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A LUZ DAS TREVAS
Arco 02
Ano 27 DG
Inverno
Meses se passaram desde a missão de investigação ao Castelo da Lua, no País do Vento, que culminou na Batalha da Lua Minguante. Soramaru, o cientista responsável pelos experimentos, morreu em combate, assim como outros ninjas do lado da aliança. Após a missão ser bem-sucedida, mas carregando tantas mortes, Karma, o líder da missão, ficou responsável por relatar às nações o máximo de informações sobre a organização por trás dos crimes agora que estava com o selo enfraquecido e com isso ele revelou o verdadeiro nome dela: Bōryokudan. Ainda não tendo como fornecer mais detalhes, pois o selo se manteve, e precisando de mais pistas antes de investir novamente em uma missão, Karma saiu em missão em nome das Quatro Nações para encontrar o paradeiro dos demais membros da organização — e sua primeira desconfiança recaiu sobre Kumo.

O mundo, no entanto, mudou nestes últimos meses. Os Filhos das Nuvens concluíram a missão de extermínio aos antigos ninjas da vila e implementaram um novo sistema político em Kumo ao se proclamarem o Shōgun sobre as ordens não de um pai, mas do Tennō; e assim ela se manteve mais fechada do que nunca. Em Konoha a situação ficou complicada após a morte de Chokorabu ao que parece estar levando a vila ao estado de uma guerra civil envolvendo dois clãs como pivôs. Suna tem visto uma movimentação popular contra a atual liderança da vila após o fracasso em trazer a glória prometida ao país. Já em Kiri a troca de Mizukage e a morte de ninjas importantes desestabilizaram a política interna e externa da vila. E em Iwa cada dia mais a Resistência vai se tornando popular entre os civis que estão cansados demais da fraqueza do poderio militar ninja. Quem está se aproveitando destes pequenos caos parece ser as famílias do submundo, cada vez mais presentes e usando o exílio de inúmeros criminosos para Kayabuki como forma de recrutar um exército cada vez maior.

E distante dos olhares mundanos o líder da Bōryokudan, Gyangu-sama, se incomoda com os passos de Karma.
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SHION
SHION#7417
Shion é o fundador do RPG Akatsuki, tendo ingressado no projeto em 2010. Em 2015, ele se afastou da administração para focar em marketing e finanças, mas retornou em 2019 para reassumir a liderança da equipe, com foco na gestão de staff, criação de eventos e marketing. Em 2023, Shion encerrou sua participação nos arcos, mas continua trabalhando no desenvolvimento de sistemas e no marketing do RPG. Sua frase inspiradora é "Meu objetivo não é agradar os outros, mas fazer o meu trabalho bem feito", refletindo sua abordagem profissional e comprometimento em manter a qualidade do projeto.
Angell
ANGELL#3815
Angell é jogadora de RPG narrativo desde 2011. Conheceu e se juntou à comunidade do Akatsuki em fevereiro de 2019, e se tornou parte da administração em outubro do mesmo ano. Hoje, é responsável por desenvolver, balancear, adequar e revisar as regras do sistema, equilibrando-as entre a série e o fórum, além de auxiliar na manutenção das demais áreas deste. Fora do Akatsuki, apaixonada por leitura e escrita, apesar de amante da música, é bacharela e licenciada em Letras.
Indra
INDRA#6662
Oblivion é jogador do NRPGA desde 2019, mas é jogador de RPG a mais de dez anos. Começou como narrador em 2019, passando um período fora e voltando em 2020, onde subiu para Moderador, cargo que permaneceu por mais de um ano, ficando responsável principalmente pela Modificação de Inventários, até se tornar Administrador. Fora do RPG, gosta de futebol, escrever histórias e atualmente busca terminar sua faculdade de Contabilidade.
Wolf
Wolf#9564
Wolf é jogador do NRPGA desde fevereiro de 2020, tendo encontrado o fórum por meio de amigos, afastando-se em dezembro do mesmo ano, mas retornando em janeiro de 2022. É jogador de RPG desde 2012, embora seu primeiro fórum tenha sido o Akatsuki. Atua como moderador desde a passagem anterior, se dedicando as funções até se tornar administrador em outubro de 2022. Fora do RPG cursa a faculdade de Direito, quase em sua conclusão, bem como tem grande interesse por futebol, sendo um flamenguista doente.
Mako
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Mako é membro do Naruto RPG Akatsuki desde meados de 2012. Seu interesse por um ambiente de diversão e melhorias ao sistema o levou a ser membro da Staff pouco tempo depois. É o responsável pela criação do sistema em vigor desde 2016, tendo trabalhado na manutenção dele até 2021, quando precisou de uma breve pausa por questões pessoais. Dois anos depois, Mako volta ao Naruto RPG Akatsuki como Game Master, retornando a posição de Desenvolvedor de Sistema. E ainda mantém uma carreira como escritor de ficção e editor de livros fora do RPG, além de ser bacharel em psicologia. Seu maior objetivo como GM é criar um ambiente saudável e um jogo cada vez mais divertido para o público.
Akeido
Akeido#1291
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Havilliard
Havilliard#3423
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Genin
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Um complexo industrial situado ao extremo leste do vilarejo amanheceu estampando as capas dos principais jornais locais com a notícia de um escândalo envolvendo o filantropo que comanda a empresa. Com isso, uma multidão enfurecida está cercando as principais instalações da produtora de farmacêuticos, protestando contra as ações de corrupção. Em meio a confusão, os funcionários não conseguem deixar o prédio e estão incomunicáveis dentro do lugar, protegidos apenas pela segurança privada, que guarda o prédio contra os manifestantes furiosos.
Shioyama, o diretor-geral da empresa, que está em uma viagem de negócios, enviou uma mensagem ao vilarejo desmentindo os boatos que ele desconfia terem sido criados por rivais da indústria para dar abertura a espionagem de informações sigilosas que podem levar a empresa a falência se forem parar nas mãos de concorrentes, além de solicitar os serviços de um ninja para conter o problema sem que ele venha a público.
Como não há confirmação da suspeitas de Shioyama nem de quem seja o agente inimigo ou de quantos são, essa missão consiste em uma infiltração pelo prédio através dos manifestantes e da segurança, verificando o que houve com os funcionários e reestabelecendo a comunicação com o exterior, recuperando os reféns, se houverem, além de impedir que o invasor escape na posse dos arquivos confidenciais.

7 A.M.
O jornal tinha sido deixado à porta de entrada bem antes mesmo da primeira luz da manhã, como de costume. Minha xícara de café lançava fumaça pelo ar à minha frente enquanto eu meus olhos passavam rapidamente através das palavras que estampavam a primeira página da edição da manhã do noticiário local, depois de buscá-la do lado de fora minutos antes. O diário noticiava uma importante indústria farmacêutica bem no centro de um escândalo de corrupção que colocava em risco a sua credibilidade e a dos seus sócios-diretores. Shioyama Shuusei, o principal acionista do império de pílulas  estava em uma longa viagem, diziam as notícias, o que reforçava a suspeita de todos sobre a veracidade das informações divulgadas, já que ele nem sequer tinha ido a público prestar qualquer declaração quanto às afirmações. Apesar da repercussão do caso, não havia evidências de uma apuração cuidadosa a respeito das afirmações, além de uma multidão enfurecida, incansável, a que novos rostos e vozes se juntavam a cada hora, engrossando o coro do grupo que exigia transparência da empresa, cercando o prédio desde que tudo tinha sido divulgado – esse cenário se formava em um pequeno intervalo de tempo, convenientemente durante a ausência da figura mais importante da indústria. Uma reunião de coincidências que poderiam levar a ruína da empresa.
– O mundo gira rápido demais. – comentei, pensando alto. Levei a xícara à boca para mais um gole de café, quando, em um piscar de olhos, um homem se materializava à minha frente.
– O mundo gira rápido demais? – ele também tinha em mãos um exemplar da última edição do noticiário. – Conta outra. Por que todo mundo tá achando que essa balbúrdia toda está acontecendo só por causa dessas denúncias? O buraco é mais embaixo, mas parece que só eu acho isso. Ainda mais agora que ninguém tem conseguido se comunicar com os funcionários do prédio em que ficam os laboratórios.
– Eu concordo, tudo parece muito conveniente. – levei mais um gole de café a boca. – Talvez conveniente demais, principalmente para os concorrentes. Acha que é um ataque?
– Sim, e é por isso que eu estou aqui. – respondeu, descartando as folhas de papel grosseiro sobre a pequena mesa de armar em que eu fazia minha refeição. – Tenho uma missão para você, Shinya.



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7:13 A.M.
A figura masculina vestia um sobretudo preto e uma máscara branca, cobrindo todo o seu rosto, impedindo que eu o indentificasse.
– Não compreendo. Por que o vilarejo se envolveria com o assuntos de uma empresa privada?
– Não cabe a você compreender nada. – fez uma pausa, assumindo uma tom mais severo. – Mas, se quer realmente entender melhor a natureza do que vai fazer, suspeitamos de que se trate de espionagem industrial, e há chances de haver reféns. Se realmente for esse o caso, não podemos permitir que o responsável saia de lá com qualquer informação. É para isso estamos sendo contratados pelo próprio Shioyama Shuusei, como já deve imaginar.
– E se realmente tudo que está nos jornais a respeito dele for verdade?
– Pelo que eu me lembro, você não é juiz ou fiscal de coisa alguma. Não importa, garoto, isso não é assunto seu. A você, cabe entrar e sair de lá sem que a guarda ou os manifestantes o percebam entrando ou saindo, já que não sabemos se algum deles faz parte do esquema. Do contrário, amanhã vai estar estampado na primeira página de todos os jornais que as informações dos investidores de uma das maiores produtoras de farmacêuticos do país correm perigo, e nenhum deles vai querer continuar sob o risco de colocar sob ameaça os registros confidencias de suas próprias negociações.
– Ah, sim. – meu café já estava quase acabando – Minha missão é me infiltrar através de uma multidão, uma equipe de segurança e resgatar os reféns, isso se houver reféns, e se houver um ataque. Além de impedir um invasor de escapar com as informações confidenciais. Claro, se houver um invasor. Estou certo?
– Sim, está tudo muito claro. Não vai precisar que eu desenhe, vai? Me disseram que você era bem inteligente, mas acho que estavam errados. Ah, e, por favor, não se acostume a receber missões tão fáceis, nem a receber tantas informações.
– Parece mesmo muito fácil. Você tem informações a respeito da equipe de segurança?
– Lembre-se de que você está sendo avaliado o tempo todo, Shinya, e você não está na posição de fazer questionamentos, mas de cumprir ordens. Seu desempenho nessa manhã vai ditar o rumo das suas próximas missões. – fez uma pausa, levando o punho fechado ao queixo, enquanto se virava de costas, parecendo refletir antes de continuar com a resposta para a minha última pergunta. Ele expirou profundamente antes de voltar a falar – Sabemos que a guarda é composta por homens e mulheres com excelente preparo físico e equipamentos de proteção, além de um dispositivo que desfere uma descarga elétrica ao contato, capaz de imobilizar o alvo por alguns minutos. Nada de força letal, só o básico para uma equipe de segurança. Entretanto, você estará por conta própria, portanto, não seja pego. A missão depende inteiramente da sua discrição.
– Sim, isso está claro. Mas... – refleti por um instante – Como eu vou sair de lá com os reféns?
– Você não vai, essa não é uma missão de resgate. Quando conseguir acessar o lugar, certifique-se da segurança deles, e só. Em algumas horas, vamos garantir que a multidão se inflame um pouco mais, dando para a polícia um pretexto de dispersar os manifestantes e em seguida entrar e, se você tiver sucesso, encontrar todos bem e nenhum sinal de invasão. É parte do nosso plano usar a confusão para que você não seja percebido e que nada disso venha a público, por isso as forças oficiais ainda não agiram. Quando a equipe chegar para restabelecer a comunicação, os funcionários vão agir de acordo, como se nenhuma presença estranha tivesse passado por lá, acredite, é de interesse de todas as partes manter tudo em segredo. Depois que desmobilizarmos os manifestantes, eles poderão sair pela porta da frente. Agora, se me permite, eu preciso ir – anunciou a própria saída, andando em direção a janela aberta que a essa altura já fazia com que a luz do sol invadisse todo o espaço da cozinha, antes de se conter – mas sugiro que seja rápido, tudo isso precisa acontecer antes do meio-dia, quando as forças oficiais da aldeia vão receber ordens para intervir. – e em um fração de segundo, o homem com quem eu falava sumia da mesma forma que tinha aparecido bem no meio da minha cozinha minutos antes de despejar sobre mim um sem-fim de informações, me deixando sozinho com minha xícara vazia e uma missão delicada em mãos.





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8:06 P.M.
Sem mais demora, levantei-me da cadeira baixa sem me preocupar com a louça do café da manhã deixada à mesa. Não pude evitar receber meu superior com mais do que de cuecas e chinelo, considerando que a visita inesperada não havia sido sequer anunciada, entretanto, precisaria me vestir de acordo e estar na posse de todas as minhas armas – mesmo que eu não pretendesse usá-las, era melhor que estivessem comigo – antes de sair. Vesti meu paletó e terno azul marinho, além de uma gravata preta listrada de amarela e abotoaduras com o símbolo da minha família, um círculo preto, atravessado por linhas de cor igual, e ainda assim, apesar de ter me aprontado em poucos minutos, não sabia qual seria meu primeiro movimento.
Se eu for visto atravessando a multidão sem nenhum pretexto, podem perceber que eu sou um gennin da aldeia, e vão saber que há algo de errado, assim a missão vai estar acabada antes mesmo de começar. Mesmo que eu consiga passar pela multidão, a segurança ao redor de todo o perímetro deve estar reforçada, e não há nenhuma chance de passar pela guarda sem denunciar minha presença ou criar mais confusão. De qualquer forma, não há como entrar lá, pensava, me jogando contra uma das cadeiras da cozinha, me certificando de que a gravata estava bem ajustada. Talvez alguém mais experiente conseguisse entrar sem dificuldade… e eu ainda nem pensei em como sair. Olhei mais uma vez para o relógio, que para o meu desespero, parecia correr, aproximando-se das oito horas. Não tenho mais nenhuma alternativa, puta merda. Me coloquei em pé novamente, andando a passos largos sai de casa decidido a ir até a biblioteca da aldeia, esperando encontrar quaisquer notícias em edições anteriores dos noticiários locais que pudessem conter informações complementares a respeito do complexo industrial dos laboratórios Shioyama. Com o passar do tempo, eu sabia que o parque tinha sido expandido várias vezes, para o terror dos que se opunham à presença da empresa nos arredores do vilarejo sob a alegação de que os resíduos químicos das produções trariam poluição à região. O modesto edifício em que funcionava a biblioteca de Konohagakure não ficava a mais de quinze minutos do meu prédio, então pude chegar bem a tempo de ver a placa que dizia "ABERTOS" ser colocada à porta.
– Com licença, atendente. Onde ficam as edições passadas dos noticiários da região? – aquele não era um ambiente que eu conhecia tão bem para me situar sem o apoio da responsável pelo lugar.
– Nós temos um arquivo com tudo que foi publicado diariamente nos últimos anos, não se preocupe, com certeza temos o que procura. Vou levá-lo até lá, mas, o que procura? – a frágil senhora de cabelos acinzentados não escondia a idade, com rugas tornando sua expressão facial convidativa ainda mais acalentadora.
– Estou interessado em todas as notícias a respeito da indústria farmacêutica a leste. Acha que tem fotos e descrições do lugar assim que foi construído em algum lugar de toda essa velharia?
– Sim, as indústrias do senhor Shioyama, um grande homem que está sendo injustiçado. Você devia ser um menino com metade da altura que tem hoje quando começou a construção. Cada novo anúncio a respeito da construção virava notícia. – se movendo rapidamente por entre estantes e móveis repletos de livros, revistas e placas com os dizeres “SILÊNCIO SOLIDÁRIO, PRATIQUE VOCÊ TAMBÉM”, ela atravessava o lugar comigo as suas costas – Você sabe, foi motivo de muita felicidade uma fábrica como essa bem aqui entre nós, com todos os empregos que foram trazidos ao vilarejo.
– É, eu imagino. Há quanto tempo isso aconteceu?
– Provavelmente há mais de dez anos, garoto. – riu, despretensiosa – Talvez mais. Seja como for, você levaria bastante tempo até encontrar, menino, se não tivesse sido uma data tão marcante. – apontando a mão enrugada e coberta por mangas longas de um tecido fino, branco, ela indicava uma mesa de madeira, coberta por um tampão de vidro. Abaixo da superfície transparente, protegidas da poeira e das mãos inquietas de visitantes menos cuidadosos, estampadas na primeira capa estavam diversas notícias que diziam a respeito da construção. Entre elas, uma ilustração que mostrava o projeto inicial do complexo, com uma rede de túneis que despejava resíduos de produtos químicos – já tratados, diziam – em um rio que passava pelos arredores de Konohagakure. Outras edições, muito posteriores, anunciavam a descontinuidade do uso daquela rede de túneis, que passaram a ser inutilizados, mas que, com sorte, poderiam levar a rede de manutenção e ao interior do lugar sem que eu precisasse atravessar a segurança ou a multidão.





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8:41 P.M.
Naquele momento, as informações que vi eram inestimáveis, ao menos para mim – tanto que eu quase me esqueci de agradecer a senhora de cabelos cinzentos e voz agradável pelo conhecimento adquirido –, e mesmo que apenas alguns desenhos técnicos pouco detalhados da planta da construção tivesse sido publicado na época das publicações, eu poderia tentar invadir o lugar pelo sistema de túneis desativados, seguindo até que encontrasse a rede de manutenção e finalmente pudesse estar dentro do complexo. Para tanto, eu precisaria seguir até um dos rios que corriam pelos arredores do vilarejo, e partir de sua margem, encontrar a entrada para um dos túneis. Com isso, parece mais fácil agora, mas preciso ser rápido.
