao abrir o chamado, anotou mentalmente o horário (início da noite) e endereço da missão.

O que acontecia é que muitos moradores já não achavam a vila de Iwa um lugar tão pacífico e seguro para se passear a noite, devido aos vários boatos e recentes acontecimentos. Sendo assim, o dono do estabelecimento que oferecia comidas feitas de massa sentia que estava tendo um grande prejuízo nesse processo, colocando então um sistema de entregas em seu restaurante. Obviamente, não eram muitos os voluntários para esse trabalho, e ele teve que recorrer aos serviços da vila para ajudar na demanda de entregas que o efeito criava.

O gerente do lugar era um homem corpulento e de poucos modos, com as mãos engorduradas e sujeira debaixo da unha. Felizmente, seu trato não era com ele. Resgatou seus itens de missão: Um capacete, uma bicicleta e uma grande mochila quadrada escrita "Iwber". Colocou todas as entregas dentro desse compartimento e partiu logo em seguida para cumprir sua tarefa, não sem antes esquecer de treinar seu Chakra durante o processo. Usou então seu Boruto Sutorīmu para dar mais velocidade às suas pedaladas, invocando o elemento Fuuton para dar-lhe mais agilidade.

Talvez a sensação de receber o vento resfriado pelo inverno em seu rosto não fosse tão incômodo assim. Com a vila mais silenciosa e calma, a dança das luzes bruxuleantes e o assovio barítono que vinha das montanhas, tudo parecia diferente. Talvez daquela forma se sentisse ainda mais seguro, mas claro que isso pouco importava. Entregou rapidamente as refeições mais próximas do estabelecimento para só depois ir até as partes mais distantes. Deu o seu melhor, com afinco o suficiente para receber um elogio até mesmo do grandalhão que comandava o lugar.

Voltou e entregou todo o dinheiro das vendas em suas mãos, bem como os itens que havia recolhido. Após uma rápida conferência, foi tido como tudo certo e melhor do que o esperado, sendo assim, após um dispendioso dia, talvez o melhor que o garoto pudesse fazer era voltar para casa, afinal assim como a vila ele também merecia descansar.  

Considerações: