Ultimamente as missões que havia recebido estavam muito abaixo das que eu esperava. Desde a formatura na academia não havia recebido nenhuma que me deixasse no mínimo muito cansado ou alerta, ao menos não até aquele pergaminho chegar em casa. Depois de brevemente ler o recebido concluí que essa poderia ser a primeira tarefa que seria no mínimo complicada -Que merda, ficar protegendo um esnobe não vai ser a melhor das missões.- Já com um sentimento negativo comecei a me preparar, colocando as vestes normais para os recém formados e amarrando minha bolsa de armas na perna direita.

Assim que pisei para fora de casa uma goma de mascar a menos se fez presente no bolso da calça, sendo jogada em minha boca e aliviando quase que instantaneamente o nervosismo sentido. Não demorou para encontrar o ponto de espera, onde o diplomata suspostamente chegaria já escoltado por alguns ninjas. Mas talvez por azar, ou simplesmente ansiedade, acabei chegando muito cedo e sendo obrigado a ficar por algumas horas esperando que o homem chegasse, fazendo com que nesse meio tempo algumas dúzias de gomas fossem mascadas.

Quando finalmente uma carroça chegou, puxada por bois tão fortes e de coloração tão preta que nunca havia visto nenhum animal daquele tipo no pais do vento. Após a parada do veículo um ninja com a bandana de uma aldeia desconhecida por mim desceu da mesma, ficando em alerta enquanto um senhor de meia idade, na casa dos 50-60 anos descia lentamente. O ninja se colocou em posição de sentido e pude perceber seu olhar com o canto dos olhos. Após descer o senhor começou a falar -Muito obrigado Fuuyki, acredito que esse jovem seja minha escolta, certo?- Ele questinou enquanto mostrava um sorriso sincero, de forma automática retribui o gesto antes de responder.

-Sim senhor, meu nome é Õtsutsuki Yūhi. Estou a disposição do senhor enquanto se mantiver em nossa vila!- Mesmo com um modo de falar meio robótico o homem pareceu receber bem minhas palavras. O ninja que o acompanhava então fez um gesto de respeito, abaixando a cabeça e se retirou junto a carroça. Deixando o diplomata junto de mim, próximos aos portões da vila. Antes que eu pudesse dizer qualquer palavra o homem puxou assunto -Então, Yūhi certo? Poderia caminhar comigo pelas ruas da vila? Vou me encontrar com seus diplomatas só daqui algum tempo, gostaria de ver como vivem seus aldeões nesse meio tempo.- Dessa vez de uma forma não robótica me coloquei ao lado do meu protegido e comecei uma caminhada com o mesmo, sem um destino muito certo aparente.

Talvez por conta da idade, ou mais provavelmente por conta de sua posição de diplomata, o homem pareceu se incomodar com a falta de palavras vindas da minha pessoa, e não demorou muito para questionar tal fato -Você é bem quieto não é? Talvez preferiria estar em uma missão de combate, ao acompanhar um diplomata chato por ai?- Mesmo tendo verdade naquele questionamento ele não estava totalmente correto, mas me dispus a uma conversa.

Missão:

As palavras do diplomata não era fáceis de serem respondidas, ele até mesmo pareceu notar quando o semblante antes calmo que pairava em meu rosto se transformava em algo mais depressivo. Infelizmente garantir o bem estar dele era minha missão, então não via motivos parar ficar escondendo qualquer coisa -Na verdade nem mesmo essas missões de combate parece estar muito "animadas", não depois ...- A pausa por um breve momento foi para relembrar meu falecido irmão, morto ainda jovem, acontecimento que me fez perder o brilho -Bem, depois de algumas coisas. EU meio que só ando fazendo aquilo que me mandam.- Havia sinceridade nas palavras, e de certa forma nem foi preciso revelar algo íntimo que me deixava desconfortável.

O homem pareceu escutar com atenção, ao mesmo tempo em que caminhávamos pela vila ele mantinha seus olhos nos arredores mas seus ouvidos em minhas palavras -Olha garoto, não sou alguém com muito conhecimento sobre ser um ninja. No entanto, já vivi muito.- Ele parecia fascinado com as construções feitas de areia prensada e mostrava um sorriso simpático para todos que encontrava no centro da aldeia -Com o tempo a gente acaba percebendo que viver pra baixo nos faz perder muito da vida.- Era estranho estar ouvindo aquelas palavras de um homem desconhecido, no entanto minha atenção acabou sendo tomada por ele.

-É difícil se manter motivado nos dias de hoje eu acho, muita coisa muda e se adaptar a elas é muito complicado. Mas o aprendizado faz parte da vida, eu acho.- Não pareciam palavras vazias vindas só para puxar assunto, de certa forma pude sentir que ele carregava algo escuro dentro de si também. Foi quando ele parou em frente ao escritório do Kazekage, primeiro parecendo deslumbrado com a grandeza do local e depois com um semblante mais sério me pareceu que ele até mesmo sentiu um pouco de intimidação -Yūhi, irei em encontrar com seus diplomatas aqui, faria o favor de me esperar? Não deve demorar.- Talvez por estar perdido em pensamento, ou precisando de um tempo para filtrar tudo que borbulhava em minha mente, tudo que consegui fazer foi um sinal de positivo com a cabeça. Enquanto aguardava o mesmo voltar, comecei a pensar nas palavras ditas por ele poucos minutos atrás.

Deixar a vida passar simplesmente por estar sofrendo não parecia algo certo a se fazer, no entanto não é tão fácil mudar uma mente quebrada. No entanto foi quando comecei a relembrar algumas coisas de minha vida, que essas palavras realmente começaram a fazer sentido internamente.

Missão:

Enquanto aguardava pela volta do homem aproveitei para saciar meu vício, já fazia algum tempo desde que havia mascado o ultimo chiclete, então agora que tinha tempo não tarde para lançar alguns na boca. Sentindo o sabor doce pude finalmente relaxar um pouco mais, apesar de ainda estar incomodado com as palavras do diplomata. Afinal quem ele achava que era? Como podia dizer tais palavras sem conhecer minha dor? Sem saber por tudo que eu passei. No entanto oque mais me incomodava era o fato dele talvez, e só talvez, ter razão.

-Aproveitar a vida né?- Dificilmente algo me deixava para baixo ao mesmo tempo que me fazia pensar por horas. De certa forma meu irmão nunca quis que eu parasse de treinar, essa era a atividade que mais fazíamos juntos no final das contas. Ao mesmo tempo me focar na carreira ninja trazia o gosto amargo de que ele nunca poderia se formar, nunca pode crescer e teve a vida ceifada de maneira tão cruel. As questões envolvendo o luto porém teriam que esperar, pois enquanto eu me perdia nos pensamentos o homem saiu do prédio em que estava reunido com os diplomatas da areia.

-Bem, pode me levar de volta até o meu transporte? Acredito ter acabado meus assuntos com seus compatriotas.- Sem nada dizer apenas concordei e me virei na direção do portão, pronto para começar a caminhada de volta. O homem pareceu mais quieto na volta da reunião, talvez alguma coisa tivesse lhe deixado pensativo, talvez suas negociações não tivessem dado certo, tais questões passavam em minha mente enquanto voltávamos. No entanto meus olharem pareceram não passar despercebidos, e ele logo voltou a ser o tagarela de antes.

-Bem, seus anciões são mesmo durões não é? Felizmente minha viagem foi produtiva, agradeço muito por me escoltar Yūhi.- Por algum motivo isso me deixou de certa forma aliviado, antes pensei que esse homem seria só mais um rico esnobe de outro país, felizmente eu havia me enganado. Assim que chegamos até a carruagem que o levaria embora e ouvi as palavras de despedida do mesmo tive que questiona-lo sobre suas palavras -O senhor acha que alguém mergulhado em tristeza ainda pode ser feliz?- O questionamento pareceu pega-lo de surpresa, no entanto após processar as palavras ele abriu um sorriso sincero no rosto -É claro! Todo dia você pode recomeçar Yūhi.- E essas foram as palavras finais que ele disse antes de partir, finalizando minha missão mas me deixando na pior.

Missão:

A partida do homem me colocou em um estado de reflexão por algum tempo, só então consegui perceber algo: Eu nem mesmo havia perguntado seu nome! Que droga de ninja faz uma escolta e não confirma seu cliente? Parece que a cada dia mais minha mente se perdia sozinha. No entanto as palavras ditas por ele ainda ressoavam e talvez por isso decidir por dar uma volta pela vila ao invés de retornar imediatamente para casa. A lua já pairava sobre o céu noturno iluminando a vila da areia, e por algum motivo esse simples fato me deixou emotivo.

Era noite quando meu irmão partiu, com uma lua quase tão brilhante quanto a que se encontrava agora no céu, aquele dia nos atrasamos para chegar pois estávamos treinando habilidades ninja -Ele adorava treinar...- Sim, tudo que fazíamos juntos era relacionado a vida de um shinobi, nosso grande sonho sempre foi o de nos tornarmos ninjas poderosos. Ficar remoendo sua morte era uma forma que eu havia encontrado de relembrar meus momentos ao seu lado, no entanto será que isso estava me impossibilitando de viver o presente? Parei em frente de um restaurante de macarrão e exitei antes de realmente entrar no mesmo, talvez encher a barriga me varia bem e deixaria meus pensamentos mais leves.

A comida quente realmente me ajudou a manter a mente calma naquele momento de reflexão, e ali no meio da multidão pude finalmente pensar com mais calma nas palavras ditas pelo homem. Mesmo não gostando de admitir, eu realmente estava me mantendo de certa forma limitado, não conseguindo aproveitar a vida no sentido que, tudo que eu e meu irmão queríamos era nos tornarmos ninjas e, agora que eu tinha isso, passava a maior parte do tempo me sentido um lixo, para baixo e sem motivação para treinar novas habilidades. Obviamente não era esse o sonho que tínhamos quando crianças, e mesmo que com muita dor, era difícil para mim ver esse sonho morrer dessa forma.

O molho quente do macarrão e seu gosto salgado me tirou do transe mental, infelizmente não conseguiu me tirar a dor. No entanto alguma coisa começava a mudar dentro de mim, eu obviamente sentia a dor, mas ao invés de fugir dela, comecei a me sentir mais disposto a encara-la. Uma pequena faísca de motivação se ascendia em meu peito, de certa forma era muito importante me sentir assim. Depois de pagar pela comida deixei o restaurante, agora tudo que eu queria era voltar para casa, mesmo estando de noite ainda não era muito tarde e eu sentia em meu peito que precisava ter uma conversa com meus pais.

Não ouve resistência de meus pais quando toquei no assunto do meu irmão, pelo contrario, eles pareciam querer falar sobre tal tema. Mesmo incomodado de certa forma com tal atitude puxei o assunto que havia me atormentado quase que o dia todo -Pai, mãe ... Acham que Kotetsu iria gostar da vida que tenho levado?- Palavras diretas, não tinha intenção e nem queria perder muito tempo discutindo, só queria ouvir a opinião de pessoas que sabiam do acontecido na época, e que obviamente sofreram tanto quanto eu. Meu pai abriu um sorriso estranho quando ouviu o questionamento, felizmente ele logo mudou o semblante para algo mais sério.

-Tudo que Kotetsu queria era ser um ninja Yūhi, você acha que está sendo o shinobi que ele sentiria orgulho de se espelhar?- De repente foi como se eu tivesse levado um soco na boca do estomago, até mesmo minha vista se tornou turva. Aquele questionamento feito por meu pai havia me feito pensar tão profundamente que não tive reação ao ouvir tais palavras. -Filho, nós amamos você bem como amávamos seu irmão. Tudo que queremos é que leve uma vida boa e sem arrependimentos.- As palavras da matriarca me deixaram ainda mais para baixo e, contraditoriamente, levantaram meu espirito de tal forma que eu não poderia fazer sozinho, nem em mil anos.

Uma conversa amigável se seguiu após o tópico relacionado á meu meu irmão, com recordações de quando éramos apenas crianças e corríamos pela imensidão do deserto que situava a vila de sunagakure. Por algum tempo achei que estava louco, pude ouvi-lo falar comigo tão vividamente quanto meus país falavam e talvez essa loucura acabou por me libertar no final. Depois das palavras trocadas com os progenitores, sai de casa e me sentei na área da mesma, vislumbrando o céu noturno quase sem estrelas e com uma lua que parecia tão assustadora quanto encarar a morte, sua cor pálida refletia nas areias do deserto e davam a vila um tom fúnebre.

No entanto foi naquela que, em um momento dos quais só havia ouvido falar, pude me perdoar para com meu irmão. O perdão advindo de si mesmo é algo raro, ao menos era isso que pensava, algo tão raro que chega a ser inestimável. Quando me dei conta senti lagrimas quentes descendo por meu rosto e molhando as vestes ninja que meu pequeno irmão tanto sonhou em usar, felizmente as lágrimas não passavam de alívio, sensação que só pude ter ao tirar aquele peso enorme das costas. Agora eu me sentia pronto para encarar a vida, não somente no aspecto shinobi, mas encarar a vida de um forma que eu ignorei por anos.

Depois da aparente liberdade emocional obtida naquela noite não demorei para me deitar, entretanto o sono não chegou rápido. Muitos minutos se passaram na cama enquanto eu conseguia ver nitidamente aquele lua opaca no céu -E pensar que sum diplomata causaria tanto ...- Tais palavras ditas para ninguém me faziam lembrar do homem que eu havia escoltado, se não fosse ele eu não teria parado para pensar em tudo que estava perdendo sendo alguém sem paixão pela vida. Por não conseguir dormir comecei a me sentir muito ansioso, tal sentimento me fez recorrer as minhas gomas de mascar, o sabor de frutas ou do puro açúcar me ajudava na superação da ansiedade.

Agora comendo o chiclete comecei a fazer algo que não fazia desde a morte de Kotetsu: Agradecer. Ali deitado fechei meus olhos e pude visualizar a imagem de meu irmão clara como água  -Obrigado irmão, de certa forma vou estar mais próximo de você enquanto estiver enfrentando o mundo ninja.- Era verdade, antes tudo que eu fazia era evitar pensar nele, ignorando as vontades que tínhamos quando crianças, agora tudo que eu faria seria me focar em deixar o mesmo orgulhoso da vida que acabei seguindo. Minha jornada como ninja estava apenas começando, e levaria o nome Õtsutsuki longe, assim como Kotetsu desejava.