A transformação em minha vida foi profunda e intensa. Desde que me aliei a Hattori Shion, encontrei um propósito mais elevado, uma razão de ser. Com ele, aprendi os deveres e responsabilidades de um homem. Em meu lar, sou Uchiha Hakurei, dedicado esposo de Angell Hattori. Sou o pilar de uma família, o símbolo do respeito e da honra para aqueles que me rodeiam. Entretanto, ao vestir meu traje de trabalho, nas sombras das ruas, sou simplesmente Hakurei. Minha missão é clara: assegurar a integridade do meu empregador e proteger aqueles que lhe são caros.

Dias atrás, um hediondo atentado abalou as estruturas da nossa sociedade. Muitos dos mais influentes perderam suas vidas, mas o golpe mais doloroso foi o ferimento infligido ao meu empregador e à sua adorada filha, a princesa Hope Hattori. Sei que ele não descansará até que o responsável por manchar uma de suas mais preciosas joias seja encontrado e punido.

O motorista conduziu o veículo, deixando o fervilhar do centro para trás, e entramos nas zonas mais periféricas da cidade. Essas regiões traziam à minha mente lembranças de uma infância árdua e desafiadora. Hoje, estou entre os mais privilegiados, integrando uma das famílias mais proeminentes e afluentes. No entanto, nunca esqueço daquela sensação de desejar algo que estava fora de meu alcance.

O veículo estacionou diante de uma moradia singela, adornada por uma placa de fundo alvo com letras desenhadas à mão: "Casa de reparos Opus". O motorista, com uma deferência característica, abriu a porta para mim. Ao pousar meu sapato no solo, senti a textura áspera da terra que se aderiu a ele. Com um par de batidas ritmadas, dispus-me da sujeira, tomei minha maleta, alinhei minha gravata meticulosamente e caminhei até a entrada. Com duas batidas firmes, anunciei minha presença.

Enquanto aguardava, mantinha-me imponente e ereto. Foram lições de etiqueta, postura e comportamento que aprendi ao lado do meu empregador. Ao abrir-se a porta, fui saudado pelo rosto familiar de um antigo companheiro de batalha, o próprio homem que meu empregador almejava encontrar: Hikari Opus. Opus olhou-me com um lampejo de surpresa, sem reconhecimento imediato. Sem hesitar, introduzi-me:

"Boa tarde, Senhor Hikari. Talvez não se lembre de mim à primeira vista. Sou Uchiha Hakurei. Já compartilhamos aventuras em duas expedições no passado."
Estendi minha mão direita, esperando por um aperto em retorno. A expressão de Opus transformou-se de perplexidade para o reconhecimento, e ele, surpreso, respondeu:

"Hakurei! Quanta mudança! Mal o reconheci, agora trajado tão formalmente."
Embora suas palavras carregassem um tom jocoso, eu mantive a seriedade, direcionando a conversa para o propósito da minha visita.

"Senhor Hikari, há um assunto premente a discutir convosco. Seria possível continuarmos essa conversa em privacidade?" - Ao lançar um olhar discreto para os arredores, percebi os vizinhos aglomerando-se, curiosos, provavelmente atraídos pelo contraste do veículo luxuoso em um local tão humilde. Com um aceno afirmativo, Opus abriu espaço, convidando-me a adentrar sua residência.

Ao cruzar o limiar da casa de Hikari Opus, uma sensação de simplicidade e trabalho árduo permeava o ambiente. Ao fundo, pude identificar Erik, filho de Opus, ocupado com a tarefa de consertar um eletrodoméstico. Ele lançou um olhar fugaz em minha direção, um olhar que parecia carregar um certo desconforto com a minha presença. Opus, sempre o anfitrião, trouxe consigo uma jarra d'água e dois copos, servindo-nos. Seguindo sua sugestão, acomodei-me em uma das cadeiras à mesa. Ele tomou assento à minha frente, os olhos repletos de curiosidade.

"Então, Hakurei, a que devo a honra de sua visita?" indagou ele, a lembrança de nosso último encontro – onde ele quase encontrou um fim aquoso – ainda vívida em sua mente.

Colocando minha maleta sobre a mesa e abrindo-a, revelei um jornal local. "Certamente, senhor Hikari, o senhor já está ciente do atentado recente à reunião," comecei.

Ele me interrompeu, a preocupação tingindo sua voz, "Ouvi dizer que Shion foi alvejado. Ele está bem?"

Ao ouvir o nome do meu empregador pronunciado com tamanha informalidade, uma onda de desconforto me atingiu. "Peço que não mencione o nome do meu empregador de forma tão casual," retruquei, buscando manter a formalidade e o respeito que a situação exigia.

Opus soltou uma risada, um som que parecia deslocado naquela circunstância. "Ele ainda consegue caminhar, embora com certa dificuldade. A bala o feriu gravemente, mas ele encontra-se sob os cuidados meticulosos de sua filha, a Princesa Angell Hattori."

Novamente, uma risada escapou de Opus, agora tingida de alívio. "E qual é o propósito de sua visita?" ele questionou, direto ao ponto.

Recostando-me na cadeira, respirei fundo antes de explicar: "Meu empregador obteve informações valiosas sobre o perpetrador do ataque. Uma câmera de segurança capturou a imagem do atirador. No entanto, dada a sua posição proeminente, ele não pode se envolver diretamente na investigação. Há apenas um detetive em quem ele deposita sua confiança para essa tarefa, e esse detetive é o senhor, Hikari. Durante décadas, você liderou a polícia com maestria. Por isso, ele deseja contratá-lo para essa missão."

O semblante de Opus passou de surpresa a incredulidade. Até Erik, imerso em seu trabalho, interrompeu suas atividades, atento à conversa. "Isso é alguma espécie de zombaria da parte de Shion?" questionou Opus, claramente perturbado.

Mais uma vez, busquei corrigir a familiaridade: "Reitero, não mencione o nome do meu empregador tão casualmente. E não, senhor Hikari, isso não é uma brincadeira."

A reação de Opus foi inesperada. Ele soltou uma gargalhada estrondosa, quase histérica. Eu, em contraste, mantive-me sereno, com os dedos cuidadosamente entrelaçados, aguardando pacientemente que ele retomasse sua compostura. Quando finalmente o fez, lançou uma série de suposições audaciosas.

"Deixe-me entender... Vocês estão por trás deste ataque, não é? Contrataram o atirador e agora precisam de um ex-policial para encobrir tudo? É isso que vocês querem?"

Opus parecia confiante em suas acusações, mas estava enganado. "Pelo contrário, Senhor Hikari," comecei, "Meu empregador não tem qualquer envolvimento. Talvez não esteja ciente, mas a Princesa Hope Hattori também foi uma das vítimas."

Ao mencionar Hope, o semblante de Opus mudou drasticamente. A alegria anterior evaporou, dando lugar a uma profunda preocupação. Erik, que até então trabalhava ao fundo, aproximou-se, interrompendo com uma urgência palpável em sua voz. "Espera, Hope está bem?"

Sem virar-me para ele, respondi: "A Princesa Hope Hattori é resiliente. Foi apenas um ferimento superficial em seu braço. E é exatamente por esse motivo que meu empregador deseja contratá-lo. Ele está ciente da estreita relação que você mantinha com Hope. Não era você o padrinho dela?"

A cada palavra minha, o semblante de Opus ia desmoronando, como uma fortaleza que se desfaz tijolo por tijolo. "Ela costumava chamá-lo carinhosamente de 'Tio Opus', correto? E, se minha memória não me falha, havia planos para uma união entre ela e seu filho, Erik Uchiha. Meu empregador mencionou que vocês dois eram como irmãos no passado, inseparáveis. Uma aliança entre as famílias seria a consumação desse laço."

A sala estava envolta em um silêncio pesado. A expressão de Opus tornara-se uma máscara de melancolia e reflexão. "É uma lástima que os caminhos tenham se desviado de maneira tão trágica," concluí, deixando as palavras pairarem no ar.


