Hatake Raiden

Após mais um dia exaustivo na corriqueira jornada shinobi, Raiden retornava para casa, saboreando pequenas esferas de chocolate amargo. Com a destra, lançava-as ao ar, capturando-as com a boca sem muita dificuldade. Como de costume, justificava o hábito com o pretexto de merecer uma recompensa após o árduo dia, embora soubesse que aquilo era apenas uma desculpa para alimentar seu vício. Felizmente, nem mesmo a rígida doutrina imposta por seu velho havia conseguido extirpar de sua essência aquele desleixo peculiar em relação à rotina nutritiva.

Porém, ao se aproximar da estrutura que conhecia como lar, algo desviou sua atenção. Um homem devidamente fardado com as cores da Vila da Areia estava à porta, como se verificasse se havia alguém em casa. O albino deixou de lado o doce e acelerou o passo em direção à figura.

— Com licença, oficial, aconteceu algo dentro de casa?

O homem desviou o olhar da residência para o garoto, analisando-o rapidamente. Quando notou os cabelos brancos do jovem, suas pálpebras estreitaram levemente, como se confirmasse uma informação.

— Perdão pela intromissão. Você é Hatake Raiden? — questionou com formalidade.

— Uhum. O que houve? — respondeu, franzindo o cenho.

— Preciso que você me acompanhe até o Hospital Geral.

Uma fina membrana de som e imagem parecia envolver sua percepção do mundo exterior. Seus passos seguiam automaticamente o oficial, mas cada movimento era mecânico, desprovido de plena consciência. O som abafado do ambiente o afastava ainda mais da realidade, deixando-o confuso. Ansiedade? Mas por quê? Claro, podia supor inúmeras possibilidades, mas, no fim, eram apenas conjecturas. Ele era um ninja; foi moldado para ser um desde o início da vida. Matar, combater, perder companheiros — estava preparado para tudo isso, mesmo que seu sorriso infantil ocultasse o desapego intrínseco que carregava pela vida. Então, por que estaria ansioso? Se algo havia acontecido com seu pai, não seria apenas a inevitável naturalidade do ciclo shinobi? Não era exatamente isso que lhe haviam ensinado? Cada pensamento em sua mente era seguido por interrogações que ecoavam em silêncio, enquanto seu corpo, movendo-se instintivamente, continuava a caminhada em direção ao hospital.

A resposta veio em ondas abafadas, manifestando-se diante de duas realidades implacáveis: a imagem de seu pai, Retsu, estendido em um leito, envolto por bandagens que cobriam inúmeras feridas e revelavam a ausência de membros — a destra e a perna esquerda —, e as palavras do médico, cuja voz, ainda amortecida em sua percepção, explicava a gravidade da situação.

— Fizemos tudo o que estava ao nosso alcance, mas o estado dele permanece crítico. Neste momento, ele está em coma. Não sabemos quando, ou mesmo se, ele despertará... — o homem falava com um tom pesado, carregado de pesar.

Os olhos de Raiden, no entanto, não se desviavam. Fixos, petrificados naquela cena.

— Como assim não conseguiram achar uma alternativa? Pra que vocês estudam tanto, então? — Suas palavras eram infantis, afinal, era apenas um garoto. No fundo, talvez entendesse sua imaturidade, mas não queria aceitar a realidade à sua frente. Seus olhos seguiam sem encontrar os do doutor.

O garoto saiu do quarto hospitalar sem ao menos ouvir a resposta. Raiden dirigiu-se imediatamente a uma biblioteca próxima, onde pegou títulos de medicina. Ele madrugou ali, buscando soluções, aprendendo, cavando e entendendo conceitos.

Nada pareceu apetecer a sua necessidade, contudo, ele era um ninja. Entre os livros ali, um conceito surgiu naqueles tomos, que poderia conter a solução que ansiava.