”Vinte e Um. Às vezes sinto que essa pode ser uma boa profecia” os pensamentos acerca do passado permaneciam rodeando a mente de Hiei. Ainda que, na maioria das vezes, fossem intrusivos, a saudade daqueles tempos continua permeando o âmago do marionetista, a ponto dele mesmo não escutar os sons de batidas secas sobre a porta de madeira de seu dormitório. Passos firmes em direção à porta se sucederam após um longo suspiro. Deparou-se, ao girar a maçaneta metálica, com um ninja de meia idade carregando as cores da resistência de Renzo. Com ele, um pergaminho foi entregue automaticamente, forçando Hiei a gastar alguns segundos tentando adivinhar o conteúdo do documento.

“Senhor Hiei, nossa equipe de batedores rastreou um grupo de inimigos se preparando e direcionando-se a um ponto de interesse estratégico de nossa Resistência. Estaremos mandando você e Massaru, que já completaram uma missão juntos, como dupla encarregada de lidar com essa ofensiva inimiga. Lembre-se, é de suma importância defender o ponto estratégico e capturar o criminoso responsável pelo grupo.

Atenciosamente, Renzo.”

Sentiu-se confiante em saber que partilharia mais uma missão junto ao de fios azulados, à medida em que buscou com os glóbulos os itens que geralmente carrega consigo, constatando estar portando tudo o que precisava; pergaminhos, armadura, armas básicas e afins. Ao deixar o dormitório, sentiu as brisas gélidas invadirem seu corpo. Tentava ao máximo se acostumar com o clima frio de Shimogakure, antônimo do de Kumogakure, entretanto, falhava miseravelmente todos os dias. Esperou por alguns minutos no portão principal da colônia, por Massaru, entretanto, a ansiedade não deixou que aguardasse por mais tempo. Sabendo que ele provavelmente havia recebido o mesmo pergaminho que o seu, com a localização do ponto estratégico a ser defendido, não havia motivos para aguardar por ele. Poderia ir adiante e encontrar com sua dupla lá mesmo. Determinado, com as batidas descompassadas do coração lhe afligindo, seguiu adiante pelas trilhas limpas de neve.

Não tardou em chegar no lugar. Analisando-o, podia certificar-se das defesas do ponto estratégico, cercado por muros improvisados com espinhos de madeira talhados. Dentro, algumas pequenas casas cercando uma muito maior, com cerca de cinco metros se pudesse chutar. Pela arquitetura, era fácil deduzir que tratava-se de um torre de vigilância. Mesmo que não tivesse números grandiosos de aliados ali presentes, seria difícil para qualquer grupo criminoso tomar o controle do ponto estratégico, tinha certeza.

Para o caso de Massaru chegar, cumprimentaria-o, deixando claro que iria cuidar das armadilhas enquanto ele poderia rastrear os inimigos, como havia mostrado que conseguia na missão que fizeram no passado. O marionetista prepararia alguns selos explosivos envolta das árvores que circundam o ponto estratégico, a fim de se precaver de ataques sorrateiros.

A discreta luz do dia encontrava as brechas das cortinas, manifestando-se em filetes luminosos que cortavam a penumbra do cômodo. Massaru, já acostumado com essa rotina matinal, contava mentalmente os toques na porta. “Um, dois, três…” Aquilo estava se tornando cada vez mais previsível. A sequência de três toques graves na porta de madeira era seguida por um silêncio absoluto. “Enfim um pouco de ação.” Ele sabia que aquele efeito dominó de movimentos sempre trazia consigo um pergaminho com instruções. Levantou-se com um leve suspiro e abriu a porta. Não havia ninguém ali, apenas um manuscrito em couro de carneiro repousava sobre o tapete de entrada, como uma sombra silenciosa.

“Senhor Massaru, nossa equipe de batedores rastreou um grupo de inimigos se preparando e direcionando-se a um ponto de interesse estratégico de nossa Resistência. Estaremos mandando você e Hiei, que já completaram uma missão juntos, como dupla encarregada de lidar com essa ofensiva inimiga. Lembre-se, é de suma importância defender o ponto estratégico e capturar o criminoso responsável pelo grupo.

Atenciosamente, Renzo.”

— Hiei… — Pronunciou baixo enquanto passava os dedos sobre o pergaminho, decifrando a diferença de textura entre a parte com tinta e a totalidade não marcada do couro animal. A familiaridade com Hiei trouxe uma sensação de conforto. Poderia ir de encontro ao seu companheiro, mas, considerando a retrospectiva de seu histórico, sabia que a garantia maior era encontrá-lo diretamente no local indicado. E assim o fez, partindo rumo ao ponto de interesse descalço, com seus olhos cobertos, ouvindo atentamente o que lhe cercava e sentindo cada vibração causada no solo por fatores externos.

O ponto de interesse nada mais era do que uma cidadela não muito distante de Shimogakure. Massaru movia-se com a precisão de um predador, cada passo calculado e silencioso, sentindo o pulsar da terra sob seus pés nus. A cada mudança de textura do solo, ele ajustava sua postura, seus sentidos aguçados captando qualquer indício de perigo. Não demorou muito até encontrar Hiei, o manipulador de bonecos, já à sua espera. “Não estava tão falante naquele dia.” Pensou enquanto o aliado indicava o que precisava ser feito com gestos rápidos e precisos. Hiei, com sua habitual economia de palavras, transmitia toda a estratégia com um simples movimento de dedos.

Massaru acenou positivamente, um gesto breve mas cheio de compreensão. Sem despedidas ou troca de palavras desnecessárias, ele se movimentou em prol da patrulha, a missão já clara em sua mente. Cada passo era um estudo do terreno, cada som uma peça do quebra-cabeça que ele montava em sua mente. Os dois shinobis se dispersaram pelo perímetro, uma coreografia silenciosa de vigilância e precisão. Massaru confiava nos sentidos aguçados e no treinamento rigoroso para detectar qualquer irregularidade. O toque sutil das folhas sob seus pés descalços, o zumbido distante dos insetos, tudo era observado e analisado.

E foi um tempo depois de partir que seus sentidos apontaram o inevitável. Estava muito distante, mas mesmo assim seus ouvidos aguçados captaram os murmúrios. “Achei!” Era óbvio que eram eles, afinal, quem mais estaria reunido debatendo sobre a melhor abordagem para um ataque? Os sons vinham de um grupo oculto entre as árvores, vozes sussurrantes que traíam suas intenções hostis.

De forma silenciosa, Massaru reduziu a distância, movendo-se com a precisão de um felino caçando sua presa. Por incrível que pareça, não foi percebido. Ali, em cima daquela árvore, com a situação sob controle, ele conseguia visualizar todos os integrantes do grupo. Observando atentamente, ele analisava cada movimento, cada gesto. A estratégia estava clara em sua mente, seus sentidos afiados prontos para qualquer eventualidade.

Um gesto de mão e aquele sujeito de cabelos claros e aparência robusta sumiu. Massaru havia sido enganado. Tinham notado sua presença e, com seu primeiro ataque tentando, através de uma manipulação, cristalizar a perna do oponente junto ao solo, o adversário simplesmente desapareceu em uma nuvem de fumaça, deixando para trás apenas um tronco parcialmente congelado. A surpresa percorreu seu corpo, mas ele rapidamente se recompôs, sabendo que a verdadeira batalha estava apenas começando.

O jovem de cabelos azuis conseguiu escutar assim que o oponente, de forma súbita, rompeu o ar e surgiu atrás de si. Mal teve tempo. Uma estrutura de rochas cobria o corpo do sujeito como uma espécie de armadura, e o impacto daquela sólida proteção arremessou Massaru em direção ao solo. Foi nesse cenário, ainda no ar e a poucos metros de distância, que, com um movimento rápido e custoso de suas mãos em sincronia, uma estrutura de gelo se formou como lança ao seu redor. Era uma grande agulha que avançava de forma rápida contra o oponente, cortando o ar com uma precisão letal.

O ataque foi inesperado e, com certeza, aquele sujeito não esperava uma reação tão rápida. Afinal, se esperasse, não teria aquela arma de cristal perfurando seu peito e rompendo toda a estrutura que o cobria. O jovem sorriu, sabendo que havia eliminado um deles, mas precisava de informações e pretendia aproveitar do segundo invasor para consegui-las. Seu coração batia forte com a adrenalina da vitória, tão forte que a dor em suas costas parecia insignificante, mas ele não podia se dar ao luxo de relaxar. Onde estava o segundo inimigo?

O segundo oponente havia sumido e, em sua cabeça, não havia outro local para ir senão para o ponto estratégico. Logo, não poderia estar longe. Massaru partiu sobre a copa das árvores em direção ao local, cada salto calculado, cada movimento feito com precisão. Ele esperava que Hiei o interceptasse até que pudesse chegar, confiando na habilidade do seu aliado para lidar com qualquer ameaça que surgisse.

O gélido assobio dos ventos invadiram os ouvidos de Hiei à medida em que permanecia focado, com os olhos atentos sobre a floresta que circunda o ponto estratégico. Massaru já havia chego e, pelo barulho exatamente à esquerda, cerca de vinte ou trinta metros mata adentro, o aliado do marionetista travava uma batalha em meio a neve. As tentativas de visualizar o embate tornaram-se infrutíferas a partir do momento em que as árvores impediam uma visão detalhada do ocorrido. Entretanto, ainda atento, focado principalmente no ponto rastreado por seus olhos treinados, viu saindo da mata um homem, correndo em linha reta em direção ao muro do ponto estratégico.

—— Te peguei —— sussurrou, levando o indicador e médio esquerdo até a altura do peito. Concomitante, uma explosão mediana se criou atrás do alvo, obrigando-o a permanecer avançando, perdendo sua possível rota de fuga. Hiei não se assustou com o estrondo, tão pouco ficou parado, diminuindo a distância entre ambos em máxima velocidade, levando menos de dois segundos para tal. Do lado de fora do posto, acumulou chakra elemental nos pulmões ao inspirar o vento circundante, mesclando-o com o próprio chakra, liberando a técnica Fūton: Daitoppa através da boca para rivalizar com três bolas de fogo conjuradas pelo antagonista. O choque entre os elementos favoreceu a técnica de Hiei, que espalhou o fogo, desfazendo as bolas, na medida em que a rajada atingia o alvo, jogando-o metros para trás.