Os dias corriam normalmente como grãos de areia, como grãos de areia no deserto; infinitos, incontáveis.

Podia se aprender muito sobre a vida no deserto, ou pelo menos sobre a parte árdua dela. Ali, naquele oceano amarelo alaranjado, não podia se confiar em ninguém além de si mesmo, nem mesmo na própria sombra, pois até ela podia lhe enganar.

Sua visão não era confiável, podia lhe fazer cair em ilusões e enxergar oásis inalcançáveis, o fazendo cair em uma busca mortal.

Sua audição não era confiável, pois por vezes uivos rasgavam os ventos e pareciam com o de feras selvagens caçando por você.

Seu olfato não era confiável, por vezes o fazia sentir o cheiro de comida, mesmo que isso fosse impossível.

E por falar em sentidos, não era incomum que os viajantes do deserto perdessem-nos em meio às dunas móveis, sem saber de onde vieram ou para onde estão indo. O caminho sempre parecia igual, não importa por onde olhasse.

Akaza uma vez experienciou o deserto, como parte de um treinamento para fortalecer sua mente e seu corpo à situações adversas. Nesse treinamento um grupo de genins foi deixado à própria sorte em meio ao imenso deserto que circundava a vila da areia. O grupo era composto por Akaza e mais dois outros jovens: Reika e Zaru.

Reika era uma menina durona, mas extrovertida, parecia ser alguém que podia contar. Zaru era mais retraído e na dele, um verdadeiro mistério. Quanto aos seus estilos de luta, Akaza não sabia nada, pois nunca havia os encontrado antes. Assim, os três tinham a tarefa de sobreviverem por três dias no deserto sem suprimentos e sem ajuda dos jounins. A história a seguir conta como o trio sobreviveu (ou tentou) à esse experimento.

— Ei, vocês dois — iniciou Reika. Akaza estava despreocupadamente no topo de uma duna, fazendo uma pequena sombrinha com a mão sobre os olhos e encarando horizonte; Zaru estava cabisbaixo falando sozinho. O Hyuga se virou para a menina, mas sem aparente interesse no que ela poderia dizer.

— Se queremos sobreviver, temos que nos mover — indagou a menina, orgulhosa de sua suposta inteligencia.

— É mesmo, e para onde? — Akaza retrucou, curioso se sua confiança tinha fundamento. Pelo desconcerto na feição da jovem, ela apenas queria falar bonito, e não havia pensado adiante de suas palavras. — Hmm... — indagou o rapaz tatuado, que rapidamente começou a se mover para uma direção. Zaru se moveu logo depois, deixando Reika sozinha até que ela cedesse e seguisse ambos.

— Ei! Para onde está indo?! — ela continuou sem resposta.

O rapaz de cabelo rosa continuou andando, sendo seguido pela dupla logo atrás quando de repente parou. Seus passos, sua respiração, tudo cessou repentinamente. Seus olhos brancos estavam fixos no chão à sua frente, mesmo sem haver nada ali para olhar. — Por que parou? — indagou a moça.

Um estrondo seguiu sua fala, e um corpo colossal se ergueu de uma explosão de areia diante dos genins. Um verme gigante do deserto surgiu, com seu corpo cilíndrico e boca de milhares de dentes prontos para triturar qualquer um que o desafiasse. Akaza manteve-se inerte assim como Zaru, mas Reika desesperada teceu alguns selos e disparou uma enorme bola de fogo contra a criatura bem em sua boca.

Ela moveu seu corpo negro e sugou as chamas com facilidade, inutilizando a técnica da menina. "Isso foi inesperado" pensou o Hyuga, observando o que acabara de ver com seus olhos. "A criatura não absorveu a técnica, ela simplesmente a engoliu sem danos". Em resposta, o verme avançou contra o trio e todos dispersaram-se para evitar o ataque.

— O que faremos contra ele? — Reika gritou, parecia ser a única do time a se comunicar, e já estava visivelmente irritada por isso.

— Corra! — respondeu Akaza, dando as costas e fugindo da criatura para uma direção. Zaru fugiu para outra, e a criatura focou-se em Reika, entrando parcialmente na areia para começar a segui-la. Furiosa, a menina amaldiçoou seus companheiros enquanto corria desesperadamente por sua vida, já que não parecia surtir efeito atacar a criatura. Ela correu por cerca de vinte segundos, até que a criatura se aproximou o suficiente para abrir sua boca e tentar novamente sugá-la para dentro daquela cova de dentes. — Seus malditosss! — gritou a menina, fechando os olhos imaginando o que viria a seguir.

— Hakke Hasangeki!

Uma voz rompe dos céus, Akaza surge acima da boca do verme e o golpeia na sua suposta "nuca", espalmando de cima para baixo seu corpo e aplicando uma força tremenda que força a criatura a fechar sua boca e rastejar na areia. Triunfante, o Hyuga pousa acima do monstro nocauteado. — Vamos, ele logo irá acordar.

Embasbacada, Reika só consentiu com a cabeça e seguiu Akaza, no caminho Zaru juntou-se novamente ao grupo. — E onde você estava?! — perguntou indignada, mas quem respondeu foi o próprio Hyuga.

— Calma, fazia parte do plano. Cada um tinha que fugir para uma direção, para assim o verme seguir apenas um de nós, se ele viesse comigo, o verme seguiria nós dois ao invés de você.

Conforme o rapaz falava, a ficha da menina ia caindo. — Então quer dizer que-

— Sim, você foi a isca — completou Akaza, sem medir as palavras. Reika ficou furiosa, mas foi contida por Zaru. — Não fique brava, deu tudo certo, não deu? — completou o rapaz, apontando para uma construção rochosa natural, que aos poucos foi se mostrando até revelar ser uma caverna. A raiva deixou o semblante da garota ao perceber que teriam abrigo para aquela noite.

— Não é possível... como você sabia que encontraríamos uma caverna nessa direção? — indagou a menina.

Nesse momento, Akaza revelou seus olhos especiais, os quais usou para rastrear em várias direções por possíveis ameaças e lugares estratégicos. Todas as rotas eram perigosas, mas ele escolheu a que possuía menos perigo e que recompensaria-os com um abrigo caso passassem pelo verme. E ele liderou os outros dois sem muito problema, nem mesmo contou a eles sobre qualquer plano, mas eles o seguiram. Simplesmente por sua força.

Considerações: