Nathaniel buscava absorver tudo o que estava acontecendo em sua vida nos últimos dias, sendo difícil até de acreditar que ninguém veio lhe perguntar nada sobre os fatos ocorridos com Takafumi. Aquilo não lhe deixava tranquilo, muito pelo contrário: se não tinham lhe procurado, era porque estavam planejando algo na surdina, algo que o fazia andar de um lado para o outro muita das vezes do dia em sua casa. Já era início da madrugada, e Nathaniel se preparava para tentar dormir, tomando um banho quente para ver se conseguia relaxar. Quando terminou de por o seu pijama, alguém bateu na porta, o que o fez puxar uma kunai no bolso que estava na cabeceira imediatamente. O Grey caminhou lentamente até a porta, olhando pelo olho mágico e respirando aliviado, abrindo aporta.

― O que você está fazendo aqui? Já viu que horas são? ― perguntou Nathaniel, coçando os olhos por alguns segundos, olhando para Soichiro visivelmente irritado.
― Deu merda, cara! A gangue foi pro saco. ― Soichiro falou com aquela cabelerira longa desgranhada e que já tinha bebido pelo menos uma garrafa de sakê.
― Como assim, foi pro saco? ―  Nathaniel ficou ansioso, imaginando que aquilo tinha a ver com a operação mal-sucedida contra Takafumi, que resultou na sua morte, pelas suas mãos.
― Sacudiram o Ryuuzaki. ― Soichiro ajeitou o cabelo que lhe cobria o rosto, enquanto Nathaniel reagia perplexo. ― Ele não está morto, mas está todo arrebentado. River e Kimiko fugiram, B.A viajou com a família. Estamos por conta própria. ― revelou.
― Puta que pariu! ― bradou Nate, levando a mão até a própria cabeça, sentindo-se extremamente culpado por tudo o que estava acontecendo.
― O que a gente faz agora, cara? Eu estou com medo deles virem atrás de mim também. ― Soichiro ficava andando de um lado para o outro, enquanto Nate ficava pensando no que fazer.
― Cadê o Ryuuzaki agora? ― questionou o Grey.
― Na casa da tia dele, nos arredores da vila. ― respondeu o homem.
― Espera aí. ― Nate fechou a porta, abrindo-a dois minutos depois, tendo trocado de roupa, vestindo uma jaqueta.
― Onde a gente vai, maluco!? ― Soichiro olhou o rapaz trancar a porta de casa.
― Vamos ver o Ryuuzaki. ― avisou o Grey.

Os dois sairam caminhando pelas ruas na madrugada mesmo, tomando todo o cuidado do mundo para não serem pegos por quaisquer pessoas que estivessem atrás deles naquele momento. Soichiro morria de medo de ser pego, mas o Grey apenas caminhava reto, olhando para frente, com os punhos fechados, prontos para socar a cara de qualquer pessoa que atravessasse o seu caminho. Enquanto isso, o ninja desonrado ia indicando para o Grey o caminho que ele deveria seguir. No caminho, o cara ia puxando o assunto.

― E aí, como está a caça por corpos para absorver as habilidades? ― questionou o cara.
― Eu não tenho usado muito isso. Na verdade, eu não usei isso ainda. ― revelou o jovem.
― Como é? Então por que foi na minha casa para buscar esse poder? ― Soichiro demonstrou uma fúria latente enquanto caminhavam, entrando na rua onde a tia de Ryuuzaki vivia.
― Depois falamos disso! ― ele rapidamente tocou o sino da casa, deixando Soichiro desesperado. ―  Olá! Queremos ver o Ryuuzaki! ― falou o menos alto possível, por ter pessoas dormindo naquela hora.
― Porra, não era para tu ter feito isso! ― bradou Soichiro.
― Por que não!? ― questionou, quando diversos pedaços de papel sairam voando da janela da casa, cobrindo os seus corpos. - O que é isso? ― Nathaniel ficava olhando para os lados sem saber o que fazer.
― Se vieram atrás de confusão, estão no lugar errado, rapazes! ― avisou a dona da casa, assustando os dois caras, enquanto as folhas flutuavam ao redor deles.
― Essa mulher é a tia dele? Não parece muito. ― pensou Nathaniel, reparando nela como um todo. Parecia nova demais para ser tia de um homem tão velho quanto Ryuuzaki.

Diante daquelas folhas voando ao redor dos seus corpos, o medo se instaurou no coração daqueles dois jovens. Soichiro ficava com as pernas tremendo, sem saber o que fazer, porém Nathaniel estava um pouco mais calmo, tentando entender o porquê de toda aquela hostilidade. Porém, Soichiro já estava a ponto de dar meia volta e ir embora.

- Ai, vamos embora! Ela não vai deixar a gente entrar, Elfo! - Soichiro falou em voz alta, mas a ruiva se manteve atento aos dois.
- Esperem! Você é Nathaniel Grey? - questionou a ruiva, fazendo Nathaniel erguer a sobrancelha.
- Sou sim. Como você sabe? - ao ouvir aquela resposta, a ruiva baixou os seus papéis, mudando a sua postura imediatamente e se acalmando.
- Ah, que susto! Ryuuzaki falou muito de você. Entrem, por favor. - disse a ruiva, depois de recolher os seus papéis. Nathaniel olhou para Soichiro e acabou entrando na casa dela, abrindo a porta em primeiro lugar, deixando para o cabeludo fechar. A ruiva foi os levando para a sala de estar, onde Ryuuzaki estava deitado. - Ryuu-san, seus amigos estão aqui. - falou sorridente.
- Amigo é uma palavra muito forte. - Soichiro retrucou com um certo rancor.
- Que técnica foi essa que você usou, moça? - questionou Nathaniel.
- É o Shikigami no Mai. - respondeu Ryuuzaki, com o braço enfaixado e alguns band-aids no rosto. Ele estava deitado no sofá, se sentando lentamente.- Minha tia mexe com essas coisas de origami desde criança. Ela aprendeu como usar isso a seu favor. Ela também era carteira, como você, mas não teve uma carreira muito longa. - comentou o homem ruivo, deixando Nate confuso.
- A agência sempre foi majoritariamente masculina, e quanto mais velha eu ficava, bem… Eu acabei me… desenvolvendo. - comentou a mulher.
- Dá pra ver. - Soichiro falou olhando para o corpo da tia de Ryuuzaki, principalmente em seu decote, fazendo Nathaniel desse uma cotovelada de leve em sua costela.
- Olá, Nathaniel, me chamo Masako. É um prazer finalmente conhecê-lo. - ela esticou a mão para o Grey, ignorando totalmente Soichiro.
- É um prazer. O que houve com ele? - questionou Nate.
- Seu irmão me fez uma visita, Elfo. Aparentemente ele ficou sem coragem de ir atrás de você, e resolveu vir me perseguir. Ele sabe que você tem a Marca da Maldição. Antes dele e a sua patota me encher de porrada, ele falou muitas coisas sobre você. Coisas que eu acho que você não sabe. - Ryuuzaki revelou.
- Tipo o que? - Nathaniel olhou para Ryuuzaki, ficando curioso.
- Você precisa descansar agora, Ryuuzaki. Depois vocês conversam. Meninos, aceitam um pouco de chá? - ela cortou a conversa antes que Ryuuzaki fizesse mais esforço.

Ryuuzaki era levado a descansar no sofá, enquanto Nathaniel e Soichiro tomavam um chaá feito por Masako. O cabeludo tentava flertar com a tia de Ryuuzaki, mas ela se afastava dele com respostas afiadas, enquanto Nathaniel mantinha os seus olhos apontados para a janela, olhando fixamente para a Lua, o que despertou a curiosidade de Masako. Alguns minutos depois, o Grey pediu para ir ao banheiro, mas acabou entrando no ateliê de Masako por engano, olhando o ambiente cheio de quadros, esculturas, até algumas poesias escritas em pergaminhos numa mesa.

- Ryuuzaki disse que você é um grande artista. - Masako apareceu de repente, assustando Nathaniel, que ficou sem graça com o elogio, mesmo que de forma indireta.
- Eu tento dar o meu melhor. - respondeu, lembrando-se da técnica que ela usou.
- A técnica que você viu… Acredito que seja muito mais útil a você do que a que o idiota cabeludo lá na sala tentou te ensinar. - contou a moça.
- O Ryuuzaki parece te contar muita coisa, não é? - Nate passou a mão pela nuca. - Me conte mais sobre ela. - pediu com educação.
- O Shikigami no Mai é uma técnica onde podemos usar um pedaço de papel para realizarmos qualquer coisa. Podemos usá-lo para transformar ele num pássaro, numa shuriken, até mesmo num papel explosivo. - enquanto ela ia explicando, ela pegou um pedaço de papel e ia transformando em várias coisa para elaborar o que ela tinha dito, impressionando Nathaniel.
- Isso tudo parece ser bem legal. - disse com interesse.
- Descanse um pouco, Nathaniel. Eu tenho um quarto de hóspedes do outro lado. Amanhã eu te mostro um pouco mais da técnica. - Masako sorriu para ele.
- Por que não deixou o Ryuuzaki dormir lá? - questionou.
- O quarto de hóspedes é para convidados especiais. Ryuuzaki é apenas um sobrinho intrometido. - ela deu uma risada.

No dia seguinte, Nathaniel acordou e foi direto para a cozinha, onde tomou café com Masako, Ryuuzaki e Soichiro, que era convidado a tomar um longo banho, pois segundo Ryuuzaki, era uma atividade que ele exercia raramente. - Quem é que fica tanto tempo assim sem tomar banho? - questionou Nathaniel, semicerrando os olhos assim que via Soichiro entrar no banheiro. Depois de tomar um café bem balanceado, Nathaniel acompanhou Masako até o bosque que tinha em sua casa, onde a ruiva começou a mostrar para ele mais sobre o Shikigami no Mai: primeiro, ela conjurou um par de asas feito exclusivamente de papel, coisa que deixou Nathaniel maravilhado. Depois, ela levitou alguns pedaços de papel no ar, conjurando selos manuais rapidamente e transformando esses pedaços de papel em Shuriken. As shurikens eram "teleguiadas" em direção a uma árvore onde continha um alvo ali, sendo cravadas nela.

- Essas técnicas são bem legais, sério. Vai ser muito bom se eu conseguir usá-las. - sussurrou.
- Querido, você pode fazer muitas coisas com esses papéis. Você verá, e não diga SE, pois você VAI conseguir! - garantiu Masako. - Você só precisa treinar e praticar bastante, e vai se tornar um especialista nessa técnica. - avisou.

Foi a partir daí que Nathaniel passou a treinar. Sua missão era, através do Origami, transformar um pedaço de papel em Shuriken. Ele era um artista, mas não era muito bom com origami, por isso teve bastante dificuldade nesse processo. Dentro do ateliê, Masako mostrava para ele como se fazia, mas mesmo assim, o Grey demorava um pouco para pegar o jeito. Foi por isso que Masako propôs um desafio mais fácil: que ele fizesse um coração de papel. Para o garoto, não era algo tão difícil, mas ele precisou de cinco pedaços de papel para chegar em um formato perfeito.

- Até que enfim! - ele comemorou, socando o ar. - E agora?
- Agora você faz mais dez desse, até você pegar o jeito. - disse Masako, deixando Nathaniel frustrado.

[...] No jantar, Nathaniel já estava cansado de tanto ver papel. Ryuuzaki e ele conversavam sobre como os outros membros da gangue tinham fugido para não serem pegos por Abraham, mas o ruivo não dizia para Nate onde eles estavam escondidos, para que, caso ele fosse capturado, não delatasse os amigos. Soichiro fazia elogios excessivos a tudo o que Masako fazia, levando ela a revirar os olhos.

- Oi, Romeu! Para de dar em cima da minha tia, ou eu vou quebrar os seus dentes! - ameaçou Ryuuzaki, fazendo Nathaniel dar uma leve risada.
- Você tem um sorriso bonito, Nate. Deveria sorrir mais. - sugeriu a ruiva, sentando-se para comer com os seus convidados (e Soichiro).
- Obrigado. - agradeceu com educação.
- Oi, tia! Para de dar em cima do Elfo. A senhora já tem mais de 40 anos. - Ryuuzaki falou aquilo visivelmente incomodado. Nathaniel ficava impressionado com o quão jovem ela parecia.
- Não estou dando em cima, só fiz um elogio ao rapaz. - comentou, piscando para o Grey, que ficou confuso. Se ela não estava dando em cima dele, por que elogiava tanto ele?

Nathaniel passou os próximos três dias treinando a arte do origami na casa da tia de Ryuuzaki, começando cedinho, logo após o café da manhã, e terminando no meio da noite. Masako fazia questão de estar perto dele para conferir se ele estava fazendo o trabalho corretamente, enquanto Ryuuzaki descansava no sofá, pois os hematomas pareciam causar-lhe uma grande dor. Quando chegou no quarto dia, ele já estava usando dos papéis para transformá-los através do chakra. A princípio, era uma coisa quase impossível, mesmo que ele fosse alguém que tivesse muito conhecimento em Ninjutsu e soubesse bem como controlar o seu chakra. Masako repetia muitas vezes como fazer aquilo, mas para ele, se tornava uma tarefa quase impossível. Aquelas tentativas mal-sucedidas deixavam Nathaniel extremamente frustrado, o levando a parar de tentar quando o Sol se põs, indo esperar o jantar do lado de fora. De repente, Masako se sentou ao seu lado.

- Não está pensando em desistir, não é? Você está indo muito bem! - elogiou a moça. - Me diga, por que passa tanto tempo olhando para o céu, ou para o nada? Não pense que eu não reparei nisso. - disse observadora.
- Você não entenderia. - Nathaniel respondeu com sinceridade. - Eu não vou desistir. Só queria conseguir aprender essa técnica logo. Algo me diz que preciso aprender e usá-la o mais rápido possível. - disse para ela, mas ainda olhando para o céu.
- Não se preocupe com isso. Algo me diz que, no momento certo, você vai avançar em seus conhecimentos. - disse com sinceridade, fazendo Nathaniel fitá-la, e os dois trocaram olhares, até que alguém tocou o sino da casa.
- Então está aí, não é, Grey? Estamos procurando você faz um tempo. Na verdade, o seu irmão está procurando você. - avisou com um sorriso maldoso.
- Mande ele ir se foder! Eu não tenho nada a falar com ele. - Nate respondeu.
- A parada é que se você não for por bem, você vai por mal... - ameaçou um dos policiais. Foi quando Masako se levantou, fazendo com que vários pedaços de papel se descolassem do seu corpo.
- Saiam da minha propriedade! - gritou a moça, lançando os papéis na direção dos homens ali.