Àquela época do ano pairava um ar melancólico sobre Kumogakure no Sato. Constantemente caia uma leve e incômoda garoa que trazia consigo um clima úmido e frio. Os fortes ventos que atravessavam as colinas e montanhas mais se pareciam com gritos agonizantes. Ainda assim, apesar de vontade de permanecerem em suas casas e esquentarem-se com alguma comida quente ou próximos a uma lareira, muitos precisavam deixar suas residências para trabalhar; afinal, os afazeres não desapareciam por conta disso.

Afastados do grande centro urbano, mais precisamente em uma área destinada à treinamentos, Mugen e Tetsuma conversavam. O mais velho, desafiava o inóspito clima e gesticulava com enorme e estranho prazer. Enquanto isso, o mais jovem mantinha um olhar atento e encolhia o corpo, abraçando as penas dobradas, na tentativa – frustrada – de se aquecer.

— É trivial. — Finalizou, orgulhoso.

Mugen suspirou e, com a dificuldade de quem não gostaria de estar fazendo aquilo, levantou-se. — Fale por você, velhote. — Retrucou.

— Sua falta de interesse me impressiona... — Pausou. — Deve ser por isso que ele te mandou embora.

O jovem, ao ouvir aquelas palavras, rapidamente serrou os punhos e ensaiou um golpe que foi interceptado facilmente pela mão de seu avô. Irritado, direcionou o olhar ao mais velho e encarou os intimidadores olhos rubi. Tetsuma, então, soltou o punho do garoto e continuou a falar.

Considerações:

— Espalhados por este campo de treinamento há cerca de 100 alvos em formato circular, cada um com 30cm de diâmetro. Eles estão em diferentes altura e distância. Quero que você utilize apenas técnicas do tipo Katon para destruir todos eles. — Tetsuma continuou olhando fixamente para o Jonin. — Combinando diferentes técnicas, acredito que você será capaz de acabar com todos os alvos. Entretanto, pelo número de jutsus que você irá utilizar, é necessário que você se concentre e gaste o seu chakra de forma inteligente. — O velho mexeu em suas vestes e pegou um cigarro, acendeu-o calmamente e, após a primeira tragada, soprou toda a fumaça para o céu. — Pelo nome que você carrega, é obrigação ter controle total sobre técnicas desse estilo.

Mugen afastou-se enquanto prendia o cabelo em um rabo de cavalo, deixando apenas duas franjas caídas sobre o rosto. Chegando ao centro da área de treinamentos, girou o corpo em 360° e identificou o posicionamento dos alvos. Então, fechou os olhos por alguns instantes e respirou profundamente, liberando todo o ar pela boca. Ao abrir os olhos novamente, demonstrou calma e concentração.

O Uchiha acrobaticamente saltou e, no momento que atingiu a altura máxima, realizou uma rápida sequência de selos e cuspiu um contínuo um jato de chamas (Katon: Gōkakyū no Jutsu) em direção aos alvos. Visando atingir o maior número de objetos possíveis, enquanto ainda estava no ar, girou o corpo em torno de si mesmo. Ao pousar, não hesitaria em repetir os selos de mão e expelir uma espera maciça de chamas (Katon: Gōkakyū no Jutsu) em direção aos alvos restante a sua frente.

Considerações:

Palmas podiam ser ouvidas vindas da direção de Tetsuma. O brilho dos olhos rubi e o leve sorriso escondido em meio a enorme barba indicavam que o mais velho estava satisfeito com a atuação do jovem Uchiha. Entretanto, ainda não era o suficiente.

— Muito bem, garoto... cof... cof... — A típica tosse de fumante interrompeu a fala. — Faltam poucos alvos, tente usar algo maior desta vez e mantenha a concentração e o controle sobre a técnica ou... Tente utilizar alguma forma de manipulação elemental, os princípios são similares aos dos jutsus. Acredito que você já seja capaz de executá-las com maestria, deixe que as chamas fluam através de seu corpo. — Anunciou, animado.