Erik, do fundo da sala, elevou a voz, repreendendo-me com um tom de clara proteção: "Hakurei, já é suficiente. Não percebe o quanto está afetando meu pai?"

Opus, com os olhos turvos, como se estivesse emergindo de um transe profundo, soltou uma risada abafada, recuperando lentamente sua lucidez. "Sabe, Hakurei, mesmo que eu desejasse ardentemente desvendar o mistério por trás do atirador, não estou em posição de fazê-lo. Fui declarado morto, estou oficialmente aposentado. Um retorno à polícia é, neste momento, inconcebível para mim."

Com um movimento suave, abri minha maleta, revelando um conjunto de pastas e documentos meticulosamente organizados. Antes de prosseguir, no entanto, senti a necessidade de esclarecer minha posição. "Peço desculpas, Senhor Hikari. Minhas palavras não tinham a intenção de ofendê-lo. Contudo, meu empregador teria sérias reservas caso eu retornasse sem ter alcançado meu objetivo."

Disposto a elucidar minha proposta, continuei: "Como bem sabem, servi na ANBU de Konoha. Graças a essa experiência e aos contatos que estabeleci, consegui coletar uma série de informações pertinentes a esta situação."

Ao desvelar o conteúdo da primeira pasta, apresentei a ele um documento oficial. "Este documento, Senhor Hikari, o reintegra à polícia, outorgando-lhe o título de investigador-chefe. Basta assinar."

Opus, com os olhos arregalados, mostrou-se genuinamente surpreso. "Como conseguiram tal feito?"

Com um sorriso enigmático e um brilho astuto nos olhos, respondi: "Bem, meu empregador tem o hábito de frequentar os círculos certos. Jogar golfe, por exemplo, com pessoas de grande influência."

Opus assentiu, absorvendo a informação e indicando que eu prosseguisse.
Ao expor o conteúdo da segunda pasta, revelei fotografias do atirador. "Nestas imagens, Senhor Hikari, pode-se observar que o assassino veste-se como a antiga identidade do meu empregador: Widowmaker."

Opus, com a expressão transfigurada, interveio: "Isso é inimaginável! Azshara está morta. A Hydra foi erradicada. Estaríamos, porventura, diante de um emissário de outro mundo?"

Retomei, buscando esclarecer: "Essa é uma questão que meu empregador tenciona investigar em primeira mão. Ele mantém conexões com o outro mundo, e certas pessoas que lá residem são de grande estima para ele. Em breve, ele buscará estabelecer um contato para elucidar essas dúvidas."

Fechei minha maleta, mas antes de encerrar, posicionei-a de forma que Opus pudesse vislumbrar seu conteúdo. "Por seus serviços, meu empregador está disposto a remunerá-lo com duzentos mil. O que vê aqui," indiquei a maleta transbordando de cédulas, "é a metade inicial do pagamento. Não apenas auxiliará em sua investigação, mas também em melhorias para este lugar. Um homem de seu calibre não deveria estar restrito a consertos triviais."

Levantando-me, acrescentei: "Há apenas uma ressalva feita por meu empregador."

Opus, com um olhar inquisitivo, questionou: "E qual seria?"

"Uma vez que descubra a identidade do assassino, o nome e a localização devem ser imediatamente repassados a ele. Ele deseja, pessoalmente, concluir este assunto."

Com um gesto sutil, passei a mão pela mesa, sentindo a poeira do local manchar minhas luvas. "No centro da cidade, uma residência renovada e um veículo o aguardam. As chaves estão sob o montante nesta maleta. Foi um prazer, Senhor Hikari."

Ainda sentado, Opus retrucou, sua voz carregada de hesitação: "Mas eu ainda não confirmei minha aceitação."

Olhando diretamente em seus olhos e, em seguida, lançando um olhar compreensivo para Erik, murmurei: "Senhor Hikari, há momentos e oportunidades na vida que são insubstituíveis. A era do orgulho obstinado ficou para trás. Lembro-lhe do destino daquele que teve seu pescoço quebrado. Tenha uma boa tarde."

Com essa nota final, retirei-me da residência, deixando pai e filho envoltos em um silêncio pensativo.