Correndo contra o tempo, eu atravessei o vilarejo em direção ao norte, evitando a região apinhada de gente, preferindo me manter completamente alheio ao caos que, naquela altura, devia estar se tornando violento. Com sorte, em poucas horas tudo vai estar resolvido. Só depende de mim. Ao passar a direita de uma bifurcação e seguindo por um elevado de terra, sabia que me aproximava cada vez mais da região norte do vilarejo, onde, por entre as árvores que cercavam a vila, corria o afluente representado nos jornais antigos que eu lera momentos antes. Com sorte, a segurança estaria ocupada demais contendo os cidadãos e não haveria nenhuma equipe de manutenção pela rede de túneis.
Esses malditos realmente não dão um ponto sem nó, pensei. Desgraçados. Era incrível que tudo tivesse sido arquitetado daquela maneira, uma armação arquitetada sobre uma armação arquitetada por alguém que buscava roubar informações sigilosas da empresa comandada por Shuusei, e tudo parecendo absolutamente normal aos olhos de todos, e talvez até um grande descaso por parte da administração do vilarejo, alguns diriam, já que parecia que a situação corria sem controle – quando, na verdade, tudo estava absolutamente sobre o controle da vila, ou pelo menos quase tudo, a exceção do que dependia de mim e que eu mesmo não tinha certeza de como concretizar, embora estivesse certo da disposição de que iria até às últimas consequências para concluir a missão.
Depois de já ter atravessado a já conhecida encruzilhada de duas direções, sabia que me direcionava a margem do rio alguns metros depois de ultrapassar o limite norte da vila pois, caminhando por entre a imensidão de árvores e arbustos que faziam uma barreira natural de proteção à Konohagakure, mesmo avançando poucos metros floresta adentro, já era possível ouvir o barulho da correnteza que seguia seu trajeto por entre as duas margens, e, se toda a estrutura que eu tinha usado para me instruir acerca de meus próximos passos antes de partir para explorar a região ainda estivesse de pé, logo eu estaria prestes a começar a parte mais desafiadora da missão, isto é, a invasão propriamente dita. Eu ainda seguia sem a preocupação de estar sendo visto, e não tinha precisado ser sorrateiro ou me preocupar verdadeiramente com a presença de qualquer ameaça, a não ser pelo cuidado de evitar as áreas mais movimentadas do centro, onde ocorriam os protestos, mas, ao me ver diante da margem do rio, percebi também que meu coração começava a errar uma batida ou outra. Concentrando minha energia em meus pés através de um fluxo constante, utilizei o Suimen Hokō no Gyō para poder caminhar sobre as águas, rumando a direção contrária a que vinha a correnteza, observando atento a presença da entrada de um dos túneis.





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9:24 P.M.
Com uma curta caminhada a passos apressados, eu imaginava que horas estariam marcadas no relógio. Talvez fosse minha frequente a imaginar cenários desastrosos ou algo escondido em cada sombra, mas sentia como se os minutos escorressem sobre mim, como se eu estivesse dentro de uma ampulheta sendo enterrado pela areia que caía um pouco mais conforme o tempo se passava, entretanto,  aquele peso que se abatia sobre as minhas costas não podia me fazer perder ainda mais velocidade. À minha esquerda, depois de não mais do que um quarto de hora, notei uma passagem, ainda que ligeiramente obstruída por galhos e relva que se desprendiam da vegetação próxima da encosta por onde o metal tinha encontrado acesso para o sistema de tubulação. Por ali, entre os gravetos cobertos de musgo, abri espaço o suficiente apenas para me esgueirar pela entrada do túnel metálico, por onde ainda seguia o gotejar de um córrego através do canal artificial, que contava com a iluminação de algumas lâmpadas de luz forte, amarelada. No teto, a tinta estava descascando e pedaços de argamassa estavam dependurados, além de haver várias pichações por toda a extensão das paredes, sobretudo por cima da tinta branca que marcava o nome que indicava que as instalações pertenciam ao empresário da indústria química de mesmo nome, ou pelo menos tinham sido, já que pelas marcações a tinta na parede mostravam que muitos outros também tinha marcado presença pelo lugar depois de ter sido inutilizado pela farmacêutica. Meus pés tocavam a água esverdeada que corria lenta e silenciosamente, enquanto meus sentidos procuravam qualquer sinal de que havia a presença de qualquer um ali além de mim e minha cabeça começava a me trair, fazendo meu coração bater, ávido, com força máxima por baixo da caixa torácica. Por um instante eu me detive antes de continuar a caminhar cuidadosamente, respirando fundo algumas vezes para normalizar minha respiração e os batimentos voltarem ao seu ritmo normal, estendo o braço para repousar a mão na superfície fria e úmida ao meu lado. Com as lâmpadas, pelo menos haveria sombras para que eu pudesse tentar qualquer coisa em resposta a uma ofensiva a minha presença, embora estivesse seguro de que não encontraria ninguém naquela passagem com toda a confusão que acontecia frente aos portões do complexo – e, também graças às lâmpadas, no momento em que recostei a mão direita sobre a parede, pude notar um relevo metálico gravado em uma placa metálica que mostrava o caminho que eu poderia percorrer pelo sistema de tubulação, como que um mapa do sistema, certamente colocados em vários pontos daquele caminho para permitir que, outrora, as equipes de manutenção pudessem operar rapidamente em qualquer eventualidade. Com sorte, o mapeamento do sistema ainda estaria inalterado e em poucos metros eu estaria dentro de um tanque que levaria para dentro discretamente, me colocando, enfim, dentro do lugar para vasculhar.



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9:59 P.M.
Em pouco tempo a água corrente que empurrava meus pés pouco a pouco se tornou proveniente apenas de vazamentos e rachaduras nas paredes e em seguida se tornou nada mais do que poças estagnadas sob os meus sapatos, e o único barulho que eu podia ouvir era o dos ratos deslizando pela escuridão. Com frequência eu buscava ouvir com mais atenção, certificando-me de que não estava escutando animais maiores — particularmente da perigosa espécie de duas pernas. Em algum ponto muito distante da margem do rio, as lâmpadas defeituosas me deixavam em uma semiescuridão encarando a passagem fechada por barras de metal que formavam uma grade, impedindo que eu seguisse adiante. As barras, há muito enferrujadas e quase apodrecidas, contavam com uma fechadura que talvez pudesse ser aberta se eu me esforçasse um pouco. Sacando uma kunai, encaixei sua extremidade pontiaguda na fenda da fechadura ao mesmo tempo em que empurrava com o corpo o gradil que se rompeu sem muito esforço, mesmo que eu não tivesse tanta força física como desejável, e, com isso, veio baque ruidoso da fechadura que se rompia, e depois um rangido alto do mecanismo antigo que abria passagem, fazendo com que eu retorcesse a boca em uma expressão de nervosismo que as vistas de qualquer um sinalizaria que era um principiante agindo desajeitado.
Quando a passagem se abriu o bastante para que eu pudesse passar, parei mais uma vez para me certificar de que não ouvia passos ecoando pelo silêncio. Seguindo, passei por alguns pontos em que outros dutos se interligavam, provavelmente outros enormes canos dispostos ao longo da margem do rio, que convergiam para uma única passagem que conduzia até um tanque de armazenamento único, um reservatório de cerca de seis metros de altura, com um fundo arrendado, o qual eu acessei imediatamente à minha frente depois de deixar o duto que me conduziu até ali. Na parede oposta à abertura pela qual eu tinha entrado, havia uma escada que levava a uma escotilha que podia ser aberta por dentro. Às vezes, protocolos de segurança vêm bem a calhar, pensei — a escada e a escotilha tinham sido construídas dentro do tanque para inspeções e manutenção, já que o enorme reservatório servia para conter águas residuais bombeadas de outras partes do complexo. Quando estava funcionando, a água quente das operações era resfriada até poder ser lançada no rio sem matar todos os peixes.
Subi a escada. As barras dela, assim como as paredes do tanque, estavam encardidas devido às impurezas acumuladas ao longo do tempo em que a estação funcionou. Quando cheguei ao topo, girei a manivela para abrir a tampa da escotilha que se movia pesadamente, até que uma fresta pudesse me dar a visão do que havia do lado de fora. Tudo que eu vi nos jornais e nos túneis só mostravam até aqui, onde acaba o sistema de escoamento, pensei. Olhando por cima dos óculos pretos que deslizavam até a ponta do meu nariz, escorregando pelo suor nervoso, demorei alguns segundos até que meus olhos se acostumassem com a luz do dia novamente, mas eu não conseguiria dar uma boa olhada nem me situar sem sair de dentro do tanque, e eu precisava arriscar e correr contra o tempo para saber onde eu estava e tentar imaginar para onde deveria ir.



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10:15 P.M.
Com dificuldade, abri completamente o metal que bloqueava a passagem para o exterior do tanque, e me vi no terminal à direita do grande prédio principal, em uma estação de tratamento desativada. Pela posição desfavorável, foi complicado abrir a escotilha, que, na primeira tentativa, não se moveu. Nem chegou a ranger. Empenhando um pouco mais de força, consegui empurrá-la, entretanto, não sem barulho. No movimento mais ousado que eu tinha arriscado até ali, saltei sobre uma plataforma de acesso que envolvia o contorno do enorme reservatório, encontrando as escadas para descer de lá poucos metros à esquerda, preferindo me manter sobre os calcanhares enquanto observava os arredores. A minha direita tinha verde até onde alcançava minha visão, e a esquerda, um pouco mais a frente, tinha o edifício principal. Em cada um dos outros extremos, havia terminais idênticos aquele, como que as pontas de um complexo que assumia uma área retangular, com vários pequenos laboratórios entre cada tanque, onde havia um segurança guardando a entrada, e um enorme pátio descoberto entre eles por onde vários canos cruzavam o terreno de um lado ao outro, criando conexões entre os laboratórios e reservatórios. Diametralmente oposto ao prédio principal, havia um outro enorme edifício com muitas de suas janelas escuras escancaradas, criando posições que podiam esconder observadores, e a julgar que a minha presença não tinha sido anunciada, eu seria considerado um invasor e deveria ser contido pela segurança, fossem os funcionários parte de um conluio para um assalto ou não. Além disso, com toda a maquinaria parada, um silêncio imperioso se abatia por todo o pátio, que tinha aproximadamente o tamanho de dois quarteirões lado a lado, e toda a área era isolada por uma cerca de arame farpado, erguida a muitos metros acima do solo. Qualquer movimento impensado poderia denunciar minha presença, fosse através da observação ou pelo som produzido dos meus passos sobre o a plataforma metálica.
Ainda em posição agachada, circulei a extremidade superior curvilínea do tanque, ficando entre a cerca que delimitava o complexo e o hemisfério formado pelo topo do recipiente por onde eu tinha acabado de sair, me colocando a pensar no próximo passo. Todo o lugar parecia estar vazio, exceto por cada guarda posto à frente dos laboratórios, e portanto havia algo de errado acontecendo, já que não era como se tivesse havido um toque de recolher, mas era certo de que seria absolutamente impossível passar por toda aquela área descoberta para verificar os laboratórios sem ser notado. A única forma de passar por ali seria por algum sistema semelhante ao que havia me permitido entrar, mas era impensável usar os canos que ligavam os laboratórios, que eram pequenos demais.
Ajustei a gravata, que eu, descuidado, tinha deixado ficar folgada demais com toda a tensão, limpei a testa com o dor da mão num gesto que lembrou que o tempo passava rápido, embora não tivesse um relógio colocado ao pulso, calculei que deviam me restar no máximo duas horas para recolher todas as informações necessárias e sair de lá antes do tumulto ser contido. Espreitando mais uma vez o pátio aberto, quase deserto, observei um detalhe que tinha deixado passar na primeira vez: um corredor de grades de chão, que provavelmente serviam para redirecionar as águas da chuva. Àquela distância eu não podia dizer se eu caberia dentro da passagem sob as grades, mas era minha melhor — e talvez a única — chance de passar despercebido. Por um instante, respirei aliviado, pensando ter encontrado uma solução, ou pelo menos parte dela. Entretanto, se eu conseguisse alcançar e me esconder pelo subterrâneo, não tinha qualquer indício de para qual dos laboratórios, prédios ou plataformas deveria seguir.



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10:26 P.M.
Recobrei mentalmente todas as piores palavras que já tinha ouvido, xingando o vento em pensamento enquanto ficava cada vez mais nervoso com a situação em que me encontrava. A partir dali seria difícil até mesmo sair de lá em segredo. Ao longe, o som abafado da multidão que se agitava aumentava, perturbando o silêncio soturno que pairava sobre a atmosfera daquele lugar. Poucos minutos depois de começar a ouvir a confusão de gritos, dava para perceber um som metálico, provavelmente de manifestantes que avançavam contra as grades que protegiam a entrada do prédio principal — mais um sinal de que havia pouco tempo restando. Com o estardalhaço, minutos depois, uma outra figura uniformizada a semelhança dos guardas que ocupavam seus postos junto a porta de cada laboratório acenou para que os demais seguissem até ela, acessando o prédio principal através do pátio interno. Devem precisar de ajuda para conter os cidadãos, refleti. Assim, uma pequena reunião de formas uniformizadas, indistinguíveis entrei si se formara, e, depois de uma pequena conversa, todas elas, a exceção de uma, desapareceram pelo corredor que atravessava o prédio, indo ajudar nos portões, supus. O que permaneceu na porta, virou-se para o pátio, guardando a área. Com a movimentação, uma mulher abriu a porta do laboratório em que estava, gritando algumas palavras que eu não pude ouvir do alto da plataforma no quadrante oposto ao dela. O que pude ver, no entanto, foi o guarda que vigiava o pátio sinalizar para que ela entrasse novamente. Reféns? Não era possível dizer com certeza, mas a silhueta feminina insistiu. Aquela era a minha chance de me mover do alto e tentar acessar o canal de escoamento subterrâneo. Saindo dos calcanhares, corri em direção a escada construída em um eixo vertical como a do interior do tanque. Sem me preocupar com os degraus, segurei firme as barras laterais e deixei que a gravidade fizesse com que meu corpo deslizasse até o solo. À minha frente, uma pequena escada guiava o caminho até o chão de concreto do pátio, e as grades que cobriam as aberturas no chão estavam a cerca de vinte metros a partir do último degrau. De imediato movi as mãos formando os selos para utilizar o Shunshin no Jutsu com intuito de aumentar minha velocidade usual de 14 para 18 m/s antes de uma tentativa de erguer a grade, o que revelaria um espaço grande o suficiente para eu me acomodar se me colocasse novamente sobre os calcanhares.
O subterrâneo da passagem era úmido, mas bem iluminado, já que recebia a luz do dia com o céu aberto, e à distância seria quase impossível que me vissem naquele abrigo, o que me permitiria espreitar sem ser visto se me mantivesse em silêncio e longe da porta onde o vigia fazia sua guarda, retornando a sua posição inicial e cobrindo o campo de visão do pátio, sem tomar nenhuma providência que indicasse que tinha me visto passar da plataforma ao meu novo esconderijo — apesar disso, meu coração batia com tanta força que quase não conseguia me manter nem mesmo sobre o calcanhar, e se estivesse de pé, minhas pernas estariam bambas. Aquela manobra tinha sido muito ousada, e eu poderia ter colocado tudo a perder ao tentá-la, embora também pudesse ter sido a única abertura para uma tentativa. Quase rastejando, andei naquela posição extraordinariamente desconfortável me colocando em uma reta com o guarda, próximo da porta de entrada do segundo prédio, observando tanto quanto podia o que havia as costas do segurança por entre as aberturas da grade, direção em que, para minha surpresa, vieram pelo menos uma dúzia de funcionários acompanhados pelos guardas que tinham entrado no prédio minutos antes. Pela forma com que eram conduzidos pela equipe até os laboratórios, e eu já não sabia mais o que poderia estar acontecendo, e não podia ter certeza de que eram reféns ou se aquilo era uma manobra de segurança para tirá-los do perigo caso invadissem o prédio pela entrada principal. O grupo se dividiu, calmamente, entrando pelas portas das salas que antes estavam sendo guardadas, exceto pela última mulher que saía acompanhada por uma das figuras uniformizadas, que a tolheu novamente para dentro, tampando sua boca enquanto a arrastava de volta para a penumbra do interior do edifício.
Era certo que ela era uma refém e que segui-la me levaria ao rumo certo.


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10:44 P.M.
Assistindo o desenrolar dos fatos e as circunstâncias que se formavam, pude estabelecer algumas considerações, observando do meu ponto de vista privilegiado, a espreita. A mais importante delas era  que aqueles homens e mulheres da segurança podiam ou não estar envolvidos no esquema, de modo que eu não tinha como saber se não me arriscasse a seguir a figura que arrastara a mulher para dentro do prédio fora do campo de visão de seus pares. Precisava, entretanto, esperar para ver qual seria o próximo movimento da equipe que naquele momento cuidava de evacuar o edifício principal, em uma possível — e previsível — manobra de segurança para situações como aquela. Na sequência dos fatos, toda a equipe se retirou do pátio e atravessou novamente a porta que dava acesso ao primeiro prédio, seguindo para as sombras indistintas do interior do corredor que dava acesso a entrada do complexo da indústria, tornando aquele o momento sensível para seguir com as minhas ações, a partir do qual eu efetivamente conquistaria o sucesso da missão ou o fracasso dela.