Mugen acenou positivamente com a cabeça. Novamente inspirou o ar pelo nariz e o expirou pela boca. Concentrado, observou os alvos restantes nos arredores do campo de treinamento. Então, após uma nova sequência de selos de mãos, o Uchiha manipulou o chakra em um enorme dragão de chamas e o conduziu em direção aos alvos restantes (Katon: Karyū Endan), destruindo-os.

“A prática leva a perfeição, como dizem”, pensou. Com invejável orgulho, o jonin voltou-se para seu avô em busca de aprovação pelo seu feito. Entretanto, algo inesperado ocorreu diante de seus olhos. Sem Tetsuma notasse, um estranho vulto apareceu em suas costas e imediatamente perfurou-o com uma katana na altura do coração. Na sequência, um outro estranho um passo a frente do anterior e permaneceu imóvel encarando Mugen.

Considerações:

Suas feições eram indecifráveis. A única coisa que Mugen fosse capaz de decifrar eram os sorrisos maléficos estampados em seus rostos. O jonin, embora já experiente, não conseguia se mexer ou tomar alguma atitude contra a dupla. Não era medo, não era excesso de calma, não era concentração, não era nada. Não sabia explicar o motivo de sua breve paralisia, apenas estava imóvel. Talvez fosse surpresa. Quem iria fazer um ataque desses dentro da vila? Não tinha nexo.

Fazendo sentido ou não, Tetsuma lutava pela própria vida. Mesmo estando gravemente ferido, conseguiu se livrar do adversário e tentou se afastar – em vão. Dois passos depois, caiu no chão e foi violentamente golpeado por outro ataque com a katana. Dessa vez não havia chance do ex-shinobi sair com vida, a lâmina atravessou sua cabeça e espetou o chão.

“NÃO! MERDA!”, exclamou em seus pensamentos. O sujeito, sobre seu avô, levantou a katana e deu outro golpe. “NÃO!”. Outro. “PARE!”. Mais um. “NÃO!”. Os golpes não paravam, pelo contrário, tornaram-se mais frenéticos. “NÃO! NÃO! NÃO!”.

De repente, tudo ficou silencioso e em câmera lenta. De forma inexplicável, Mugen conseguia ver o movimento do sujeito de forma clara e precisa. Breves imagens de sua infância e dos constantes conflitos com seu pai vieram à sua mente. Aquilo o alimentava e a raiva passava a tomar conta de seus pensamentos. Tão inesperado como aquele ataque, o Uchiha avançou em direção aos adversários.

Habilmente passou pelo primeiro. Ao alcançar o segundo, segurou-o pelo pescoço e o tirou de cima de seu avô, jogando-o contra o chão. Ainda o segurando, no âmago de sua raiva, misturou seu chakra em chamas e o conduziu pela mão que estava em contato com o adversário e liberou em uma forte explosão de fogo (Manipulação Katon) – de alguma forma, Mugen sabia que era capaz de fazer aquilo. Sem pestanejar, pegou a katana do inimigo e desferiu um golpe contra o pescoço do que ainda estava em pé.

Após o último ataque, toda sua força se esvaiu. O Uchiha caiu no chão, ao lado da katana, e pode ver o reflexo de seu rosto na lâmina: a íris de seus olhos estavam vermelhas. Então, tudo ficou escuro.


Três dias depois.

Mugen acordou com a claridade da manhã batendo em seu rosto. Estava deitado em uma confortável cama e, sem dificuldades, sentou-se. Sua visão ainda estava embaçada, mas pode notar alguém estendendo-o um copo d’água.

— Onde estou? — Questionou.

— Em casa, oras. — O Uchiha, que levava o último gole de água à boca, cuspiu todo o líquido em direção aquela pessoa.

Aquela voz, sem dúvidas, era seu avô. “Como?”.

Considerações: