Õtsutsuki Yūhi

Foi logo após a formatura como gennin que conheci Takemi, uma mulher que estava presente durante a graduação para apoiar e parabenizar seu irmão mais novo. Talvez por simples atração física, ou por seu modo de se portar peculiar eu senti que precisava me aproximar dela. Os cabelos negros como a noite e cortados na altura do pescoço, os olhos azuis cobertos com uma sombra preta e o jaleco branco que vestia por cima de roupas pretas davam a ela um aspecto único, e de certa forma até mesmo fúnebre. Naquela época eu não fazia muita questão das coisas, não em importava em parecer incomodo ou mesmo um estorvo, talvez essas características ajudaram na hora de puxar as primeiras palavras com ela.

Após minha apresentação logo questionei o motivo do jaleco, questionando se ela seria uma médica, oque de certa forma ela confirmou ao dizer -Faço autópsias, sou auxiliar de necropsia.- Apesar do emprego de certa forma peculiar, por algum motivo me senti extremamente curioso a respeito dele. A garota pareceu perceber esse interesse, seu sorriso malicioso cheio de segundas intenções não deixavam ela esconder isso. Após as apresentações e mais uma troca de palavras não contive a boca e acabei revelando meu interesse por aquele trabalho que ela fazia -Oque é preciso para trabalhar com os mortos?-

A resposta acabou sendo mais do que interessante, ela revelou um pouco da personalidade sarcástica de Takemi, além de deixar claro seu interesse por mim -Você precisa estar vivo hsrhsr.- Sua risada estranhamente bonita fez meu interesse crescer, fazendo com que eu perguntasse se poderia acompanhar a mesma algum dia no trabalho. Sua resposta foi claro, positiva, acrescentando que teria muito para me ensinar naquele local escuro e frio, ela só esqueceu de dizer que também fedia a morte e decomposição.

Na semana seguinte me dirigi até o prédio onde ela trabalhava e a visão da mesma não decepcionou, a mulher continuava deslumbrantemente fúnebre. Após as apresentações para com os outros membros da equipe, e de receber uma troca de roupas, luvas e uma touca branca, finalmente nos dirigirmos até a área em que os mortos descansavam -Minha área de estudo é a anatomia, procuro por machucados ou qualquer coisa que possa revelar a causa da morte.- Aquilo na verdade acabou se mostrando uma surpresa tão boa quanto seria ganhar um beijo dela. Afinal nos últimos tempo eu estava muito focado em aprender mais sobre anatomia humana.

Agora sabendo que possuíamos áreas de interesse parecidas Takemi acabou por se tornar uma espécie de tutora particular, fazendo minhas visitas ao necrotério serem recheadas de lições. Inicialmente ela começou a me explicar sobre os ossos do corpo humano, explicando que em média possuíamos 206 dessas estruturas feitas de cálcio em nosso corpo, no entanto algumas pessoas podiam nascer com alguns a mais ou a menos, então a média era oque considerávamos correta. Takemi disse até mesmo que ouvia boatos de um clã ou de uma família que possuía NO MÍNIMO o dobro desses ossos, sendo chamados de anomalia anatômica, no entanto ela acabou não entrando em mais detalhes sobre o nome ou características desse tal clã, oque me deixou muito curioso.

Enquanto estudávamos sobre esses ossos a parte mais difícil com toda certeza foi decorar seus nomes e localizações, sendo uma parte teórica muito importante, pois através desse conhecimento era possível identificar peças fora do lugar ou faltando nos corpos que estudávamos. Felizmente depois de saber sobre o esqueleto humano partimos para uma área tão complexa quanto mas muito mais interessante em minha perspectiva. Falo do sistema nervoso, composto por entre outras partes o encéfalo, medula espinhal e nervos. O fato de me interessar se dava a capacidade de incapacitar as pessoas destruindo esse sistema, não só temporariamente mas se tivesse qualidade, era possível até mesmo destruir a coordenação motora do alvo.

O estudo do sistema nervoso no entanto demorou muito mais do que eu esperava, a complexidade dos sinais enviados para que cada parte do corpo funcionassem, como se fossem fios sendo ligados a tomada e enviando a eletricidade necessária para ligar o corpo todo. Felizmente Takemi compartilhava de minhas curiosidades macabras, como quais partes atingir para causar mais danos ao adversário em combates e coisas similares -Eu não sou uma ninja, no entanto já ouvi falar de shinobis que conseguem afetar o sistema nervoso através do toque.- Aquela informação apesar de não ter nenhuma fonte confiável, a não ser o "boca a boca" era tão interessante que só aumentou minha curiosidade por técnicas médicas.

Depois do sistema nervoso fomos para os sistemas cardiovascular e o respiratório, esses que apesar de distintos estavam relacionados em seu âmago. Afinal o respiratório era responsável por levar o oxigênio para todo o corpo, enquanto o cardiovascular cuidava da circulação sanguínea, e por correlação também transportava o oxigênio pelo sangue. Um ponto muito interessante que acabei apreendendo com Takemi era o fato de que nós humanos possuímos cerca de 4~6 litros do liquido da vida, vulgo sangue, em nosso corpo. Algo interessante é que é teoricamente possível perder cerca de 15~20% dessa quantidade total e ainda ter o quadro estabilizado, no entanto caso seja ultrapassado esse limite, o corpo dificilmente conseguiria sobreviver.

Os dias com a mulher acabaram se tornando tão rotineiros e animados que por algumas semanas eu nem mesmo me lembrei de meu irmão, no entanto quando o fiz uma questão dúbia, afinal mesmo curioso não queria saber a resposta, me veio a mente. "Fora Takemi que fez a autopsia no corpo dele?" Tal dúvida no entanto não foi sanada, primeiro pelo fato da atração que sentia pelo mulher me impedir de questiona-la sobre qualquer coisa. E depois, julgando pela idade, ela nem mesmo era uma médica na época e isso me ajudou a esquecer dessa questão.

Após cerca de 3 meses frequentando quase que diariamente o recinto de trabalho da mulher, um dia fui surpreendido ao entrar no local. Alguns balões negros e uma faixa com os escritos "Amor eterno" na entrada do local me fizeram perceber que algo diferente acontecia ali, e no momento que coloquei os pés para dentro todos que ali trabalhavam vieram apertar minhas mãos com os dizeres de "Parabéns" nos lábios. Mesmo muito confuso quando encontrei Takemi finalmente entendi oque significava: Eu havia me "formado", a mesma me esperava em frente um corpo com uma bancada de equipamentos cirúrgicos -Desculpe pela faixa, roubamos de um morto.- Na verdade aquilo era meio óbvio só de ler a mensagem e por esse motivo acabei caindo na gargalhada.

Mesmo não sendo oficialmente um "curso", o tempo que passei com todas aquelas pessoas e em especial Tae Takemi me serviu de aprendizado, tanto aprendizado que a ultima lição que ela me deu foi a de fazer a autopsia sozinho em um corpo. Inicialmente fiquei relutante por pensar em fazer merda e acabar destruindo o cadáver do ente querido de alguém, felizmente a insistência da mulher e dos outros companheiros de trabalho aumentou minha fé em mim mesmo. Usando bisturi para cortar a pele e um serra muito maior para abrir o tórax do cadáver comecei procurando por causas obvias de morte, oque se mostrou de certa forma fácil ao encontrar o intestino grosso rompido e marcas de escoriação em volta da região do estomago, uma pancada muito forte havia matado aquele homem.

Depois daquela suposta formatura meu relacionamento com Takemi acabou avançando um pouco, até finalmente terminar em uma noite chuvosa. Tae queria se mudar para vila Kirigakure, onde segundo ela poderia encontrar empregos melhores devido ao grande numero de mortos na vila, eu por outro lado não conseguia imaginar a possibilidade de deixar suna, deixar a aldeia onde meu irmão e eu havíamos nascido e crescido juntos até certa idade. Devido a esses desentendimentos acabamos no separando cerca de oito meses após eu conhecer aquela mulher. Tae Takemi não havia mudado minha vida apenas como interesse amoroso, mais principalmente como uma professora da vida.

Me ensinando muito sobre como a morte podia ser dura e ao mesmo tempo fria e calculista, o interesse por ninjutsus médico somente aumentou em mim depois desse tempo, sendo suna conhecida como "nação da medicina" meu ímpeto por apreender mais e mais acabou sendo saciado, ao menos momentaneamente já que depois de um tempo a falta de meu irmão voltou a me assombrar. Sendo dificil de lidar tão diretamente com a morte enquanto ainda carregava o luto no peito, escolhi esperar um pouco para me aprofundar nos assuntos relacionados a medicina.