Olhei uma ou duas vezes para os dois lados, observando se havia algum observador fortuito do lado de fora das salas. Não havia. Saltei do meu abrigo, levantando a grade e me colocando a correr em máxima velocidade com o Shunshin no Jutsu, 18m/s, na mesma direção em que tinha visto as figuras de uniforme desaparecendo, para tentar atravessar a distância de 40 metros entre mim e a entrada. Essa tentativa me colocaria no rastro da refém e de seu agressor, entretanto, ao atravessar a vidraça da porta que se movia silenciosamente ao ser aberta ou fechada, percebi que não havia meios de saber por onde eles tinham seguido depois de sumirem, e então, mais uma vez naquele dia, meu coração errou uma batida e senti uma descarga de adrenalina percorrer todo o meu corpo, em uma mistura de impulso para seguir adiante junto de uma perda da força física que me mantinha em pé, como se por um instante não sentisse mais nada e pudesse me jogar em direção ao desconhecido sem qualquer sensação física que me prendesse ao medo, apesar da tensão tomar conta de mim naquela hora. Olhei ao meu redor e, para todos os lados havia lances de escada que levavam para outro blocos do prédio, mas sem nenhum indicativo de por onde eu deveria seguir para encontrar a dupla que procurava. Merda, balancei a cabeça, frustrado. Ajustei minha gravata, olhando brevemente para o chão, visualizando a ponta dos meus sapatos sujas, cobertas por lodo do buraco de onde eu tinha acabado de sair. A esquerda dos meus pés havia uma marca no chão, do tipo que se forma a partir da borracha que se arrasta pelo chão encerado. Alguns sapatos tem sola de borracha, considerei. Aquela era a melhor pista de por qual direção seguir, considerando que eu não tinha muito tempo e que a qualquer momento um dos seguranças poderia voltar para vigiar o pátio. Olhei mais uma vez para o chão, tentando encontrar outras marcas que pudessem indicar por onde a mulher tinha sido arrastada, deixando rastros pelo chão. A direção era a noroeste, onde havia uma sala com os dizeres "CUIDADO! SOMENTE PESSOAL AUTORIZADO." Com passos curtos, rápidos e tão silencioso quanto podia, caminhei até a porta, empurrando-a em seguida, revelando mais um grande lance de escadas, dessa vez que levava para baixo, surpreendentemente. Mais uma vez, a porta se fechou atrás de mim, suavemente.
Tinha a minha frente um sem-fim de degraus e uma penumbra calada, por onde eu segui imediatamente, ainda sob efeito da descarga de adrenalina, pisando sobre o ferro grosseiro do qual era feita a estrutura que conduzia até o subsolo, e então ao invés de chegar a uma sala ou a um corredor, só havia ainda mais degraus, em uma estrutura que se tornava mais e mais larga, até que me visse em um zigue-zague de escadarias em um espaço cercado por paredes iluminadas por lâmpadas amareladas, como se fossem luzes de emergência, sob a parede de concreto grosseiro. Em determinado ponto da descida, não havia nada mais do que um novo espaço que se abria em um corredor de largura suficiente para um grupo de quatro ou cinco pessoas atravessaram lado a lado, ainda iluminado pela luz amarelada de antes. Ao final do corredor, podia ver um móvel, uma meia lua que parecia ser uma mesa, a frente do que parecia ser uma cadeira alta, com encosto alto e logo adiante, uma entrada fechada por uma porta dupla, de madeira. Pelo espaço que havia entre o chão, podia ver uma luz acesa dentro do que quer que houvesse do outro lado, por onde também havia alguns ruídos e uma voz masculina conversando com outra, mais aguda e provavelmente feminina, que respondia pausadamente. Contudo, não conseguia distinguir os sons em palavras naquela distância — estava a 30 metros da nova entrada. Mais uma vez me coloquei sobre os calcanhares, avançando lenta e cuidadosamente até me ver diante da mesa, quando pude ouvir que passos se faziam ouvir cada vez mais próximos de mim, como se alguém estivesse se aproximando da porta pelo interior. Pensando rápido, fiz a melhor tentativa de me transformar com o Henge no Jutsu em uma figura minimamente parecida com a de um dos guardas que eu observava com atenção durante o tempo que me mantive escondido antes, e parei, deitado sobre o chão frio, como se tivesse sido derrubado, antes que quem estivesse se aproximando da porta atravessava a mesma e me visse ali.



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11:01 P.M.
A ideia era simples, transformar a mim mesmo em uma cópia de um dos seguranças que eu tinha visto andando pelo complexo a manhã toda, e esperar que ele não percebesse que não havia um segurança caído ali antes.
Como eu imaginava, a figura masculina uniformizada saía da porta que se fechava com um baque surdo atrás dele. Caído, imóvel exceto pela respiração que movia meu abdome brevemente para encher meu peito com o mínimo necessário de oxigênio, eu já não sentia mais o peso do medo ou da adrenalina que me tomaram outras vezes durante aquela manhã. Não, eu sentia uma profunda calma, o que me permitia pensar no que eu faria nos próximos segundos quase como se estivesse visualizando quadros a minha frente. Ao que ele tomasse uma distância de cinco metros de mim, o que daria cinco passadas considerando uma marcha despreocupada, eu sairia da transformação para usar minha técnica de paralisação. Ao que ele ultrapassou meu corpo, contei oito passos, o que imaginei que seria necessário para agir antes que ele percebesse minha presença ou, mesmo que já tivesse noção, decidisse agir contra mim ou fugindo em disparada pelos degraus acima. Cancelei o Henge no Jutsu, voltando a minha forma física e sem dar espaço para ele desse mais nenhum passo depois do décimo saquei uma kunai na preparação para o Kagemane Shuriken no Jutsu, atirando a ferramenta em sua sombra, ligeiramente mais próxima de mim do que ele, em uma distância de cerca de quatro metros.
— Desgraçado, que merda é essa? — era visível o quanto ele tentava se mover, mas a kunai impregnada com meu chakra impedia que ele o fizesse com sucesso. Aquela altura dos acontecimentos, já não importava quando ele tinha percebido que eu estava ali, mas sim que ele já não podia mais reagir. Erguendo meu corpo, caminhei despreocupado em direção a ele, confiante de que não haveria tempo para uma ofensiva. Apertei minha gravata, deixando-a perfeitamente ajustada ao meu pescoço, sentindo um alívio tomando conta de cada parte do meu corpo. Sacando uma outra kunai, observei com cuidado o dorso do meu inimigo preso, onde havia uma brecha entre o capacete de proteção que envolvia sua cabeça e o tornava indistinguível e o colete que protegia seu corpo, ponto em que seu pescoço e as primeiras vértebras apareciam em seu pescoço desprotegido, coberto apenas pelo tecido do uniforme. Sem mais tempo a perder, cravei a kunai apontada para cima, querendo perfurar seu crânio e me certificar de que ele seria executado no ato. Com isso o líquido vermelho que esguichou me atingiu, tingindo de vermelho o meu rosto e meu traje em vários lugares. Em seguida, retirei a kunai do chão deixando que o corpo dele tombasse sem vida enquanto o sangue ainda quente se espalhava ao redor, e me voltei para a sala de onde ele saiu. Lá, a mulher que ele tinha arrastado até lá estava caída, amarrada em pés e mãos, no chão.
— O que ele pegou? — perguntei a ela, investigando o que poderia estar na posse do corpo morto empapado de sangue. A mulher respondeu com um olhar que mirava um espaço na parede à direita, repleta de gavetas, cada qual contendo uma sequência de quatro dígitos. Uma delas estava ligeiramente aberta, revelando que tinha sido vasculhada. Abri uma brecha, verificando o conteúdo do espaço que se revelava ao puxá-la e me dei conta de que aquela sala era um arquivo, e todas as gavetas deviam conter pastas sistematicamente organizadas, assim como aquela que eu tinha acabado de espiar. Sai e apalpei o corpo que se enrijeceu, procurando pelo que tinha sido roubado, encontrando um envelope entre o colete e o seu corpo. Voltei a sala, coloquei o almaço de volta a gaveta 4444.
— Você não vai me soltar?
— Estou pensando nisso... — respondi, na dúvida de como finalizaria aquela missão. — Você tem alguma ideia de como eu posso sair daqui sem ser visto?
— Ah, tá falando sério!? Eu sou a vítima aqui. Além disso, é só seguir pelo mesmo lugar que te colocou para dentro, seja lá por onde foi. Não é tão difícil assim. — entretanto, para sair, precisaria garantir que não teria ninguém para me ver fugindo, assim como não tinham visto minha entrada.
— É, boa ideia. — eu ainda estava hesitante — Vou me transformar em um deles de novo e fingir te acompanhar para uma das salas onde vocês estão se abrigando, e você cuida para chamar atenção enquanto eu escapo. Tem noção se ele tinha mais algum cúmplice?
— Não, não tenho ideia. Ele me atacou sozinho enquanto nós íamos nos proteger dentro dos laboratórios mais perto das saídas, caso algum daqueles anarquistas ridículos invadisse o prédio, e depois me fez dizer onde estavam os arquivos. Agora, você já me salvou e provavelmente salvou meu emprego também. Só me tira daqui, tô sentindo cheiro de sangue em você. Argh! Anda logo ou eu vou acabar vomitando.
Soltei a mulher, uma cinquentona loira de saltos altos e roupa social, ajudando-a a se levantar. Refiz o Henge no Jutsu, deixando o corpo morto para trás, sem me preocupar com aquilo — alguém iria até lá depois limpar a sujeira. Acompanhando-se a poucos centímetros, conduzi a mulher como se fosse um dos guardas, tentando imprimir a segurança de alguém que verdadeiramente estava fazendo a guarda do lugar. Para minha sorte, porém, não havia ninguém no caminho, nem pelas escadas ou pelo interior do prédio no percurso até o pátio. As vozes que continuavam a protestar na frente do prédio continuavam a todo pulmão, e pelo que eu podia deduzir, logo a multidão seria dissipada.
— Não diga nada a respeito que aconteceu, com ninguém. Nunca, você deve saber. — disse, movendo discretamente os lábios ao me afastar da mulher que ia em direção a porta de uma das salas, enquanto eu voltava ao tanque, cujo túnel de descarte tinha me permitido invadir o lugar. A partir da plataforma, desfiz mais uma vez a técnica de transformação, infiltrando-me pela escotilha e saindo de lá esperando que ninguém jamais soubesse da minha passagem.


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14:07 P.M.
Era início de tarde, e eu descansava a mesa em uma cadeira disposta na calçada de uma rua onde vários ótimos restaurantes da aldeia ficavam. O movimento pelas ruas aumentava à medida que os manifestantes eram dispersados da concentração, e pelo ar era possível ouvir os desdobramentos da ação policial na contenção da manifestação que se descontrolava perigosamente horas antes. Observando a passagem dos que transitavam pela rua, recordava os acontecimentos recentes da última manhã, durante a missão. Relembrava da minha respiração resfolegante ao final de tudo, e a lembrança do meu corpo cansado ainda era presente.
Eu tinha utilizado muito da minha capacidade física ao me mover usando toda a velocidade e tantas habilidades em sequência, além de ter contado muito com a sorte e o acaso, e usar da sorte, ou mais grave, depender dela, era admitir não ter controle da situação. Decerto, um infiltrador precisa contar com o acaso em muitas situações, penetrando ou se evadindo conforme brechas se mostrassem, mas os riscos precisavam ser melhor calculados. Com a saída de lá, estava satisfeito por ter conseguido fazer tudo a tempo, mas ligeiramente frustrado comigo mesmo. Contudo, estava estranhamente inclinado a me dedicar a isso, considerando mental e fisicamente estimulante — não, desafiador era a palavra — estar naquela situação, pensando rápido, agindo no limite. Tudo podia ter dado errado, eu poderia estar morto ao invés de estar esperando minha refeição em meu restaurante predileto, mas havia um momento em que todos os homens precisam decidir qual direção seguir, e eu já tinha realizado uma sorte de tarefas pelo vilarejo, e já tinha uma experiência para começar a aprimorar minhas habilidades, acrescentar novas habilidades ao meu leque, e embora eu não tivesse uma rota traçada, tinha uma boa noção de qual era a minha motivação e podia começar a persegui-la.
Minha comida tinha chegado a mesa, era hora de parar de pensar.

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[CAPÍTULO] PELAS SOMBRAS Scre1755
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